quinta-feira, 29 de outubro de 2015

EU AMO UM(A) TDAH




Ele é tão distante.
Ela é fria.
Ele não me escuta.
Do nada, ela explode.
O que posso fazer pra ajudar meu(minha) namorado(a) TDAH?
Esses são comentários e emails que recebo com frequência; essa semana foram três. e ainda estamos na quarta-feira.
Já falei sobre isso e, em geral, não alivio pro nosso lado.
Quando a pessoa chega a me escrever é por que o outro já tem o diagnóstico, mas na maioria das vezes não se trata; ou pior, não aceita a doença. E a pessoa que escreve quer desesperadamente ajuda-la. Muitas vezes sacrificando sua individualidade e seu amor próprio.
O que posso dizer?
Em primeiro lugar: Não se anule, não se sacrifique, não se escravize. Primeiro porque não vale a pena pra você, segundo porque TDAH detesta gente fraca e mendicante. Valorize-se.
Em segundo lugar, mas não menos importante: O doente precisa aceitar, entender e tratar do TDAH. Você não conseguirá ajudar a quem não quer ser ajudado. Se seu parceiro(a) foi diagnosticado e não quer tratar-se, desista. Você não faz milagres.
Não aceite chantagens: Ter TDAH não é salvo conduto para sairmos aprontando, agredindo e humilhando quem nos ama. Você, parceiro de um TDAH, não caia nessa. Seu parceiro(a) é um espertalhão.
Mas não vou ficar apenas malhando. Existem atitudes que você que convive com TDAH pode tomar para ajudar. Entenda que muitas vezes saímos do ar sem querer; noutras falamos o que não devemos; podemos ter variações súbitas de estado de espírito - saindo da mais profunda tristeza para a mais carnavalesca euforia sem motivo aparente. E a culpa não é sua. Estude sobre a doença, informe-se para não provocar brigas e discussões doloridas e inúteis. Quando seu TDAH amado disser que esqueceu; provavelmente esqueceu mesmo. Não adiamos decisões por canalhice; adiamos porque temos uma doença que nos paralisa em muitas situações. Se você conhece bem a doença saberá quando a doença age por ela (ou ele) e será muito mais difícil de ser enganada.
Fácil não é. Mas com quem será?
Gilberto Gil sabiamente canta:

Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu prá você...

Mas, se seu TDAH não quer se tratar, ou se você não der conta de conviver com impulsividade, procrastinação, desorganização mental e material, criatividade exacerbada, esquecimento exacerbado, amor exacerbado, carinho exacerbado, vida exacerbada; tem um monte de gente organizada, pacata, modorrenta, previsível, de poucas palavras, poucas carícias, pouca intensidade, pouca novidade.
Sempre haverá quem te ofereça tédio e mesmice em doses cavalares.
Mas não será um de nós!

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

TDAH: TEORIA E PRÁTICA



                                Obs. Achei esse desenho a cara da minha mente.




1) TEORIA - Anote. Faça uma lista de tudo o que precisa no dia; ou na semana; ou na viagem...
1) PRÁTICA- Você esquece de anotar. Ou pior; anota e esquece a lista em casa.

2) TEORIA - Grife todo o texto, faça anotações, faça observações que te ajudem a lembrar o que o texto quer dizer.
2) PRÁTICA - ????? Ao voltar ao texto alguns meses depois para revisão, você tem a impressão de que as observações foram escritas por marcianos.

3) TEORIA - Use uma agenda eletrônica, a do celular mesmo. Ela emite alertas, avisos que você pode reprogramar, etc.
3) PRÁTICA - Você adia indefinidamente os compromissos, fica de saco cheio daquela campainha inconveniente; ou pior, acostuma-se a ela e a desativa sem nem mesmo ler o que anotou.

4) TEORIA - Você organiza seu ambiente de trabalho e ama o resultado. Tudo fica mais fácil, mais leve, mais rápido. E você promete que não vai admitir aquela desorganização.
4) PRÁTICA - No fim da semana o caos voltou a reinar e você nem se deu conta. Só vai perceber quando desaparecer um documento importante, ou algo equivalente.

5) TEORIA - Você foi arrastado ao evento de um amigo. Achou que seria uma droga mas adorou! Voltou feliz da vida e prometendo não perder nada mais que te convidarem.
5) PRÁTICA - Você finge pela enésima vez que não viu a mensagem do Whatsapp, não atende ao telefone e passa a noite criando desculpas elaboradíssimas por ter ficado em casa assistindo TV.

6) TEORIA - Você vai apenas conferir se esse zapzap que chegou é importante. Um segundo apenas.
6) PRÁTICA - Você abre o Face, o Instagram, o Snapchat, o Linkedin, o Tinder, o email do Google, o email do Hotmail, e o email do blog pra ver se tem comentário novo... Dez minutos depois você fecha o celular e se lembra de que não conferiu o Whatsapp...

7) TEORIA - Você dormiu bem, está bem disposto, tomou seu remédio, um bom café da manhã e senta-se para estudar/trabalhar. Nada hoje pode interferir em seu bom desempenho. Descansado, alimentado e medicado, o que pode dar errado?
7) PRÁTICA - Tudo! Diante de suas tarefas sua mente escapa uma, duas, três vezes. Você a busca a cada vez. Decide levantar e tomar um café. Um ruído no cômodo ao lado chama sua atenção; você vai conferir... Pronto, seu dia acabou...

Você é assim! Eu sou assim! E vamos lutando... Não me apoquento mais. Apenas me corrijo e continuo. Pare de se lamentar e de se auto recriminar. Você sabe que tem a doença, você sabe como a doença se manifesta, se auto flagelar não ajudará em nada.
Claro, sei que falta combinar isso com os patrões, professores, juntas examinadoras dos concursos...
Mas aí, cabe a cada um de nós descobrirt as melhores maneiras de driblar o TDAH e seguir vivendo.
Aceito sugestões de como cada um de vocês enfrenta esses problemas.

Obs.: agradeço a colaboração involuntária da Ana Paula, do Marconi e do Walter.

domingo, 4 de outubro de 2015

TDAH ILUDIDO

                                          Imagem do blog livros e afins


Já fui mais de uma vez criticado pelo tom pessimista de meus posts. Vários leitores querem que eu fale sobre as maravilhas de ser TDAH.
 Preciso esclarecer que  esse blog reflete o meu sentimento em relação ao TDAH. E eu DETESTO ser TDAH. Nao tenho nenhuma ilusão quanto às pseudo virtudes dos portadores. E sabem por quê? Tenho 55 anos e o TDAH não trouxe NENHUM benefício pra minha vida. NENHUM.
Essa semana mais um leitor veio com essa conversa. Ressalte a 'super inteligência do tdah, sua criatividade, sua capacidade de adaptação, sua resiliência...'
Primeiro: Não existe 'super inteligência ' no TDAH. Isso é mentira! Podemos ter inteligência acima da média, o que é muito diferente.
Segundo: Criatividade. Outra ilusão! De que vale tanta criatividade se abandonamos os projetos pela metade? Se em nossas cabeças brotam novas ideias a todo instante soterrando as velhas antes que elas dêem frutos?
Terceiro: Capacidade de adaptação e Resiliência. Até já fiz um post sobre isso.  Sim, somos resilientes. Mas nossa resiliência vem de nossos próprios erros. Destroçamos e recuperamos nossas vidas várias vezes. Adaptamos e 'desadaptamos' com a mesma velocidade. Isso são virtudes que só servem pra consumo próprio. Até porque pra consumo externo os defeitos da doença superam em muito essas 'virtudes'. Imagine no trabalho: A péssima memória, a desorganização, a perda de foco, o desânimo que se abate ao menor dissabor, a perda de interesse pelos projetos ainda em andamento. Tudo isso supera essas pseudo virtudes.
Normalmente quem defende ou enaltece o TDAH são pessoas jovens, que ainda não experimentaram as derrotas impostas pela doença.
Enaltecer o TDAH é o mesmo que pedir a um diabético que se sinta feliz, afinal seu sangue é mais doce. Ou a um cardíaco alegando que seu coração é mais sensível.
Vamos parar com essa conversa mole. TDAH é doença, e doença nenhuma é boa ou tem seu lado bom.
O único lado bom do TDAH é pra quem não tem. Até pra quem convive com TDAHs é um saco. Somos inconstantes, esquecidos, desorganizados, não sabemos lidar com dinheiro, com emoções, com pessoas, com estudos...
Somos verdadeiros caos ambulantes.
Ao leitor Samuel, e a todos os que pensam da mesma maneira: Eu não me sinto bem com o TDAH, não gosto de ter TDAH e não vejo nenhuma utilidade em ficar fingindo que é bom ser doente.
Esse espaço é para dividirmos nossas lutas diárias e nossos sentimentos; e esses são os meus.
E peço que me respeitem.