terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O TDAH NA PANELA DE PRESSÃO





Existem momentos na vida em que queremos sumir. Ou
desistir de tudo e virar hippie ou andarilho, sair por aí fazendo bijouteria, sem rumo, sem responsabilidade, sem pressões.
Mas, se analisarmos friamente, sumir ou virar hippie exige muita responsabilidade, muita força e uma enorme capacidade de suportar a pressão interna e externa. E se pensarmos bem, por mais mendigo que sejam os hippies existe uma certa pressão por vender para comer e ter onde dormir naquele dia.
Imagine num dia frio, chuvoso e você hippie sem um tostão para comer e dormir naquele dia; você que acabou de chegar numa cidade estranha. Isso também é pressão.
Passei por todos esses sentimentos nos últimos sete ou oito dias.
Na última semana um fantasma financeiro veio assombrar-me, resultado do naufrágio de minhas empresas em um passado recente. Não sei se é uma característica do TDAH, minha ou ocorre com todo mundo: um grande revés nunca vem sozinho. Na quinta feira recebi outra péssima notícia financeira, terei de pagar uma paulada de dinheiro que julguei que não seria minha responsabilidade. Segunda feira cheguei cedo à loja e deparei-me com uma cena terrível: um temporal que caiu no domingo à noite invadiu a loja molhando as vitrines e balcões. Pensem na cena: uma loja de celulares com as vitrines completamente molhadas. Um terrível desânimo abateu-se sobre mim. A primeira vontade foi baixar a porta de aço e sumir. Respirei fundo e comecei a limpeza. Aí entrou minha incrível sorte; não molhou nenhum aparelho. Todos ficam sobre pequeninos pedestais de acrílico e não molharam. A água parece que escorreu pelos vidros da vitrine acumulando-se nas prateleiras. O que parecia uma tragédia acabou tornando-se apenas uma amolação de ter que limpar aquilo tudo. Mas a descarga de adrenalina foi enorme. Somado ao antecedentes da semana eu estava uma pillha, alcalina.
Nunca me esqueci de uma frase pichada em um muro na cidade de Lavras onde morei: SORRIA, AMANHÃ PODERÁ SER PIOR!
Pois é, piorou. Na segunda feira à tarde sofri novo revés financeiro.
Hoje meu computador deu um pau enorme, atrasando meu trabalho em mais de uma hora.
Imaginem meu estado de espírito.
Confesso que minha maior vontade é desaparecer. Mas sei que não posso nem devo.
Hoje a tarde acabei rindo de mim mesmo.
Pouco antes do problema com meu computador a descarga do banheiro deu um pequeno problema, coisa pouca. Depois de uma hora lutando contra meu computador (e sendo derrotado) fui ao banheiro e deparei-me com a descarga. O banheiro da loja tem uma descarga muito antiquada, daquelas que tem uma caixa externa de plástico, pois bem, ela estava em absoluto silêncio. Uma dúvida veio-me à mente, será que ela está vazia, não está enchendo? Nesse instante, sem que eu conseguisse domá-la, minha mente criou uma imagem em que eu puxaria a cordinha (isso mesmo, é aquela de cordinha) e nenhuma gota d'água sairia. Nesse instante, uma fúria incontrolável tomaria minha mente e eu destruiria a marteladas a caixa de descarga e todos os acessórios do banheiro.
Na hora comecei a rir.
Achei engraçado que em meio a tanto nervosismo e irritação minha mente escapasse daquela forma e criasse uma situação bizarra como essa. Mas digamos que essa realização mental aplacou um pouco minha ira. O mais interessante é que vejo a a situação acontecer, numa fração de segundos vi o banheiro todo destruído pela minha sanha assassina.
E daí?
Daí que eu estou aqui, desabafando em meu blog. Não descontei em ninguém, não abandonei minha vida e nem tomei uma decisão tresloucada pra me livrar de um problema imediato e que apenas criaria outro problema mais adiante.
Estou tentando pensar melhor, não ceder aos meus impulsos nem entregar-me aos meus sabotadores. Resultado do meu tratamento, resultado da minha consciência do TDAH e da minha vontade de domá-lo. Não sei se as coisas ainda podem piorar nem quais serão minhas reações daqui por diante; sei que estou satisfeito com meu comportamento até aqui.
Nessas horas fico bem feliz com meu tratamento.

sábado, 28 de janeiro de 2012

NÃO HÁ MILAGRE NO TRATAMENTO DO TDAH




Estive relendo alguns emails e comentários que recebo e algo chamou-me a atenção: boa parte das pessoas que me contatam, mencionam que o/a companheiro/a não quer tratar-se. Isso é visto como um impedimento à felicidade que nós, que nos tratamos, vivemos. Não sei se é minha maneira de escrever ou se as pessoas interpretam dessa maneira, mas não podemos cair na tentação de um comportamento maniqueísta, o céu e o inferno; tudo de ruim ou tudo de bom. Nada na vida é assim. O tratamento não transforma o Lobo Mau em Chapeuzinho Vermelho; até por que, não existe um Lobo Mau e muito menos Chapeuzinho Vermelho.
A ritalina não é uma varinha de condão que elimina todos os nossos problemas da noite para o dia. Sozinha, então, vale menos ainda. A ritalina tem o dom de aumentar nossa capacidade de concentração, de reduzir nossos episódios de dispersão, aumenta a clareza com  que vemos os fatos e muitas outras coisas positivas mas, como todo medicamento não é perfeito nem isento de efeitos colaterais. Sua eficiência é muito maior se acompanhada de apoio psicológico, no meu caso optei pelo coaching e gostei demais. Mas eu iniciei meu tratamento aos 50 anos, é dificílimo quebrar tantas convicções, sentimentos e comportamentos cristalizados.
Quanto mais cedo se dá o diagnóstico e o início do tratamento, mais eficiente e rápido são seus resultados. A criança é uma personalidade em construção, uma página em branco.
Nós adultos somos o oposto, uma enorme soma de comportamentos, preconceitos, vaidades e erros que formam uma barreira às vezes intransponível.
Em geral o homem adulto não quer tratar-se. Entram nesse não querer toda a auto suficiência masculina - não tive essa auto suficiência em relação ao tratamento do TDAH, mas ajo como a maioria dos homens em relação aos outros tratamentos médicos necessários - soma-se a isso o preconceito com a tarja preta da ritalina, remédio de doido e outras besteiras típicas do desconhecimento. A visão que se tem dos tais remédios de tarja preta é que ficaremos como que lobotomizados, aquelas criaturas idiotizadas, robotizadas, babando pelos cantos da casa, sem tomar banho ou trocar de roupa por dias seguidos. A ritalina não provoca nada nem parecido. Lembro aqui que estou falando da MINHA EXPERIÊNCIA. Pois bem, tomo ritalina religiosamente há um ano. Não senti nenhuma mudança significativa em meu comportamento externo, digamos assim. Ninguém notou nenhuma diferença em minhas relações habituais. Trabalho normalmente, dirijo normalmente, vivo normalmente como todas as outras pessoas. Não fica escrito na testa de ninguém que essa pessoa toma ritalina. É impossível saber quem toma ou não, a menos que a pessoa revele o uso a quem a cerca. E aí entra outra questão que aflige aos adultos recém diagnosticados como portadores de TDAH: e agora, vou ter de contar pra todo mundo que tenho TDAH! E eu pergunto: pra quê? Com qual objetivo? Quem sai alardeando aos quatro ventos a condição de portador ou que se submete a um tratamento com remédio controlado, está procurando ser 'o coitadinho' ou ser 'o diferente', 'o doidão' da turma, do trabalho, etc. Ninguém precisa saber. Claro que isso não inclui as pessoas próximas que podem auxiliá-lo no tratamento ou mesmo aquelas pessoas que sofrem com o comportamento do portador de TDAH.
Aí reside o primeiro e difícil passo de um tratamento de TDAH; deparar-se com uma doença. Muitos dos portadores adultos já criaram teorias sobre suas derrotas na vida, sobre seus esquecimentos e suas explosões de ira. Mesmo arcando com os prejuízos ( ou dividindo-os com familiares e amigos) com o tempo  criamos teorias em que, na grande maioria dos casos, somos vítimas de perseguições, faltas de sorte, falta de amigos no poder, um sem fim de desculpas que nos enganam e nos fazem sentir menos culpados por nossos próprios desastres. Ao ver-se diante de um diagnóstico positivo, toda nossa perspectiva de vida muda. Em muitos casos é mais confortante ser vítima do que doente, principalmente doido.
Se você der a sorte de ser tratado por um bom profissional de medicina, vai saber na primeira consulta de que não terá vida fácil. A ritalina não faz milagres, o coaching não faz milagres. Você faz o milagre, você enfrenta, você muda a sua vida. Aí vem a grande questão: jogo por terra todas as minhas teorias vitimizantes para trocá-la pelo quê? Por uma incógnita. Como minha mulher vai encarar isso? Serei mais cobrado pelas pessoas que me cercam? Perderei minha aura de coitadinho e sofredor? Poderei continuar jogando a culpa no azar? Na dúvida, recusam-se ao tratamento. E as parceiras, as queixas partem principalmente das esposas/namoradas/companheiras, ficam numa luta eterna em favor do tratamento que irá mudar radicalmente seu relacionamento com o portador.
Aí entra novo erro. Que eu também cometi. A ritalina não muda sua vida de uma hora para outra, ela dá instrumentos para que VOCÊ mude sua vida. E olha, é difícil pra caramba. A face mais visível da ação do medicamento é o aumento da concentração, mas existem coisas que somente nós podemos fazer como domar as explosões e as procrastinações. Fui extremamente feliz com minha esposa, minha médica, minha coaching, mas ainda assim, volta e meia caio nas mesmas armadilhas do TDAH.
Mal comparando, estamos empurrando um carro morro acima; com a ritalina estamos meio que vitaminados, o apoio psicológico nos dá ânimo pra continuar empurrando, mas o TDAH está ali, firme e forte.
O desafio está em ficar alerta para os comportamentos típicos do TDAH ( e isso o coaching, a médica e a ritalina são grandes instrumentos de auxílio) e agir para neutralizá-los.

Não somos felizes por que nos tratamos, somos felizes primeiro por que estamos vivos e isso já é motivo suficiente e segundo, por que temos o privilégio de podermos fazer um tratamento desconhecido da maioria das pessoas. Somos felizes por que podemos agir em nosso próprio benefício, por que podemos assumir o controle de nossa vida. Mas a felicidade não pressupõe facilidade, felicidade pressupõe vitória sobre as limitações, superação de obstáculos, conquistas diárias só possíveis com o auxílio das pessoas que nos cercam e amam.
Isto é viver!

domingo, 22 de janeiro de 2012

PORQUE NÃO EU?



Porque eu?
Porque isso está acontecendo comigo, com meu filho?
Essa talvez seja as principal dúvida que nos vem a cabeça ao tomarmos conhecimento do diagnóstico de TDAH. Uma certa revolta cresce dentro da gente, e mesmo um pouco de culpa se o diagnóstico atinge nossos filhos, afinal o TDAH é hereditário e a 'culpa' acaba sendo de um dos pais.
Passei por isso duas vezes, no meu diagnóstico e depois no de minha filha. Um misto de sentimentos, todos ruins obviamente, tomaram conta de mim.
Passaram-se doze meses. Trezentas e sessenta e cinco ritalinas depois todos esses sentimentos perderam o sentido. Levo uma vida normal, continuo acertando e errando. Nao escondo nem alardeio minha condição de portador, não interessa a ninguém, em nada muda a minha vida. Nem a de ninguém. Mudou em minha vida a consciência de meus comportamentos, sempre que percebo estar agindo sob o controle do TDAH corrijo o rumo de minhas ações, tento me policiar e agir de forma diferente.
Ao contrário do que imaginava no princípio, não ocorreu um milagre em minha vida, ocorreu sim uma mudança interior que me proporcionou fazer um pequeno milagre em minha vida. Mas, aos olhos dos outros, nada ocorreu. Acordo às seis da manhã, faço meu sagrado cafezinho, trabalho cerca de onze horas por dia...
Hoje a pergunta é oposta: porque não eu? 
Aprendi a enfrentar o TDAH, quando não da para enfrentá-lo, tento driblá-lo, e assim vou levando minha vida.
Não podemos sucumbir ao TDAH, na verdade, a vida é feita de superações, umas maiores outras menores. Mas sempre temos obstáculos a vencer. A outra opção é se ater diante das dificuldades e ficar lamentando-se. Isso só funciona no início, depois passamos a ser rotulados de chatos, resmungões, derrotistas. As pessoas vão lentamente afastando-se e seguindo suas vidas. E ficamos ali parados enredados numa auto piedade sem nenhum efeito prático.
Sei que muita gente vai falar: pra ele é muito fácil falar isso.
Não que seja fácil ou difícil, eu descobri que não faz diferença pro TDAH. Alegre ou triste, revoltado ou conformado, ele estará aí, dentro de você,  dentro se nós. Ao menos dê trabalho a ele, não se entregue. Leve sua vida normalmente, ninguém precisa saber de sua condição a não ser aquelas pessoas que podem te auxiliar ou contribuir para o seu tratamento; e claro, as pessoas que são vítimas do seu comportamento.
De resto, dane-se.
Levante a cabeça e viva.
Nunca você descobrirá porque a doença te escolheu. Só Deus sabe. E também, se alguém tivesse o poder de te contar o motivo, ninguém iria concordar com ele; eu sou um que teria milhares de argumentos a meu favor. Portanto não importa.
Viva, e pare de procurar chifres em cabeça de cavalo.

domingo, 15 de janeiro de 2012

RITALINA COM BOBAGEM

Estou colando essa oração do blog da Gláucia, Ritalina com Bobagem.
As minhas orações são idênticas.
Leiam o blog da Gláucia, é uma delícia.


“Pai nosso que está nos céu, meu pai não é piloto, ele é mecânico. Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino. Complicado isso, fica parecendo aquelas conquistas medievais, um rei invadindo o reino do outro, castelo, dragão, princesa... Onde eu estava mesmo? Ah, sim, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. É, piloto quando está em terra, fala de avião, quando está em vôo fala de mulher. Bobagem danada, gente. Eu queria a uma hora dessa estar em comando para ver na prática mesmo o nível de cruzeiro. Por isso que atleticano nunca é piloto, para não ter que se manter em nível de Cruzeiro. A propósito, o jogo do América foi ótimo, pena que o juiz tenha roubado tanto. Tadinho do Mequinha, tão injustiçado! Nossa, viajei. O pão nosso de cada dia nos dai hoje... Putz! Lembrei que tenho que pagar o seu Manoel da padaria! Ah, não faz mal, amanhã eu vou lá e aproveito para fazer a unha com a dona Judite. Só que os esmaltes dela estão ruins, vou sugerir comprar uns novos, tem umas cores bonitas que saíram estes dias, última moda. Ah... ahmmm... é... ta. Amém.”

Texto por Glaucia Piazzi



Sensacional, o TDAH mais puro!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

VOCÊ TEM TDAH? ENTÃO VOCÊ JÁ PASSOU POR ISSO.



Um ano depois de iniciar o tratamento peguei-me em pleno processo de dispersão TDAH!
Acabei rindo de mim mesmo e do TDAH.
Comecei a manhã montando um celular que havia começado na véspera. Além desse já em processo de testes, outros três ficaram de ontem pra hoje por interferências externas. Obviamente decidi terminá-los.
Avaliei a urgência de cada um e decidi iniciar por um LG KF755 (vou citar os modelos só para diferenciá-los e dar uma noção de quantidade). Um serviço relativamente simples e rápido. Ao fim de uns 40 minutos o caso que parecia simples complicou; premido pela necessidade de cumprir prazos, encostei o KF755 e fui trocar o LCD de um Motorola W230, foi rápido e tranquilo. Passei para um novo LG, o KP 151; serviço fácil e rápido. Em uma hora, no máximo estaria pronto. O aparelho não respondeu às minhas intervenções e o defeito persistiu. Surgiu a necessidade de prestar garantia em um aparelho vendido pela loja, encostei o KP 151 e, coincidentemente peguei mais um LG, o GX200. Enquanto eu trabalhava nesse último aparelho, lembrei-me de que havia prometido a um cliente entregar seu aparelho às 15 horas. Faltavam pouco mais de vinte minutos. Encostei o GX200 e abri um Nokia X3 que me esperava a mais de 24 horas. Durante o conserto do Nokia, surgiu a necessidade de usar o microscópio e quando fui colocar o aparelho sob as lentes dei de cara com um LG KP500 para o qual eu deveria ter pedido uma peça em Belo Horizonte e esqueci-me.  Deixei o Nokia no microscópio e entrei na internet para fazer o pedido da peça. Nesse momento caí na real. Olhei ao meu redor e havia um mar de celulares abertos, cada um deixado de lado por um motivo diferente e eu estava fazendo um pedido no computador que eu deveria ter feito antes de ontem.  Comecei a rir e resolvi me organizar. Concluí o pedido e preparei uma relação de prioridades de acordo com a data de entrega combinada e retomei o trabalho de acordo com essas prioridades.
É claro que nem tudo é perfeito, essa relação que parece tão bem feita e cientificamente elaborada foi feita na minha cabeça e pode sofrer alterações de acordo com pressões externas, dispersões internas, ou algum esquecimento de última hora.
Ao contrário de ocasiões anteriores quando me torturaria esse momento de recaída, hoje encarei isso com bom humor e de maneira prática. O TDAH não acaba. Deixamos de ser dominados por ele para enquadrá-lo dentro de um  padrão que não nos prejudique.
Conformei-me com a ideia de que jamais serei 'normal'. Esse sou eu, uma espécie de polvo mental, fazendo diversas coisas ao mesmo tempo, mesmo deixando várias pela metade. Mais adiante vou concluí-las, basta que eu me policie e me organize.
Esse é o TDAH.  Domá-lo é o desafio.

domingo, 8 de janeiro de 2012

UM ANO DE TDAH!





Um ano!
Conquistas e derrotas, paz e dor, escaladas e quedas.
Um ano de tratamento, um ano de consciência, um ano de trabalho.
Um ano de descobertas e aprendizado, um ano de vida.
Os primeiros passos, as primeiras conquistas.
A euforia do sucesso, a acomodação do sucesso.
A queda do sucesso, a dor do insucesso.
A consciência da falha, a consciência da realidade, a consciência da doença.

O TDAH é invencível mas não é indomável.
É preciso estar alerta o tempo todo, consciente o tempo todo.
Um combate sem tréguas que não se faz sozinho.
É preciso do apoio do medicamento e do coaching.
Mas muito mais das pessoas.
Primeiro, da minha vontade. De mim mesmo.
Cheguei a listar nominalmente as pessoas mais importantes nesse processo de reconstrução, mas desisti. Sempre faltará alguém; qualquer lista magoa, chateia...
Cada pessoa sabe a importância que teve no meu processo de reconstrução pessoal. Processo que está apenas começando, e que jamais terminará. Processo que se reinicia diariamente quando abro os olhos pela manhã, e que é interrompido à noite quando durmo. Apenas para reiniciar-se pela manhã, quase do zero. Com o diferencial da consciência, e da certeza de que pessoas que me cercam e me amam estão ao meu lado.


Tive inúmeras vitórias contra o TDAH e um sem números de derrotas.
Hoje sou uma pessoa melhor.
Apesar de evitar fazer uma lista das pessoas importantes nesse processo de reconstrução pessoal, não posso deixar de citar três pessoas fundamentais: Valéria Modesto, Luciana Fiel e Jaqueline. Cada uma delas teve um papel imprescindível em minha vida no último ano. E as agradeço nominalmente.
Obrigado a todas as outras pessoas que me ajudaram, parentes amigos, leitores, companheiros de sessão coletiva de coaching. Cada um de vocês tem um papel importante e fundamental na minha vida, na minha reconstrução de vida.
O blog faz um ano. Assim como minha vida sofreu uma grande mudança. O primeiro título era: A vida à deriva; que era como eu me sentia naquele momento. Em fevereiro mudei para Reconstruindo a Vida. Onde estou nesse momento.
Onde estarei sempre.
Onde todos nós estaremos.
Este é o primeiro ano do resto de minha vida. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

UM DIA DE CADA VEZ?



Como eu já lhe disse, VIVA UM DIA DE CADA VEZ HOMEMMMMMMM DE Deus...Feliz 2012,Abraços Wal. (comentário no post FELIZ ANO NOVO!!!)

A Wal pede o impossível.
Vivo uma vida de cada vez,
vivo todo um sonho em um segundo,
toda a vida num sonho.
Tal a intensidade desse sentimento,
tal a força desse sonho.
que a cada desilusão uma morte,
a cada morte um renascimento,
a cada renascimento um novo sonho,
a cada sonho uma nova morte;
e um novo renascer.
Tudo ao mesmo tempo, agora.
Uma montanha russa de emoções,
um trem fantasma de surpresas,
a vida numa sala de espelhos.
Viver um dia de cada vez...
Como será isso?
Será a paz?
Será isso viver?
Não sei,
não sei se um dia saberei;
mas o que importa?
Nada, absolutamente nada.

FELIZ ANO NOVO!!!



Muito se fala no final do ano, muito se promete, muito se mente, muito se engana, ao fim de cada ano.
A partir da segunda quinzena de dezembro um frenesi de bondade assalta as pessoas e a mídia. Todos disparam belíssimas mensagens de amor, paz e prosperidade. Os sorrisos extrapolam os lábios e dançam sobre os rostos numa demonstração de felicidade inigualável e inimitável.
E tome compras!
E mais compras!
Engordamos todos; numa única noite comemos o que não comemos numa semana 'normal'. Um simples jantar de família se transforma numa orgia alimentar com quatro ou cinco tipos de carne, um sem fim de acompanhamentos e sobremesas regadas a rios de bebida.
Relegado a um segundo plano, esquecido em um canto qualquer da sala, o menino Jesus é obrigado a ouvir piadas de mau gosto, gargalhadas falsas e o pior, é obrigado a ouvir pela enésima vez as mesmas brincadeiras sobre a barriga de um, a careca de outro, ou qualquer outro defeito aparente dos participantes da 'festa'.
Enfim o grande momento: o amigo oculto - ou secreto. Como em um velório, todos passam a ser boníssimos: minha amiga é uma pessoa maravilhooosaaa.
Esqueceu de mencionar que na hora de comprar o presente pensou: hum, como a fulana engordou; vou comprar XG. kkkkkk
E chega a noite do reveillon! As caixas de mensagens ficam lotadas de baboseiras. É hora de repensar, de fazer um balanço, de pensar nas atitudes...
Ai, ai!
E tome comilança!
E tome bebedeira!
E o novo ano começa; começa com ressaca, com dor de cabeça, com culpa, com um monte de contas para pagar.
E começa com um monte de velhas promessas não cumpridas.
EU PROMETO NÃO PROCRASTINAR. Bem, talvez uma única vez esse ano. Ou quem sabe uma por mês. Tenho tanta coisa pra resolver...
EU PROMETO NÃO PROCRASTINAR, após as férias. Acho que assim tá bom.
EU PROMETO CONTROLAR MEUS ATAQUES DE FÚRIA!
Mas será que eu tenho assim tantos ataques de fúria? Será que não é exagero da minha família? Afinal todo mundo tem um momento ou outro de irritação. Que saco também! Essa porcaria dessa família fica me enchendo de culpa, me obrigando a virar um carneirinho. Que merda! Vontade de matar todo mundo!
EU PROMETO NÃO ESQUECER MEUS COMPROMISSOS. Ô vidinha, sô! É tanta conta, tanto compromisso, tanta data, que ainda tenho que lembrar de aniversário, datas comemorativas, pagar conta em dia, meu Deus! Quem consegue isso? Nem lembrar de jogar na mega sena eu me lembro...
Bom, mas isso eu não vou me esquecer...
A partir desse ano eu vou jogar na mega sena toda a semana. Imagine se eu acerto sozinho. 30 MILHÕES! Caraca! Bom eu ajudaria minha família, até mesmo aqueles que não gostam muito de mim; passaria uns dois anos viajando. Pô, com trinta milhões eu só iria comprar à vista, nunca mais iria atrasar minhas contas.
PROMETO NUNCA MAIS PERDER O FOCO!!!!!
Será que nunca vão inventar uma bomba de ritalina? Daquele tipo que fica na cintura do cara, igual a de insulina. Vai procrastinar? Entra uma carga de ritalina no sangue e você sai realizando como um foguete. Vai perder a cabeça? Shiit!!! Ruído da ritalina entrando no sangue. Uma dose de ritalina e você fica bonzinho, bonzinho.
Nós TDAHs teríamos dois cérebros: um na cabeça e um auxiliar na cintura, que de tempos em tempos injetava uma dose de ânimo e concentração.
- Meu filho, que bagunça é essa no seu quarto? Cadê seu remédio?
- Ihhh, mãe! Você não me lembrou de recarregar a bomba de ritalina!
- Meu Deus! Não é possível! Tudo eu tenho que lembrar! Ninguém tem pena da mãe, tudo é nas costas da burra de carga aqui! Mãe isso, mãe aquilo, mãe....

Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Essa frase de Carlos Drummond de Andrade, tão batida e desvalorizada, é a síntese do Ano Novo. O Ano Novo somos nós. De nada valem a roupa branca, o champagne, a comidaria e as promessas se não quisermos mudança. O novo somos nós. O mundo somos nós. A vida somos nós. Nós somos os únicos responsáveis por nossas vidas.
De nada valem promessas vazias, da boca pra fora; precisamos querer mudar; precisamos encontrar motivação pra querer mudar; precisamos querer superar essa dor contínua e recorrente que a vida atual nos proporciona.
Precisamos querer parar de atuar nesse filme velho e repetitivo que é nossa vida.
FELIZ VIDA NOVA!


Abaixo reproduzo a crônica completa do Drummond de onde extraí a citação, vale a pena:













Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.