sábado, 28 de setembro de 2013
O TDAH E A DOR DA MUDANÇA
Erro.
Erro e persisto.
Erro, persisto e insisto.
Erro, persisto, insisto e repito.
E arco.
Arco com a dor.
Arco com os prejuízos.
Arco com as nefastas consequências.
E então ergo a cabeça e retomo o caminho.
E erro; de novo.
Erro e persisto; de novo.
Já conheço a dor.
Já conheço os prejuízos.
Já conheço as nefastas consequências.
Então por quê?
Talvez...
Bem, talvez meu cérebro já tenha se habituado ao hedonismo.
E o TDAH se manifesta novamente: e que mal há em ser hedonista?
Quem estará certo, Esopo a quem se atribui a autoria da fábula A Cigarra e a Formiga ou Raul Seixas que afirma que a Formiga só trabalha por que não sabe cantar?
Onde andará a razão?
Eu quero ser uma metamorfose ambulante, e sou. Não uma metamorfose teórica, meramente opinativa.Não! Sou uma metamorfose empírica, prática, vivida. Atiro minha própria vida à gigantesca centrífuga emocional do TDAH e renasço de maneira absurdamente nova.
Trago todas as cicatrizes das metamorfoses passadas, mas a alma ganha um novo brilho, a boca um novo sabor, a vida uma nova motivação.
Ah, mas então a metamorfose é ótima!
Ledo engano! Apesar do novo brilho, a alma se tortura e cobra coerência; a nova cicatriz lateja e os fantasmas daqueles que ficaram pelo caminho volta e meia tentam me assombrar.
A metamorfose é pesada, difícil de conviver e cansativa. Exige muita coragem (ou inconsequência), muito sangue frio (ou alheamento) e uma capacidade infinita de auto regeneração moral e psicológica (ou indiferença). Mas, com todas as dores, ainda é graças a ela que vivo hoje emoções que jamais imaginei viver, seja em intensidade, seja em quantidade e qualidade.
O maior problema do TDAH é que não acumulamos esses sentimentos. Assim como não aprendemos com os erros, não nos fortalecemos com suas recuperações. Se enfrentamos os erros de peito aberto, sentimos todas as dores a cada vez que os repetimos, como se fosse a primeira vez.
Gostamos de falar com certa leveza sobre nosso TDAH, alguns de nós até valorizam ser TDAH, mas a verdade é que é muito destrutivo, doído e intenso demais.
Já disse Guimarães Rosa: Viver é muito perigoso.
Com TDAH é nitroglicerina pura!
PS.: ATENÇÃO, UMA CRIATURA DESONESTA E COVARDE, CRIOU UM PERFIL FALSO COM MEU NOME E VEM POSTANDO LINKS PARA VÍDEOS NO YOUTUBE; ESSES VÍDEOS SÃO CONTRA O TDAH E CONTRA A PSIQUIATRIA. REFORÇO O QUE DISSE: NÃO SOU EU QUEM COLOCA ESSES LINKS ANTI PSIQUIATRIA! POR FAVOR,IGNOREM!
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
TDAH - OS MALABARISTAS DA VIDA
Parado no sinal de trânsito, observo um jovem que faz
malabarismos em troca de algumas moedas
Bolas coloridas giram em suas mãos, não com a maestria que
se espera de um malabarista profissional, mas com a insegurança dos que lutam
pela sobrevivência nesse país cruel e indiferente.
Meus olhos acompanham as bolinhas e meu pensamento viaja na
louca velocidade do TDAH: cada bola daquela que gira em círculos desiguais e
inseguros, simboliza um aspecto da minha personalidade. A impulsividade pode
ser a laranja; a azul, a desatenção; a preta, a fúria que a duras penas
consegui dominar; a amarela, a personalidade sonhadora; a vermelha, essa
representa a paixão exacerbada; a branca a inconsequência.
Já não enxergo o garoto do sinal, ali estou eu, um
malabarista da vida, numa esquina qualquer da minha existência equilibrando
emoções que não domino, tentando mantê-las alinhadas e seguras em minhas mãos.
Apesar do meu esforço minhas mãos tremem, o ruído das ruas
me incomoda e me faz perder a atenção; a bolinha preta passa a milímetros da
paixão exacerbada. Meu Deus, penso, isso é perigosíssimo; a fúria e a paixão
juntas. Então a impulsividade esbarra levemente na desatenção, foi tão de leve
que parece que não surtirá nenhum efeito. Ledo engano; o círculo se desfaz
entortando para fora. O laranja impulsividade choca-se com a bolinha branca da inconsequência;
juntas inconsequência e impulsividade perdem velocidade e são alcançadas pela
bolinha vermelha da paixão incandescente. Suo frio e tento desesperadamente
controlar as bolinhas desgovernadas. Acelero meus movimentos na vã tentativa de
impedir que se choquem com a fúria que anda bem controlada em uma das mãos. Mas
já é tarde, os sonhos da bola amarela se chocam com a impulsividade, a inconsequência
e a paixão. E começam, uma a uma, a cair ao chão. Impotente olho-as saltando ao
redor dos meus pés. Na minha mão apenas a bola preta. Nesse instante a bolinha
azul da desatenção caiu sobre meu pé e correu pra longe, onde eu não poderia
alcançá-la rapidamente.
Meu olhos enchem-se de lágrimas, a mão crispa-se sobre a
bolinha preta, mas um estranho alento tomou meu coração: a fúria ainda está sob
meu controle. De resto, agacho-me num movimento milhares de vezes repetidos ao
longo da vida e recomeço a juntar as bolinhas da minha personalidade espalhadas
no asfalto.
Meu Deus, falo pra mim mesmo, quantas vezes mais terei de
juntar os cacos da minha vida?
A bolinha azul da desatenção sumiu. Não me recordo sequer
pra que lado ela rolou.
Olho ao redor... Em vão. A bolinha azul sumiu.
Trago a mente vazia e no peito uma sensação estranha de que
jamais serei um exímio malabarista da vida.
ESSE POST É DEDICADO AO LEITOR DIEGO BUENO QUE CUNHOU A
EXPRESSÃO: MALABARISTA DA VIDA, AO FALAR DAS CARACTERÍSTICAS DO TDAH EM NOSSAS
VIDAS NUM COMENTÁRIO POSTADO NO DIA 8 DE SETEMBRO ÚLTIMO.
DIEGO É PSICÓLOGO, PROFESSOR, TDAH E VEM ENRIQUECENDO NOSSO BLOG COM SEUS COMENTÁRIOS BRILHANTES.
DIEGO É PSICÓLOGO, PROFESSOR, TDAH E VEM ENRIQUECENDO NOSSO BLOG COM SEUS COMENTÁRIOS BRILHANTES.
OBRIGADO POR SUA COLABORAÇÃO.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
UM TDAH SERÁ NORMAL UM DIA?
Estarei no caminho certo?
Jamais saberei.
Mas existe um caminho certo?
Sob qual parâmetro?
Lembrar-me de tudo?
Abandonar a impulsividade?
Derrotar meus sabotadores?
Estabilizar meu humor?
Acabar com meu sentimento de inferioridade?
Ou quem sabe desistir do meu isolamento?
Mas este é o caminho certo?
O linear caminho do equilíbrio.
A vida previsível dos que se lembram.
A monótona estabilidade dos que pensam antes de agir.
A feliz vida de quem jamais se sabotou.
O estável humor dos equilibrados.
Ah, a autoconfiança dos 'normais'.
Sem contar com os felizes sociáveis e seu incontável número de amigos.
Os piores momentos da minha vida vivi quando cedi aos meus impulsos.
Mas os melhores também devo à minha impulsividade.
Minha péssima memória me propiciou uma enorme capacidade de improvisação.
A auto sabotagem dói, não aprendemos com nossos erros, temos prejuízos constantes.
Mas e daí?
Esse sou eu!
Com ou sem remédio eu sou um TDAH.
Com ou sem remédio jamais serei como os'trouxas'.
Trarei sempre em minha alma as marcas gravadas pelo TDAH.
A torturada e riquíssima alma TDAH.
Não quero glamourizar o TDAH, mas ando pensando que o sonho de domá-lo, ou subjugá-lo, é apenas isso: um sonho.
Cinquenta anos de TDAH não tratado exigiriam um tratamento psicológico que não posso pagar. Terei de me confrontar comigo mesmo, enfrentar-me, destruir castelos imaginários erguidos ao longo da vida; escavar minha mente em busca de um Alexandre que jamais conheci ou convivi. E não sei se gostarei de conhecer.
Não estou pregando o não tratamento, apenas questionando nossa tentativa de ser 'normal'.
Creio que jamais o seremos. Seremos sempre um esboço, um rascunho de normalidade. Basta que cortemos as amarras de nossa camisa de força medicamentosa para que nosso TDAH transborde e reassuma o controle de nossas vidas.
Perdoem-me, me perdi.
Me perdi de mim mesmo.
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