Em seu comentário sobre meu post anterior, minha web amiga Regina, menciona que prefere se retrair pois sabe que, mais dia menos dia, irá decepcionar as pessoas que convivem com ela. E quanto maior a expectativa das pessoas em relação a ela, maior a decepção que, certamente, causará.
Bingo!
É exatamente isso, quando será; a decepção, de que forma se dará? Isso não sabemos, mas que ela virá, virá.
Creio que são tantas as quedas, tantas as frustrações acumuladas ao longo da vida que, internamente, temos a certeza de que não conseguiremos, em qualquer campo, em qualquer área, com qualquer pessoa. Não sei se isso é possível, mas imagino que temos tamanha certeza de que falharemos, que falhamos. E acabamos cumprindo a expectativa que tínhamos em relação a nós mesmos e muitas vezes cumprimos a expectativa das pessoas que nos cercam, aquelas próximas que nos conhecem bem o bastante pra dizer: eu sabia! Eu tinha certeza!
Insegurança, medo, inferioridade, auto sabotagem? Uma soma de tudo isso?
A sucessão de derrotas constroem o derrotado profissional.
Mesmo nos melhores momentos, naqueles em que beiramos o êxtase, sempre tem um certo frio na barriga, um certo receio de que vai dar errado.
Lembrei-me de um filme que adoro: Blade Runner. Nele, num futuro distante, uma mega empresa criava androides em tudo semelhante aos seres humanos,só que, ao nascer eles já sabiam a data de sua morte. Imagine se você soubesse que morreria aos quarenta anos. Qual o sentimento experimentado no aniversário de trinta e nove anos? Os últimos doze meses de vida...
A tônica do filme é a revolta de um grupo de androides contra a empresa, pelo fim daquela vida com data de validade.
Claro, são coisas incomparáveis, mas lembrei -me do filme ao recordar-me desse sentimento de que o desastre é inevitável e iminente e que não há nada que possa impedi-lo de acontecer.
Mas como no filme, também podemos nos revoltar, podemos não concordar com esse sentimento que teima em se concretizar em nossas vidas. Nossa revolta é o tratamento, nossa arma é auto conhecimento, o conhecimento do TDAH e a eterna vigilância. Muitas vezes não conseguiremos impedir o sentimento de que falharemos mais adiante, mas poderemos reconhecer nesse sentimento nosso auto sabotador, poderemos reconhecer que o caminho pelo qual optamos já nos levou à derrocada em momentos anteriores, e corrigir o rumo.
Sei que é muito fácil falar em corrigir o rumo. Sei tanto quanto todos os que me lêem, que não é nada simples corrigir o rumo da caminhada em direção ao fracasso. A tragédia exerce um fascínio sobre nossas personalidades. Antever o desfecho, ao contrário de frear nosso ímpeto pode resultar num efeito oposto, a aceleração da velocidade rumo ao desastre.
Em muitos momentos ficamos tal e qual o pequeno animal que se depara com a serpente gigante que o escolheu como refeição; absolutamente fascinados e paralisados diante do algoz.
Mas precisamos lutar, precisamos dizer não. Hoje temos a plena consciência de que o fascínio, a atração pela tragédia nada mais é do que uma das milhares de facetas do TDAH.
Esse transtorno tem livre trânsito em nossas mentes quando não os conhecemos, a partir do momento em que nos tratamos estamos esperando seus comportamentos sórdidos, esquivos e destrutivos.
E podermos agir em nosso benefício é ainda mais fascinante do que qualquer tragédia.