Já escrevi, no mínimo, três posts sobre a necessidade de nos perdoarmos dos erros cometidos no passado. Em dezenas de outros posts menciono essa atitude como fundamental para um bom convívio com o TDAH. Mas tem momentos em que isso é muito difícil.
Meu primeiro registro na Carteira de Trabalho data de 01/03/1979. Exatamente, trinta e oito anos, três meses e vinte e três dias.
Nesse período o Brasil teve nove presidentes - um morto e dois depostos - seis moedas, retomou a democracia e as eleições diretas, ganhou duas copas do mundo, perdeu Ayrton Senna, Elis Regina, Gonzaguinha, Renato Russo, Cazuza... Perdemos o rumo e nossa identidade como povo; conhecidos como uma população cordial, nos tornamos violentos e intolerantes. O mundo mudou demais em trinta e oito anos; foram quatro papas e infindáveis presidentes e primeiros ministros. Incontáveis guerras e conflitos, muitos deles em nome de Deus. Ou usando-o como desculpa. Tsunamis, vulcões, desastres aéreos... E o onze de setembro, a coisa mais absurda que já vi.
Confesso que cansei. Resolvi me aposentar. Não penso em parar de trabalhar, algo impossível para essa categoria no Brasil, mas mudar minha maneira de trabalhar. Trabalhar um pouco menos, sem o estresse de ter que trabalhar.
Eis que entro com meu pedido de aposentadoria e descubro que ainda tenho que trabalhar quase vinte anos mais para ter direito. Protesto, esperneio e o INSS descobre erros dele. A solução leva meses... Agora vai, tudo certo. Ainda faltam onze anos... Como assim? Novas escavações... Faltam sete... Isso foi ontem. Voltei para casa e fui vasculhar milhares de papéis que tenho do período de empresário. E levei um choque: entrei de sócio em uma empresa em janeiro de 2004, mas só formalizei essa alteração em julho de 2006. Ou seja, joguei fora dois anos e meio de tempo de serviço pois não recolhi o INSS como autônomo. Eu já tinha quarenta e quatro anos, não era uma criança imprevidente; era um homem de meia idade imprevidente. Imaginem como me senti ontem ao descobrir que fiz isso com minha própria vida. Perdi o chão, a vontade de seguir adiante. Pensei em virar andarilho, fazer pulseirinha de miçanga, sei lá... Qualquer coisa para desistir da vida formal e normal. Não pela aposentadoria, sou muito saudável e posso continuar trabalhando; mas pela auto sabotagem, pela auto imolação, pela absoluta irresponsabilidade com minha vida. Muitos desses hiatos não foram culpa minha; perdi o emprego em alguns casos...
Mas nunca me preocupei com o futuro; jamais. Períodos grandes em que eu poderia ter recolhido como autônomo... Nada, vivia o presente. E só. E a conta chegou... E não estou conseguindo paga-la.
Claro, vou correr atrás de soluções, mas que se existirem, serão caras, lentas e difíceis. E a cada dia a mais perdido, vou exercitar minha capacidade de me auto perdoar, de transpor esse sentimento de raiva por mim... Até porque, não tenho como desvincular-me de minha vida e meu passado. E não muda em absolutamente nada o fato de eu não me perdoar. Eu vou superar! Mas que dói muito, dói...
Em um post seu de 09/2013 você dizia:
ResponderExcluir"..que vontade de abandonar o mundo, sair aí de andarilho, um
desconhecido sem passado, futuro ou expectativas! Um andrajoso a
despertar a comiseração de seus pares, livre das cobranças, da culpa e
dos erros infindáveis."
Penso q esse é o mesmo sentimento que te invade hoje. Tdah fdp. Sensação de incompetência, culpa, nos martirizamos por situações como esta. Mas vc sempre me dizia que não podemos nos entregar,não desista.. somos assim. Sigamos Guimarães Rosa A gente levanta, a gente sobe, a gente volta.
Tenho um gato preto e lendo sobre gatos, achei isso.
Os gatos veem um obstáculo na vida e desistem?? NÃO! Eles DEITAM em cima do obstáculo.
(no corpo e na alma)
Alexandre, meu pai, TDAH sem diagnóstico até ano passado, aos 65, ano em que também se aposentou, fez a mesma coisa que você durante a vida. Sem falar da quantidade de registros de carteiras de trabalho que tinha, porque volta e meia, perdia a carteira de trabalho. Foi autônomo (é engenheiro)e sócio de empresa de engenharia, dono de loja, e esquecia de recolher o próprio INSS. Acabou pagando uma quantia considerável, acho que onze mil ou mais, para cobrir "O Buraco". Sorte que a uma certa altura da vida, minha mãe passou a administrar parte do dinheiro do casal, e havia dinheiro investido para cobrir o rombo. Acabamos, nós os portadores de TDAH, pagando por contas que não pedimos para fazer, porque afinal, não temos TDAH porque queremos. Mas acho mesmo que isso acontece com os portadores de qualquer condição. Eu sei como é que você se sente, afinal, é A Gente que Fez isso. Mas a gente muitas vezes, e acho que já vi você mesmo concordar com isso, não tem tanto controle sobre o transtorno como gostaria. Parte da vida. Bora usar a nossa capacidade de dar a volta, perdoar e ainda sorrir, porque se de mau humor somos terríveis, nada pode nos afetar também quando queremos sorrir. Nem os transtornos!
ResponderExcluirOi Débora, como disse na resposta acima, o primeiro baque dá um forte desânimo; sempre me bate essa vontade de sair andando sem rumo e sem passado ou futuro. Mas passa rápido. Aliás, como sempre acontece com os portadores de TDAH. Já estou pensando nas soluções possíveis - e também nas mágicas, que sempre nos passa pela cabeça em todas as situações.
ExcluirBoa tarde Alexandre! Gostaria de saber se há algum problema em fumar durante o período de tratamento?
ResponderExcluirAbraços!
Boa tarde! Eu não sou médico e acho que fumar faz mal para tudo, por isso parei de fumar em 1998, mas especificamente para o tratamento do TDAH acho que não influencia.
ExcluirUm abraço
Alexandre