domingo, 26 de maio de 2013

RITALINA, A DROGA DA OBEDIÊNCIA





Poucas coisas têm o dom de me irritar tanto quanto essa conversa de que a Ritalina é a droga da obediência ou que o governo, ou os laboratórios, ou as escolas, querem transformar as crianças em autômatos.
Quem afirma isso é, no mínimo, um cretino! Ninguém que fale uma asneira desse tamanho passou pela horrorosa experiência de ser hiperativo.
Eu fui um aluno horroroso!
Eu latia na sala de aula, cacarejava, cantava, jogava bolinha papel,implicava com todo mundo, fugia pela janela enquanto os professores estavam de costas escrevendo no quadro. Infernizava a todos, alunos e professores. Dezenas de vezes fui retirado da sala de aula e mandado pra sala do 'seu Jairo' o chefe da disciplina no Instituto Granbery, onde estudei.
Lembro-me de uma professora de Geografia, um doce de pessoa chamada Vera, que um dia me implorou de mão postas: pelo amor de Deus, Alexandre, me deixa dar aula! Eu morri de rir, e carreguei aquilo como um troféu durante vários anos; achava o máximo enlouquecer minha professora!
Qual foi o final disso? Fui convidado a sair da escola onde estudava. Mudei pra uma outra que odiei, passei a matar aulas seguidas, fui reprovado, fiquei um ano sem estudar e atrasei minha vida, além de reforçar o péssimo conceito que eu, e todos, tinham a meu respeito.
E quem quer ( ou pode ) conviver com uma peste dessas em sala de aula?
Todas as consequências funestas do meu comportamento hiperativo caíram sobre mim mesmo!
E ainda vêm uns idiotas criticar o uso de medicamentos e falar em robotização das crianças.
Hiperativo não é normal! Nada hiper é normal! Minha vida estudantil foi um caos, mesmo depois de adulto, sempre odiei ficar sentado assistindo aula. Jamais consegui conviver com matérias chatas e que não me despertavam a atenção. Três matérias chatas me faziam abandonar um curso inteiro. Eu começava bem, mas depois de um mês eu parava de frequentar as aulas desinteressantes, e tomava pau por falta de frequência. E aí a coisa desandava. Eu me taxava de burro, de irresponsável, de inconsequente...
Na verdade, eu não conseguia me concentrar naquilo, minha cabeça voava, meu corpo começava a se incomodar com aquela imobilidade forçada. E eu desistia.
Meu Deus, como eu gostaria de ter tomado Ritalina na minha infância e adolescência!!!!!!
Bando de cretinos irresponsáveis, fechem suas bocas inconsequentes e parem de tentar estragar a vida de pessoas que, como eu, simplesmente não conseguem ficar em silêncio quando precisam, não conseguem ficar sentados quando devem, não conseguem respeitar os outros quando é necessário!
Recordar esse comportamento que tive na minha vida escolar me dá vergonha, detesto me lembrar disso e, sinceramente, pensar que existia tratamento e não pude usufruir por absoluta ignorância (da escola, dos meus pais, dos médicos da época) me dá tanta tristeza que encerro este post em lágrimas.
Pelo amor de Deus, seus irresponsáveis, deixe-nos viver nossas vidas em paz!
PS.: Não sei se ela vai ficar sabendo, mas gostaria de pedir perdão a minha professora de Geografia: D. Vera Ludolf. Ela não merecia um aluno como eu.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

TDAH NO CORAÇÃO






Meu TDAH não está no cérebro.
Está no coração!
Fez do meu coração um coração indomável!
Um coração irascível.
Um coração que se atira sem que eu queira.
Na direção que deseja.
Com uma intensidade tal que eu não o contenho.
Sua força me esgota, me exaure, me entorpece.
Levado por ele entrego minha alma.
Entrego minha vida.
Entrego meus sonhos.
A cada queda, a cada dor, tento controlá-lo.
Em vão!
De repente, quando menos espero, ele se incendeia.
E ensandecido se atira em um novo abismo.
Levando consigo meu corpo; e com ele minha racionalidade e minha força.
Quisera Deus poder arrancar do peito esse TDAH e reinstalá-lo no cérebro, como em todas as outras pessoas!
Há dias em que tamanha intensidade me esgota.
Intensa e extenuante expectativa, cultivadas com o adubo do TDAH, se frustram e, como um tsunami solapa os alicerces de um edifício que parecia sólido e eterno. Aos poucos o gigantesco edifício desfaz-se levando em seu bojo um sonho incandescente que parecia infindável.
Mas qual! Das ruínas ainda fumegantes o TDAH reergue o edifício com uma arquitetura ainda mais arrojada, ainda mais alto e megalomaníaco.
Impotente assisto a tudo.
Um cérebro refém de um coração TDAH!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

TDAH DE NOVO










Outra vida hei de viver, se outra vida houver.
Hei de ser intensamente apaixonado.
Hei de ser atropelado por minha criatividade.
Hei de me atirar em amores misteriosos.
Hei de trilhar incertos caminhos.
Hei de obedecer cegamente meu coração.
Hei de reerguer-me a cada derrota.
Hei de surpreender a mim mesmo.                                            
Hei de devanear à luz do dia.
Hei de chorar por nada.
Hei de sorrir por tudo.
Hei de ceder às tentações.
Hei de enfrentar a vida de peito aberto.
Ei, parece que nada vai mudar.
Hei de ser, de novo, TDAH!


domingo, 19 de maio de 2013

TDAH COM O RADAR DESCONTROLADO



                              Pra quem não se lembra, nesse filme Al Pacino
                              tenta assaltar um banco pra pagar a operação de
                              mudança de sexo da namorada.
                                             


Estamos em plena crise de desabastecimento de Ritalina. Quando escrevi o post sobre o desabastecimento do remédio, eu tinha acabado de comprar e ainda me restavam três caixas em casa. Como a previsão de normalização era para o fim de abril, fiquei tranquilo. Mas, as previsões começaram a mudar e a perspectiva de normalização mudou para o fim de maio; eu precisava tomar uma medida para enfrentar o desabastecimento. Passei de três para dois comprimidos por dia e logo para um. E de um para zero, ou quase zero. Ainda tenho uma meia dúzia de comprimidos, mas estou tentando guardá-los para quando eu estiver mais necessitado, quando as exigências do novo emprego apertarem ainda mais. Acho que a motivação do novo cargo, da nova vida estão ajudando a manter-me focado; mas são os detalhes que chamam a atenção.
Preciso fazer uma ligação no celular, ao olhar para ele, percebo que chegaram emails; adivinhem o que faço? Exatamente, vou ler os emails, depois fico olhando pro celular e pensando: pra que eu peguei esse celular mesmo? Pior ainda, uma atualização interessante no Facebook, decido vê-la e quando percebo quinze preciosos minutos se escoaram entre os dedos.
Na rua, dirigindo, tudo me tira a atenção; uma mulher bonita, um carro bonito, um outdoor diferente, uma pessoa que atravessa correndo...
E os ruídos; todos me assustam, me chamam a atenção, me tiram o foco.
Estou eu diante de um interlocutor, conversando um assunto sério, enquanto o radar capta todas as conversas alheias. E pior, fixa-se nas interferências e não na conversa principal,. quase tenho de pegar minha mente com as mãos e direcioná-la pro lugar correto. Mas metade da conversa se foi.  
E quando chega um email e estou dirigindo? Ler a mensagem dirigindo é mole; responder é que são elas.
Outro dia, como diz minha namorada, eu estava igual a um ventilador de parede, a mente ia de um lado ao outro, captava tudo, de todos os lados, tive que tomar uma ritinha pra apaziguar a mente.
O TDAH é matreiro, ladino e sofisticado; a gente não sai por aí fazendo lenha de uma hora pra outra; não, não é assim, ele volta de mansinho, vai te deixando meio perdido, meio perturbado, e quando você acorda ele é, outra vez , o dono da situação.
Se a ritinha não voltar rápido vou assaltar um banco pra comprar Venvanse.
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domingo, 12 de maio de 2013

A ACEITAÇÃO DO TDAH








Ah meu Deus, por que isso aconteceu comigo?
Você pode passar o resto da vida perguntando a você mesmo e a Deus por que você tem TDAH. Mas se você quiser abreviar essa fase de questionamentos eu te respondo : jamais você saberá a resposta.
Portanto, aceite o TDAH e vá em frente!
Não se iluda, quanto mais tempo você passar se questionando, xingando Deus e o mundo, mais longe você estará de um tratamento bem sucedido. A chave do sucesso chama-se aceitação. Aceite, você nasceu com uma doença e ponto final.
Mesmo que Deus te respondesse, você provavelmente não iria concordar com as explicações divinas. Ia se sentir injustiçado e coisa e tal. Portanto, pare de se auto sabotar, pare de adiar o seu tratamento e aceite o TDAH.
Aceitação é completamente diferente de conformismo. Aceitar o TDAH é conscientizar-se de que você tem uma doença, por enquanto incurável, e que a única forma de melhorar a vida é tratando-se. Não há outro jeito. Conformismo é descobrir que tem TDAH e ficar sem tratamento por que, afinal, não tem cura mesmo!
Aceitar o TDAH é ter a possibilidade de conhecê-lo a fundo e agir contra ele.
Aceitar o TDAH é parar de perder tempo com questionamento inúteis e concentrar as forças em viver melhor e de maneira mais produtiva e feliz.
Nosso cérebro possui inúmeras maneiras de sabotar nossas iniciativas, suas primeiras reações são negar as chances de tratamento, desistir antes de começar, encontrar desculpas aparentemente razoáveis para não tomar remédio, é tentar acreditar que controla sozinho o TDAH.
Provavelmente muitos dos que vão ler esse post pensarão que sou um idiota, que a Ritalina vicia, que eu não conheço a nova forma de auto reconhecimento mesointracorpórea, que existe um vídeo no youtube que ensina técnicas infalíveis trazidas por extraterrestres para controlar o TDAH. Tudo bem, eu até sou um idiota, mas que isso tudo é auto sabotagem, é.
Aceite-se como você é, ninguém tem culpa, nem você nem seus pais.Foi um defeito de produção.
Outro dia, o ex jogador Casagrande disse que ele não consegue vencer a cocaína, ele no máximo empata, Sabendo disso ele não se expõe à ela.
Esse é o nosso caso, não venceremos o TDAH, no máximo empataremos com eles.
Tome seu remédio, aceite-se é mais fácil conviver com que se ama, com quem se entende, com quem se aceita.

O TDAH E A IMAGINAÇÃO DELIRANTE









Aquele TDAH que, em sua imaginação, jamais salvou a humanidade que atire a primeira pedra.
Esse post foi "instigado" pela leitora Michelle. Talvez a palavra certa devesse ser "encorajado" pois já ameacei escrevê-lo várias vezes mas, confesso, fiquei com uma certa vergonha.

" Olá estive lendo a histórias e gostei muito,também sou TDAH !!!uma outra hora conto minha história á todos Vocês.Mas estou interessada em saber sobre essas histórias que fazemos até exaustão,isso é característica do TDAH?História que imaginamos e fazemos o tempo todo,sempre bem sucedidos e sempre o protagonista e estamos em evidência,choramos e até rimos sozinhos....Seria isso? dê exemplos sobre isso !!!!Grande abraço Michelle"

Sim, sim, sim, isso é puro TDAH! Sempre tive uma imaginação delirante. Já salvei vidas aos milhões, já mudei os destinos da humanidade, mas também mudei destinos de pessoas específicas; administrei e salvei grandes empresas em dificuldade. 
Acho que trabalhei tanto e fiz tanta coisa - mentalmente - pela humanidade que não me restaram forças para fazer coisas simples na vida real. 
Antes não podia ver uma empresa em dificuldade, meu time perder, ou coisas equivalentes que logo já me imaginava o herói que mudaria aquele destino trágico.
Isso começou a mudar quando eu cheguei a acreditar que a imaginação poderia influenciar no meu destino. Comecei a pensar que o teor daquilo que eu imaginava influenciava no meu dia seguinte (sempre tinha esses pensamentos quando ocioso, na hora de dormir). Cogitei que se eu criasse uma mirabolante história de benfeitor da humanidade isso se reverteria beneficamente pra minha vida no dia seguinte, na vida real.
Aí a luz vermelha se acendeu!
Percebi que havia passado dos limites e comecei a alterar o teor dos meus pensamentos. 
Como não conseguia ficar sem pensar em nada, passei a direcionar meus temas de delírio; passei a imaginar o que poderia ser feito para mudar a educação, por exemplo. Essa foi uma mudança significativa, não era eu o protagonista ou o salvador da humanidade, apenas imaginava quais os melhores caminhos pra essa ou aquela questão. Acabei por me habituar a esses pensamentos; deliberadamente tento evitar os problemas do trabalho pra não perder o sono, tentar imaginar caminhos pra questão do oriente médio ( que não me diz respeito diretamente) pode ser mais narcotizante do que os problemas do dia a dia e durmo como um bebê apesar de tomar meia garrafa de café todas as noites.
Mas aí entra o tratamento; e um dia, observei uma mudança no meu padrão mental, eu não me perco mais em pensamentos. Ou não me perco tanto. Consigo perceber quando fujo; mas estou muito mais focado no blog,por exemplo, ou no trabalho, e às vezes estou tão concentrado que, deliberadamente, mudo de pensamento. Rio sozinho quando falo pra mim mesmo: deixa eu salvar o mundo pra evitar a insônia. 
Essa é a diferença, eu tenho o controle! 
Ou como diria He Man: eu tenho a força!!!


quarta-feira, 8 de maio de 2013

O TDAH PERFECCIONISTA





                                                                                              


O perfeccionismo que corrige as menores falhas, que gosta de tudo correto e confere tudo nos mínimos detalhes eu até invejo. Mas o perfeccionismo do TDAH é diferente.
Uma leitora comentou o post anterior  e conversamos sobre o perfeccionismo dela; o dela é do tipo TDAH.
Não é apenas um perfeccionismo, é um boicote!
Nós TDAHs, nos impomos metas de perfeição inatingíveis, nunca nossos trabalhos estão terminados pois nunca estão perfeitos suficientemente. Já comentei aqui anteriormente, que sonho em escrever um livro. Mas esse é o problema, não quero escrever um livro, quero escrever O LIVRO. Aquele livro que vai me dar o prêmio Nobel. E assim nunca escrevi nem um.
Quando tinha loja de tintas, iniciei vários projetos que jamais concluí, não apenas por essa característica típica do TDAH, mas também por que eu não admitia fazer algo que não fosse perfeito.
Lembro-me nitidamente de ter criado uma espécie de cartão de desconto que eu propunha partilhar com fornecedores, clientes e parceiros. Nunca saiu do papel, pois levei meses para definir a aparência, depois não havia ninguém em Juiz de Fora que fizesse um cartão igual ao de crédito , e eu não aceitava nada que não se parecesse com um cartão de banco, e quanto encontrei um fornecedor era tão caro que me desanimou. Claro que esse desânimo também tem a ver com o TDAH, mas eu exigi coisas inatingíveis, eu queria que tudo parecesse de altíssimo nível, quando na verdade poderia ter começado de maneira mais simples e posteriormente sofisticando. Esse é o perfeccionismo sabotador, o perfeccionismo pernicioso.
Uma vez assisti a uma palestra do Prof. Marins em que ele alertava para o risco de perseguir o ótimo e deixar escapar o muito bom. Pois esse é o caso do TDAH, somos meio megalomaníacos com algumas coisas, alguns projetos e completamente desleixados em outros, mas normalmente abandonamos a ambos.
Venho tentando prestar atenção a esses comportamentos para baixar esse nível de exigência, nem sempre consigo, mas venho tentando. Agora mesmo estou envolvido em um grande projeto que será submetido ao crivo alheio e volta e meia me pego procurando cabelo em ovo.
Lembrei-me aqui do jornalista e escritor Otto Lara Resende; segundo li certa vez, os editores tinham quase que arrancar seus livros de suas mãos. A cada vez que ele relia uma obra recém terminada ele tinha ânsia de reescrevê-la, ele nunca se dava por satisfeito. Por isso ele escreveu tão pouco. Não tenho a menor ideia se ele era ou não TDAH mas em relação aos seus livros ele se comportava como tal.
Precisamos estar atentos a mais essa forma de auto sabotagem, somente os super gênios conseguem um prêmio Nobel em sua primeira obra. Em geral são anos e anos de trabalho, centenas e centenas de livros lidos em pesquisas as mais diversas para se conseguir ganhar credibilidade e nome.
O resto é história da carochinha.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O TDAH E OS ERROS DO PASSADO

" Como é possível viver uma 'nova' vida com tantos erros GRAVES deixados para trás? Como é possível colocar a cabeça a noite no travesseiro tranquilamente sabendo que fez coisas que doença nenhuma justifica?
TDAH não é motivo para fechar os olhos para os problemas que possa ter causado, muito menos desculpa. Para ser considerado uma nova pessoa, a 'antiga' não pode deixar pendências que prejudiquem a vida de outras pessoas. O novo 'eu' só pode deixar pra trás aquilo que consertar.
O diagnóstico que teoricamente "abre os olhos" é enganoso. Erros que atrapalharam a vida de outras pessoas, não podem ser simplesmente esquecidos, isto está no caráter, e não numa doença."




O comentário acima me fez pensar muito.
Parece que existe um erro de avaliação em relação ao TDAH, ao tratamento e aos portadores.
TDAH é uma doença biológica que altera o comportamento do portador. Não serve de desculpa para nada, simplesmente pode justificar determinados comportamentos. 
Existem portadores de TDAH honestos e desonestos; gordos e magros; pacíficos e violentos; heterossexuais e homossexuais. 
Ser diagnosticado TDAH não apaga o passado de ninguém. Iniciar uma nova vida não significa esquecer o passado, mas construir um novo futuro.
O tratamento do TDAH não nos tornará perfeitos, nos tornará comuns, normais, igual à maioria das pessoas que não tem TDAH. 
Pessoas com ou sem TDAH cometem erros, magoam pessoas, prejudicam pessoas, são magoadas pelas pessoas, são prejudicadas pelas pessoas, amam e odeiam as pessoas. 
Atire a primeira pedra aquele que jamais prejudicou alguém. Com ou sem intenção.
A nova vida que tanto falamos aqui é uma nova vida para os portadores de TDAH. E é mesmo, uma vez que estaremos com o domínio de uma série de comportamentos que nos prejudicaram ao longo de nossas vidas. 
Os comportamentos que tivemos antes do diagnóstico foram de nossa responsabilidade e continuam sendo. Quem cometeu erros não os esquecerá (e nem é esse o objetivo do tratamento), a vida continua, agora sob uma nova ótica. Somente isso.
Ao contrário do que disse o leitor acima, o diagnóstico realmente abre nossos olhos; abre para novas possibilidades de vida; abre para que entendamos muitos de nossos comportamentos (que muitas vezes são inexplicáveis para nós mesmos); abre para que possamos construir uma nova vida.
Em nenhum momento foi dito aqui, por mim ou por qualquer dos leitores que aqui comentaram, que os erros do passado serão ou foram esquecidos. E, ainda em oposição ao que afirmou o leitor, muitos de nossos comportamentos são sim frutos do TDAH e não de falta de caráter como afirma o comentário acima.
Outra coisa que chama atenção nesse comentário: é possível reparar o que foi feito no passado? Se não for, de que adianta ficarmos remoendo e sofrendo por sua causa?
Não se trata de um comportamento frio, mas realista, de bom senso. 
O sentimento de culpa é uma das características dos portadores de TDAH; nos culpamos - com ou sem razão - por inúmeros problemas que podemos ter causado, ou imaginamos que tenhamos causado. 
Cometi inúmeros erros no passado, magoei várias pessoas, mas com mais de cinquenta anos quem não errou? Quem não magoou? Então, não olho mais para o que não posso reparar.
Procuro ser uma pessoa melhor hoje - e nem sei se estou conseguindo - para magoar o mínimo de pessoas possível e, se possível, jamais prejudicar a quem quer que seja. Mas, nem eu nem ninguém pode garantir que esse objetivo será plenamente alcançado, posso garantir que tento, tento muito.
Cada um de nós que foi diagnosticado como portador de TDAH tem o direito de inciar uma nova vida, de construir um novo futuro, de desfrutar de uma vida comum e normal.
Cada pessoa convive com seu passado da maneira que lhe for conveniente, possível e aceitável. O peso desse passado não pode provocar paralisia no presente.