Recebi o email da Adriana dizendo ter quarenta e um anos de vida jogados no lixo, em razão do TDAH.
Forte, não?
Isso me impressionou muito. Então eu tenho cinquenta e quatro anos jogados no lixo também? Afinal, mesmo sob tratamento, temos uma doença incurável e o máximo que conseguimos é amenizar alguns dos sintomas. Tudo bem então, quem se trata não tem a vida atirada no lixo, mas ela fica ali perto, caída ao lado da lixeira; sujeita às mesmas contaminações e aos mesmos desprezos dedicados ao lixo.
Seria isso a minha vida? A nossa vida?
Não me conformei com isso. Com certeza alguns anos, determinados períodos, são dignos de serem atirados na primeira lata de lixo que aparecer. Mas todos estamos sujeitos a isso na vida, mesmo aqueles não portadores de TDAH.
Mas quando olho pra trás, acho até que fiz muita coisa da minha vida. Afinal, carrego nos ombros(ou na minha cabeça) meu principal inimigo; ainda assim estou aqui; de pé, me preparando para novos desafios. Jamais me abati ou me entreguei às minhas muitas derrotas, pelo contrário, enfrentei-as todas. E as superei. Se venci, pouco importa; superei-as.
Cometi falhas horríveis, tive perdas enormes, senti (e causei) dores lancinantes... Mas aqui estou eu; de pé pela enésima vez, pronto para recomeçar. Sem sucumbir às dores, sem me envergonhar com minhas quedas, sem me esquecer de quem foi, ou ainda é importante pra mim.
Não! Meus cinquenta e quatro anos não foram jogados no lixo, muito menos foram em vão. Tomando emprestadas as palavras de Roberto Carlos: Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.
Não fique assim, Adriana,como todos nós TDAHs, você deve ser intensa, apaixonada, criativa, inteligente, indomável...
Ali onde muitos pereceriam, você sobreviveu, e voltou; e voltará sempre.
Todos nós, inclusive os trouxas, erramos, pecamos, magoamos. Não permita que nossa eterna culpa, somada ao nosso sentimento de inferioridade, reduza sua vida ao lixo. Você chegou aos quarenta e um anos carregando seu inimigo nas costas, lutando contra você mesma. Não reduza seus méritos.
Lembre-se de quantas vezes você conseguiu se derrotar e impedir desastres maiores; de quantas oportunidades você conseguiu se calar e engoliu agressões letais...
Levante a cabeça, Adriana, nós somos antes de tudo lutadores; e vencedores.
Respeite suas cicatrizes e siga em frente!
A vida foi feita para os fortes, pra quem não se entrega jamais, E nisso, nós TDAHs, somos imbatíveis!