sábado, 22 de outubro de 2011

PROCRASTINAÇÃO É MEDO!






O que vou narrar aqui é idiota, quase infantil - ou infantil - mas foi responsável por uma grande descoberta em minha vida: procrastino por medo.
Já mencionei em outro post que minha vida financeira anda num aperto danado. Premido por esse aperto ando à  procura de novos 'dinheiros'. Essa procura levou-me a um devaneio, um sonho, uma esperança. Lembrei-me que andei guardando dinheiro em uma caixa que há muito não mexia. Assim que lembrei-me, tive a esperança de haver esquecido ali algum dinheiro, quem sabe até um valor significativo, que pudesse me ajudar de alguma forma. Imediatamente pensei: quando chegar em casa vou direto àquela caixa conferir se ficou algo lá. Ao mesmo tempo, um sentimento de que eu jamais teria esquecido dinheiro naquela caixa ou em qualquer outro lugar tomou conta de mim. Mas, a esperança é a última que morre. Pois bem, cheguei em casa e não fui olhar a caixa. Lembrei-me, mas não fui. Deixei pra depois. Lembrei-me de novo, e adiei novamente. Os dias se passaram e eu não tive coragem de abrir aquela caixa e conferir se havia ou não dinheiro ali dentro. Hoje, agora há pouco comecei a pensar sobre isso; por que não fui abrir a maldita (ou bendita, dependendo do seu conteúdo) caixa. Logo me veio à mente de que adiei por receio - ou quase certeza - de que não há dinheiro lá dentro. Comecei a pensar nesse sentimento e nessa característica de adiar as coisas. Em vários momentos em que me lembrei haver procrastinado, havia este sentimento de medo presente. O medo de que o resultado fosse diverso daquele que eu queria ou imaginava. O medo de que o resultado fosse diverso daquele que eu precisava ter. Em todos esses momentos o resultado da procrastinação me foi desfavorável. Em alguns, os menos negativos, eu descobri que torturei-me à toa, que sofri com aquele sentimento desnecessariamente. Nos momentos piores, eu descobri que uma ação imediata poderia reverter o resultado negativo, ou pelo menos minorar o resultado que eu tanto temia.
Em todos os casos, o sentimento que paralisou minhas ações foi o medo do resultado. O medo de confrontar situações ou pessoas que me poderiam decepcionar, magoar, ofender, ou qualquer outra coisa que me fosse desagradável.
No fim, o medo. 
O medo que habita cada um de nós, portadores de TDAH. O medo de não conseguir, de não dar conta, de não saber resolver; de demonstrar ignorância, fragilidade, fraqueza. O medo de que descubram que nós somos um embuste, uma farsa. O medo de que descubram que tudo aquilo que falam de nós desde a mais tenra infância seja descoberto e escancarado ao público.
O medo. A raiz da procrastinação esta fincada nele. A base da paralisia se fundamenta nele. O medo cultivado em nossa alma desde a infância por aqueles que nos deviam proteger, ensinar, instrumentalizar. 
O medo, a concretização de todos aqueles apelidos 'engraçados' e comentários feitos sob gargalhadas entre parentes, amigos, professores e todos que nos cercam.
Procrastinação eu te reconheci; sois o medo e hei de vencê-la.

Obs.: Realmente não havia nem um centavo dentro da caixa. O que ali habitou um dia, foi devidamente gasto. Infelizmente. Mas ficou a descoberta, e essa tem um valor enorme.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ISSO É BOM OU RUIM?



Minha ex esposa volta e meia falava que eu tenho a capacidade de seguir adiante na vida, sem olhar para trás.
É claro que não é exatamente assim, mas tenho uma característica de não me prender ao passado, nem mesmo quando - visto de fora - esse passado poderia parecer melhor.
Essa é uma característica providencial para um TDAH, cuja impulsividade leva a mudanças drásticas de vida; algumas delas dramáticas.
Hoje, por exemplo, meus rendimentos devem girar em torno de dez por cento do que eu ganhava há dois anos e pouco atrás. Isso de forma nenhuma me incomoda. Lógico que em alguns momentos a falta de dinheiro incomoda, mas de maneira nenhuma me deprime ou me desanima. Vivo o presente; se essa é minha realidade é nela que vivo.
Outro dia, conversando com um amigo ele comentou que eu não me abati com a derrocada das lojas e a queda de meu padrão de vida. A vida é mais do que isso, e eu tenho muito mais do que isso. Estar vivo é mais importante do que o padrão de vida.
Depois que fechei as lojas descobri o TDAH, passei a me tratar, aprendi uma nova profissão, criei esse blog, praticamente sou uma nova pessoa. É muita coisa nova, e boa, para eu perder meu tempo lamentando o que passou.
Prender-se ao passado é perder a oportunidade de conhecer tudo o que pode acontecer de bom no novo caminho trilhado.
Algumas vezes, dói; noutras vezes, bate um medo de haver errado; mas em geral, não olho para trás. De nada vale olhar para trás, se estou nesse caminho - por escolha ou não - é para ele que eu vou olhar.
E pronto.
Já fui chamado de egoísta, de insensível, de mil outras coisas.
Sou um pouco disso também, mas quem não é.
Isso bem pode ser uma defesa inconsciente do TDAH, uma forma de preservar minha sanidade com tantas mudanças provocadas pela minha impulsividade e pela necessidade de adrenalina.
Pouco importa, vou construindo uma nova vida; o que passou serve de experiência, mas jamais será uma âncora a impedir que eu singre novos mares.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

IMAGENS DE UMA MENTE TDAH

UMA TORRENTE DE IMAGENS ME ASSALTA A MENTE
SE COMPLETAM E SE SUBSTITUEM
VIDA E MORTE
AMOR E DOR
LUXURIA
O CAOS
O MUNDO IMAGINÁRIO

NUM CALEIDOSCÓPIO INFINITO
VIDA E MORTE
TÃO DOLORIDO
TÃO INDOMÁVEL
TÃO IRASCÍVEL.

MAS ACIMA DE TUDO, TÃO HUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO!

sábado, 15 de outubro de 2011

O TDAH E O PRAZER.



HEDONISTA!
Quantas vezes ouvi isso em minha vida.
Segundo os dicionários Hedonista é o partidário da filosofia do Hedonismo que pregava que o prazer é o objetivo da vida.
Ouvi isso como uma ofensa, uma agressão, uma característica negativa e perniciosa.
Querer o prazer é um erro?
Transformar o prazer em objeto de uma vida é errado?
Onde está escrito que o objetivo da vida é o sofrimento?
O amor não é uma forma de prazer? Mesmo o amor fraternal é uma expressão de prazer.
O amor a Deus é, também, uma forma de prazer.
Onde está o erro do prazer na vida de um TDAH?
É simples, nós não sabemos avaliar se aquele momento de prazer que estamos tendo ( ou que estamos em vias de ter) é mais ou menos importante do que nossa vida concreta.
No post 'Imaginação de TDAH?' falo sobre isso. Uma situação hipotética cujas consequências são catastróficas, mas não são inverossímeis. Muitas tragédias são feitas de uma sucessão de pequenos erros e ou de pequenas negligências. E essas são características reais na vida de um portador de TDAH. A procrastinação é uma forma de negligência, a impulsividade também; negligenciamos as consequências de nossos atos.
Assim é o prazer na vida de um TDAH. E não falo apenas do prazer 'carnal' nos braços de outra, ou de outro. Quando eu era representante comercial autônomo, parei certa vez para almoçar na cidade de Oliveira (MG). Durante o almoço, comecei a ler o livro 'O Auto da Compadecida' de Ariano Suassuna e adorei a história. Eu ria sozinho no restaurante. Acabei de almoçar, fui pro carro e continuei a ler o livro e só retornei ao trabalho após terminar de lê-lo. Tirei mais de quatro horas de almoço. Eu tinha consciência de que deveria voltar a trabalhar; minha renda dependia diretamente das minhas vendas, mas o prazer da leitura era maior e mais forte do que a necessidade de vender e ganhar dinheiro.
O prazer como a mais forte motivação da vida.
Ainda hoje, com quase um ano de ritalina na cuca, não concebo uma vida sem prazer. Mas, como dizia Cazuza na música Ideologia: " o meu prazer, agora é risco de vida..." No caso dele era em sentido literal, no meu, em sentido figurado. Muitas vezes coloquei minha vida em risco por prazer.
Hoje não sei se consigo fazer o mesmo.
Perdi o jeito? Perdi a coragem? Ou é efeito do freio da ritalina ou do freio da maturidade?
Sei lá, mas parece que a necessidade do prazer encontrou um opositor. Ou está perdendo a força.
Mas, sinceramente, ainda sinto falta daquela adrenalina correndo nas veias, daquela sensação de andar na corda bamba sem rede de proteção.
Assim foi com o cigarro. Sem ritalina, mas motivado pelos insistentes pedidos da Marina, abandonei o cigarro há treze anos. Não cogito voltar, mas ainda sinto vontade de fumar em alguns momentos.

domingo, 9 de outubro de 2011

COMO É RUIM DESCREVER BEM O TDAH




Há poucos dias recebi um comentário anônimo em que o leitor elogiava meu texto:


'Anônimo disse...




Perfeito cara.
Descreveu um Tdah em relação a amizades.
Foi um elogio?
Foi, mas...
Lógico que ele falava do meu texto, mas de uma certa forma, doeu. Doeu conhecer tão bem um comportamento ao ponto de descrevê-lo à perfeição. E um comportamento nada elogiável, diga-se de passagem.
Muitos dias se passaram, muitas ritalinas depois e esse comportamento se mantém o mesmo.
Não sei como mudar isso, ainda.
Incomoda-me saber que deixo de conviver com gente de quem realmente gosto, mas ainda não sei fazer de outra forma.
Não vou desanimar, continuo minha caminhada, mas as vezes um gosto amargo de derrota me sobe à boca.
Um dia aprenderei a ser um bom amigo e cuidarei bem daqueles que me restarem; se ainda restar algum.
Enquanto isso, bem. Enquanto isso vou aparecendo e sumindo ao sabor da ritalina, do TDAH e do meu instável humor.
Mas, por favor, não deixem de elogiar (kkkkkkk), isso me dá força pra continuar escrevendo.
Cuidado!
Não elogiem demais, isso é um perigo pra um TDAH;  mas sobre isso falarei num próximo post.

UM DIA SEREI ACEITO?



Relendo o blog da Laís - A vida de uma mente TDAH -  estive pensando: será que um dia as pessoas me aceitarão como sou?
Passar os dia me policiando, analisando se esse comportamento é meu ou do TDAH, é cansativo, desgastante e de uma certa forma, artificial. Afinal, todo esquecimento é uma rachadura na auto confiança, uma dúvida na eficácia do remédio. Dois esquecimentos seguidos liga o sinal de alerta: preciso de uma nova consulta médica, quem sabe aumentar a dosagem da ritinha?
Episódios normais na vida de qualquer pessoa, pra nós podem ser torturantes.
As pressões diárias, as cobranças do dia a dia, as exigências do mundo atual de sermos perfeitos física, intelectual e financeiramente, estressam a todos, imagine quem carrega as frustrações e cobranças do TDAH.
Sinto ao redor de mim, uma certa desconfiança, ou descrença. Como se as pessoas, por não enxergarem uma mudança radical em meu comportamento após o medicamento dissessem: mas então ele é assim mesmo; não tem nada desse TDAH.
Creio que as pessoas esperavam uma transformação de sapo em príncipe.
Não; continuo matando um leão por dia, continuo caindo e levantando, continuo sentindo dor e prazer.
Mas ninguém quer isso. As pessoas esperam por melhoras radicais e imediatas. Em poucos dias desaparecem o esquecimento, a desatenção, a procrastinação, o sentimento de inferioridade, as explosões de raiva. Meia dúzia de ritalinas devem transformar-me numa espécie de Brad Pitt do comportamento.
Lindo, sarado e perfeito.
Uma pena!
Lá se vão nove meses de ritalina diária. Nove meses de apoio incondicional da Valéria e da Luciana, da paciência QUASE infinita da Jaque e da presença carinhosa e imprescindível do meu pai. Nove meses de uma luta diária para ser 'normal'.
O que mudou?
Olhando superficialmente, nada.
Mas o medo diminuiu; o sentimento de inferioridade diminuiu; a falta de confiança também diminuiu bastante; a concentração aumentou...
Algumas coisas não sei mensurar: as explosões de raiva, a procrastinação, a desorganização, são comportamentos diretamente afetados por um dia a dia muito difícil que venho tendo ultimamente, pressões por todos os lados, principalmente de caráter emocional e afetivo. Quando me distancio da minha vida, tentando avaliá-la de fora vejo que, envolto nesse turbilhão emocional qualquer pessoa estaria sujeita a chuvas e trovoadas. Ainda assim, consigo trabalhar normalmente, consigo pensar nas minhas decisões e procuro não me punir por tudo o que me acontece.
Mas isso é pouco. Pelo menos para quem está de fora.
Algum dia a sociedade aceitará o comportamento TDAH como normal? Como apenas mais uma faceta da inextrincável alma humana? Seremos reconhecidos por nossas qualidades?
Sei lá. O dia em que a sociedade parar de ser tratada como uma manada e de se enxergar como manada, aquele grupo que simplesmente segue o fluxo da maioria, pode ser que sejamos respeitados como somos.
Pena que, provavelmente, não estarei mais aqui para vivenciar.

IMAGINAÇÃO DE TDAH ?



Imagine a seguinte situação:
Jovem adulto, bem casado, com boa situação financeira envolve-se com, digamos, uma colega de trabalho. Logo no primeiro encontro fica tão empolgado que perde a hora nos braços de sua amante.Mais alguns minutinhos sua esposa não vai nem perceber. O tempo passa além de sua percepção. Ao dar-se conta da hora, larga tudo e volta às pressas pra casa. No caminho, percebe que traz na pele o perfume da amante; a camisa branca tem nítidas marcas de maquiagem. Desesperado pela possibilidade de ser pego em flagrante delito, decide tomar uma medida extrema: provocar uma pequena batida em seu carro. Com sua mente embotada pelo medo e pela culpa, acelera seu belo - e financiado - carro em direção a um poste. O poste aproxima-se rapidamente, ele acelera ainda mais, mas no último minuto falta-lhe coragem e ele desvia. No seu desespero, o jovem rapaz não percebeu que atrás dele vinha uma moto, ao desviar-se bruscamente do poste atinge em cheio a moto que o ultrapassava naquele momento. Seu desespero multiplica-se; desnorteado, acompanha impotente a moto e seu condutor aos trambolhões pelo asfalto. Chega a parar o carro para prestar socorro, mas a lembrança de que já tinha excedido os pontos em sua carteira - que fatalmente seria recolhida - fizeram com que ele simplesmente pisasse fundo no acelerador e abandonasse o motoqueiro à sua própria sorte.
No mínimo meia dúzia de testemunhas ligaram para a polícia fornecendo detalhes e placas do veículo que fugiu após destruir a moto e seu condutor. Antes de conseguir chegar em casa foi alcançado pela polícia.
Na delegacia, detido por não prestar socorro, o rapaz chorava copiosamente.
Quando soubessem de sua prisão, fatalmente, perderia o emprego.
E sua esposa? Qual seria a sua reação ao saber que ele, que ela tão admirava, atropelou um motoqueiro e fugiu deixando-o sem socorro à espera da morte.
Em silêncio amaldiçoava a colega de trabalho que o seduzira e transformara sua vida num inferno.
Em nenhum  momento lembrou-se de que a culpa de tudo o que aconteceu foi sua.
Não existe sedução sem a concordância da outra parte, ninguém é seduzido à força. Antes, deixa-se seduzir. Cada um de seus atos foram fruto de escolhas mal feitas, opções exercidas premidas pelo desespero causado pela opção errada anterior.
Inverossímil?
Fantasioso?
Absurdo?
Não creia nisso. Quem é portador de TDAH sabe que , no máximo, exagerei. Mas não muito.
Se em algum momento disparamos a primeira falha, as que se seguem costumam elevar sua gravidade e  consequências.
O segredo é não fazer a primeira besteira. Simples não?
Só não sei como fazer para evitar a primeira falha.
Assim que souber posto aqui.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A LENDA DO SANTO TDAH




Ontem lembrei-me de um filme que assisti há, no mínimo, quinze anos atrás; chamado 'A Lenda do Santo Beberrão'. Nesse filme, a personagem principal é um mendigo alcoólatra e suas infinitas tentativas de parar de beber.Um filme belo, sensível e muito interessante. Ao longo da história todas as tentativas de abandonar a bebida são sabotadas pelo acaso, o mendigo se depara com garrafas de bebida abandonadas em seu caminho, acorda ao lado de uma bebida sem saber de onde ela surgiu, e assim ele tem nova recaída, suspende o consumo  pela enésima vez para ver-se diante de nova tentação, e nova recaída. O filme termina como seria de se esperar, com a morte do alcoólatra depois de mais uma recaída. O tal santo jamais aparece, a sua existência fica subentendida nos acontecimentos 'fortuitos' que colocam diante do viciado sua maior tentação.
Assim é o TDAH.
Creio que existe um 'Santo' especializado em nos fazer crer que nos curaremos sozinhos, sem medicamento, somente com a nossa força de vontade. E aí temos novas recaídas. E voltamos ao remédio, e nos recuperamos, e voltamos a crer que nos viraremos sozinhos, não precisamos nos encharcar de remédios de tarja preta, sem contar no 'mico' que é entrar numa farmácia e sair dali com um carregamento de ritalina - no meu caso acrescido de sertralina. Mais a despesa...
Pois bem, aí entra o 'Santo'. Ele atua exatamente na sensação de bem estar, da auto confiança que adquirimos ao longo do tratamento e que nos faz sentir forte o suficiente para abandonar o medicamento. Abandonamos, os primeiros dias são ótimos. Não sei se existe um saldo de medicamento em nosso organismo que continua fazendo efeito após sua suspensão, ou o 'Santo' atua no sentido de nos sentirmos ótimos apesar da suspensão do medicamento. Aos poucos, de forma quase imperceptível, vamos retornando à nossa vida pré tratamento. Os velhos prejuízos, as antigas procrastinações, o medo, a insegurança, o sentimento de inferioridade. Até nos metermos de novo em uma grande roubada; volta à nossa mente o tratamento abandonado, uma saudade imensa da 'ritinha', uma vergonha de ter cedido às tentações e fugido da médica , ou do médico. Calçamos a cara, e depois de várias procrastinações e sérios prejuízos, e voltamos ao consultório médico. A pouca coragem de enfrentar a doutora nos faz mentir, inventar tristes histórias para o sumiço. Eles fingem que acreditam, mas nos conhecem o suficiente - e ao distúrbio - para saber que mentimos, que estamos - de novo - no fundo do poço com vergonha e acuados pela doença.
E começa um novo ciclo virtuoso. Novo período de tratamento, volta da confiança, dissolve-se o medo, a procrastinação diminui, e começamos a enxergar uma luzinha no alto do poço. Um ar mais puro, mais fresco nos dá uma enorme esperança de cura, uma cura que não existe, mas que acaba nos iludindo.
E o 'Santo' volta a agir.
É a montanha russa do TDAH.
Escrevo este post hoje para não me permitir cair na ilusão do 'Santo TDAH'.
O canto da sereia está em meus ouvidos, o sonho de abandonar o 'coquetel da loucura' permeia meus pensamentos.
Por isso é importante escrever um blog.
Esse texto não é apenas um diálogo comigo mesmo, mas um pedido de ajuda a cada um de meus leitores e parceiros nesse caminho infinito contra o TDAH.
Como diria o malfadado collor: não me deixem só.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A MORTE DE STEVE JOBS E O TDAH



Steve Jobs morreu!
O maior gênio da tecnologia atual perdeu a guerra para uma doença antiga, largamente conhecida, mas até agora imune à todas as tentativas de cura engendradas pelos homens.
Mas o que tem a morte, ou a vida, de Steve Jobs com o TDAH ? Principalmente com o meu TDAH, que é afinal o motivo desse blog?
A morte especificamente, nada. Mas uma de muitas de suas frases divulgadas largamente pela imprensa tem tudo a ver:
“Lembrar que estarei morto logo é a ferramenta mais importante que eu já encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida. Porque quase tudo – todas as expectativas externas, todo orgulho, todo medo de falhar ou vergonha – essas coisas caem por terra ao encararem a morte, deixando apenas o que é realmente importante. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que encontrei para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.”
Genial, fantástica. Um álibi perfeito para comportamentos inovadores, e arriscados.
Jogar com a vida, com a desculpa da morte. Desculpa?
Não sei se trata-se de desculpa. A morte é real, paira sobre todos nós como uma sombra que, se nos entristece e amedronta, também nos dá o sentido de urgência e o afã de completarmos nossa tarefa de vida. No livro 'O Aleph", Jorge Luís Borges descreve num conto maravilhoso a 'monotonia' da imortalidade. Um general romano transforma a busca pela fonte da vida eterna no mote de sua vida, ao encontrá-la, descobre que é a certeza da morte que move a vida. Não há urgência ou motivação aonde o tempo é infinito. Um homem caído em um buraco há mais de 50 anos não é retirado de lá por que não faz diferença; sair hoje, amanhã ou daqui há 100 anos não muda em nada, ele é eterno. Jamais irá morrer, sua vida não tem fim.
Desesperado o general romano - já imortal - passa vários séculos buscando o antídoto da vida eterna. Até que um dia, descendo de um navio (se a memória não me trai ) o general corta o braço em um galho e vê com alegria e alívio seu sangue brotar do arranhão. Feliz, o secular general cai na vida motivado pela consciência de que, agora, sua vida é finita e se ele não aproveitá-la ela passará muito, mas muito rápido.
E daí?
Pra que tanta conversa?
A morte é um tema que sempre fez parte da minha vida. Ou de meus pensamentos, ou sentimentos.
Sempre enfrentei uma luta interna entre viver, enquanto estou vivo, e todas as regras e convenções que cercam a vida da classe média brasileira, principalmente a classe média cristã, obrigada que é à renúncia constante; seja do prazer, seja da alegria, seja da riqueza, seja do ócio. A vida cristã nos obriga ao sofrimento, à penúria e à dor como único caminho possível para alcançar a felicidade eterna.
Como adequar a ânsia de viver a minha vida, os sentimentos que me habitam, com a moral cristã, ou pior, com as expectativas estabelecidas pela sociedade em que vivo?
São caminhos conflitantes e excludentes; ou quase isso.
A família, os amigos e a sociedade, criam expectativas sobre nossas vidas, sobre o caminho 'normal ' que devemos seguir. Sair desse caminho, dessa expectativa, transforma o 'transgressor' num pária; num sujeito mal visto, cuja presença gera comentários e críticas em baixo tom e pelas costas.
Enfim, a morte de Steve Jobs tem tudo a ver comigo e com a minha vida.
A frase que ilustra o início desse post teve e terá profunda influência em minhas próximas decisões. Afinal, é a minha vida, e não a das pessoas que criticam-me, que está em jogo.
Lembrar-me-ei disso em meus próximos passos.