quarta-feira, 31 de julho de 2013

O TDAH E A BATALHA INTERIOR



                                                                                                                                                                                                                                                



Hum, essa viagem vai ficar mais cara do que eu imaginei, dava pra pagar o IPTU atrasado.E se eu desistisse? Ligo e e falo que tô sem grana... Não, que minha mãe adoeceu...Mas vai ser uma decepção, duas semanas planejando...Eu já sabia que ia me enforcar; hotel, avião, e eu nem  tô contando aquelas comprinhas típicas de cidade turística...Ai meu Deus, tenho de cancelar essa viagem, não posso gastar isso tudo.Posso pagar só o minimo do cartão mês que vem e vou rolando. O juro vai me comer pelo pé.mas eu mereço um descanso também! Sei lá qual foi a última vez que fiquei uma semana descansando.Dou um, duro danado... mereço...E ela também é linda... se eu não for ela vai achar que sou um pé rapado. Mas sou... Mas tenho crédito, posso rolar o cartão...E o show em setembro? O Marcão me chamou pra ir com ele. Porra vai ser muito legal. Muita mulher bonita, sol, mar...Minha mãe disse que ia dar sol hoje, mas tem cara não. Tá gelado...E ainda assim fui beber gelado ontem e minha garganta tá doendo. Eu deveria operar essa merda dessa garganta, tirar logo isso. Ihhhh mas o plano de saúde tá atrasado. Amanhã eu pego o dinheiro do IPVA do carro e pago o plano de saúde; o governo não cobra muito nada. Eu não sei se eles apreendem o carro. Amanhã vou ligar pro meu parceiro, Dr. Rodrigo e perguntar. Parceiraço aquele cara, nem parece advogado famoso, humilde pra caramba. Mas humildade também deveria ser obrigação de todo ser humano, ninguém é melhor do que ninguém.Ihhhhh, viajei!Volta pras contas, mané!E se eu barateasse o hotel. Falo com ela que tava lotado aquele hotel que eu havia dito. Lotado na baixa temporada. kkkkkkk, imagina, alugo uma pensão bem fuleira, kkkkkkkk, eu queria ver a cara dela, toda riquinha, de roupa de marca, bolsa Louis Vuitton na pensão da tia Maria. kkkkkkkk. Igual aquela que eu fiquei em Passatempo, kkkkk, o colchão era um colchonete em cima do estrado, aiaiaiai, minhas costelas batiam o tempo todo no estrado da cama. kkkkkk. Ô vida difícil... esse negócio de representante é difícil, a gente sai viajando por aí, ninguém sabe pelo que a gente passa. É uma vida dura... nego acha que é legal viver viajando... lembro de um cara que conheci em Nepomuceno que dormia no bagageiro da Parati dele pra economizar. Deve tá rico, mas com um problemão  na coluna. kkkkk. Nessas alturas deve andar de quatro.kkkkk.De quatro tô eu por causa dessa menina e vou gastar o que não tenho. Foco, idiota, foco. Prestenção...Não, faço assim: rolo o cartão e arrumo um bico à noite, uns três dias na semana faço um bico aí. Sei lá, qualquer cenzinho ou duzentinho que entrar já ajuda.Mas bico de quê? Aonde? Isso eu vejo depois. Se eu não achar nada eu tento fazer umas horas extras na companhia. Mas lá não pagam hora extra. Ah sei lá, eu dou um jeito de aumentar minha renda.É isso aí, vou fazer a viagem por que eu mereço, tô cansadão, preciso relaxar, quero muito pegar essa menina linda... a grana? Pego alguma coisa pra vender nas horas vagas... é posso fazer isso. Odeio vender qualquer coisa, mas, quem sabe, carro apertado é que canta.... Minha avó é que falava isso. Era o carro de boi...  kkkkk quanto mais apertada a roda no eixo, mas o carro rangia e assoviava, e isso era lindo aos ouvidos roceiros dela. kkkkk Pois é, eu sou assim, quanto mais apertado eu estiver, melhor eu canto. kkkkk De mais a mais a prefeitura que se dane, o dia que eu tiver dinheiro eu pago o IPTU. kkkkkIhhh o telefone..Claro minha querida, já reservei o hotel que vimos na internet... Caro nada, tranquilo... Isso, uma semana de vida de reis... Você merece... E eu também né?Jantar hoje? Ah naquele restaurante novo? Claro que vamos... Então deixa eu me arrumar por que lá é muito chique. rsrsrs Nada, bobagem, aperta um pouquinho só, fica tranquila...tchau, beijo...Ai meu Deus, e esse restaurante agora...Que vontade de morrer meu Deus...Onde fui me meter... Acho melhor sumir dessa mulher.. sumir da vida... eu deveria ter nascido numa favela, sei lá, na roça...

Essa é uma pálida ideia do bombardeio de pensamentos contraditórios que sofremos ao tomarmos uma decisão.Na vida real, são mais rápidos, se sucedem sem intervalo; em alguns casos ficamos quase atordoados com esse bombardeio.O pior de tudo é que, na maioria dos casos, o diabinho sempre vence.
É uma batalha do bem contra o mal, do imediato contra o perene, do prazer contra a necessidade.
Uma batalha que se trava em nosso interior a cada decisão que precisamos tomar; a Maria que está insatisfeita com o curso de química; a Anônima que pensa em abandonar o namorado;  cada um de nós é o palco dessa guerra em que só existe um perdedor, nós mesmos. Ainda que tomemos a melhor decisão, resta-nos o desgaste mental e a enorme dúvida de termos ou não tomado a decisão correta.
Dá um cansaço...

domingo, 28 de julho de 2013

TDAH, O TRATAMENTO NÃO É FÁCIL






Não, Simone; o tratamento do TDAH não é tão mágico quanto um par de óculos para quem é míope. Pelo menos no meu caso, mesmo o tratamento tendo mudado minha vida, ainda luto cotidianamente contra o TDAH e sua equipe de sabotadores. Creio, honestamente, que a idade em que fui diagnosticado - 50 anos - influi diretamente no resultado do tratamento.
Cinquenta anos de TDAH  não tratado criaram em minha personalidade defesas, artimanhas e comportamentos que não se apagam somente com o remédio. Eu precisaria (e preciso) de uma boa terapia, mas a grana não dá; me restam o blog e uma sistemática auto análise em todos os meus comportamentos. Praticamente tudo o que eu faço - e principalmente o que eu NÃO quero fazer - eu submeto a essa auto análise. É preciso fazer? É importante que seja feito? Se eu não fizer o que estarei perdendo? O que estou trocando por aquilo que deveria estar fazendo, vale a pena? Por exemplo: trabalho de uma forma bastante livre, tenho um netbook com acesso à internet à mão, se eu não me policiar acabo usando o net pra acessar o blog em lugar de trabalhar. Eu abasteço o Facebook da empresa de informações; e a vontade que dá de acessar o meu Face pra saber das novidades! Isso parece muito fácil pra quem não tem TDAH, nós temos nosso próprio cérebro como inimigo; ele nos alimenta de falsos prazeres imediatos, de desculpas para que façamos o prazeroso e não o necessário. Um comportamento quase infantil. E não é apenas nesse campo da vida que o TDAH atua; no relacionamento afetivo aquele jogo de sedução e conquista com outra mulher (ou outro homem) é plenamente justificado por nosso cérebro doente. Por mais que amemos nossos parceiros, nossa mente inunda-se de pensamentos negativos sobre nossos relacionamentos. As brigas, os defeitos, tudo isso surge diante de nossos olhos como a nos dizer: a pessoa que está diante de você não tem nenhum desses defeitos! Um estímulo ao prazer imediato alimentando o jogo da sedução.
Aí entra a auto análise de que falei; penso a médio e longo prazo. Vale a pena o risco ao meu relacionamento? Sou eu que quero manter esse jogo ou é a necessidade de prazer imediato do TDAH? Em 90% dos casos a culpa é da doença. Eu mudo meu rumo e sigo minha vida.
Acho quase impossível vencer o TDAH sem medicamento algum. A ritalina aumenta minha concentração, meu foco, minha disposição, minha memória. O resto é comigo e minha vontade de não repetir os mesmos erros. E confesso que caio muito, erro muito e repito muito dos erros passados; mas aprendi a me perdoar, a enxergar que tenho uma doença incurável e que, às vezes, parece invencível. Aí entra, de novo, o remédio; é ele quem me dá forças pra enfrentar e derrubar o que parecia invencível.
Estou me preparando para experimentar o Venvanse. Minha médica acredita que será muito melhor. Eu torço por isso, mas, se eu não me adaptar, não tem problema, volto pra minha ritinha, com ela, mais a força de recuperação que tenho, eu  enfrentarei o TDAH de novo.
Todos os dias da minha vida, se for preciso.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

SAMBA DO TDAH DOÍDO







    PARÓDIA DO SAMBA DO CRIOULO DOIDO DE STANISLAW PONTE PRETA

Os mais velhos certamente se lembrarão de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo do jornalista Sérgio Porto). Uma de suas obras mais conhecidas foi o SAMBA DO CRIOULO DOIDO, uma enorme gozação com a história do Brasil. Há tempos atrás eu fiz uma paródia desse samba e, nem sei por que, não a publiquei.
Publico agora e peço a todos um favor: se algum de vocês fazem parte, ou conhecem quem faz parte, de um grupo de samba ou pagode, eu gostaria de fazer um vídeo de samba pra postar no blog. Cantado é mais legal do que lido.
Aí vai; gostei bem do resultado: em negrito está a minha versão, abaixo dela a letra original.

Foi em Juiz de Fora, na terra do Itamar
(foi em Diamantina, onde nasceu JK)
Que a ironia do destino me fez nascer TDAH
(e a princesa Leopoldina arresolveu se casar)
Era o Brasil de JK presidente
(mas chica da silva, tinha outros pretendentes)
E um menino hiperativo era visto como insolente
(e obrigou a princesa a se casar com Tiradentes)
La, la, la,la, la, la, laia
A vida começou a complicar
( o bode que deu vou te contar)
La,la, la, la, la, laia
A vida começou a complicar
(o bode que deu vou te contar)
Impulsividade,
( Joaquim José)
Desatenção.
(que também é)
Hiperatividade
( da Silva Xavier)
Eu era ligado na tomada
(queria ser dono do mundo)
Prenúncio de uma vida complicada
(e se elegeu Pedro segundo)
Era pipa e pião, era briga de rua, pulava carniça,
(das estradas de minas seguiu pra são Paulo e falou com Anchieta)
Futebol na calçada, banho de enxurrada, não tinha preguiça,
 (o vigário dos índios aliou-se a d Pedro e acabou com a falseta)
Era irrequieto, sonhava acordado, andava no teto,
(da união deles dois ficou resolvida a questão)
Um TDAH não descoberto
( e foi proclamada a escravidão)
Assim eu conto a minha história
(assim se conta esta história)
Muita derrota e pouca glória
(que é pros dois a maior glória)
Não fiquei casado com ninguém
(D. Leopoldina virou trem)
E hoje não tenho nem um vintém
(D Pedro é uma estação também)
Oooooo o meu tratamento enfim chegou
(oooooo o trem tá atrasado ou já passou)




quinta-feira, 18 de julho de 2013

O TDAH SEM RUMO








A esmo vago pela vida.
Entre quedas e derrotas reergo-me e continuo a vagar, apenas para cair novamente mais adiante.
Achacado por pensamentos incontroláveis, por impulsos inconfessáveis; vivo(?) à mercê dos hábeis sabotadores que habitam minha mente.
Imagino seguir em frente, mas, como num jogo de espelhos, o futuro reflete o passado e a mão que me é estendida revela-se um engodo; frágil, quebradiça, apenas ilude aumentando a dor da nova queda.
Como uma nau apátrida, navego ao largo de portos os mais diversos, mas não posso atracar. Daquele povo não faço parte, àquela terra não pertenço.
O velho barco combalido pelas intempéries afasta-se de mais um porto e empreende uma nova busca ao longo do vasto oceano da vida.
Qual nada, não existirão portos amistosos. A nada ou a ninguém pertenço. Meu destino é vagar; vagar sem rumo à espera da borrasca final que selará o destino de uma vida inteira vivida à margem, à espreita, sem jamais experimentar o inebriante sabor do pertencimento.

PS.: Este post foi inspirado no comentário anônimo postado ontem no texto O Tdah Desempregado

domingo, 14 de julho de 2013

O TDAH DESEMPREGADO.






O desemprego é difícil para qualquer pessoa, e quando perdura, é muito pior. A falta de trabalho e a consequente incapacidade para manter-se e à família, reduz a auto estima e potencializa todos os defeitos da pessoa.
Gonzaguinha tem uma música que fala sobre isso e num determinado trecho diz assim: sem o seu trabalho um homem não tem honra...
Imagine se essa pessoa for TDAH!
Por influência da doença, já temos uma baixa auto estima, desempregados então...
Vamos imaginar o quadro descrito pela leitora Simone: o marido desempregado, sustentado pela mulher e fica em casa o dia inteiro nos joguinhos de computador.
Que comportamento ridículo, o camarada desempregado e fica perdendo tempo em joguinhos?
Pois é amigo, pense bem, sem emprego, sem dinheiro, e com auto estima lá em baixo. Procurar emprego pra quê, ninguém vai contratá-lo mesmo. E a vergonha de sair de casa e ter de explicar a quem encontrar que está desempregado; de novo. E a falta de noção de tempo, que faz com que as horas escoem diante da tela do computador e ele nem perceba. E a infantilidade típica da doença que faz com que ele espere uma grande oportunidade caindo em seu colo.
E a esposa chega em casa morta de trabalhar e se depara com a casa bagunçada, nenhum currículo distribuído e o marido no computador jogando sem parar. Dá uma raiva!
E o marido fica agressivo, grita, discute.
Essa é a maneira que ele encontrou de se defender do indefensável: agredindo.
Acuado, sabendo-se sem razão mas não querendo admitir a derrota, parte para o ataque.
O ataque trás em seu bojo todo o desespero pela doença, trás a negação do diagnóstico, trás a recusa ao tratamento; mas trás também uma inconsciente vontade de que tudo piore; uma estranha vontade, inexprimível, de experimentar o fundo do poço. Um amargo e doce flerte com a tragédia total; desemprego, separação, e a pena de todos os que o cercam.
Não sei se algum de vocês já sentiram o estranhíssimo fascínio de saltar de lugares altos, muito altos; eu sinto isso. Sei que jamais concretizarei, mas uma vontadezinha de experimentar o salto final, lá isso dá.
O comportamento do marido é típico do TDAH! Ele foi diagnosticado e, por falta de sorte, tratado erradamente, mas ao mesmo tempo ele ligou o foda-se. E isso serve pra tudo em sua vida. Nós portadores sabemos do que estou falando.
Sabe, Simone, enfrentar essa barra requer uma força que eu não teria; e nem sei se queria ter.
O normal ao sermos diagnosticados é um profundo mergulho no universo TDAH para aprendermos a lidar com a doença, para criarmos estratégias para driblá-la.
A inércia e o desinteresse são frutos da auto sabotagem, assim como a negação, mas cabe somente a ele se erguer e enfrentar a doença; e não esperar que façam por ele.




segunda-feira, 8 de julho de 2013

O TDAH INCONSTANTE







Amamos e odiamos num átimo.
Fervemos e congelamos num instante.
Sorrimos e choramos num relance.
Erguemos e destruímos num centésimo.
Expandimos e encolhemos num piscar.
Morremos e renascemos numa vida.
Esse ir e vir contínuo.
Essa inquietude interna.
Essa vida em choque.
Frutos da insatisfação que nos habita.
Nos desanima!
Nos esgota!
Nos derrota!
Não!
Isso jamais!

terça-feira, 2 de julho de 2013

CUIDADO, TEM DESONESTOS NO BLOG!!!

ATENÇÃO, ATENÇÃO!!!!
ALGUÉM ESTÁ POSTANDO LINKS DE VÍDEOS DO YOUTUBE JUNTO DOS COMENTÁRIOS USANDO O MEU NOME.
TAL COMPORTAMENTO OBSESSIVO DEMONSTRA DUAS COISAS:
1) O BLOG É UM SUCESSO E ESSA PESSOA DE FRACA PERSONALIDADE ACHOU QUE AQUI CONSEGUIRIA PROPAGAR SUAS RIDÍCULAS IDEIAS ANTI PSIQUIATRIA E ANTI TDAH;
2) O COMPORTAMENTO DESEQUILIBRADO E OBSESSIVO DEMONSTRA QUE ESSA CRIATURA É, NA VERDADE, UM DOENTE MENTAL EM NEGAÇÃO, QUE TENTA USAR ESSES VIDEOZINHOS RIDÍCULOS PARA COMBATER SUA PRÓPRIA DOENÇA.

EU JAMAIS POSTARIA ALGO CONTRA A DOENÇA QUE EU SOU PORTADOR OU CONTRA A CIÊNCIA QUE AJUDA A TODOS NÓS A TERMOS UMA VIDA MELHOR.
E MUITO MENOS POSTARIA ALGO DE GRANDE INTERESSE E UTILIDADE SEM UM POST QUE O APRESENTASSE OU SEM NENHUM COMENTÁRIO.
PERDOEM-ME O TRANSTORNO, MAS ISSO POR OUTRO LADO CONFIRMA QUE ESTAMOS NO CAMINHO CERTO, POIS TRATADOS NÃO PRECISAMOS ADOTAR ESSES COMPORTAMENTOS RIDÍCULOS DESSA PESSOA DOENTIA.