sexta-feira, 30 de maio de 2014

O TDAH, A PERFEIÇÃO E O PERFECCIONISMO







Alguns dias atrás escrevi um post sobre a perfeição. Nele eu dizia que nós TDAHs não deveríamos almejar ou não almejamos a perfeição, mas sim o suficiente ou o razoável.
Não queremos a perfeição, queremos apenas concluir o necessário; eu disse naquele post.
Num dos comentários, um atento leitor chamou minha atenção para um post meu de maio do ano passado. Nele eu abordei o perfeccionismo. Aparentemente eu dizia o oposto do que disse acima. Mas não!
Quando eu abordei a questão do perfeccionismo, eu chamei a atenção para uma auto sabotagem em nossas tarefas, nossos sonhos. Para exemplificar: eu amo escrever. Tenho vários esboços de livros, para adultos e crianças. Um livro de contos inteiro; e um esboço, ou um rascunho de um romance que é minha grande paixão. Pois é, o perfeccionismo do TDAH entra aqui. Esse livro jamais estará pronto, nunca atingirá o ponto de me satisfazer por que eu sonho em ser prêmio Nobel de literatura; e não apenas escrever um livro. Eu quero ser um Gabriel Garcia Marquez e não o Alexandre Caldas Schubert, escritor iniciante.
Morro de medo de expor-me à crítica e ser mal recebido. Só publicarei o dia que estiver perfeito.Por causa desse comportamento, eu não saio do imobilismo para concluí-lo e muito menos tentar publicá-lo.
Assim é o perfeccionismo do TDAH. Não queremos ser perfeitos em nossos comportamentos, mas cobramos de nós mesmos a mais absoluta perfeição em tarefas que, de antemão, sabemos que não serão perfeitas. Com isso nos boicotamos, pois desistimos antecipadamente já que nossa meta é inatingível.
No post mais recente, o que quero ressaltar, é que se conseguirmos cumprir boa parte de nossas tarefas diárias  já nos daremos por satisfeitos. A grande maioria de nós TDAHs, já abdicou daquele sonho de cumprir TODAS as suas tarefas rotineiras, e ao fim do dia ainda lembrar-se do aniversário do amigo, de comprar a ração do cachorro e ainda comprar o desodorante da pessoa amada, que notamos já estava acabando. Aí já é a perfeição, e essa nós nem sonhamos.
Assim carregamos em nossa mente essas duas situações; somos ambos. O que um sonha, o outro boicota.
Apenas não decepcionarmos aos que esperam algo da gente, e principalmente a nós mesmos, já está perfeito!
Espero ter esclarecido a diferença dos comportamentos. Se ainda não estiver claro, alertem-me; tentarei explicar melhor, para que fique perfeito.


domingo, 25 de maio de 2014

O TDAH E AS PERDAS




Viver é perder!
A cada escolha pressupõe-se uma perda.
A cada passo adiante, deixa-se algo para trás.
A cada passo atrás, deixa-se de ganhar algo que viria adiante.
Alice, minha amiga do excelente blog: ALICE LUTA DIARIAMENTE CONTRA OS JAGUADARTES, retornou ao blog com um texto triste e sofrido. Perdeu uma amiga amada, mudou de emprego e cidade, afastou-se da família e dos amigos. Quanta perda...
Fiquei pensando nisso. Quanta perda; a família que ficou, o emprego que já conhecia, a cidade a qual já estava acostumada, isso sem falar na perda de uma pessoa amada que é insubstituível, mas nunca é por nossa escolha.
E estou me perguntando: Como escolher? O que é perda ou ganho?
Alice conseguiu um novo emprego, um novo desafio, novos horizontes e a possibilidade de novas conquistas. Mas como abrir mão das histórias e pessoas passadas? Largar tudo e seguir é um ato de impulsividade? Ou ficar e abrir mão de possíveis novas conquistas é um ato de covardia e medo? Largar uma pseudo estabilidade atual em busca de um sonho é irresponsabilidade? Abrir mão de uma renda maior para abraçar uma profissão que se ama, mesmo que isso exija sacrifícios financeiros da família é um ato de egoísmo?
Onde está a impulsividade ou o equilíbrio?
Onde está a irresponsabilidade ou o amor próprio?
Perder-se também é caminho, já disse a imortal Clarice Lispector. Linda frase, mas não passa disso. Vivê-la é outra história, como são quase todas as frases de efeito que tanto amamos. Belas frases que nos incentivam a correr atrás dos sonhos, mas não nos ensinam a colocar o feijão na mesa.
E aí eu pergunto: e agora?
Alguns caminhos se abrem em nossas vidas, mas o que é maduro, responsável e socialmente aceito pode não ser o que sonhamos quando colocamos nossas cabeças no travesseiro; ou sob o chuveiro, no meu caso específico.
Karl Marx submeteu sua família a privações seríssimas, mas mudou o mundo; James Joyce igualmente privou sua família de uma vida materialmente digna, mas mudou a literatura universal; Origenes Lessa narra uma história semelhante em sua obra O feijão e o sonho, em que um poeta idealista enfrenta a esposa pé no chão que exige dinheiro pra sustentar a família.Vale a pena ler.
Claro, não imagino que eu, ou a maioria das pessoas, vá mudar o mundo; mas mudar a própria história já é uma forma de mudar o mundo.
E aí retomamos nossa encruzilhada, o que é perder ou ganhar?
O que é impulso, maturidade, medo ou irresponsabilidade?
Viver é perder!
Mas será que não temos o direito de ganhar algumas vezes?
Temos o direito de alimentar nossos sonhos e nossas almas, ou somente cumprir as questões práticas da vida?
Saber-se TDAH nos coloca numa posição mais crítica, e portanto mais titubeante.
Seguimos o sonho ou o feijão?


sexta-feira, 16 de maio de 2014

TDAH EM FUGA DA VIDA...





Uma palavra...
Um gesto...
Um silêncio...
Pouca coisa, quase nada.
E nosso mundo desaba...
Pernas e braços adquirem um peso jamais sentido.
Mover-se é um desafio.
Parecemos viver em câmera lenta num mundo que segue a mil por hora.
O teto parece querer nos esmagar; até respirar parece difícil.
Fugir nos parece a única alternativa.
Mas fugir pra onde?
Fugir de quem?
E a vida? E as responsabilidades? E os filhos? E os pais?
E vamos nos arrastando.
O causador, ou causadores, daquele estado de ânimo deplorável parecem continuar flanando alegremente pela vida; completamente alheios ao enxovalhamento causado em nossas almas.
É isso! Na alma!Não é um desânimo apenas físico, não! A alma está ferida! A mente está entorpecida!
O que fazer, meu Deus?
Agrido? Emudeço? Aceito?
Um confronto titânico agita a nossa mente. Agredimos e podemos perder o emprego. Falamos umas verdades e os companheiros/ companheiras nos abandonam.
Recordamos que, da última vez que isso aconteceu, horas depois tudo parecia apenas um mal entendido...
O que fazer?
Fugir. Mas fugir só! Somos obrigados a conviver com as nossas tedeagazices; mas ninguém mais precisa passar por isso.
Mas, do que vale fugir se carregaremos na mente todos os grilhões que nos atam?
Não existe um lugar onde podemos nos esconder de nós mesmos.
Não existe uma porta, nem no fim do mundo, onde manteremos o TDAH do lado de fora.
E aí, desistimos de fugir. Aceitamos nossa miséria e seguimos nos arrastando pelo dia afora.
Uma música, um sorriso, uma recordação; e tudo muda!
Aquele humor enxovalhado, aquela alma miserável, aquela mente torturada, transmuta-se em frações de segundos em festa, em vida!
E o mais interessante: não percebemos esse contraste; sequer mudamos de forma consciente. Passamos tantas vezes por isso que acreditamos que todo mundo é assim.
Mas não!
Somos montanhas russas de sentimentos; caleidoscópios ambulantes; camaleões mentais.
E assim seguimos, entre altos e baixos, mas sempre com o frequente pensamento de fugir, de abandonar, de sair andando...
Pra onde?
Pra longe de nos mesmos...

sábado, 10 de maio de 2014

O TDAH NUMA EXPLOSÃO DE FANTASIA




Onde mora a realidade em mim?
Em algum pequeno escaninho de minha mente, penso eu.
De resto... Sou fantasia!
Em alguns períodos, chego a crer que a realidade venceu, derrotou a fantasia. Qual nada! Como fênix, a fantasia renasce e toma seu lugar em minha mente.
Não sou real, não nasci para a acre realidade. Minha mente é um caleidoscópio de inebriantes imagens, palavras e sentimentos desconexos, irreais, mas que se concatenam criando sonhos carnavalescos e luxuriantes. Ah, que alegria sentir minha alma invadida pelas imagens oníricas do TDAH. Um sentimento de alegria, quase euforia, me invade o peito.
Uma enorme vontade de sair correndo, abraçando a tudo e a todos.
O sonho me faz viver!
Aí dirá meu lado real: cuidado, isso é uma auto sabotagem!
Ao que responderei: auto sabotagem é a minha realidade; o meu trabalho; meu dia a dia.
Não vou me desconectar. Não é isso! Apenas terminei de ler um livro fantasioso, irreal e inacreditável, como eu sou. Como é o meu TDAH! Como é minha vida!
Minha vida é um conto de realismo fantástico!
Um correr sem começo ou fim, em meio a uma névoa rala que, se não me impede a visão, tampouco me permite reconhecer a vida em detalhes. Pouco consigo divisar entre a inocência e a malícia; ou entre o verdadeiro amor e a dissimulação; ou entre a verdade e a mentira; ou entre a desonestidade e a honestidade. Muito me prejudiquei por essa visão parcial da vida; parcial não, essa visão desfocada da vida. Uma vida de idas e vindas; uma vida de tensão infinita,em que jamais há paz; uma vida de sobressaltos; uma vida de derrotas intermináveis e vitórias surpreendentes e inesperadas. Uma vida cinza, com explosões de cores feéricas, que chegam quase a cegar. E retornam para o cinza...
Mas desconheço a derrota, minha coragem mora na fantasia de um ser invencível.
Também desconheço o desânimo, minha a alma é tingida pela fantasia de um ser feliz em si mesmo.
Caído, muitas vezes agrido a mim mesmo, critico-me, ofendo-me; mas sou inexpugnável! Minha têmpera foi forjada na fornalha da fantasia; uma fantasia de um ser eterno, de um Sísifo e sua interminável força montanha acima.
Ai, ai... Quantas vezes duvidei de mim mesmo, de meu caráter, de minha moral, de meus caminhos. Mas sempre, em meios aos momentos de treva, uma réstia de luz surgia e acabava por inundar o negrume com a luz mágica da fantasia de uma alma pura, inocente e boa.
Enfim, a fantasia salvou-me da realidade.
Abro os olhos e firo-me com a realidade, deixo minha mente mergulhar na fantasia e escapo...
É certo?
O que é certo?
Nenhuma realidade é melhor do que o sonho.
Realidade é rascunho do sonho.
E eu detesto rascunhos!

sexta-feira, 9 de maio de 2014

TDAH - AMANHÃ SERÁ DIFERENTE...







Não sei por que me imobilizo.
Deixo-me parar e observar a vida de longe.
Cumpro com extrema responsabilidade e empenho com minhas obrigações. E só.
O resto, vejo seguir ao longe...
Já não participo da vida política, no passado participei de partidos políticos e campanhas presidenciais. Hoje não me imagino fazendo isso.
Não pratico esportes. Joguei futebol, lutei judô, fiz atletismo e natação. Hoje limito-me a assistir futebol pela TV. E só futebol. Já gostei de vôlei, desinteressei-me, fórmula um também.
Já passei fins de semanas inteiros diante da TV assistindo filmes. Hoje, quase não os assisto, desinteressei-me. Quando vejo, até gosto e penso em assistir mais; só penso.
Já fui extremamente sociável. Já tive a casa cheia de amigos. Saía muito. Hoje, não mais. Prefiro ficar sozinho, na minha casa.
Quebrar a inércia é quase impossível. Uma missão hercúlea, digna de um semi Deus.
Mesmo no trabalho, existem coisas que me paralisam, imobilizam...
Não consigo ser multifacetado, múltiplo. Pelo menos, não mais.
Não consigo muito me dividir entre pessoas; entre lugares; entre tarefas.
A vida se estreita, ou minha vontade se estreita.
Às vezes com um esforço absurdo, pressionado externamente, frequento alguns locais, faço algumas atividades. Mas é preciso muita pressão, muita mesmo.
O dia passa entre o trabalho e a casa; e a frustração por mais um dia sem conviver, sem dar minha contribuição, sem cuidar da saúde.
Mas amanhã...Ahhhh, vai ser diferente.
Com certeza?

sexta-feira, 2 de maio de 2014

O TDAH EM QUEBRA CABEÇA




Como num quebra cabeça interior, milhares de pecinhas que se encaixam- ou não – formando um todo absolutamente incoerente.

Parte Vesúvio;
outra, lago dos cisnes.
Parte luxúria;
outra, religião.
Cabeça racional;
coração, explosão.
Olhos imperscrutáveis;
alma em exposição.
Mãos crispadas de ódio;
pés dançando de júbilo.
Coração apertado de medo;
peito aberto que enfrenta.
Raciocínio lógico;
atitude infantil.
Alma sangrando;
sorriso que brilha.
Olhar ao longe;
pés que retroagem.
A vida pela frente;
comportamento, destruição.
A vida destruída;
comportamento, ressurreição.
Onde todos se entregam;
levanto-me do chão.
Quando tolda-se a lua;
rompo o breu.
Quando vem a calmaria;
encapelo-me.
Quando tudo parece findar;
Reinvento-me.
Recomeço-me.
Reencontro-me.
Reformo-me
Reviro-me.
Retomo-me
Realimento-me
Renasço-me.

Enfim...