quarta-feira, 28 de novembro de 2012

AMOR TDAH










Amo-te com tal força e intensidade,
que da minha dor e das minhas lágrimas,
forjei asas para que voes.
Amo-te de maneira tão desmedida,
que extraí do meu sofrimento
forças para romper os grilhões que a prendiam.
Sei que me chamarão de louco ou idiota,
mas pouco importa,
este é o meu amar.
Um amar que se completa com a felicidade do ser amado,
ainda que essa felicidade seja conquistada com a distância.
Vejo-te ensaiar os primeiros voos,
tentativas inseguras e desajeitadas.
Mas sei que asas que te dei são fortes,
e a levarão para distâncias e alturas que jamais sonhastes.
Mas se um dia as forças destas asas que te dei se exaurirem,
e seu coração estiver amargo de falsos amores,
podes voltar.
Sabes, com certeza, que para repousar teu corpo exausto,
encontrarás em mim um porto seguro.
Ou não!

MEMÓRIAS DE UM AMOR TDAH







Não te esqueci,
apenas não me lembro.
Lembro-me de um certo beijo;
um certo cheiro;
uma certa dor.
Não sei se te pertencem;
ou à mim e à minha imaginação delirante.
És tão bela que julgo impossível,
teres sido minha,
e eu tê-la esquecido.
Sinto na boca o sabor de um beijo,
um beijo inesquecível.
Que recebi de quem mesmo?
Não sei.
Mas não esqueci...
Apenas não me lembro

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

UM TDAH SOB PRESSÃO

Quer destruir o equilíbrio de um TDAH? Pressione-o. Mas pressione-o mesmo, deixe-o sem saída; exija dele decisões imediatas, prontas respostas, soluções a jato. Você deve obter dois resultados: aqueles que desmontam completamente e os que atacam. Eu faço parte do segundo grupo.
Tenho uma característica de evitar confrontos, tentar sair pela tangente e evitar certas situações em que me sinta acuado. Mas nem sempre consigo.
Quem me conhece pessoalmente não acredita que sou a mesma pessoa que escreveu alguns posts sobre ataques de fúria, mas sou eu mesmo. Sob pressão, sai de baixo. Detesto violência, mas fui aquinhoado com uma personalidade sarcástica, um vastíssimo vocabulário e muita facilidade de me expressar. Imagine isso tudo acrescido de raiva. Em geral é o completo desastre! Mas descarregar sua ira sobre uma ou mais pessoas é fácil, mas e sobre a vida? E quando a pressão é difusa, ou um somatório de fatos sem nenhuma responsabilidade definitiva?
Pois é. Esses dias tem sido assim. Sozinho na loja, com um enorme acúmulo de trabalho de manutenção, vendas em queda, compromissos aos montes e uma estranha coincidência de serviços de grande complexidade e responsabilidade me vi completamente acuado.
Ontem me deparei com três aparelhos abertos em minha bancada. Nem sei como isso se deu, creio que na ânsia de ver os aparelhos prontos fui abrindo um depois do outro sem perceber. Parei, respirei fundo, fechei dois deles e recomecei o mais antigo.
Sob pressão eu me perco, me confundo e começo a buscar válvulas de escape. Tenho me policiado pra não acessar a internet durante o expediente. Trabalho com o PC diante de mim o dia todo, meu trabalho é impensável sem ele, e volta e meia me pego viajando nele. E a pilha de celulares pra consertar aumentando.
Agora mesmo, enquanto escrevo esse post, lembrei-me de quem um Galaxy S está me esperando pra ser atualizado. Mas quando resolvo escrever é por que preciso, não dá mais pra segurar.
Aqui faço uma referência a um post antigo meu em que afirmo que a Ritalina não faz milagres, e não faz mesmo; tomo as minhas religiosamente, mas em determinados momentos (que já são difíceis para não portadores) pra gente é muito mais complicado. Exige um maior policiamento, uma atenção redobrada e muita, mas muita paciência e dedicação. Enfrentar o TDAH não é fácil, não existe um medicamento milagroso, não passa como uma dor de cabeça. Não adianta chamar a Neosa, nem mesmo a Rita, elas não virão em nosso socorro.
A Ritalina fortalece nossas defesas, nos deixa mais atentos, mais pro ativos, mas não nos torna invencíveis. Precisamos de nós mesmos, de nossa dedicação, de nossa força de vontade, de nossa vontade de salvar nossas vidas do naufrágio.
Não se deixe enganar, sem você não há medicamento que melhore a sua vida.
Se alguém tiver uma estratégia pra lidar com as pressões do dia a dia, por favor, me ensine.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O TDAH ME FEZ ASSIM




Não sou destino ,sou caminho.
Não sou concreto, sou criação.
Não sou  sol, sou nuvem.
Não sou  sexo, sou  desejo.
Não sou  gol, sou  comemoração.
Não sou canção, sou voz.
Não sou sorriso, sou alegria.
Não sou  resultado, sou  intenção.
Não sou  fato, sou narrador.
Não sou conquista, sou  liberdade.
Não sou  meta, sou  motivação.
Não sou vida, sou  prazer de viver.
Não sou carnaval, sou  fantasia.
Não sou manada, sou contramão.
Não sou vitoria, sou desafio.
Não sou revolução, sou ideologia.
Não sou neblina, sou cerração.
Não sou lógica, sou sentimento.
Não sou raciocínio, sou impulso.
Não sou derrota, sou reconstrução.
Sou TDAH!


sábado, 10 de novembro de 2012

A FORÇA POSITIVA DO TDAH








Os últimos anos tem sido generosamente difíceis.
Perdi praticamente tudo e todos que eu valorizava. Muitas coisas e muitas pessoas eu valorizei mais do que devia.
Vinculei minha vida a sentimentos frágeis, embasados em premissas erradas e expectativas equivocadas. Hoje pago o preço disso, e caro.
Agrilhoei-me ao amor alheio e arrastei-o ao longo de toda a minha vida. Sonhei sonhos que não me pertenciam e violentei-me com vidas que não vivi.
Acreditei-me maior e melhor do que eu era, acreditei em falsas bajulações, elogios ocos e em super poderes que jamais tive. Ergui ao meu redor uma couraça robusta de aparência mas com a solidez de uma casca de ovo. Ao longo dos últimos anos a couraça começou a trincar e ruiu completamente. O super herói era uma brincadeira, um conto de fadas sem final feliz.
Silenciosamente os bajuladores foram desaparecendo e o interior frágil da couraça foi ficando cada vez mais evidente.
Da falsa glória de outrora nada restou. Nada mesmo.
Restei só. Absolutamente só.
Os últimos golpes vieram de pessoas que eu não esperava e da forma mais cruel e fria imaginável. Requintes de crueldade.
Aí sentei-me disposto a ver a vida passar, de preferência bem longe de mim. Sem presente e sem nenhuma perspectiva de futuro o imobilismo parecia a única alternativa.
Assim como o golpe derradeiro veio de onde eu não acreditava, a mão amiga também surgiu de onde eu não esperava.
Do meu blog. Do meu TDAH.
Extraio hoje pouquíssimo prazer da minha vida: meu sax, meu trabalho e o blog são praticamente minhas únicas fontes de alegria e minhas companhias nesse período de absoluta solidão.
Como que orquestradamente, venho recebendo estímulos e elogios pelo blog como eu jamais sonhei. Quase que diariamente recebo emails elogiando seu conteúdo, minha coragem de expor meus sentimentos e minha vida e testemunhos de pessoas que se sentiram estimuladas pelo blog.
Mas ontem passou dos limites. Uma amiga  proporcionou-me um dos momentos mais emocionantes da minha vida. O conteúdo de seu email levou-me às lágrimas e, sinceramente, foi responsável por me mostrar que a vida não é feita de perdas, mas de mudanças.
Mudanças de rota, mudanças de caminho, mudanças de valores.
E são essas mudanças que estou vivendo.
Estou só e despido de tudo aquilo que julgava importante em mim e na minha vida até então. No momento em que me sinto mais frágil e impotente, recebo de todos os lados testemunhos e depoimentos de que eu vivia valores errados.
O TDAH me fez forte, me fez um sobrevivente, e por incrível que pareça, me deu oportunidade de me descobrir, de me reinventar, de descobrir em minha vida um sentido de utilidade que jamais julguei ter.
Obrigado Isabela!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

UM TDAH À NOITE E OUTRO DE DIA






Já disse mil vezes que os comentários são uma enorme fonte de inspiração para meus posts. Esse não é diferente. Ontem escrevi meio post, não gostei e apaguei. Estava sem inspiração. Ao ler o comentário da Daniele me veio essa súbita vontade de escrever. Mesmo que seja às 22:56.
Daniele em seu comentário fala sobre seus devaneios e projetos noturnos que ela acha viáveis e ao amanhecer, à luz do dia, lhe parecem inexequíveis e estapafúrdios. Bingo!
Isso é TDAH em estado puro.
Perdi a conta de quantas vezes solucionei os meus problemas com projetos mirabolantes que me pareceram um achado. Ao acordar haviam se transformado em elefantes brancos ou simplesmente viraram fumaça.
Pensar talvez seja o maior mistério do ser humano. Do nada criamos imagens, situações e sentimentos que podem jamais ter existido ou vir a existir fora de nossas mentes.
Para o TDAH isso não é nada. Viajamos. Viagens intergalácticas, inter humanas, inter espirituais, sei lá, inter tudo. Nosso pensamento é feérico, incontrolável e com tendências megalomaníacas. Emendamos um pensamento em  outro, um sentimento em outro e um pedaço de papel caído no chão pode originar pensamentos grandiloquentes e viagens cósmicas. E aí entra o comentário da Daniele. E como bom TDAH e do contra (sou do contra em quase tudo, rsrs) comecei a pensar cá com meus botões: será que os projetos são realmente ruins ou após uma noite de sono esquecemos sua essência? Sei lá, na maioria das vezes creio que são ruins e infundados mesmo, mas se usarmos as técnicas de brainstorming  talvez consigamos aproveitar algo na manhã seguinte. Como é do nosso feitio, nunca anotamos nada e anotar devaneios é algo muito mais improvável; mas talvez fosse o caso de gravar de alguma forma as linhas gerais do projeto noturno para submetê-lo à lógica e racionalidade matinal, quem sabe aproveitaríamos algo. E aqui vou defender nossos devaneios. Quando digo que nossos pensamentos são feéricos e coisa e tal, não estou afirmando que pensamos maluquices, mas sim que não temos limites ou freios. Mas temos, em geral, um fio, uma linha de raciocínio, um tema que embasou aquela viagem. E sempre podemos extrair algo disso.
Por dezenas de vezes tentei me programar para uma determinada conversa ou negociação, muitas vezes cheguei a traçar um roteiro, mas nunca consigo cumpri-lo. Ainda que no início eu siga o caminho que tracei, a interação com a pessoa do outro lado me traz uma enxurrada de novas ideias, novos pensamentos que naquele instante me parecem ótimos e até melhores do que eu havia me programado a fazer. E aí eu me dano. Ao sair do caminho embrenho-me por trilhas que mais e mais me distanciam do roteiro traçado e acabo esquecendo-me de detalhes e argumentos importantes. Deixo para trás o que deveria ter sido dito em prol de novas ideias que me tomaram de assalto no calor do debate. E aí, normalmente, me ferro.
Mas assim como os projetos de ontem à noite, a enxurrada de novas ideias não são exatamente inúteis, elas precisam ser filtradas, encaixadas na ordem e no lugar corretos dentro do roteiro inicial. Elas podem acrescentar, assim como o projeto que ao amanhecer nos parece delirante, podem trazer a semente de uma solução que tanto ansiamos.
O que precisamos é de equilíbrio. Nada é tão ruim que deva ser, simplesmente, atirado ao lixo, ou tão bom que substitua tudo aquilo que foi previamente estudado e projetado.
Nossos devaneios não são viagens psicodélicas inúteis, mas precisam ser filtrados e analisados como complementos e acréscimos ao que conseguimos fazer diariamente com umas ritinhas na cuca.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O DESASTRE DO TDAH






Minha dor é como um vulcão: inquieta, feroz, incandescente.
Minha mente é como um maremoto: bela, cruel e indomável.
Minha memória é como um tornado que a tudo arranca, tudo arrasta, mas com o tempo perde a força e desaparece.
Minha vontade é como o furacão: às vezes arrasador, noutras apenas uma tempestade tropical.
Minha ira é como o tsunami: tão forte que pode arrasar e destruir o alvo. E levar junto a minha vida.
Meu equilíbrio é como o vento: hora pra lá, hora pra cá; e quando a gente menos espera, ele muda de lado.
Meu autocontrole é como uma cachoeira: sinto muito, você aproximou-se demais. Vai ser arrastado até o fundo...
Meu amor é como a enchente: tão grande que não cabe em mim, transborda e pode inundar a vida alheia. Mas cuidado, muito cuidado, ele pode matar afogado.
Minha impulsividade é como um terremoto: apenas um pequeno tremor, ou pode abrir uma gigantesca fenda no chão e engolir a tudo e a todos. Inclusive a mim mesmo.
Meus dias são como corredeiras: velozes, atribulados, chocando-se o tempo todo com pedras em busca de um remanso qualquer onde curar as feridas.
Minha vida é como a natureza: mesmo os dias mais lindos, mais luminosos, guardam em seu bojo a semente da dor e do desastre.