quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

TDAH EM PONTO DE MUTAÇÃO




Não sou inconstante, sou mutante.
Metamorfoseio-me a cada nascer do sol.
Não mudo de ideia ou de opinião; mudo de alma.
Mudo de valores, de dores, de amores, de vida, de intenções... Mas mudo, principalmente, de mim mesmo.
Não consigo ser o mesmo de ontem, aquela pessoa extinguiu-se com a luz do sol. Quem hoje abre os olhos ao amanhecer pouco se recorda daquele que deitou-se na noite anterior.
Parece piada, figura de linguagem... Mas não! Esse sou eu. Guardo as experiências vividas, os sentimentos vivenciados, os aprendizados adquiridos num cofre inexpugnável dentro de mim; somente através de uma fresta consigo recuperar centavos daquilo que deveria saber. Tal qual um menino que 'rouba' as moedas de seu pequeno porquinho de plástico. Com um pouco de sorte em determinados dias consigo extrair um pouco mais; noutros, como esqueci qual a maneira mais eficiente de extrair moedas, acabo chacoalhando-o nervosamente e me contento com parquíssimas migalhas caídas ao léu. E quedo-me exausto do esforço despendido para tão pouco resultado.
Nos dias piores bato-me contra o cofre, xingo, esperneio, clamo contra Deus e o mundo. Mas ele fica ali, imóvel
e indiferente ao meu escarcéu. Então lembro-me que ele é inanimado e que eu não possuo sua chave, muito menos o segredo que o abre.
E sigo minha vida contentando-me com míseros flashes do que poderia ser.
Acordei essa manhã uma pessoa diferente com um mundo novo pela frente. Trago em mim todas as automações aprendidas ao longo do caminho, mas revestidas de um sentimento novo, um olhar diferente, e surpreendendo-me com a vida e comigo mesmo. Hoje tive uma manhã diferente, um comportamento diferente; até inesperado. Mas não posso afirmar que amanhã será assim, ou depois de amanhã, ou que isso irá se perenizar.
Os descrentes dirão que é só querer. Os incrédulos que o pensamento positivo, um tratamento medicamentoso... Os TDAHs saberão do que falo.  Um gesto, uma palavra, uma música, um nada, determina uma mudança de sentimento profunda em nossos dias. Situações já vividas e solucionadas em dias anteriores, de repente surgem diante de nós como novidades quase insuperáveis;  sentimentos tão caros ontem, desaparecem milagrosamente ao acordarmos...
Não te cabe me julgar, mas você julga.
Não te cabe me criticar, mas você me critica.
Não te cabe me agredir, mas você me agride.
E não posso te julgar por isso, nem te criticar por isso...
Tenho que entender que aquela pessoa que você conheceu, conviveu e te encantou, não existe mais. Partiu, morreu, mudou.
Você pode desistir de mim, você pode querer me ajudar, você pode querer me destruir. Mas nada disso surtirá efeito. Esse já não sou eu, e quando você se acostumar com esse eu de hoje, amanhã já serei outro.
Melhor ou pior; mas outro.