sexta-feira, 27 de abril de 2012

O TDAH E O FUTURO QUE PARALISA



                                * Cena do filme 2001, uma odisseia no espaço; no longínquo ano
                                de 1967 esse filme previa um futuro que jamais aconteceu.
                               



Mais um post nasce dos comentários dos leitores do blog.
Recebi hoje um comentário de um companheiro de TDAH chamado Bernardo e que se auto intitula um TDAH em crise. Nesse post ele me pergunta se as profissões anteriores que não me motivavam, sofreram a ação da desmotivação do TDAH. Respondi-lhe que não, pois o tratamento não mudou meu sentimento de enfado em relação a essas profissões. Mas o que mais me chamou a atenção nesse post foi uma pergunta que ele me fez:
Será daqui a alguns anos vc não vai achar esse serviço atual motivante?
Será?
Essa frase denota a desconfiança típica de um TDAH, a desconfiança em relação ao futuro.
Nós portadores muitas vezes amarramos nossas vidas pelo medo do futuro, ficamos medindo (imaginariamente, claro) as consequências de nossos atos, os efeitos que eles podem causar, as possíveis dores que esses atos possivelmente possam vir a provocar.
Tememos o futuro. Nos momentos de decisão, sofremos de uma paralisia provocada pelo medo das consequências  dessas decisões. Todos, portadores ou não, pesam as consequências de suas decisões para o futuro, mas os portadores temem o futuro. Talvez pelas experiências frustradas que passamos ao longo da vida, as sucessivas derrotas provocadas pela desmotivação típica do transtorno que fatalmente surge com o tempo.
Mas existe um fator importantíssimo que nós TDAHs esquecemos: o futuro é formado por uma pilha de hojes; o futuro nada mais é do que a soma daquilo que fazemos hoje. Temos um enorme controle sobre nosso futuro; excetuando aquelas questões como doenças, acidentes, crises econômicas, etc, etc, o que colhemos é exatamente aquilo que plantamos, e nada mais.E nesse plantar e colher podemos incluir os excessos típicos do transtorno, a bebida, o cigarro a velocidade, que fatalmente terminarão em tragédia.
Eu poderia me prender a esse fato: será que conseguirei manter minha motivação por muitos anos?
Na verdade pouco importa; ninguém, nem os ditos normais conseguem manter-se igualmente motivados, com a mesma coisa, a vida inteira. Por isso trocamos de carro, de casa, de mulher, de cidade, às vezes até de profissão. Ou evoluímos na profissão, mestrados, doutorados, especializações. Precisamos de mudança, de incentivo à motivação.
Dane-se o futuro, estou amando minha profissão, HOJE. Isso é o que importa. Se amanhã eu conhecer uma outra profissão que me motive , mudarei com tranquilidade, deixando uma profissão que me fascina por outra que me fascinará ainda mais. Mas hoje não penso nisso. Penso em melhorar meu desempenho, meus conhecimentos, minha confiança, minha auto estima profissional.  Isso ficará por toda a minha vida, independente da profissão que eu exerça. Isso é construir o futuro.
Pensar no futuro é agir no presente, temê-lo é uma forma de evitar a ação.
O que faço por mim hoje refletirá no meu futuro, seja ele qual for.
Estou a custo aprendendo a não me prender a um futuro que parece ter vida própria e que nos cobrará um preço caríssimo por nossas escolhas.
Minha vida é agora, e o futuro não tem nenhum poder a não ser o de refletir as minhas escolhas e ações.
E não nos esqueçamos: não existe futuro sem presente.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O TDAH COM BRILHO NOS OLHOS








Ontem foi um dia atípico; cheguei ao trabalho às 7:30 e saí às 21:00 hs.
Meu horário de trabalho  habitual é de 7:30 às 19:00 hs. Aos finais de semana sinto falta do meu trabalho e de meus celulares; acho que isso se chama satisfação. Descobri um trabalho que me motiva e me fascina; a cada defeito desvendado uma vitória; um sentimento real de vitória. As derrotas também são reais e servem como alerta e aprendizado.
Há cerca de um ano e meio eu tive uma conversa com a Jaque, uma longa conversa sobre a vida, as experiências e as opções. Lembro-me perfeitamente de comentar com ela que durante minha vida inteira fui vendedor e sempre odiei exercer essa função; mesmo sendo um vendedor excelente Em muitas ocasiões passei dezenas de vezes diante da porta de um cliente até encontrar uma desculpa plausível para não visitá-lo. Foi uma vida inteira de insatisfação e frustração. Acordar pela manhã e encarar o fardo de fazer o que não se gosta, o que se detesta. E todos sabemos o quanto isso é duro.
Tenho recebido inúmeros comentários sobre insatisfação com a vida, desinteresse com a escola, falta de motivação. Vivi isso por 50 anos; exatamente CINQUENTA ANOS. 
Aos 21 anos consegui um emprego em uma multinacional do ramo farmacêutico; não durei um ano no emprego. Odiava o trabalho e aquele sistema excessivamente competitivo. Arrastava-me diariamente pelo salário excelente, o plano de saúde, o carro da empresa e outras coisas fúteis e desnecessárias. Sim, fúteis e desnecessárias; esses fatores motivacionais não foram o bastante para me manter nesse emprego. Nem em outros ótimos empregos que tive depois.
Não sou idiota pra pregar aqui que dinheiro e benefícios não são importantes ou motivadores, apenas que, no meu caso, foram insuficientes para me fazerem seguir adiante e superar o pavor que eu tinha de vender.
Quando eu estava de saída do emprego, o laboratório lançou um medicamento antidepressivo e lembro-me perfeitamente de estar na sala de meu apartamento lendo a literatura sobre o remédio; eu tinha todos os sintomas ali descritos. Não tomei nenhuma providência ou medicamento, simplesmente convivi com essa insatisfação por  mais trinta anos.
Talvez tenha sido melhor, iria tratar-me de depressão e não de TDAH.
Não vale a pena viver assim.Precisamos encontrar o que nos motiva, o que faz nossos olhos brilharem; qualquer profissão exercida com prazer leva à excelência e a excelência leva à boa remuneração e ao reconhecimento. Conheci excelentes profissionais que exerciam com brilhantismo e prazer profissões aparentemente simples e mal remuneradas, mas eles se destacaram e puderam cobrar acima da média do mercado.
Ainda estou engatinhando em minha nova profissão, mas tenho certeza de que com minha dedicação, minha aplicação, meu prazer em trabalhar, em breve serei reconhecido e poderei ganhar muito mais do que ganho hoje. Quem faz bem feito, destaca-se, vira referência, vira guia.
Eu dei muita sorte de encontrar um trabalho que me motiva aos cinquenta anos. Se eu tiver mais trinta dias ou trinta anos de vida pela frente, eles certamente serão melhores e mais prazerosos do que todos os anos de trabalho que tive até aqui.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O TDAH, NESSUM DORMA E LES MISERABLES




Quem tem o hábito de acompanhar os vídeos do Youtube, ou que, como eu, tem uma filha (ou filho) adolescente, certamente já ouviu falar das personagens principais deste post: Paul Potts e Susan Boyle.
Ambos participaram de um programa de revelações artísticas nos moldes do Ídolos do Brasil e do American Idol, americano Essa é a versão inglesa desses programas.
Paul Potts era um vendedor de celulares no interior da Inglaterra,com quase quarenta anos; de aparência comum, mediocremente vestido, apresentou-se ao juri do programa afirmando cantar ópera; um tipo de música dificílima de cantar pois exige uma potência vocal incomum. Ao ouvi-lo dizer isso, um dos jurados esboça um sorriso de descrença. Logo nos primeiros acordes da ópera 'Nessum Dorma', o público vai ao delírio, Paul Potts é um excelente tenor, um talento oculto num canto qualquer da Grã Bretanha. Potts foi até à final do programa vencendo-a de forma inconteste.
Susan Boyle é ainda mais impressionante; aos quarenta e sete anos, mal vestida, de aparência quase desleixada,  surgiu na versão escocesa do programa. A exibição é precedida de uma micro entrevista onde ela afirma que iria cantar uma das músicas da peça 'Os miseráveis'. Quando Susan diz que sua musa é Elaine Paige - famosa cantora inglesa - algumas pessoas da platéia sorriem ironicamente. A apresentação de Susan Boyle foi um arraso! A platéia ficou de pé; uma das juradas levantou-se para aplaudi-la e no julgamento todos afirmaram estar absolutamente surpresos com a espetacular apresentação da cantora.
Hoje, ambos são cantores profissionais e o último CD de Susan foi recorde de vendas no Natal de 2010.
E o que ambos tem a ver com o blog e o TDAH? Nada; e tudo. Pessoalmente nada, metaforicamente, tudo.
Eles representam uma mudança radical de vida, uma capacidade de persistir em busca de seus sonhos e daquilo que acreditam. Diamantes brutos enterrados em vilarejos, foram descobertos quase que por acaso e hoje vivem de seus sonhos.
Uma reconstrução de vida, uma nova vida.
Identifico-me com essas vidas; não canto absolutamente nada mas jamais desisti da minha vida. Jamais entreguei os pontos e hoje depois de meio século de vida, tenho um trabalho que adoro, que me estimula a seguir em frente e a evoluir constantemente. Em cerca de dez meses, mais de setecentos celulares já passaram pelas minhas mãos, minha confiança vai aumentando, meus conhecimentos idem, e eu sinto-me estimulado a estudar mais, a aprofundar-me para atingir um novo patamar em minha profissão.
A persistência é uma característica do TDAH. Não persistimos naquilo que nos é desinteressante, mas persistimos na luta pela vida, estamos nos reinventando a cada dia, estamos buscando uma vida melhor incessantemente. Temos essa infinita capacidade de renascimento após cada derrota, cada queda.
Com o tratamento, essa persistência (que as vezes beira à teimosia) vira uma poderosa aliada na reconstrução da vida. Com o peso do TDAH aliviado, nossa caminhada é mais produtiva, mais rápida e mais prazerosa.
Claro, nossos julgadores sempre darão sorrisinhos irônicos diante de cada recomeço nosso, mas eles não sabem que sob tratamento somos imbatíveis.
De mais a mais,em meu caso específico, a opinião deles não me interessa em nada.Esse tempo já passou.

PS.: Quem ainda não viu os videos clique nos links abaixo, vale a pena
Susan Boyle:http://www.youtube.com/watch?v=01JilgeNXW4
Paul Potts: http://www.youtube.com/watch?v=BHl5kJ4_lII

quinta-feira, 12 de abril de 2012

TDAH- IMAGINAÇÃO FÉRTIL E ADUBADA.


 Já disse anteriormente que venho descendo a pé para o trabalho. Aqui cabe uma pequena explicação: quando digo descendo é por que moro em Minas Gerais, nas montanhas de Minas. Estamos sempre descendo ou subindo. No meu caso descendo em direção ao centro da cidade.
Cena 1 - Parte do caminho é num trecho pouco habitado com muita vegetação, quase uma mata. Pois bem, há alguns dias em uma parte dessa vegetação exalava um cheiro horrível. Não sei se lixo ou algum animal morto, mas o cheiro era terrível. Logo disparou a fábrica de sonhos. Um pé humano acinzentado apareceu dentro da vegetação. Na hora passei a mão no celular e liguei para a polícia. Mas, pensei eu enquanto apertava o passo e prendia a respiração para transpor o mau cheiro, se eu ligar pra polícia do meu celular  vão identificar meu número e eu terei de ficar aqui pra prestar depoimento. Vou chegar atrasado na loja e eu tenho tanto serviço...
Aí lembro-me de que tudo aquilo não existe, é só imaginação. Sorrio e penso: isso dá um post.
Cena 2 - Tenho de ir ao banco pagar umas contas e deixo a funcionária sozinha, naquele dia ela comentou estar um pouco indisposta. Caminhei uns duzentos metros e comecei a pensar na moça sozinha na loja, se ela começa a passar mal, cai lá no chão, sem ninguém pra ajudar. Ela só será socorrida quando entrar um cliente e encontrá-la caída... Tive de rir, e muito. Nem cheguei a contar isso pra ela, vai saber pelo blog.
Cena 3 - Dia cinzento, quase frio. Aquele ventinho no corpo enquanto caminho rumo ao trabalho me leva a uma madrugada gelada, um nevoeiro denso cobre a cidade dificultando a visibilidade. Um sujeito de andar estranho atravessa a ponte em meio ao nevoeiro, no bolso carrega um revólver cuja dureza do aço gelado incomoda sua perna defeituosa. O indivíduo decide suicidar-se por não aguentar mais ser alvo de chacotas por seu andar estranho, fruto de um acidente gravíssimo que destruíra parte de seu quadril. Pra encurtar a conversa, o suicida acaba por tornar-se assassino após ter seu objetivo de matar-se interrompido por um cara, que aleijado como ele, encontrara na exploração de sua deficiência uma fonte de renda e tenta demove-lo da ideia de suicídio com esse argumento. Após matar o deficiente nosso suicida encontra sua razão de viver. O sentimento de onipotência em relação à sua vítima cria naquele momento o embrião de um seria killer. Trágico, né. Pois é, isso brota enquanto caminho ouvindo música, atravessando ruas, cumprimentando pessoas que, como eu, são habitués dessas caminhadas nesse mesmo trecho e horário.
Cena 4 - Diariamente concebo uma carta a ser endereçada ao jornal local  denunciando o péssimo estado das calçadas do município, a precariedade vergonhosa e humilhante do transporte público, etc, etc, etc. Tal carta jamais sairá da minha mente, mas mesmo sabendo disso ela alimenta essa ira santa contra a municipalidade.
Não é intencional, não controlo, não premedito e não consigo barrar. Na verdade até me divirto agora que sei de onde vem e por que vem.
Sempre me lembro do Calvin & Harold, uma tirinha onde o garoto conversa com seu tigre de pelúcia como se ele vivesse e por onde passa tudo o que o cerca subitamente ganha vida em sua fertilíssima imaginação.
Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

EU SOU TDAH, E AGORA?

                                        Imagem retirada do blog 'tdahrecife.blogspot.com



Essa é uma pergunta recorrente no blog, várias pessoas  das mais diversas idades fazem essa pergunta com um certo ar de perplexidade, alguns com surpresa e vários deles com uma dose de tristeza.
Pois é, o que fazer agora?
Bem, por algum motivo você procurou um médico; algo o levou a buscar essa ajuda. Provavelmente o TDAH já lhe causou prejuízos na vida e em tal gravidade que te levaram ao médico.
Então vejamos, você estava no fundo do poço ou a caminho dele. Daqui pra frente é lucro!
Você tem uma doença mental! Isso é horrível!
É horrível, mas se você parar para pensar nada mudou em sua vida. Se você não sair alardeando seu TDAH, ninguém vai ficar sabendo, pelo contrário, com o tratamento seu comportamento vai sofrer uma mudança favorável e é isso que as pessoas vão perceber.
O TDAH é invisível, portanto, você não precisa propagar ser um portador, você não vai ganhar nada com isso.
Conheça seu inimigo profundamente! Leia e informe-se ao máximo sobre o TDAH, com isso você reconhecerá suas ações e poderá anulá-las.
E a ritalina? Não é a cocaína legalizada? Vou ter de tomar remédio de tarja preta o resto da vida?
De maneira geral, os efeitos colaterais da ritalina são muito menores do que os efeitos nocivos do TDAH. Esses sim são perniciosos e em alguns momentos de consequências nefastas e perenes.
Se é legalizada você poderá tomá-la sem medo. Mas não é nada disso! A ritalina é um medicamento como é o omeprazol, a aspirina, a dipirona, o viagra e muitos outros. Como todo medicamento tem lá seus efeitos colaterais, mas todo medicamento tem seus efeitos benéficos e a ritalina não é diferente. O TDAH é para o resto da vida, portanto, a ritalina também. E ainda assim será melhor do que conviver com o TDAH.
Pense no seguinte, você chegou à idade que chegou arrastando o peso de um inimigo que você desconhecia, sofrendo a discriminação de ser a 'ovelha negra', o 'fracassado', a 'eterna promessa', o 'preguiçoso'; o tratamento pode ser pior do que isso?
Existe um certo medo de deixar de ser o coitadinho, em como será a cobrança após o tratamento; será proporcional à sua melhora?
Ser coitadinho é uma droga, ter as rédeas da sua própria vida dá uma sensação indescritível de poder e controle que raras as vezes você deve ter experimentado em sua vida.
Mude sua vida! Você pode!
Mas tanta gente nega a existência do TDAH, inclusive médicos!
Existem dois tipos perniciosos de profissionais: os ignorantes e os mal intencionados. O primeiro deles fala sem o devido conhecimento do assunto e dissemina sua ignorância, podendo inclusive  levar pessoas que precisam de tratamento a abandoná-lo por sua influência. O segundo, bem o segundo tipo é aquele que usa sua posição contrária a Organização Mundial da Saúde para atrair os holofotes para si. Em geral são profissionais medíocres e inexpressivos que tentam a todo custo algum reconhecimento público, mesmo a custo da melhoria de vida daquelas pessoas que se deixam manipular pelo discurso sem qualquer embasamento científico.
 O diagnóstico é um choque, mas não é uma condenação, pelo contrário abre-se uma porta para uma vida melhor. Você deixa de ser um cretino preguiçoso para ser um portador de TDAH, uma pessoa que se tratada com critério pode levar uma vida produtiva e feliz, explorando suas enormes potencialidades e controlando suas deficiências.

domingo, 1 de abril de 2012

O TDAH E O DÉFICIT DE INTELIGÊNCIA





Na infância essas coisas são ditas de forma velada, quando a criança não está presente: 'acho que esse menino tem um problema de aprendizado'; 'coitado, ele se esforça mas não há meio de aprender'. Isso tudo falado entre adultos, em voz baixa, achando que a criança não sabe ou não percebe que estão falando dela.
A condescendência é outra inimiga do tratamento correto e eficiente e colabora com a falsa ideia de falta de inteligência. Com 'pena' da dificuldade dos filhos, os pais não cobram ou não dão o suporte correto. Fazem as tarefas escolares pelos filhos, não buscam a postura correta das escolas e o TDAH vai crescendo na vida da criança.
O desconhecimento do TDAH no Brasil é outro aliado da doença e das falsas crenças que ele provoca, as escolas optam por ignorá-lo, alguns médicos também, e o transtorno vai se espalhando e distribuindo seu prejuízo democraticamente entre a população.
A ignorância disseminou entre a população (incluindo aí muitos dos portadores) que o portador de TDAH é burro, tem dificuldade de aprender por ter déficit de inteligência. Isso é mentira!
Não somos burros, somos desatentos! Não aprendemos por que não conseguimos prestar atenção naquelas aulas monótonas, narcotizantes e intermináveis.
Ontem , na reunião do grupo Mente Confiante, um médico de sucesso e pai de um portador, falava sobre isso; o que nos prende a atenção é o que nos emociona. Somos seres emocionais; muito mais do que racionais. E é verdade; sempre fui excelente aluno naquilo que me interessou: história, geografia, literatura, sociologia, filosofia. São assuntos que amo, que viajo neles quando os estou estudando. Física e matemática são matérias que odeio, que desde a mais tenra infância aterrorizam meu sono.
Enquanto o médico falava viajei (claro né, rsrs) em minha vida e comecei a pensar em como me adaptei e gostei de trabalhar com assistência técnica de aparelhos celulares. Parece algo estranho, meio sem sentido, um portador de TDAH que trabalha com mão de obra de algo tão pequeno, tão minucioso.
Mas ontem estive pensando: em primeiro lugar cada aparelho é um desafio; em segundo lugar ocupa minhas mãos, exige um certo movimento; em terceiro, solucionar um defeito gera um sentimento de vitória gostoso, a derrota transforma-se em novos desafios, novos conhecimentos; em quarto lugar, adoro tecnologia, amo novidades, e isso, tenho a toda hora em minhas mãos. Aliado a isso tudo, tem a internet que amo e que é uma fonte inesgotável de informações (que adoro), de pesquisa e descobertas. Por incrível que pareça, encontrei emoção num 'simples' conserto de celular. Às vezes rio de mim mesmo quando percebo a expectativa que fico ao ligar um aparelho que apresentou um grau de dificuldade incomum. O aparelho funcionar equivale a um gol, uma grande vitória. Isso faz com que o dia a dia seja muito mais do que
parece. Instintivamente a Jaque enxergou que eu me daria bem nisso, eu mesmo não enxergava a possibilidade de adaptar-me a essa profissão. Entrei meio que provisoriamente e estou adorando.
Muita gente pode se achar incapaz de fazer um trabalho como esse, mas nunca por falta de inteligência.
Mas por não extrair emoção disso, não enxergar da mesma forma que eu.
Participei de um programa da TV Brasil sobre TDAH e nele havia um entrevistado que, formado em jornalismo, se descobrira fazendo pequenos doces trabalhados, com mini desenhos e enfeites minúsculos. Quando vi pensei: credo, eu jamais faria isso na minha vida. Pois é, quanta gente fala isso da minha opção de vida. Os docinhos trabalhados despertam a emoção daquele jornalista, são arte pura na sua visão, dão sentido aos seus sentimentos.
Sou burro por não saber ou não conseguir fazer aquilo?
Sou burro por não haver formado em Direito?
Quanta gente chega pra mim e diz: eu não consigo aprender a mexer com esse celular. Sou burro pra tecnologia. O que a pessoa quis dizer foi: não gosto de tecnologia, não me interesso por celulares.
Essa é a chave da vida do portador; temos que nos dedicar àquilo que desperta nossa emoção.
Fazer por fazer, pra seguir o exemplo ou a vontade de outras pessoas é fracasso na certa.
Einstein foi considerado burro nos primeiros anos da escola regular, e mudou o mundo!
Mudou o mundo por que pensou a física de maneira diferente, quebrou padrões e tabus.
Ele tinha TDAH? Não sei, mas detonou seus críticos quando encontrou seu caminho,
o que o emocionou, o que deu sentido a sua vida.

Então, chega dessa conversa de que TDAH é burro.
Eu não sou! E exijo que me respeitem!