Um velho TDAH, mas velho.
Como todo velho estou arrumando a papelada da minha aposentadoria.
Não vou entrar em detalhes, mas minha desorganização com a documentação, o desleixo com a minha própria vida, me roubaram dez anos de aposentadoria.
Finalmente, na reta final, contratei uma advogada para organizar minha barafunda documental e viabilizar minha aposentadoria.
O primeiro passo foi dado e constatei que faltaram alguns anos do meu período como empresário. Advertido da necessidade de comprovação de que paguei o INSS durante esse período, afirmei orgulhosamente ter os comprovantes desses pagamentos.
Outro período ausente que observei tratava-se de uma empresa cuja comprovação do vínculo trabalhista só consegui através da justiça.
Novamente sabia ter em casa a sentença judicial que determinou a inclusão do tal vínculo.
Chegando em casa, juntei quilos e quilos de papel e fui separar o que será necessário para a advogada.
Rapidamente separo as guias de pagamento do INSS e parto em busca da sentença.
Não há sentença. Tudo o que guardei foram papéis sem assinatura, sem nenhum carimbo, sem nenhuma autenticação. Apenas guias preenchidas que poderiam ter sido preenchidas por mim. Ou por você.
Extremamente frustrado retomo a análise de cada documento, cada envelope, cada pasta, e nada da tal sentença.
Decido levar o que tenho e foco na organização das guias. Não tenho guias. O que guardo há anos e anos, são apenas a apuração feita pelo contador que gera um documento a ser pago. Não o comprovante de pagamento em si.
Um enorme desespero me bateu.
Guardei por anos documentos errados, documentos que não comprovam absolutamente nada.
Minha montanha de certezas esboroou-se num passe de mágica.
Não tenho nada mais que indícios.
Ainda que através desses indícios ela possa chegar a alguma conclusão, isso pode levar muito tempo e me custar muito mais caro do que antes.
Pra quem não tem, ou não convive com um, isso é o puro suco de TDAH:
Certeza de estar fazendo o correto sem perceber que não está.
Desatenção suficiente para se auto enganar, impedindo que você faça exatamente o que deveria.
Nesses momentos o desejo é levantar e sair caminhando infinitamente pra longe da realidade, da vida cotidiana, de mim mesmo.
Isso não é possível. Não é possível caminhar sem levar o TDAH comigo. Eu sou ele. Ele sou eu.
Então prostro-me. Entrego-me.
E sigo vivendo (?)