quarta-feira, 11 de setembro de 2024

O TDAH E A SUPERPOSIÇÃO DE SENTIMENTOS.


Ao longe um som de flauta embala meus pensamentos - Travessia. Sim, a flauta toca Travessia de Milton Nascimento.
A música icônica tão bem tocada me invade a alma e a tristeza de lembranças irremediavelmente perdidas me enche a mente. 
Um desfile desconexo de pessoas e situações, sentimentos e decisões, escolhas e perdas. Principalmente as perdas dançam diante de mim. Quanta gente pelo caminho, quantas oportunidades negligenciadas, quantos momentos preciosos ignorados, quanta vida desperdiçada...
O que resta? Nada. Absolutamente nada. A música mudou, já não toca mais Travessia ao longe, com a nova música a nostalgia se apaga. O pálido baile do passado se desvanece diante da curiosidade de descobrir qual era a nova música que o flautista interpretava. Uma música rápida, muito rápida. Conheço, pensei... Conheço... Caetano! Claro que é Caetano... Pena de pavão de Krishna, maravilha, vixe, Maria... É isso!! Trilhos Urbanos em um ritmo mais forte. Caetano! Uma enorme satisfação tomou conta de mim. Adoro Caetano e essa música. Parei para prestar atenção. Toca pra caramba, pensei. Quem será? De repente, como começou, parou. Fiquei com uma sensação de incompletude... Corri pro YouTube e coloquei o próprio Caetano pra interpretar pra mim. Caetano é um gênio, um ícone. Estou aqui acompanhando suas músicas com extrema satisfação. Uma verdadeira playlist de Caetano desfila no YouTube para meu deleite: Trilhos Urbanos, Reconvexo, Vaca Profana... Do nada veio-me a lembrança de que há quinze ou vinte minutos um desfile macabro de dores pretéritas me tomou os pensamentos e jogou-me num poço de dor e culpa. Mudou a trilha sonora mudou o humor. Transtorno Bipolar? Transtorno de Humor? TDAH! Lembrei-me nitidamente de explicar aos meus funcionários - nos tempos idos de empresário - Preciso que me lembrem das coisas. Converso alguma coisa com você, o telefone toca, chega um cliente... Aquilo que conversamos apagou-se sob camadas de novas demandas. E é isso: ações, experiências, sentimentos, vão sendo soterrados por novas situações, novas experiências, novas demandas, novas atenções... E a vida passa... Aquilo que em determinado momento parecia importante ou significativo apaga-se. Simplesmente apaga-se. Chegaram a me taxar de superficial. Não, não é isso, é Déficit de Atenção. Uma atenção que flutua ao sabor de circunstâncias absolutamente aleatórias, mas que se transformam em prioridade numa fração de segundo que, claro, será substituída por outra prioridade, e por outra, e por outra...
Só quem não vive o TDAH pode taxar-nos de qualquer coisa. Aquele sentimento de meia hora atrás era verdadeiro, e ainda é, mas uma nova realidade se sobrepôs àquela anterior e a sobrepujou. Me lembrei das camadas geológicas da terra. Se eu as revolver devo encontrar situações e sentimentos completamente esquecidos e que podem me surpreender verdadeiramente. 
Sigamos em frente: ao infinito e além!
Como dizia um velhíssimo samba: deixe que digam, que pensem, que falem... 

O TDAH E O TEMPO

Tempo...
Me escapas
Me surpreende 
Me desgasta... 
Esvai-se 
Esboroa-se
Evapora-se 
Diante de mim... 
Atônito 
Indefeso 
Humilhado 
Perplexo 
Eu que não te vi chegar
Eu que não te vi passar 
Restam as justificativas balbuciadas, que ninguém ouve ou crê. 
Restam as desculpas
Se ainda houver tempo...