Desatenção é muito mais que esquecimento. Desatenção é olhar sem ver, escutar sem ouvir, ler sem entender...
Escrevi um post semana passada sobre um novo sintoma que descobri sobre o TDAH. Até descobrir que foi desatenção minha, e não um novo sintoma.
Eu tinha que entregar o celular de uma cliente e o coloquei na mala. Chegando ao destino não encontrei o celular entre as minhas coisas. Fiquei arrasado, na minha mente eu me via colocando o aparelho entre roupas macias para protegê-lo. Pensei, minha mente está criando situações. E escrevi sobre isso. Horas depois a namorada encontrou o celular dentro da mala, preso num canto. O nome disso? Desatenção!
Certa vez, nos tempos de inflação alta, comprei um terreno; ao elaborar o contrato de compra e venda a vendedora alterou a cláusula de reajuste, eu li e não percebi. Devo ter lido pensando em outra coisa. Acabamos num desgaste danado, desisti do negócio até que ela voltasse atrás. E a alegação dela era de que eu havia lido o contrato.
Quantas vezes ouvimos parcialmente, respondemos ao que ouvimos e o interlocutor entende a resposta ao todo que ele disse... E novo desgaste... Novas brigas... Novas discussões...
Só me descobri TDAH aos cinquenta anos de idade, imaginem tudo o que passei por não saber o que tinha. Apenas era um sujeito absurdamente desatento, folcloricamente esquecido, irresponsavelmente impulsivo, incrivelmente egoísta, e outros desairosos adjetivos que prefiro omitir.
Sempre digo que não se deve sair dizendo aos quatro cantos que é portador de TDAH. Principalmente no trabalho, afinal pode ser usado como arma contra a pessoa. Mas num relacionamento é fundamental a verdade. Eu falo na lata. Empolguei com a pessoa já aviso. Isso economiza bons desgastes. E ajuda a avaliar aonde estamos entrando. Se a reação da pessoa for negativa, pulo fora. TDAH não tem cura, conviver com quem não entende, ou não aceita é auto flagelação.
Não se atentar aos detalhes é outra característica do TDAH. Pra mim faz parte, ou está intimamente ligada à desatenção. Falta paciência de ler aquilo tudo... Falta atenção para olhar em todos os desvãos... Falta ânimo para cobrar todos aqueles detalhes que ficaram para trás... Uma vida generalista, sem detalhes. A solução é se aliar a alguém oposto. Desde que este alguém goste de controlar e corrigir e aceite bem esse papel. Estando consciente de que a desatenção é fruto de um transtorno e não de negligência ou preguiça, é menos difícil de conviver.
Estamos vivendo a época de respeito às diferenças. A mídia cobra novos comportamentos, mas venhamos e convenhamos, na maioria das vezes, é mais fácil conviver com o macro, do que com as micro diferenças do dia a dia.
Desatenção, falta de memória, Impulsividade, fazem parte do nosso pacote de diferenças e devem ser reconhecidas e respeitadas. E devemos exigir isso. Como devemos fazer a nossa parte: o tratamento. TDAH não é muleta para continuarmos fazendo o que queremos. Não, é um transtorno tratável; e por amor e respeito a nós mesmos e aos que nos amam e convivem conosco, devemos tratá-lo.
TDAH sem tratamento, em geral, quer salvo conduto para agir impunemente.