segunda-feira, 28 de setembro de 2015

TDAH, NÃO EXISTEM RESPOSTAS






No meu último post, alguém comentou que não encontra respostas para sua própria ineficiência.
Resolvi voltar a esse assunto, que não é novo, mas que tortura a quase todos nós: A busca incessante por respostas, explicações...
Não existem respostas para o TDAH.
É uma doença. Uma doença biológica, física. E nenhum de nós pode fazer nada quanto a isso.
Não temos uma doença moral. Não é doença psicológica. Não é doença de caráter.
É doença do cérebro. Exatamente onde as ações, as reações, as atitudes e sentimentos são construídos.
Somos deficientes. Deficientes de um neurotransmissor. E se a ciência quase não avançou em uma solução para o TDAH nesses cem anos de conhecimento da doença, o que nós podemos fazer?
O tratamento mais eficiente contra a doença ainda é o auto conhecimento.
Conheça-se, conheça o TDAH e enfrente-o. Só isso podemos fazer.
O tratamento medicamentoso é limitado e restrito a alguns sintomas.
Não existe nenhum remédio que acabe com a impulsividade do TDAH. Assim como não existe medicamento que elimine a auto sabotagem. Tampouco existe um fármaco anti baixa auto estima.
O remédio é bom nos quesitos: Foco, atenção, disposição e memória. 
O resto é com a gente...
Siga alguns passos ao descobrir-se TDAH:

1) Perdoe-se. Você não pode mudar o passado e o que você fez (ou acredita que fez) estava fortemente influenciado pelo TDAH.

2) Transforme-se num expert em TDAH. Ao conhece-lo profundamente, você saberá reconhecer quando suas atitudes estiverem contaminadas pela doença. E poderá mudar seu comportamento.

3) Saiba que mesmo sob tratamento você não será perfeito.Você é doente e o remédio é limitado.

4) Pare de se punir. Aceite sua realidade e tente transforma-la. Se não der, não deu. Nem sempre dará.

5) Não tente se enganar endeusando o TDAH. O fato de sermos criativos e inteligentes não supera os estragos que a doença faz em nossas vidas.

6) Não se esconda atrás da doença. Primeiro por que nem tudo o que fazemos é fruto do transtorno; segundo por que a maioria das pessoas desconhece a existência da doença e não acredita que você que é tão 'normal' (talvez só um pouco voadinho e inconsequente) possa ser portador de uma doença mental.

7) Livre-se de pessoas e situações que te fazem mal ou só aumentam seu sofrimento e seu sentimento de inferioridade. O TDAH já é um fardo pesado demais na sua vida.

No mais, perdoe-se. Você vai repetir os mesmos erros ao longo da vida. Vai falar o que não deve, fazer o que não deve, adiar o que não deve, comer o que não deve, beber o que não deve, fumar o que não deve.
Mas esses somos nós. Somos essa soma de idiossincrasias e não podemos negar ou ignorar que fomos construídos - em parte - pelo TDAH.
Não se entregue; não se renda; você acordará amanhã TDAH e nada pode fazer contra isso.
Mas pode, e deve, tentar fazer seu dia melhor.
Por isso trate-se, observe-se, cuide-se e, principalmente, ame-se.
E não procure respostas, elas não existem.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O TDAH E O DILEMA MORAL





 
Entre a necessidade de dinheiro e a honestidade existe um longo caminho; um caminho em que podemos seguir para o nosso lado - o lado da necessidade - ou ser ético e honesto seguindo para o lado do outro.
Pois bem, vivemos esse dilema - eu e minha esposa também TDAH - recentemente.
Entregamos uma casa em que morávamos de aluguel e cuja garantia não foi fiança e sim uma caução em dinheiro no valor de R$ 1.500,00.
Na hora do acerto final, sugerimos ao dono da imobiliária que descontasse o último aluguel da caução que tínhamos feito. Assim acordados, esperamos que fizessem a vistoria do imóvel e nos chamassem para o acerto.
Depois de duas semanas de espera, fomos chamados para o tal acerto numa sexta-feira ao final da tarde. Diante da responsável pelo departamento financeiro começou nosso dilema: Por uma falha pessoal dela, a imobiliária não dispunha de dinheiro em espécie naquele momento e, do total que tínhamos direito - R$ 1.478,00 - eles dispunham apenas de R$ 500,00 em espécie.
Nos entreolhamos quando a moça nos disse o valor e calamos, deixando o acerto para a segunda-feira quando receberíamos o total em dinheiro.
Passamos o fim de semana discutindo o que fazer; a imobiliária não havia descontado o último aluguel conforme combinado. Mesmo com o rendimento de dois anos da poupança, imaginávamos receber no máximo R$ 1.000,00 e não o valor quase integral.
Íamos da desonestidade absoluta - ficar com o dinheiro todo e foda-se a imobiliária - à honestidade absoluta de chegar e falar: olha combinamos de descontar o aluguel e vocês não o fizeram...
A segunda-feira chegou e decidimos não fazer nada (nada mais TDAH), simplesmente aguardar o que a imobiliária tinha a dizer e mostrar.
Graças  a Deus fizemos a sábia opção pelo silêncio.
Chegamos ansiosos à imobiliária e a moça do financeiro nos aguardava com toda a papelada e o dinheiro já separado. Nos entregou o recibo de R$ 1.478,00 onde estavam discriminados os rendimentos e descontos feitos pela empresa. No alto, em negrito e letras garrafais o valor do depósito inicial: R$ 1.758,00;  depois disso vinham os dois anos de rendimento e lá estava ele; o desconto do aluguel vencido.
Começamos a sorrir aliviados e ao mesmo tempo constrangidos. Simplesmente não sabíamos quanto havíamos depositado. E pior, não tínhamos nenhum recibo, nenhum comprovante, nem mesmo o contrato de locação onde estava discriminado o valor da caução nós encontramos em nossa casa.
Embolsamos a graninha inesperada e saímos dali alegres, felizes e satisfeitos.
Ou não.
À parte a felicidade do dinheiro recebido sem culpa, a constatação de que o TDAH é maior e mais forte do que qualquer medicamento foi o resultado do episódio. A Ritalina, ou seus equivalentes e concorrentes, fazem um efeito parcial e momentâneo; não criam novos hábitos
Essa parte é nossa e é muito difícil de implementar. Em algum momento eu deixei pra Ana guardar e ela deixou pra mim. Ninguém sabe o que aconteceu.
Consigo me organizar em muitas coisas, criei bons hábitos no trabalho, mas no todo, em todas as áreas da vida não tem jeito.
O TDAH é de amplo espectro e eu só consigo atuar em alguns departamentos da vida.
Fiquei triste? Não. Já me acostumei a essas falhas tdahdianas.
Acostumar é diferente de acomodar. Não me puno ou me critico. Me alerto e me preparo para situações semelhantes que fatalmente surgirão. É tudo o que posso fazer.
Pelo menos o TDAH, ainda que por vias indiretas, me livrou do dilema de lesar ou não a imobiliária.
Confesso que eu não sei o que faria se eles estivessem errados.
Usei o dinheiro para pagar meu cartão de crédito por que, obviamente, o dinheiro que eu havia juntado para esse fim virou fumaça. Mas isso fica para um novo post...