sexta-feira, 12 de abril de 2019

ROMPENDO A CADEIA DO TDAH





Dia deste me submeti a uma terapia chamada TETHAHEALING, uma terapia energética em que a terapeuta entra num nível de meditação chamado de tetha e nós, pacientes, entramos também em consequência. Através de um diálogo que vai se aprofundando à medida que a terapia vai avançando o paciente vai tendo insights sobre aquilo que o incomoda ou atrapalha, e que o levou até ali.
Confesso que sempre fui muito cético em relação a estas terapias alternativas, mesmo aquelas praticadas por psicólogos, mas em algum momento da vida nos encontramos em uma encruzilhada e temos que tomar um caminho diferente do habitual.
Não sei se entrei em tetha ou se aquilo é conversa pra boi dormir, mas o que sei é que entrei em busca de uma ajuda para minha auto sabotagem que andava em alta e uma frase não me saía da cabeça:
                     
                            SERÁ QUE ME APRISIONEI NO CONCEITO DE TDAH?

Esta constatação me trouxe ao mesmo tempo alívio e apreensão.
Alívio porque me pareceu uma sacada inteligente e pertinente.
Apreensão porque terei que mudar meu pensamento dos últimos dez anos.
Uma semana após esta constatação posso dizer que nem uma coisa nem outra; encontrei sim um novo caminho, ou melhor, uma nova forma de enxergar e conviver com o TDAH.
Ao longo destes quase dez anos de diagnóstico conquistei muitas vitórias sobre o TDAH, mas ao mesmo tempo, e sem perceber, deixei-me aprisionar por alguns de seus conceitos básicos e mais evidentes em minha personalidade: DESATENÇÃO, ESQUECIMENTO E AUTO SABOTAGEM.
Resultado: mesmo com Ritalina eu caí nas mesmas armadilhas, afinal eu tinha que cumprir meu papel de TDAH. A melhor forma de derrotar a Ritalina é esquecer-se de tomá-la. Repeti ao longo de algum tempo esta 'estratégia', comprar a Ritalina, tomá-la regularmente até que abria a última caixa, a partir daí eu começava a 'economizar' o remédio. Em lugar de dois comprimidos por dia, apenas um. Ao entrar na última cartela, dia sim, dia não. Depois, semanas sem o remédio até que uma grande besteira me lembrasse de que estava sem medicamento.
E tome desatenção; e tome esquecimento; um primor de auto sabotagem.
Nesta Tethahealing me dei conta disto.
Não decepcionar ao meu TDAH e a mim mesmo, preciso cumprir meu papel. Manter-me dentro do padrão do transtorno.
Percebi o quão inteligente é nossa mente para burlar a ela mesma.
Saí da terapia imbuído de que tenho que romper esta cadeia a que me impus deliberadamente.
Já escrevi aqui, há muitos anos, que o TDAH não me define; mas permiti que ele me definisse.
Acordei novamente. Tive uma semana muito melhor, mais produtiva e atenta.
Como em tudo no TDAH, é um exercício diário de combate ao dogma do transtorno.
TDAH não tem cura, mas não é indomável. O TDAH é esperto, mas eu sou mais. Não me posso permitir me entregar docilmente a ele.
O TDAH não vai me derrubar.
Venho exercitando diariamente uma espécie de reprogramação mental que criei. Nenhuma novidade, nada de sensacional; apenas digo a mim mesmo que sou focado, atento e capaz.
Não sei se meu cérebro acredita nisto ou se isto o mantém alerta, o que sei é que tem funcionado.
Parei de participar daquelas discussões facebookianas do tipo: EU SOU ASSIM, QUEM É IGUAL?
Não vou cair na esparrela de achar que o TDAH não existe, sou sua maior vítima, mas não posso usá-lo como uma armadura.
Sou maior e melhor do que o meu TDAH !
Ao infinito e além!!!!

sábado, 16 de fevereiro de 2019

O TDAH EM BUSCA DA TRAGÉDIA






Nada mais fascinante para um TDAH do que um abismo. Quanto mais negro e mais profundo, mais sedutor. Se seu fundo for formado por rochas pontiagudas, aí sim, fica perfeito! 
A velha vontade de sentir a adrenalina inundando o cérebro. A qualquer custo, a qualquer preço. Mesmo sabendo que seu corpo se despedaçará, a emoção da queda é quase irresistível. Ademais, quantos abismos um TDAH adulto já experimentou? Quantas vezes  cada um de nós já reuniu seus próprios despojos, reuniu-os como num enorme quebra cabeças, e retomou a vida com a sensação de saciedade digna de um pós banquete. As horrendas cicatrizes dão a falsa sensação de que jamais semelhante loucura se repetirá. Ledo engano! As cicatrizes se suavizam, as dores desaparecem e um estranho sentimento de imortalidade emocional começa a se formar na confusa mente TDAH. Esse sentimento somado ao fastio provocado por uma vida normal e tranquila fazem com que, de tempos em tempos, o TDAH comece a sentir uma certa nostalgia do abismo. A dor e o sofrimento da queda são superados pelo imenso prazer do salto. Um gigantesco mergulho na adrenalina.  
Pouco importa se nesse salto algumas pessoas que estavam ligadas ao TDAH tenham caído juntas. Pouco importa se a queda dessas pessoas tenha sido mais grave ou dolorosa. Pouco importa se ao reunir seus despojos, essas pessoas não consigam se reunir completamente; e sigam incompletas e despedaçadas pelo resto da vida. 
O que importa é sentir toda aquela sensação novamente... 
E vivemos à mercê dessa necessidade recorrente?  
Não. Não precisamos viver. 
Precisamos sim estar atentos aos sinais que o TDAH emite. São repetitivos e reconhecíveis.  
Começam com a desqualificação da pessoa ou daquilo que proporciona a tranquilidade. Os defeitos e falhas são supervalorizados, enquanto as qualidades se transformam em incômodos e chateações. Um novo objetivo surge na vida, e esse sim, é perfeito. Em poucos dias o novo alvo assume o controle da mente e da vida do TDAH. E ele mergulha profundamente nessa nova vida. Agora sim, a vida perfeita! A vida sonhada e desejada. Abismos nunca mais... 
Até que um dia o novo e sonhado emprego fica velho e cansativo, sem desafios. Aquele sorriso que tanto cativara agora parece um esgar irônico e debochado. 
O vento frio do abismo se torna, de novo, sedutor.