domingo, 21 de maio de 2017

O TDAH, TEMER E OS DESMEMORIADOS





Acompanhamos estarrecidos as novidades deploráveis da nossa política. Ninguém é inocente, ninguém é sério, ninguém tem o menor respeito pelo sofrimento de uma população, em sua enorme maioria, sofredora e indefesa.
Não sei o que mais me indigna: as delações ou as respostas dos acusados. As delações são bombásticas e gravíssimas, mas as respostas beiram o escárnio. Ou então estamos diante de uma epidemia de TDAH.
Talvez seja isso, o maior contingente de TDAHs não tratados do mundo!
Claro! Uma de nossas maiores características é justamente o esquecimento, mas um esquecimento tão grave, mas tão grave, que podemos denominar de um 'apagamento'. Não apenas esquecemos o fato, como todo o contexto em que ele ocorreu. Cria-se um hiato em nossa memória como se aquele momento jamais houvesse existido.
Isso cria momentos de enorme tensão e briga. Como já fui acusado de tentar enlouquecer a outra pessoa ao negar veementemente haver dito isso, ou aquilo, que afirmavam que eu dissera! Muitas vezes a pessoa se lembrava de onde estávamos, a roupa que eu usava... Mas eu negava; em minha cabeça aquele momento não existiu. Provavelmente, meu corpo estava ali e minha cabeça em Nárnia.
É o que acontece em Brasília. O sujeito recebe uma mala de dinheiro, mas estava pensando em outra coisa. Não se lembra daquele momento, por isso negam com tanta veemência. São todos TDAHs. Com certeza!
O presidente Michel Temer ainda apresenta uma característica adicional do TDAH: a imaturidade. Uma certa inocência. Ele achou que um cara que dirige uma empresa que fatura 170 bilhões (isso mesmo, bilhões) de reais foi ao Palácio Presidencial, às dez da noite, contar vantagem. Pregar mentirinha de que comprou juízes, procuradores e afins. Eu também acredito, presidente. Juro que acredito.
Ou então quem está certa é minha namorada que acha que quem tem culpa é a tia do cafezinho, que andou colocando algum alucinógeno na bebida dos políticos brasileiros.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

TDAH: ONDE ESTÃO MEUS SONHOS?






Quem se esconde sob as diversas camadas de TDAH?  
Ainda resta algo do adolescente sonhador? Ou foi sepultado pela vida e pelo transtorno? Onde mora o idealista que sonhava em fazer teatro popular?  
Quando criança, uns quatro ou cinco anos, eu tinha um sonho recorrente : estava deitado em um buraco e rolos de cobertor vinham me cobrindo a partir dos pés, paulatinamente, até me cobrirem a cabeça e eu acordar assustado. Precisei tomar remédio para dormir - um tal de Mogadon, se não me falha a memória - e interromper esses pesadelos. Se eu pudesse prever o futuro não tomaria esse remédio. Eu tinha sonhos premonitórios. Ou extremamente alegóricos com o futuro. Se trocarmos os cobertores pelas besteiras da vida, pelos erros que cometemos, temos uma alegoria tdahdiana para a vida. 
As atitudes impulsivas que desaguaram num casamento precoce e não planejado, a necessidade imediata de subsistência e a busca incessante de felicidade numa alma assolada pela insatisfação eterna do TDAH, soterraram os sonhos do escritor e teatrólogo, como me soterravam no sonho. O cara que mudaria a vida das pessoas pelo teatro, sucumbiu sob as camadas das opções impulsivas, do prazer imediato, da insatisfação inesgotável...  
Em alguns instantes da vida pude vislumbra-lo; mas jamais resgata-lo. Hoje, sei lá porque, me vi inteiro. Os sonhos intactos, a vida pela frente, um monte de coisas por fazer, vidas para revolucionar. Custei a me reconhecer nele.  
A paisagem corre do lado de fora, o tempo está cinzento e frio. O ar condicionado não precisava estar ligado. Preciso ir ao mecânico resolver o problema do meu carro. Ali perto tenho uma cliente de celulares excelente. Como essa mulher estraga iPhone, meu Deus! A Apple deve lançar em setembro o iPhone 8. Mais uma correria às lojas. Pessoas que necessitam de mostrar ao mundo seu sucesso material. Isso há vinte anos era inimaginável no Brasil. Era um fenômeno típico do americano. O brasileiro era mais influenciado pelo europeu, mais humanista, menos materialista. Hoje copiamos o pior dos americanos, o materialismo. E nada do respeito ao outro, à liberdade e à democracia típicas dos Estados Unidos.  
Assim me perdi dos meus sonhos.  
No TDAH um pensamento leva a outro, e a outro, e a outro, e a outro...  
E leva junto a nossa vida. E os nossos sonhos. E ficam tão distantes que quase não os reconhecemos quando os reencontramos.