quarta-feira, 24 de abril de 2013

O TDAH E A ESCOLHA DA INFELICIDADE




Um interessante debate surgiu entre dois leitores no post O TDAH ULTRA SENSÍVEL. Ao fim da discussão, ambos os debatedores se declararam ateus. A leitora A123 encerrou a discussão com a seguinte sentença: " ao meu ver ateísmo + TDAH, infelicidade eterna. Infelizmente."
Essa declaração soa como uma condenação. Ou pior, uma danação eterna. Mas, será que precisa ser assim? Esse é o único caminho?
Já fui ateu. Hoje não sei mais. Acho a crença em Deus muito frágil, uma crença que não se sustenta quando analisada friamente. Mas crença é como amor, não se explica, se sente.E aí reside a fragilidade do ateísmo: procurar razão onde não existe. O ateu é capaz de amar? Claro, mesmo no auge do meu ateísmo eu amei e amei profundamente. E por que não crer?
Mas, no seu vaticínio A123 tem razão, ao ESCOLHER o ateísmo optamos pela infelicidade eterna. A crença é lenitivo, é muleta, é apoio, é a força que nos mantém em pé quando tudo parece desmoronar à nossa volta. Quem é ateu está só. Não existe Deus, os entes queridos se foram eternamente, não há vida após a morte, céu ou inferno. Há somente o nada, o fim. Nem em vida possuímos pessoas que apoiam nossa escolha, são pouquíssimos os ateus, principalmente os que se assumem ateus.
Ao escolher o ateísmo somos discriminados ( e isso é verdadeiro), ateu + TDAH, é escolher ser duplamente discriminado. Além de descrente é doido! Muita gente talvez sinta pena: coitado, é ateu por que é doido. E nem sei qual o pior sentimento, discriminação ou pena.
Mas é possível ser ex ateu? Vale a pena ser ex ateu?
Claro que é possível ser ex tudo. Vale a pena? Depende. Eu não acordei um dia e disse: deixei de ser ateu a partir de hoje. Aos poucos, a vida foi me levando em direção oposta à que eu seguia. Tanta pancada, tantos problemas, e principalmente, tanta sorte na vida, começaram a me descortinar um mundo de novas possibilidade. Ou novas possibilidades para o mundo. Comecei a questionar se minha descrença não era uma forma de arrogância, de enfrentamento. Nada mais arrogante do que enfrentar a Deus; ainda que ele não exista, ele É, na vida da enorme maioria das pessoas. Ao desafiá-lo eu desafiava quase a humanidade inteira. Nada mais TDAH do que desafiar a tudo e a todos. Por muito tempo pensei sobre isso. Ciente dessa possibilidade comecei a abrir minha mente e minha alma à OPÇÃO  de crer. Simplesmente crer. Sem análises ou debates. Assim como amar; ama-se sem questionamentos. A partir do momento em que se questiona o amor, não se ama.
O eixo da minha crença mudou, ou está mudando. Ainda não creio de forma absoluta. Ainda há dias em que questiono a Deus e à humanidade, mas não estou mais condenado à infelicidade eterna. Ao meu lado já caminham milhares de outras almas que me apoiam e dividem comigo suas dúvidas.
Ainda não tenho certeza de nada, mas tenho a esperança de que estou no caminho certo; e a vantagem desse caminho, é que se eu estiver errado jamais saberei. Só posso saber após a morte, e se nada houver após a morte, nunca saberei.

Pode ser fruto do tratamento do TDAH? Não sei, mas desafiar é uma ótima forma de se isolar, de se sentir forte ou exacerbar o sentimento de inadequação e diferença em relação aos 'trouxas'. Pode ser que ao me saber TDAH e passar a me conhecer melhor eu tenha naturalmente mudado meu caminho, pode ser que seja fruto do tratamento, ou da idade (a proximidade do fim diminui a coragem do ateu), ou simplesmente a soma de tudo isso. O que sei, é que a vida é feita de escolhas e, entre elas, está A ESCOLHA de amar sua esposa/marido/família, amar a Deus, amar a seu próximo, ou nada disso. Amar e crer são opções que se fazem na vida; se você fechar seu coração e sua mente você não amará a nada nem a ninguém.
Portanto, ame!


domingo, 21 de abril de 2013

TDAH É FORÇA!






Meu desaparecido amigo virtual, Frank Slade, sempre diz que o TDAH que nos derruba é o mesmo que nos dá força para que nos reergamos.
Minha amiga Rita, Ritalina, acrescida de todo o trabalho de auto conhecimento que venho fazendo desde que me descobri TDAH está me ajudando em mais essa batalha.
Depois de alguns anos de muita luta, muito aprendizado, muita satisfação pessoal e nenhum retorno financeiro estou me retirando do mercado de aparelhos celulares.
E daí? O que o TDAH tem com isso?
Tudo.
Amo meu trabalho, jamais em minha vida exerci um trabalho com tanto carinho e dedicação. Por prazer de estar com meus celulares já passei domingos e feriados na loja.
Imagino a tortura que deve ser para os 'trouxas' abandonar um trabalho assim tão querido, que ainda hoje eu exerço e pretendo exercer como hobbie ou terapia daqui pra frente. Mas não dá mais. E aí entra uma característica do TDAH que eu adoro: já estou pensando no futuro. Já estou empolgado com minha nova função, com o novo trabalho que exercerei em breve. Minha cabeça TDAH não permite que meu coração domine minha alma, e já está projetando o futuro, as estratégias que terei de adotar para conseguir lograr êxito na enorme missão que me foi confiada.
Esse é o fascínio do desafio? Não sei, o que sei é que me lembro sempre do meu amigo Frank Slade, aqui estou de cabeça erguida, com a musculatura tesa, em posição de arrancada para uma nova e grande corrida do destino. Essa agora com novas perspectivas e características e tenho a certeza de que desempenharei a nova função com sucesso.

A confiança que estou no sucesso do meu novo trabalho, é um sentimento novo, sempre temi por essas situações, sempre enfrentei os novos desafios pelo fascínio do desafio em si, mas na alma tinha a semente da dúvida; hoje não, hoje trago na alma a certeza de que posso e vou fazer um grande trabalho. O trabalho tem o meu perfil e as exigências para atingir o sucesso caíram como uma  luva em minha experiência profissional e de vida.
Sem olhar pra trás com nostalgia ou dor, sigo mais uma vez um novo caminho.
A grande diferença de todos os caminhos que trilhei nessa minha riquíssima vida é que sou uma nova pessoa, com novos valores, novas crenças e com a força que só o TDAH possui para superar os obstáculos que se acumulam na vida.

domingo, 14 de abril de 2013

O TDAH ULTRA SENSÍVEL




O mais legal desse blog é a riqueza dos comentários, a diversidade de pessoas com os mesmos sintomas, dividindo as mesmas dores e, ainda bem, as mesma soluções.
Bebo nessa fonte diariamente e através dela aprendo e me inspiro para novos posts e também para a reconstrução da minha vida, que é um processo permanente e interminável.
Minha amiga Eliana comentou de sua sensibilidade exacerbada que chega, às vezes, ao ponto de achar que algumas postagens do Facebook foram criadas para ofendê-la ou agredi-la.  Que absurdo né, pensaremos vários de nós. Amanhã esse blog vai estar lotado de comentários de pessoas que sentem a mesma coisa ou mais do que ela. E eu me incluo nelas. Nunca pensei que as postagens do Facebook pudessem ser feitas contra mim, mas posso passar a pensar a partir de agora. Brincadeira.
Mas sim, tenho a sensibilidade exacerbada. À flor da pele. Tudo me ofende, tudo me incomoda, tudo me agride. Chegou a tal ponto que comecei a ficar chato. Vivia tendo DRs com minha mulher, amigos, colegas de trabalho, para descobrir que toda aquela interpretação que havia dado não existia, não fora endereçada a mim, ou simplesmente tinha conotação completamente diferente daquela que eu tinha dado.
Em alguns momentos eu fiquei com vergonha, a tal frase era uma brincadeira, ou a pessoa ficou tão surpresa que eu tentei fingir que quem estava estava brincando era eu.
Minha ex esposa comentava que eu era muito suscetível. E isso era uma crítica que me ofendia. rsrs
Criei tantas situações desagradáveis e desnecessárias que mudei minha forma de agir; eu penso bastante antes de falar. Em geral elaboro discussões mentais e preparo todos os argumentos que jamais vou dizer; a conversa esgota-se na minha cabeça. Não falo mais, espero para que outros indícios se acumulem àquele primeiro para que eu monte um caso concreto de ofensa e não apenas um fantasma dessa ofensa. E olha, acho que tem surtido efeito. Minhas discussões diminuíram demais, o que não significa que a sensibilidade diminuiu. Apenas não a externo mais. Descobri que discutir mentalmente esgota o assunto e eu perco a ânsia de confrontar o 'agressor'. E aí lembrei-me de uma característica de personalidade que deve ter a ver com o TDAH: antigamente, no tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, as pessoas tinham o hábito de escrever cartas aos amigos e parentes distantes. Eu adorava escrever cartas, mas não me preocupava mandá-las. A saudade e a vontade de contar as novidades esgotavam-se no escrever das cartas. a enorme maioria delas ficava nas gavetas até serem jogadas no lixo. Mais ou menos o que faço hoje com minhas crises de suscetibilidade; imagino todas as DRs que posso ter em função daquela 'ofensa' e extinguo o assunto em  mim mesmo.
Não sei se isso é uma solução ou se estou tapando o sol com a peneira, mas pelo menos diminuí a tensão com as pessoas envolvidas; e fiquei menos chato.
Acabar com o excesso de sensibilidade já é outra história. Se alguém souber me conte.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O TDAH E OS COMPROMISSOS IMPOSSÍVEIS







A inspiração desse post veio do blog mais efêmero da história da internet: o blog da minha amiga Fernanda. Durou apenas uns poucos dias, mas o suficiente para gerar esse post.
Em seu post de estréia e despedida, Fernanda ( que é veterinária ) narra um episódio em que combinou um horário com uma cliente contando com a chegada de seu marido da faculdade; que nesse dia estava de carona.
Vocês já podem imaginar o resultado, o marido que dependia de carona atrasou-se e tudo acabou em discussão.
Obviamente, depois de tudo acontecido Fernanda viu que poderia ter agido de outra forma.
Um dos sintomas do TDAH é a incapacidade de administrar o tempo. Sempre achamos que ainda dá pra fazermos isso ou aquilo antes de sairmos. Mas nesse caso específico ainda é pior; marcamos um compromisso numa hora imprópria e contando com fatos que não podemos controlar.
Quantas vezes me desesperei por marcar compromissos em que teria de me deslocar pelo trânsito caótico da minha cidade. Saía que nem um louco avançando sinais e brigando com outros motoristas para tentar chegar apenas um pouco atrasado, por que atrasado eu já estava desde que marcara o horário.
Na verdade o que nos faz agir dessa forma é o medo; o medo de perder a cliente; o medo de contrariar a esposa/namorada/ marido; o medo de ficar mal com as pessoas.
Outro dos sintomas típicos do TDAH pode interferir nessa incapacidade de negociar adequadamente os prazos: o sentimento de inferioridade. Essa necessidade de agradar e atender o nosso interlocutor, ainda que nos prejudique ou nos crie situações estressantes, imagino que advenha desse sentimentos de sermos inferiores. Ao aceitarmos o horário proposto pela pessoa a satisfazemos plenamente, mas mandamos às favas nossa tranquilidade, nosso conforto e nosso bem estar. E aí montamos engenharias complicadíssimas  e estratégias de execução duvidosa para podermos cumprir o compromisso.
Lembro-me certa vez de marcar um compromisso com um cliente grande para dali a vinte minutos a uma distância que, se tudo corresse bem eu levaria no mínimo os tais vinte minutos. Mas nunca corre tudo bem. Juiz de Fora é cortada por uma linha de trem; o trem passou justamente na hora em que eu estava indo para o compromisso. Espertamente decidi dar a volta para não esperar uns cinco ou seis minutos, caí numa blitz da PM; trânsito lento se arrastando e eu desesperado. Saí da blitz a mil por hora e decidi ligar para o cliente e avisar que eu ainda levaria uns cinco ou dez minutos para chegar - mentira, eu mal saíra da minha loja - quando levei o celular ao ouvido, materializou-se diante de mim um guarda de trânsito que apitou para que eu parasse e me sapecou uma multa por dirigir falando ao celular, além de um sermão que me custou mais uns dez minutos.
Cheguei ao compromisso uns cinquenta minutos depois que saí da loja e para minha alegria e satisfação o cliente ainda não havia chegado. Esperei ainda uns dez minutos e ele chegou sorridente sem sequer mencionar o seu atraso; se eu tivesse chegado pontualmente teria esperado por ele cerca de quarenta minutos.
Para coroar todo o meu estresse, a tal reunião com o cliente foi uma idiotice que poderia ter sido resolvida por telefone e eu voltei pra minha loja bufando de raiva e cerca de cento e vinte reais mais pobre, por conta da multa que havia tomado minutos antes.
E não aprendi. Repeti essa insanidade muitas vezes, e às vezes ainda me esqueço e marco algo de difícil execução. Mas já aprendi a avisar dos percalços com antecedência e remarcar se necessário.
Pois bem , Fernanda, você não é a única a criar situações de conflito e estresse nesse mundo TDAH. Parece que nosso transtorno se compraz em nos torturar e tornar nossa vida mais áspera, incômoda e desagradável.
Se não conseguimos desagradar aos clientes e as pessoas que nos cercam, tentemos ao menos desagradar ao TDAH, assumindo compromissos que possamos cumprir sem nos machucar ou machucar a quem amamos.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

TIRE PROVEITO DO SEU TDAH










Estava eu a ler o blog da Ana Beatriz , o HEIN?!,  (http://howwhenwhatwhy.blogspot.com.br/) quando comecei a viajar em seu delicioso texto. Nele, ela fala do seu mergulho em tudo o que diz respeito ao mundo da  mente. Desde bipolar, bordeline, depressão, até desaguar no TDAH. E comecei a pensar; trilhei caminho diverso, mas nem por isso menos rico e instrutivo.
Assim que me descobri TDAH mergulhei nas informações sobre o assunto, mas a partir de um determinado momento que eu não sei precisar, nem explicar, deixei de pesquisar externamente para prospectar a minha alma, a minha vida, a minha história. Aí começou a nascer uma nova pessoa, um ser humano que eu desconhecia, uma força que eu não sabia que tinha, uma motivação que trazia escondida não sei em que desvão do meu cérebro.
Nunca em tempo algum eu havia pensado tanto em minha vida quanto agora, no pós diagnóstico. Hoje em dia eu examino meus comportamentos, minhas reações, peso as consequências e, muitíssimas vezes atualmente eu volto atrás, me recolho a pensar, e repenso, aquele caminho que pretendia trilhar. Pode parecer óbvio para os 'trouxas', mas para nós TDAHs movidos pelo impulso, com a emoção à flor da pele e guiados pelo instante, é uma conquista soberba. Claro, não tenho a pretensão de vender a você que está lendo que fiquei perfeito, ninguém é - com ou sem TDAH - mas tenho conseguido dominar meus piores impulsos. Impulsos que já julguei serem os melhores de minha vida. Inverti valores que durante muito tempo
valorizei ou mesmo, supervalorizei ao longo da  vida. Canalizei esses impulsos e esses valores para outros campos, outras satisfações, outros prazeres. E só agora, lendo o texto da Ana Beatriz, e escrevendo a partir dele, dei-me conta.
Lenta, mas inexoravelmente venho mudando os caminhos que trilhei.
Deixo para trás uma longa história, uma montanha de sentimentos e experiências e, acima de tudo, várias pessoas que partilharam daqueles momentos; mas isso faz parte da mudança. Aquele Alexandre mudou; tomou novo rumo; conheceu novos prazeres; saboreou novas emoções.
Uma mudança para melhor ou para pior? Não cabe aqui esse tipo de julgamento, não posso arrancar essas experiências, ou o TDAH, da minha alma. Eu sou fruto (também) do meu TDAH; minha personalidade e minha vida se alicerçaram no TDAH, ou o TDAH é parte desse alicerce. Mas precisei mudar, minha alma pedia essa mudança; minha vida pedia essa mudança.
E, com a força do TDAH, estou conseguindo efetivá-la.
E mudanças ainda mais fortes me esperam. Com certeza!

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O TDAH MÚLTIPLO






Eu não sou apenas eu.
Sou o que sinto.
Sou o que amo.
Sou a dor da perda.
Sou a alegria do reencontro.
Sou o impulso que destrói.
Sou o amor que transborda.
Sou a palavra que magoa.
Sou o abraço que abriga.
Sou a partida intempestiva.
Sou a volta definitiva.
Sou a lágrima da derrota.
Sou o beijo da vitória.
Sou a queda dolorosa.
Sou o renascimento improvável.
Sou o salgado do mar.
Sou a placidez do lago.
Sou o seu reflexo.
Sou o seu eco.
Sou sua voz.
Sou sua dor.
Estou em você.
E você em mim.
Não me basto.
Preciso da intensidade.
Preciso do calor.
Preciso da vida.
E a vida nunca é um.