quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O TDAH E A MENTE FERVILHANTE!


Somos acossados cotidianamente por um turbilhão de pensamentos que se sucedem, se sobrepõem, se chocam, se engalfinham, se confrontam. Pensamentos opostos, incongruentes, conflitantes, beligerantes que se mutilam e se esquartejam. Na mente fervilhante os fragmentos se amontoam e se fundem, transformando-se em pensamentos novos; irreconhecíveis. Verdadeiros Franksteins mentais. Como todo monstro, esse Frankstein nos assombra e nos impressiona. Dificilmente nos livramos dele. A mente convulsionada por esse turbilhão de pensamentos começa a acreditar que o Frankstein é verdadeiro. E real. Essa amálgama de pensamentos desconexos cresce e domina a mente. A imagem do Frankstein passa a ser dominante, e como tal, dita o comportamento. E o comportamento reflete o pensamento. O Frankstein mental se concretiza em atitudes Franksteinianas; um monstro que muitas vezes desconhecíamos assume o controle. E as consequências podem ser nefastas...
E podemos derrotar esse Frankstein?
A Ritalina é uma boa arma - ela acalma esse turbilhão mental - mas não a única. E nem pode ser sozinha. O TDAH requer mais do que só medicamentos. Para combatê-lo é preciso auto conhecimento, conhecimento da doença e uma boa dose de consciência de que nada nesse transtorno resolve-se rapidamente. Esse último, talvez seja o mais difícil para nós. E claro, se a condição financeira permitir, apoio terapêutico é muito importante.
Parece simplista, mas o auto conhecimento e o auto controle são fundamentais. Se estivermos alertas perceberemos a criação do Frankstein ainda no início. O bebê Frankstein. E poderemos impedi-lo de agir. De virar adulto.
Mas não é fácil. Não sabemos ser de outro jeito. Acreditamos na veracidade desses pensamentos e nos deixamos dominar por eles. Mas não podemos descansar. Precisamos duvidar da existência desse Frankstein. Sua existência precisa de provas, de confirmação. Chega de acreditar que a junção de pensamentos, ou fragmentos de pensamentos, antigos, somados com os novos formam uma verdade. Podem formar uma teoria, mas todas as teorias precisam de comprovação para deixarem de apenas isso; teoria.
Cuidemos de nossos pensamentos e não acreditemos tão facilmente em monstros e fantasmas.
Nossas vidas, e a de quem convive conosco agradecerão muito.


terça-feira, 28 de novembro de 2017

TDAH: MANUAL DE INSTRUÇÕES









                   Manual de Instruções 

                   Obrigado por escolher viver com um de nós, TDAHs, leia atentamente as instruções
                   abaixo e poderá viver mais feliz.
  1. 1) Cuidado ao acordá-lo, provavelmente seu TDAH foi dar uma última olhadinha nas redes sociais antes de dormir e ficou acordado até duas e quarenta e oito da madrugada. Vai acordar de mau humor, assustado e a culpa será sua.

  2. 2) Vinte minutos antes do horário limite para sair de casa o TDAH se lembrará de várias coisas desimportantes que deveria ter feito e resolverá fazê-las nesse momento. Caberá a você impedi-lo, o que pode provocar irritação e mau humor. 

  3. 3) O TDAH sabe que possui má memória, mas insiste em não anotar, não conferir, não se informar previamente sobre nada. Isso inclui endereços, rotas, anotações... Informe-se secretamente sobre tudo e vá auxiliando-o sutilmente. Não revele que se informou previamente. Simplesmente sabe. 

  4. 4) O TDAH que lava freneticamente a cozinha poderá abandonar o serviço pela metade ao ir colocar o lixo na porta e encontrar a vizinha, ou observar uma porta solta no armário da área, ou ouvir um ruído vindo da garagem. Tais estímulos desviam sua atenção e o trabalho original é automaticamente esquecido. Lembre-o de maneira carinhosa e casual... A melhor maneira é elogiar a qualidade do serviço que estava fazendo.  

  5. 5) Trinta dias para um TDAH é uma eternidade, portanto, se existirem compromissos com prazo superior a esse convém lembrá-lo semanalmente do evento. Faça-o de maneira sutil e casual, sem parecer controle ou descrédito em sua memória. 

  6. 6) Mesmo nos momentos mais tensos ou importantes, a mente de um TDAH pode desgarrar e fazer com que perca trechos importantes de uma conversa. Se o TDAH afirmar que não se lembra do que disse ou do que respondeu, não duvide; provavelmente ele só estava fisicamente naquela discussão. Conforme-se, ele ou você nada podem fazer sobre isso. Talvez rememorar as conversas várias vezes durante seu acontecimento. Ficará maçante, mas pode funcionar. 

  7. 7) Cuidado, cão feroz! Se o TDAH estiver naquele momento 'cão feroz', a melhor política é a mesma utilizada com o animal: não o enfrente. Em geral os ataques de fúria são tão intensos quanto rápidos. Passado esse momento tudo volta ao normal como mágica. Caso você o enfrente esse momento poderá durar muito mais tempo com dolorosas consequências para você, pois o cérebro TDAH passa uma borracha sobre esse entrevero automaticamente. Nós esquecemos, você não. 

  8. 8) Leia você esse manual de Instruções; TDAH, definitivamente, não lê Manuais de Instruções. Tentará sozinho por horas, mesmo sabendo que ler o manual gastaria um décimo do tempo.  

  9. 9) Se você não gosta de controles financeiros, acostume-se com as cartas e telefonemas de cobrança; e eventuais cortes de serviços essenciais. TDAH não consegue controlar nada continuamente.  corrente, cartão de crédito, agenda, calendários... Nada! 

  10. 10) TDAH não consegue estabelecer prioridades lógicas. Seu cérebro o direcionará para aquela que der recompensa imediata. Normalmente a mais prazerosa. Não adianta brigar, cérebro TDAH só funciona com recompensa imediata; não é psicológico, é físico, daí nossa dificuldade de opções e comportamentos de longo prazo. Negocie. 

  11. 11) Brigas sem motivo, ou por motivos fúteis, não são inexplicáveis, a ciência descobriu que o cérebro TDAH precisa de adrenalina. Nem que seja obtida por uma briga. Ah, é inconsciente. Tente não se ofender ou dar muita importância. 

  12. 12) O TDAH é desorganizado. Mas não é apenas a gaveta ou o quarto; mas a vida. Com a mente desorganizada, a vida do TDAH é confusa, difícil e complicada. Tudo parece acontecer negativamente. Mas, no fundo, no fundo, as complicações de hoje são fruto de erros e escolhas passadas. A palavra chave é paciência. 

  13. 13) Você pode nunca ter ouvido a palavra procrastinação, mas se convive com TDAHs conhece seu significado. É a arte de adiar, evitar, empurrar, tarefas, compromissos e atividades importantes e necessárias. O TDAH é um mestre nessa arte. Por medo, preguiça ou paralisia, mas não sem dor ou remorso. O TDAH sabe que está  errado, mas não tem forças para combater a inércia e isso o tortura e o torna amargo e irritadiço. 

  14. 14) Inesperadamente, inexplicavelmente, abruptamente, uma profunda tristeza e abatimento pode tomar posse do TDAH. Não tem explicação ou não é proporcional aos fatos que aconteceram recentemente. Uma enorme vontade de desistir de tudo, de ficar deitado imóvel até que a vida se extinga. Não adianta inquiri-lo, pressioná-lo ou cobrar explicações; nem ele sabe. Apenas espere passar... E passará inexplicavelmente e repentinamente como começou.

  15. 15) O TDAH não é egoísta, é apenas alheio em alguns momentos. Pode parecer egoísta ou indiferente, ou frio. Mas não é, apenas vive num ritmo e numa dimensão diferente da sua. Acostume-se e verá que é menos difícil do que parece. 

  16. 16) O TDAH, de maneira geral, é péssimo sob pressão e não tem muito esse espírito competitivo exigido nos dias de hoje. Sob pressão comete erros infantis, se irritam e podem abandonar o que estão fazendo. 

  17. 17) O TDAH pode ser contraditório, confuso e complicado, mas se conquistado, será dedicado e intenso. Mas lembre-se: TDAH não é salvo conduto para agressões, estupidez ou desonestidade. Se te faz infeliz, não aceite. A vida é muito curta para vivermos mal.  


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O TDAH QUE SE ACOSTUMA


                        


A gente se acostuma, mas não deveria...
A gente se acostuma a esquecer...
E porque esquece, se acostuma a ser criticado...
E porque é criticado, começa a se fechar...
E por se fechar, começa a evitar as pessoas...
E por evitar as pessoas, prefere o isolamento...
A gente se acostuma a procrastinar, a adiar o que teme,
depois o que é complexo, depois o que é simples, depois...
A gente se acostuma a perder... Perdemos o emprego,
perdemos a pessoa amada, perdemos o rumo,
perdemos a auto estima, perdemo-nos de nós mesmos...
A gente se acostuma ao tratamento; ou a falta dele...
A gente se acostuma a cair e a levantar infinitas vezes...
E por levantar, acostumamos à crença de que cair é normal...
E por acreditar  que cair é normal, a gente se acostuma ao TDAH...
E ao acostumar com o TDAH, a gente se acostuma a falhar...
E porque falha, a gente se acostuma a ser criticado...
E porque é criticado, a gente se acostuma a ser menos;
mas não merecia...

Inspirado no poema ' A gente se acostuma' de Marina Colassanti.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

TDAH, A VIDA À DERIVA





O primeiro título que dei ao blog foi esse: A VIDA À DERIVA. Era assim que eu me sentia na época, e é assim que todos nós já nos sentimos em alguns momentos da vida. 
Em vários momentos pensei em desistir... Mas como desistir? Não existe essa possibilidade na vida... 
Sempre recebo e-mails com esse sentimento. As pessoas se sentem perdidas, sem saber que rumo tomar, ou melhor, que rumo dar à vida. Exatamente como na foto acima, um barco sem remos perdido no meio do nada. 
E o que provoca essa sensação? 
A sucessão de falhas. Ao descobrir que cometeu o mesmo erro, por desatenção, por inobservância das regras, por não se ater aos detalhes, por não se lembrar de já ter vivenciado situação análoga, por ter adiado pela enésima vez... 
Ninguém avalia a sensação de mortificação. A enorme vontade de fugir para não encarar as pessoas. 
Mas a vida segue. Mesmo que não queiramos, ela segue. E estranhamente o último episódio não deixa cicatrizes. Certa vez um médico disse que a mulher tem mais de um filho porque ela esquece a dor do parto. É isso que vivemos; nos esquecemos da dor que sofremos na última falha. E por esquecermos, cometemos falhas semelhantes outra vez, e outra, e outra, e outra... 
E a vida escapa de nossas mãos. De longe observamos amigos e familiares que sabem conduzir suas vidas com tranquilidade e linearidade; com tamanha tranquilidade que estão preparados para possíveis reveses. Não nós! Jamais estamos preparados para nada. Nem para as situações mais previsíveis da vida. E somos surpreendidos pelo óbvio. 
E estamos desprotegidos, no meio do nada. Sem saber para onde ir; ou com que meios ir. 
Mas, mais um dia amanhece. De alguma forma aquela chaga aberta ontem amanheceu cicatrizada. Uma sensação de um sonho ruim pesa em nossa mente. Mas e a vida destroçada de ontem? Uma névoa cobre nossa memória e o ontem toma ares de um passado distante. Tão distante que não deixou marcas ou lembranças. E estamos prontos novamente. Prontos para repetir os erros; vivenciar o sabor amargo das derrotas; sentir a sensação de estar à deriva; e acordar como novo. Para errar de novo. 
E dirão os idiotas da objetividade: Todo mundo erra! Sim, mas as pessoas aprendem com os erros. Não os TDAHs, nossa vida se repete como naquele filme que a moça perdeu a memória em um acidente e a família repetia incessantemente o fragmento de vida de que ela se recordava. Mas, em geral, não temos uma família de filme, e sim pessoas que cobram e criticam a cada erro, jogando-nos no rosto tudo o que já fizemos de errado ao longo da vida. 
E vida que segue! E nela embarcados seguimos. Mas carregamos o singular sentimento de que ela também esta à deriva... 
Em tempo: Mudei o nome do blog por sugestão de minha médica, Dra Valéria Modesto, que não concordava com um título tão depressivo numa fase da minha vida que deveria ser positiva, de reconstrução. Rebatizei o blog por concordar com ela, mas ainda acho que A VIDA À DERIVA é muito mais fiel ao que vivemos. 

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O TDAH E A TRISTEZA ARTIFICIAL





Ela vem silenciosa e repentinamente... Os primeiros sintomas são os membros pesados... Um tipo de fraqueza muscular nos apossa que os gestos mais banais parecem um enorme esforço. A vida se torna uma inimiga cinza, densa e pesada. Até as pálpebras pesam. Tudo parece maior e mais difícil de se realizar.  
Esse torpor, esse desânimo, essa sensação de ter sido derrotado pela vida instala-se a partir do nada. Uma frase desconexa, uma lembrança, uma falha... Não existe um gatilho específico. Apenas algo desperta aquela sombra densa que recobre, repentinamente, nossas vidas. E o mais estranho é que, do mesmo jeito que surge, desaparece sem deixar vestígios. De um momento para o outro, aquela sensação de que você é o pior ser humano da terra desaparece. Sim, D E S A P A R E C E. 
E você não sabe como.  
Escrevendo esse texto, lembrei-me de ter essas crises de 'melancolia' na adolescência, e que passavam misteriosamente ao som de um samba de João Bosco e Aldir Blanc. Sim, um samba -tratamento.  
Cheguei a tomar remédio por isso. Inutilmente, diga-se de passagem. Depois que descobri que fazia parte do pacote do TDAH resolvi mudar minha convivência com esse torpor. Passei a reconhecê-lo e confrontá-lo. Por isso é tão importante o auto conhecimento. Você, de tanto prestar atenção ao seu próprio comportamento, começa a reconhecer onde termina sua personalidade e onde começa o TDAH. E aí você pode combatê-lo. E foi o que fiz. E faço. Basta que eu comece a sentir o gosto da derrota na boca, a semiparalisia do sentimento de inferioridade, que eu começo a me questionar: aconteceu algo objetivo para me deixar nesse estado? Se não aconteceu, o que é verdade na enorme maioria dos casos, eu entro na fase dois; o combate. Procuro pensar em coisas boas que eu tenha feito, músicas, coisas que li e gostei... Bobinho, né? E é mesmo. Mas funciona como um milagre. Esse estado, é um estado artificial, imotivado, não é seu, é do transtorno. E ele desaparece. Como por encanto...  
Claro, existem momentos concretos, provocados por problemas reais. Mas são minorias. 
O que faço é isso : 
Auto conhecimento. A cada reação, a cada sentimento, a cada decisão, pense e analise aquilo que viveu. Se você leu e se informou sobre o TDAH, vai começar a reconhecer onde e como ele age na sua vida.  
Enfrentamento. É tentar mudar aquele comportamento influenciado pelo TDAH. Não vai ser fácil, não vai ser sempre. Mas vai ser possível.  
Se não der certo hoje, vai dar amanhã ou depois. Só não pode é desistir. Aliás, lembrei-me de uma frase do meu amigo de TDAH Frank Slade - que sumiu como todo bom TDAH - O TDAH que nos derruba é o mesmo que nos dá força para nos reerguermos.  

PS.: Agradeço à amiga Fabíola, de Recife, pela sugestão do tema e do título.

sábado, 9 de setembro de 2017

TDAH NÃO É BRINCADEIRA!







Parece estar havendo uma nova e disfarçada campanha de desmoralização do TDAH. Pessoas bem intencionadas (ou não), andam divulgando possíveis características benéficas da doença para os portadores do Transtorno do Déficit de Atenção com (ou sem) Hiperatividade. Ora, isso é no mínimo desinformação; beirando muitas vezes a crueldade. TDAH é doença! Não existe nenhum tipo de benefício em doença nenhuma. O fato de existirem TDAHs de sucesso nada significa, essas pessoas alcançaram o sucesso APESAR do TDAH. E não graças a ele. Seria o mesmo que creditarmos à Esclerose Lateral Amiotrófica o brilhante trabalho científico de Stephen Hawking. Como o TDAH não causa alterações aparentes, nem físicas, nem comportamentais, uma grande parcela da população desacredita de sua existência ou de sua capacidade de causar danos em seus portadores.
Carregamos nosso inimigo dentro de nós mesmos, dentro de nossas mentes. Passamos a vida nos auto sabotando, abandonando projetos e pessoas, malbaratando o que ganhamos, vendo a vida escorrer entre nossos dedos enquanto colegas com muito menos capacidade intelectual constroem carreiras sólidas e vidas estáveis. Nossa criatividade e impulsividade são muito legais aos dezoito anos, aos quarenta começamos a nos dar conta do quanto estragamos nossa vida. Nessa idade enxergamos que nada fizemos com aquele dom ou habilidade que trazemos de berço. Faltou disciplina, faltou persistência, faltou coragem, faltou ânimo, faltou força para quebrar a inércia. Invertemos as prioridades da vida, aos quarenta ainda valorizamos o que outras pessoas abandonaram aos vinte.
 Nossas características podem parecer engraçadas, divertidas; mas não são! Sofremos ao constatar que perdemos a chave, ou o compromisso, ou a hora, pela enésima vez. Sofremos enormes sobressaltos quando algo sai errado no trabalho ou na escola; teríamos sido nós os culpados? E falamos ou fazemos sem pensar; e para consertar depois? Isso quando tem conserto; senão, arrastaremos a culpa por toda a vida.
A falha pode ser engraçada de tão grotesca. Ou seria se fosse ocasional. Mas não no nosso caso. Esquecemos porque nosso cérebro nos boicotou. Dissemos o que não deveria pois nosso cérebro não tem freios. Invertemos as prioridades porque nosso cérebro não sabe agir de outra maneira.
É engraçado para quem está de fora, nós sofremos genuinamente.
Nosso transtorno é muito sério e não podemos aceitar esse ridículo papel de bobo da corte que querem nos impingir.

domingo, 3 de setembro de 2017

TDAH:DESATENÇÃO, MEMÓRIA E DISCIPLINA.






Acabei de ver um post no Facebook indicando sete aplicativos para auxiliar a vida dos portadores de TDAH.
Uma iniciativa interessante, louvável, se não fosse por um detalhe: quem criou o post não é TDAH!
Quem é TDAH pleno, aquele de carteirinha, não consegue usar aplicativos com essa regularidade. Isso exige disciplina, determinação, memória... Nada disso nós temos.
Vamos lá:
Evernote: Conheço há anos, instalei umas três ou quatro vezes. Desisti. Você tem que pegar o celular, abrir a tela (pronto, já foi pro Face) , abrir o programa (se lembrar depois que sair do Face) , criar uma nova nota (se conseguir lembrar pra que diabos pegou o celular)... Chega! Já esqueci o que iria anotar. É chato, cheio de regrinhas...
Any. do: Lista de tarefas... Bem, para listar as tarefas eu preciso de lembrá-las. Segundo, eu preciso me lembrar de consultar o aplicativo. Terceiro, tenho que ter disciplina para a abastecer sempre que surgirem novas tarefas. Quarto, tenho que ter uma vontade férrea de não entrar no Face, Twitter...
Mobillis: Guia financeiro. Já instalei dezenas deles. Alguns cheguei a usar por semanas... Depois esquecia, retomava, esquecia de novo... Desinstalei. São complexos, chatos e exigentes. É inimaginável pedir a um TDAH que lance todas as suas despesas num aplicativo. Isso é anti TDAH por excelência!
Color Note: Até agora o mais útil. É um programa simples e direto. Sem muitas frescuras e exigências de páginas, colunas... Mas como todos os outros, só funciona se você se lembrar de usá-lo. Já o tive no Windows Phone; mudei de plataforma e esqueci dele.
Peak: jogos que aumentam a habilidade cerebral. Nunca usei, nem sabia que existia. Pode ser ótimo, mas não costumo ter saco pra jogar nada. Não posso dar palpite.
Wunderlist: Um super mega hiper aplicativo para listar tarefas. O melhor do mundo! Permite criar listas individuais ou em grupo, pessoais ou profissionais... Perfeito! Se você lançar os dados, se você lembrar de consultá-los, se você tiver disciplina para abrir o celular, o programa, nova lista...
Focus at will: Talvez o mais interessante, segundo a matéria são músicas desenvolvidas para aumentar a concentração. Muito legal! Aí no meio da música soa a notificação do Facebook... Já era... Ou do WhatsApp, pior ainda...
Veja bem, não estou dizendo que nada disso serve como ajuda ao TDAH, ou que nós não tenhamos solução ou ajuda. Nada disso, apenas quem elaborou essa lista não é, ou não conhece bem como funciona o TDAH.
Ao abrir o celular, abrimos a porta da desatenção. Face, Twitter, Instagram, WhatsApp... Tem que ser mega disciplinado pra não mergulhar nesse mundo e esquecer da vida. Nossa mente salta de um tema para outro, e para outro, e para outro, em fração de segundos. A desatenção é nossa companheira inseparável, não dá pra imaginar um TDAH com esse nível de organização e disciplina. Inclusive no post há um comentário que ilustra bem nosso comportamento :
A menina oferece uma alternativa gratuita ao Mobillis, ela comprou esse último para, só depois, descobrir que a versão pro permitia privilégios temporários. Ou seja, por desatenção ela não percebeu o que estava comprando.
Aplicativo para TDAH só vai funcionar assim: não precisamos de escrever nada, nem de lembrar. O aplicativo toma a iniciativa, a cada intervalo de tempo pergunta: fulano você já fez isso? Ou te cobra: fulano, você ainda não foi a tal lugar...
E os lançamentos feitos por voz. Lembrou no trânsito, grava que ele se vira para arquivar e te cobrar depois.
Deveria se chamar Memória de Mãe, ou de esposa, ou algo do gênero.
Existiu na plataforma WP, um programa de tarefas que cobrava sua execução. Se a pessoa não desse baixa na tarefa ele ficava triste, nervoso; cobrava inclusive por não estar sendo usado. Muito útil, mas desapareceu. Além do defeito de ter que escrever.
Volto a dizer, não quero detonar o post, muito menos os aplicativos, só acho que ajudam muito menos do que parece, pois exige que o abasteçamos de dados. E isto é muito difícil para um TDAH.



quarta-feira, 23 de agosto de 2017

TDAH: DESATENÇÃO É MAIS QUE ESQUECIMENTO!




Desatenção é muito mais que esquecimento. Desatenção é olhar sem ver, escutar sem ouvir, ler sem entender...  
Escrevi um post semana passada sobre um novo sintoma que descobri sobre o TDAH. Até descobrir que foi desatenção minha, e não um novo sintoma.  
Eu tinha que entregar o celular de uma cliente e o coloquei na mala. Chegando ao destino não encontrei o celular entre as minhas coisas. Fiquei arrasado, na minha mente eu me via colocando o aparelho entre roupas macias para protegê-lo. Pensei, minha mente está criando situações. E escrevi sobre isso. Horas depois a namorada encontrou o celular dentro da mala, preso num canto. O nome disso? Desatenção!  
Certa vez, nos tempos de inflação alta, comprei um terreno; ao elaborar o contrato de compra e venda a vendedora alterou a cláusula de reajuste, eu li e não percebi. Devo ter lido pensando em outra coisa. Acabamos num desgaste danado, desisti do negócio até que ela voltasse atrás. E a alegação dela era de que eu havia lido o contrato.  
Quantas vezes ouvimos parcialmente, respondemos ao que ouvimos e o interlocutor entende a resposta ao todo que ele disse... E novo desgaste... Novas brigas... Novas discussões...  
Só me descobri TDAH aos cinquenta anos de idade, imaginem tudo o que passei por não saber o que tinha. Apenas era um sujeito absurdamente desatento, folcloricamente esquecido, irresponsavelmente impulsivo, incrivelmente egoísta, e outros desairosos adjetivos que prefiro omitir.  
Sempre digo que não se deve sair dizendo aos quatro cantos que é portador de TDAH. Principalmente no trabalho, afinal pode ser usado como arma contra a pessoa. Mas num relacionamento é fundamental a verdade. Eu falo na lata. Empolguei com a pessoa já aviso. Isso economiza bons desgastes. E ajuda a avaliar aonde estamos entrando. Se a reação da pessoa for negativa, pulo fora. TDAH não tem cura, conviver com quem não entende, ou não aceita é auto flagelação.  
Não se atentar aos detalhes é outra característica do TDAH. Pra mim faz parte, ou está intimamente ligada à desatenção. Falta paciência de ler aquilo tudo... Falta atenção para olhar em todos os desvãos... Falta ânimo para cobrar todos aqueles detalhes que ficaram para trás... Uma vida generalista, sem detalhes. A solução é se aliar a alguém oposto. Desde que este alguém goste de controlar e corrigir e aceite bem esse papel. Estando consciente de que a desatenção é fruto de um transtorno e não de negligência ou preguiça, é menos difícil de conviver.  
Estamos vivendo a época de respeito às diferenças. A mídia cobra novos comportamentos, mas venhamos e convenhamos, na maioria das vezes, é mais fácil conviver com o macro, do que com as micro diferenças do dia a dia.  
Desatenção, falta de memória, Impulsividade, fazem parte do nosso pacote de diferenças e devem ser reconhecidas e respeitadas. E devemos exigir isso. Como devemos fazer a nossa parte: o tratamento. TDAH não é muleta para continuarmos fazendo o que queremos. Não, é um transtorno tratável; e por amor e respeito a nós mesmos e aos que nos amam e convivem conosco, devemos tratá-lo.  
TDAH sem tratamento, em geral, quer salvo conduto para agir impunemente.