terça-feira, 29 de julho de 2014

O TDAH E A PREGUIÇA






Bem, vão dizer que não escrevo a muito tempo por preguiça. Ou procrastinação. Mas não é verdade. Estou ausente do blog porque tenho lutado arduamente contra a preguiça. E isso cansa demais.
Chego ao fim do dia exausto.
Decidi mudar minha maneira de agir e trabalhar, e isso inclui um combate sem tréguas à preguiça e à procrastinação.
E tenho conseguido.
Adotei o principio de fazer tudo imediatamente. A morte da procrastinação e da preguiça. E matei-as. Sem a menor pena.
Descobri que é muito bom não adiar, não esmorecer e não ceder à preguiça.
A todo momento sou assaltado por uma enorme vontade de adiar, de desanimar, de fazer depois, de empurrar com a barriga. Mas não cedi até agora. Descobri uma enorme alegria de fazer imediatamente. Uma sensação incrivelmente boa de não dar direito aos superiores - ou mesmo aos meus funcionários - de me cobrarem algo que deixei de fazer, uma obrigação que adiei. Não, errei por outros motivos - todos nós cometemos erros - mas não mais por omissão, por preguiça ou por procrastinação.
Minha vida é marcada por omissões e adiamentos dolorosos e graves. Machuquei pessoas, machuquei -me, dei e tomei prejuízos enormes. Destruí grande parte do meu ' futuro promissor ' por procrastinações e esmorecimentos quando minha vida mais precisava da minha energia.
Com mais de meio século de vida e TDAH, sinto o doce sabor de decidir vencer a preguiça. Mas apenas no trabalho. No restante da vida continuo assaltado pela enorme preguiça e vontade de deixar pra amanhã.
Preguiça de gente, preguiça de sair de casa, preguiça de escrever.
E tenho que concordar com o Walter, ando adiando esse post.
Ainda que seja só no trabalho, viva a boa disposição e a coragem.

sábado, 19 de julho de 2014

TDAH: PAIS E FILHOS





Meu 'irmão' Walter Nascimento está em profunda dor. Segundo suas palavras, seu filho " muito TDAH, caiu". Pra quem não é portador, ou não convive conosco, cair para um TDAH é cometer erros típicos de nossas piores características: impulsividade, procrastinação, acídia (nome científico da preguiça), falta de foco, má memória, etc... Em geral cometemos os mesmos erros, aliás, essa é uma característica do TDAH que me esqueci de mencionar acima; não aprendemos com nossos próprios erros.
Não sei qual das falhas o filho do meu 'irmão' Walter cometeu, mas sei que ele pode se sentir um privilegiado. Seu pai, é um TDAH diagnosticado, um TDAH em tratamento, um TDAH com pleno conhecimento de tudo aquilo que seu amado filho está passando.
Lembra-se, Walter, de quantos tombos você tomou e teve de reerguer-se sozinho?  E pior, enquanto estava lá embaixo ainda tinha de ouvir as críticas de parentes e amigos?
Hoje, não; seu filho pode se sentir abraçado, acalentado, aconchegado e compreendido por um pai que sabe EXATAMENTE pelo que ele está passando. Ele não será bombardeado pelos pais, como você, eu e vários outros TDAHs  fomos; claro, a sociedade sempre cobrará um preço por isso. Mas ele não estará só. Nem você.
O TDAH deu ao Walter uma oportunidade de ouro de dar a mão ao seu filho, de aproximar-se ainda mais dele, de poder transmitir a experiência por ele vivida e mais ainda, de poder minorar a dor e o sofrimento do filho.
Nada disso elimina a dor de ver um filho em momento de frustração e decepção. Nada disso vai evitar que nossos filhos tenham recaídas e falhas em virtude da doença. Mas lembremo-nos: NÃO SOMOS CULPADOS POR TRANSMITIR A DOENÇA A NOSSOS FILHOS. O TDAH é uma doença biológica, e como tal está fora de nosso alcance impedir que seja transmitida a nossos filhos. Mas podemos exercer um papel fundamental; o papel de guia. Aquele que vai ensinar-lhes o caminho das pedras e evitar que repitam infinitas vezes os mesmos erros.
Claro, não conseguiremos sempre. É da doença uma certa 'atração' pela tragédia, pelo sacrifício 'consciente', ou atitudes que nos coloquem na posição de vítimas e coitadinhos.
Mas poderemos estar por perto; poderemos dar a mão sempre que precisarem.
Força Walter! Você hoje é o símbolo desse blog e sua dor o mote desse post; mas sei que , em breve, ambos, você e seu filho darão a volta por cima. Com certeza seu filho sairá mais forte e confiante, pois saberá que o pai é o seu guia e o ajudará a evitar quedas cada vez mais dolorosas e de consequências mais devastadoras.
Sua dor é a minha dor, a dor de todos os pais e mães portadores de TDAH e que veem em seus filhos a herança nefasta da doença. Não somos culpados; somos vítimas, tanto quanto nossos filhos; façamos da doença uma ponte para estreitarmos nosso amor e nosso relacionamento com aqueles que amamos.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O TDAH E A FAMÍLIA






O post anterior suscitou um debate interessante, um adolescente que se descobriu TDAH recentemente não sabe como contar à família. Como bom TDAH ele procrastina esse momento ao máximo, imaginando toda a sua revolta caso a família não concorde em leva-lo ao médico e trata-lo.Com o apoio do Walter Nascimento e do Léo Ribeiro, nosso jovem TDAH ,que se auto denomina Sail, está criando forças para contar aos pais que todos os seus testes (feitos na internet) deram positivo.Vou tentar dar minha contribuição.
Assim como quase todo adulto, descobri meu TDAH por acaso. Lendo uma revista Veja antiga deparei-me com uma entrevista da Dra. Ana Beatriz; e ela falava de mim, da minha vida, do meu comportamento, da minha alma. Eu estava na sala de espera de um advogado e sequer me lembro do que tratei com ele. Saí dali a mil por hora e mergulhei na internet, no livro 'Mentes Inquietas" e, em 24 horas estava no consultório da Dra Valéria Modesto, a quem devo, inclusive, a existência desse blog.
A família merece um capítulo à parte.
Ao contrário de outras doenças, o TDAH é convivível e bastante camuflado. Podemos ser taxados de 'avoados', 'irresponsáveis', 'preguiçosos', 'elétricos', 'mal educados', 'cretinos'... Enfim, podemos ser um monte de outros adjetivos, mas não 'doentes mentais'. Doente mental é uma pecha muito forte, uma tatuagem difícil de apagar. E pasmem, nossas famílias preferem os cretinos, preguiçosos, irresponsáveis, do que ter em seu seio um 'doente mental'.
Em geral, a primeira reação é a negação ou descrença. "Imagina, você é tão inteligente"; " não fala isso, nunca que você tem uma doença mental"; 'isso é invenção de médico pra ganhar dinheiro"...
Se você não chutar o balde, brigar e xingar, você pode ter a chance de convencê-los, de provar a eles que sua doença existe e você é um dos portadores. Todo aquele comportamento estranho, meio fora do eixo, tem uma razão. Nesse momento a emoção toma conta; choro, abraços e juras de apoio eterno; mas poucas famílias dão o passo seguinte. Poucas famílias dão o apoio necessário. Você receberá um crédito para provar que os remédios o mudarão por completo, mas não mudarão. Ao fim desse crédito, você continua igual - ou quase igual - e você fica devedor.
É você com você mesmo. Até por que é pesado, sacrificante; e muitas vezes frustrante. Ao contar para sua família que todos (ou a maioria) dos seus maus comportamentos tem origem biológica, seus parentes imaginam que com uma ou duas caixas de remédio você mudará da água para o vinho. Só que não! São pequeninos passos, pequenos e titubeantes; com retrocessos, quedas e repetições. A família não percebe as mudanças, às vezes, nem você percebe. E você e sua doença caem no descrédito.
Para não provocar uma cisão familiar o passo seguinte é o esquecimento; ninguém toca no assunto; ninguém te pergunta nada; e se você falar sobre, fazem aquela cara de paisagem e respondem com evasivas e muxoxos.
Prepare-se para contar à sua família; não brigue, não xingue, arme-se com seus testes, com sua paciência (que em geral é muito pequena), e até esse post, se você gostou e acha que pode ser útil. Mas prepare-se, nenhuma família está preparada para ouvir o que você vai contar. Ninguém quer ouvir, já se acostumaram com seu querido 'irresponsável' e ninguém sabe o que vai surgir depois do tratamento.
Mas, coragem; se é ruim com eles, sem eles é quase impossível.
Força; ao infinito e além!