No princípio parecia um verme, um girino, sei lá, algo bem
insignificante. Tão insignificante que era quase bonitinho. Bonitinho talvez
seja um pouco demais, mas simpático, interessante em sua pequenez e insignificância.
Apesar de minúsculo e insignificante, não tinha aparência frágil, em sua pequenez
trazia o prenúncio de um ser adulto robusto e forte.
Eu poderia tê-lo matado, mas não o fiz. Sei lá, a sujeira no
tapete, talvez exalasse um mau cheiro, não sei direito. O certo é que o varri
para sob o tapete. Imaginei que o peso do tapete, a falta de ar o matariam mais
dia menos dia. E ali o deixei à morte.
Os dias se passaram, as semanas transcorreram, entraram
meses e eu o observava de longe. Aquele estranho calombo sob o tapete parecia
crescer, às vezes parecia até mesmo movimentar-se. Empurrei um pequeno móvel
sobre o calombo no tapete. Um pequeno estertor e ficou imóvel. Sorri
internamente, estava morto aquele bicho estranho.
A presença do móvel apenas camuflou seu crescimento. Eu já
não o via por todos os ângulos, nem em toda sua verdadeira magnitude. Mas eu o
imaginava crescendo. Em alguns momentos eu julguei ver o móvel mover-se, balançar.
Quando me lembro disso, me pergunto: por que não o matei? Por que não o fiz
ainda minúsculo? Inúmeras vezes tive a chance de fazê-lo, mas não o fiz.
Permiti que crescesse dentro de minha casa, sob meus olhos complacentes. Sei lá
por que, achei mais cômodo deixá-lo morrer por asfixia sob o tapete. E mesmo vendo-o crescer sob o tapete tentei acreditar
que de alguma forma ele seria inofensivo, eu poderia dominá-lo. Certo dia,
acordei com estranhos ruídos na sala e me deparei com o pequeno móvel que o
encobria completamente destroçado. Ele e mais uma cadeira que ficava próxima.
Assustei com aquele comportamento violento e decidi tomar uma atitude, e tomei
a pior delas: tranquei a porta da sala e passei a não usar mais aquele cômodo.
Os ruídos de destruição e violência que vinham da sala interditada me
incomodavam, mas tentei conviver com eles; somos obrigados a conviver com tanta
coisa desagradável...
Bem, agora estou aqui, numa cama de hospital, uma perna
amputada, lacerações por todo o corpo. Minha casa foi interditada por abrigar
uma colônia de vermes gigantes. Jamais
foi visto em nenhum lugar seres tão grandes, tão fortes e tão agressivos.
Uma força tarefa formada por bombeiros, policiais, médicos,
estuda a melhor forma de eliminar os vermes gigantes sem permitir que fujam e
contaminem outras casas e pessoas.
Vieram me comunicar que a única e definitiva solução seria
queimar a casa.
Queimar minha casa? O único bem que eu tenho? Sem uma perna,
o corpo todo machucado e sem casa. Tudo isso por que decidi varrer aquele bichinho
pra debaixo do tapete.