sábado, 30 de maio de 2015
O TDAH E A RESILIÊNCIA
Muito se diz hoje sobre a resiliência.
A resiliência no trabalho, a resiliência no ambiente acadêmico, a resiliência na vida...
Mas o que é resiliência?
Resiliência é ser TDAH.
É a capacidade de adaptar-se às novas situações; aos imprevistos; às surpresas.
E quem mais resiliente que um TDAH?
Somos construídos por uma sucessão de fracassos não compreendidos e por isso superados.
Isso mesmo: não compreendidos.
Por que superamos tantos fracassos sem nos entregarmos? Sem jamais desistirmos?
Simples, somos impermeáveis.
Na verdade nós não assimilamos os fracassos; não enxergamos a verdadeira gravidade da situação e a doença nos dá um olhar infantil sobre o futuro. Toda novidade é boa. Mudar sempre é legal e emocionante.
E seguimos impávidos diante da vida.
Muitos se impressionam com tamanha capacidade de superação.
Estão errados!
Não se supera aquilo que não se sente. Aquilo que não se tem consciência.
Nossa alma adolescente não se abate. Vinte, trinta, ou como eu, cinquenta e quatro anos, nunca é tarde pra recomeçar.
Lindo isso, né?
Não, isso é muito triste!
Não se aprende com aquilo que não se sente, que não se vive.
O TDAH segue impávido, mas repetirá exatamente os mesmos erros e fracassará novamente.
A alma adolescente tolda a visão do futuro e dificulta a compreensão de que todos precisamos preparar esse futuro. Ainda que a alma seja adolescente, o corpo envelhece, as forças declinam e em algum momento da vida elas se exaurem e não conseguiremos mais recomeçar. Aí sim, surgirá diante de nós o verdadeiro estrago da vida. A verdadeira tragédia para nós que não tivemos passado e por isso não construímos um futuro. E acabamos atropelados por ele.
Sem dinheiro, sem patrimônio, sem uma aposentadoria digna...
Restará cuidarmos de nossas mazelas nas filas do SUS contando as migalhas que caem das mãos mesquinhas da Previdência Social.
Ah, nesse momento a resiliência do TDAH mostrar-se-á invencível!
Caminhando nas frias madrugadas das filas do SUS, a alma adolescente continuará a vagar pelos campos ensolarados do TDAH, criando vidas perfeitas, momentos de glória e reconhecimento; inexpugnável à maldade governamental ou à vilania do ser humano e só poderá ser derrotada ao extinguir-se definitivo da vida.
Isso sim é resiliência! O resto é adaptação...
terça-feira, 26 de maio de 2015
TDAH: EU QUERO ME CURAR?
Calma... Eu sei que TDAH não tem cura.
Ainda que tivesse, eu fico pensando: Será que quero abandonar meus devaneios? Minhas viagens à lua?
Vou trocar meu refúgio pelo quê?
Sei que ando com a cabeça nas nuvens e que isso é responsável por muitos dos meus erros. Mas como será viver sem isso? Como será encarar de frente todos os meus erros, tombos e falhas?
Quero isso mesmo?
A cada 'viagem' salvo a humanidade, salvo minha vida, escrevo livros e critico sábios e boçais. Como vou viver na mediocridade dos ' trouxas ' ? Como vou me ater a esse mundinho vil da realidade mesquinha dos pobres mortais?
Como vou me conformar com a jaula mental daqueles que não almejam o prêmio Nobel; não almejam sequer um Oscar ou um Grammy?
Não sei se suportarei tal quitinete mental.
Como domar pensamentos e sentimentos de tal magnitude?
Dirão os trouxas que isso é infantilidade. E é verdade. Dirão também que isso prejudica minha vida. E isso também é verdade. Dirão ainda que fujo da realidade. E ainda direi que é verdade.
Mas essa força infinita do TDAH não virá daí? Desse sonho sem fim que nos alimenta? Não será esse o lenitivo de nossas feridas?
Uma frase da amiga Ana Paula chamou minha atenção: A gente chora, distrai e esquece.
Sim! Distrai é a palavra chave!
Enquanto os trouxas ficam remoendo a derrota, cultivando a dor, criando salvaguardas pra não cair na mesma esparrela, o TDAH não; distrai e esquece.
E recomeça de novo. É, com pleonasmo mesmo. Recomeçamos tanto, mas tanto, mas tanto, que só o pleonasmo pra representar com exatidão.
Sim, já sei o que dirão os idiotas da objetividade: Claro, você recomeça porque não aprende com os erros.
Tem razão, mas a vida do Harry Potter rendeu seis ou sete filmes baseados em seis livros e arrastaram multidões aos cinemas e livrarias do mundo inteiro.
A vida dos trouxas daria um livro de umas oitenta páginas e, no máximo, um curta metragem. Que só a família iria assistir...
Sei lá, acho que prefiro ter duas ou três lápides no meu túmulo a abrir mão das vidas que levo em minha mente.
sábado, 23 de maio de 2015
TDAH: QUE DIABO DE DOENÇA É ESSA?
Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa (Guimarães Rosa)
Sou capaz de ir às lágrimas com um filme, uma notícia, um texto. Indigno-me da mesma forma. Mas estranhamente nada disso é duradouro. Esvai-se sem deixar vestígios. Nada fica. Nem a lembrança.
Que diabo de doença é essa que pode desaguar em explosões de ira diante de situações absolutamente pueris. Mas que desaparece sem deixar rastro. Não me serve de lição. Não me serve de aprendizado. Pode destruir pessoas. Pode destruir a minha vida. Mas se desvanece em minutos. Como nuvens...
Que diabo de doença é essa que me permite esquecer situações, pessoas, lições e vivências como se jamais as tivesse experimentado? Quantas vezes já me vi diante de aparelhos celulares abertos na minha bancada, olhando-os como se fossem novidades; mas sabendo já ter consertado mais de um daquele mesmo modelo. Criei um 'manual de instruções' por modelo para não ter de explorar tudo a partir do zero. Quantas pessoas repetiram diante de mim: Já nos conhecemos naquele local; naquele dia. E nada...
Que diabo de doença é essa que apaga da minha mente momentos inteiros da minha vida? Meu Deus, quantas vezes discuti negando veementemente ter dito ou feito isso ou aquilo. De nada valem os argumentos da outra parte: você estava sentado aqui; você usava tal roupa; você ainda falou isso sobre aquele fato. Nada! Absolutamente nada! Aquele trecho da minha vida eu não vivi!
Isso gera muita desconfiança das pessoas em relação ao meu comportamento; à minha honestidade; à minha credibilidade.
Nem sei quantas vezes fui taxado de egoísta; insensível... Certa vez, durante uma discussão em que eu negava peremptoriamente haver dito algo, minha ex esposa, desesperada, gritou: você está tentando me enlouquecer? É esse o seu objetivo?
Não era...
Mas eu tenho uma alma quase impermeável. Quase nada lembro... Quase nada aprendo... Quase nada guardo...
Em alguns casos, é positivo.
Não odeio ninguém! Não guardo mágoa de ninguém!
Mas também não aprendo!
Repito os mesmos erros; sou enganado pelos mesmos argumentos; e me estrepo de novo... de novo... de novo... de novo...
segunda-feira, 18 de maio de 2015
TDAH: NOVE PASSOS PARA VOCÊ FRACASSAR NA VIDA
Lembre-se, não deixe nenhum dos passos sem cumprir ou não poderei garantir que vá fracassar retumbantemente! Não posso ser responsabilizado se você, mesmo cumprindo o tutorial aqui descrito, ainda obtiver algum sucesso na vida. As vezes a sorte não está a nosso favor...
1) NÃO SE TRATE: Essa é a base de tudo! Ignore ser um TDAH, melhor ainda, não acredite que exista o TDAH. Acredite que a Ritalina é um veneno e que os médicos estão mancomunados com os grandes laboratórios para ganhar milhões à suas custas.
2) CONFIE NA SUA MEMÓRIA: Acredite piamente que anotar é besteira, você irá se lembrar. Some-se a isso o fato de você não tomar os remédios e estará dando um grande passo em direção ao buraco.
3) ISOLE-SE: Isso é ótimo! Aceite que você é anti social e abandone amigos, parentes e conhecidos. Rapidamente você não será lembrado para ser convidado a eventos sociais, promoções, novas oportunidades...
4) LIBERTE-SE DO RELÓGIO: Não fique conferindo as horas, nem se preocupe com possíveis atrasos; o brasileiro é assim mesmo. Não se esqueça: sempre dá tempo de ajeitar alguma coisa em casa antes de sair, não confira o endereço antes de sair (CONFIE NA SUA MEMÓRIA) e muito menos confira se você conhece mesmo o caminho. A surpresa é a graça da vida!
5) APREGOE SEU TDAH NO TRABALHO: Isso é muito importante, todos devem saber que você é TDAH. Principalmente seus superiores. Você passará por três estágios: NEGAÇÃO, ZOAÇÃO E DEMISSÃO. Seus colegas dirão: Que isso, você é um cara inteligente, não tem essa doença não. No segundo estágio vão começar a te zoar: Chegou atrasado hoje por que não tomou seu remédio? Esqueceu as planilhas né, TDAH? E no último seu chefe vai concluir que seu problema é doença e você jamais vai superar suas deficiências. Na primeira crisezinha demite o doidinho.
6) SOLTE SUA IMAGINAÇÃO: Empresas gostam de pessoas que pensam fora da caixinha, então, nada de se policiar. Viaje durante o expediente; diga coisas sem noção durante as reuniões; não faça um roteiro do que precisará dizer, improvise! Não se policie, deixe que o TDAH (que você não acredita que exista) aja por você.
7) ASSUMA SEU SENTIMENTO DE INFERIORIDADE: Deixe bem claro que você é um nada! Não sabe nada! Não entende nada! E, principalmente, não merece nada! Sempre que pedirem sua opinião - ainda que você saiba - titubeie, gagueje, engasgue. Não seja merecedor. Assuma, você é uma farsa!
8) SOLTE SUA IMPULSIVIDADE: Aqui é o oposto da anterior. Fale o que lhe vier à cabeça. Aponte as falhas e defeitos dos outros. Fale na cara! Seja O SINCERO! Assuma riscos desnecessários e o principal: JAMAIS PENSE NAS CONSEQUÊNCIAS. Isso é fundamental!
9) ABANDONE SEUS PROJETOS: Esse item é típico. Esqueça aqueles projetos que já te consumiram tempo e dinheiro e mergulhe em algo novo, excitante!!!! Que claro, será também abandonado por outro ainda mais excitante... Que será abandon... Que será aban... Que será ab...
Este item me foi sugerido pela Bianca Tupinambá. Obrigado!
Eu poderia listar mais algumas atitudes aqui, mas acredito que essas sejam as principais. Se você sabe de outras que possam enriquecer nosso fracasso poste nos comentários; adorarei saber. Talvez até mesmo acrescento aqui e te dou o crédito.
Ahhhhh, já ia me esquecendo: siga rigorosamente esses passos e você terá como bônus um aumento exponencial do seu sentimento de culpa. Isso é um ganho extra que estou te proporcionando, portanto, cumpra.
quarta-feira, 6 de maio de 2015
TDAH: O CONFRONTO DESNECESSÁRIO
Quer uma boa briga?
Confronte seu TDAH! Marido, esposa, namorado, filha, filho...
Você terá um vulcão de volta.
Aqueles mais passivos podem até não responder no mesmo diapasão, mas se fecharão às suas palavras, aos seus sentimentos, à sua razão.
E mais, estarão mais um passo distante de você.
Todos nós odiamos o confronto, mas não sabemos reagir de outra forma.
Como na fábula do escorpião e do sapo, é da nossa natureza.
Uma boa briga, um enorme barraco, terá como efeito imediato um gigantesco desprezo por você. Não importa se a razão está ou não com você, odiamos essas demonstrações de fraqueza e desequilíbrio. E detestamos os fracos.
Ainda que a resposta do TDAH seja o silêncio, nunca fará o que você quer. Só de pirraça. Só pra te mostrar que sua fraqueza não tem efeito prático algum.
Pare agora!
Repense sua estratégia, seu modo de agir com seu TDAH favorito. Esse caminho até agora foi inútil, só gerou briga e desgaste,
Mas atenção, não confunda mudança de estratégia com passividade ou omissão. Não! Pare pra pensar em quando, como ou por que em alguns momentos seu TDAH favorito fez exatamente o que você queria ou aquilo que era correto. Qual foi a sua abordagem? Qual foi a motivação do seu TDAH?
Seu filho adolescente é um problema? Faz o oposto do que deveria?
Pense na vida que ele leva: É isso mesmo que ele queria fazer? Era essa vida que ele sonhava?
Obviamente algumas coisas são inegociáveis, mas ele ama natação, ou inglês, ou as aulas de reforço?
Sei lá, talvez ele prefira box, muay thai, balé, xadrez ou música. Negocie com ele. Tire uma tarefa em troca de algo que ele goste, desde que ele ofereça melhoras no estudo ou no comportamento.
Seu marido é instável? Irascível? Insuportável?
Pense também na vida que ele tem. Ele trabalha no que ama? Sua profissão é o seu sonho?
Sabemos que é dificílimo conviver com uma pessoa cheia de potencial na adolescência e que hoje, dez, quinze anos depois é um retumbante fracasso. Ele destruiu seus sonhos por burrice, infantilidade, ingenuidade... Mas imagine; como será que ele se sente? Imagine o gosto amargo que ele carrega na boca 24 horas por dia. Imagine o sentimento que ele tem ao passar diante daquela rua, daquela escola, daqueles símbolos de sua derrota. Dói muito! Mas muito mesmo. E você o taxa de insensível; mas sua alma sangra. Sangra diariamente...
Já não é dor demais? Ainda que não pareça, é.
Aprenda a comer pelas beiradas, sem confronto, sem brigas. A primeira reação do seu TDAH foi dizer não, aí você briga. Não! Cale-se e pareça concordar. Depois, em outro momento, tangencie o assunto, fale levemente sobre as opções e deixe a tortuosa cabeça dele concluir aquilo que você quer.
Mude! bater de frente é derrota na certa.
Para ambos os lados.
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