sábado, 22 de fevereiro de 2014

EU TOMO RITALINA






Sim, eu tomo Ritalina diariamente. Há três anos.
Imagine o sofrimento que vou passar se tiver que parar de uma hora para outra!
Nenhum! Eu paro aos domingos e feriados. Não tomo aos sábados à tarde; e nunca tive o menor sintoma de síndrome de abstinência.
A Ritalina não causa dependência; quem afirma o contrário, ou é desinformado ou age de má fé.
Não sou médico, não sou psicólogo, nem enfermeiro; sou um paciente que faz uso contínuo da Ritalina, e que já está cansado de ficar lendo e ouvindo as besteiras que os pseudo entendidos falam sobre a Ritalina.
No princípio de 2013 ocorreu uma falta generalizada de Ritalina no mercado brasileiro; milhares de pessoas ficaram sem seus remédios, esse blog bombou com milhares de comentários indignados, desesperados, irados e ameaçadores contra o laboratório NOVARTIS. Mesmo os mais desesperados, não narravam nenhum caso de síndrome de abstinência, e sim de retorno ao estágio anterior ao tratamento. Assim tambémseria se faltassem medicamentos para hipertensão; os pacientes não sofrem síndrome de abstinência, mas sua pressão arterial voltará a subir se seu único recurso for medicamentoso.
Droga da obediência, cocaína legalizada, remédio de concurseiros ou vestibulandos, um monte de asneira que se espalhou pelo Brasil sabe-se lá com que intuito, e que deixa pais e mães, que recorrem à internet, de cabelos em pé quando o médico de seus filhos prescreve a Ritalina. Tarja preta, controlado, isso dá um medo danado, em mim deu. Mas os malefícios do TDAH são tantos, que encarei meus receios e comecei a tomar. Comecei com a Ritalina LA, não deu certo; eu ficava numa irritação assassina. Experimentei a Ritalina comum, foi excelente; tive um pouco de perda de apetite, um pouquinho de tremor nas mãos e um ou dois dias com dor de cabeça que computei à Ritalina já que, quase nunca tenho dor de cabeça. A não ser aquelas que eu mesmo crio.
E quais os benefícios dessa ‘maravilha’?
No meu caso: memória, atenção, redução da dispersão, maior produtividade, fico mais desperto e tenho menos variações de humor.
Fiquei perfeito? Não. Pra começar, ninguém é perfeito. Nem os ‘normais’- que, aliás, duvido que exista algum. Como diria Caetano: de perto ninguém é normal.
A Ritalina não cura o TDAH ( TDAH é incurável, por enquanto), a Ritalina reduz os efeitos nocivos do TDAH sobre as nossas vidas. Só isso. E isso é coisa pra caramba, quem não sofre da doença não imagina a sensação de alívio que dá esse remédio.
O TDAH pode ser tratado sem remédio? Pode, mas é muito mais difícil e vai exigir uma coisa que quase nenhum TDAH tem: disciplina. A pressão alta pode ser diminuída sem medicamento, você perde peso, muda radicalmente sua alimentação, faz exercícios físicos, e pode reduzi-la. Você consegue atuar sobre parte dessa pressão arterial aumentada, assim como consegue dominar parte da ação do TDAH sobre sua vida. Se aquilo que você dominou te satisfaz, ótimo, ponto pra você. No meu caso, o que eu consegui não foi suficiente, preciso do remédio pra equilibrar minha vida.
Portanto, àqueles que falam mal da Ritalina: ‘beijinho no ombro e late mais alto que daqui eu não escuto’. Kkkkkk Nada melhor do que uma citação filosófica pra fechar com chave de ouro. Mas cabe bem aqui.
A Ritalina existe a mais de 50 anos, não precisa da minha defesa e nem se abala com o dizem seus detratores, mas a mim incomoda ouvir tanta besteira e maledicências, que acabam impedindo pessoas bem intencionadas de tratarem corretamente a si próprios e aos seus filhos.
Pronto, falei!

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O TDAH QUE ARDE







Que vida é essa feita de dor e sombra?
De suor e lágrima?
De sal e fel?
Que vida é essa que dilacera a alma?
Que sangra...
Que queima...
Que arde...
Que arde...
Que arde..
Que arde no peito como chama...
Que arde na alma como lava...
Que purga a dor com o calor da chama...
Que cicatriza o peito que sangra, cauterizando a alma que chora...
Que vida é essa que a chama que corrói, destrói e dói...
É a mesma que cauteriza e impele a andar, amar...
Que vida é essa que o fel e o sal valorizam o açúcar e o mel?
Que vida é essa que queima de prazer?
Que arde de amor?
Que vida é essa?
Sei lá, é a minha vida...

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O TDAH, BELCHIOR, ELIS E A VIDA








De repente, todo o peso do mundo parece estar sobre mim. Não é tristeza, nem cansaço, nem mesmo desânimo. É o peso de uma vida inteira, um engano inteiro.
No rádio do carro toca " COMO NOSSOS PAIS" , na inesquecível interpretação de Elis Regina.
Essa sensação de uma vida errada, alicerçada em um sem número de escolhas erradas; e, quando as escolhas se mostraram acertadas, faltou disciplina e persistência para manter o caminho escolhido, é ampliada ao ouvir essa linda música. Mais do que a letra da música, o destino de seu autor e de sua intérprete é responsável por essa sensação.
O autor, Belchior, depois de uma longa carreira de sucessos (mais como autor do que como cantor) desapareceu, largou tudo: carreira, família, amigos, e um monte de dívidas, chegando a ser procurado pela polícia. Parece que por causa de uma mulher que ele conheceu recentemente.
Elis Regina morreu de overdose no auge de sua carreira. Drogava-se, ao que tudo indica, para enfrentar sua insegurança pessoal e profissional.
Por quê?
Em sua espetacular canção Belchior diz num determinado trecho:
" É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem".
Será isso?                                                                                              
A infinita necessidade do novo?
A infinita necessidade do risco?
A infinita necessidade do desconhecido?
Ou a infinita insatisfação com a vida?
Talvez seja uma estranha incapacidade de conviver com a paz que tanto buscamos...

Obs.: Não quero dizer ou insinuar que Elis e Belchior são TDAH. Não, absolutamente, apenas suas escolhas, aparentemente, erradas que danificaram suas vidas me serviram de combustível. Apenas isso.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

TDAH: A FRAUDE DA FRAUDE










Muito se diz sobre a existência ou não do TDAH.
Acho esse assunto um saco, mas é inevitável. Principalmente quando temos um chato que fica postando, aqui no blog, vídeos sobre a anti psiquiatria e contra o TDAH.
Esses dias recebi no Facebook um link para uma matéria num site de Portugal chamado Ciência Hoje. Confesso que ando um pouco cético sobre esses textos e vídeos sobre TDAH; a maioria deles é uma mera repetição ou é uma grossa besteira. Como eu já havia recebido um interessante da 'minha' Ana, resolvi conferir esse texto enviado pela Suelen. E me surpreendi tanto ou mais do que com o texto sobre o trânsito.
Um texto grande para os nossos padrões, cheio de termos científicos e citações, mas bom pra caramba. Esclarecedor e, acima de tudo, mostra o quanto o diagnóstico do TDAH evoluiu no mundo. Mostra também como os detratores do TDAH no Brasil são pouquíssimo honestos. Já existem, sim, exames de imagem que comprovam a existência de alterações no cérebro do portador de TDAH.

"Através de exame de PET comparativos entre pessoas diagnosticadas com TDAH e controles, Zametkin notou que o cérebro de pessoas com TDAH tinham um consumo de energia cerca de 8% menor do que o normal e que as áreas mais afectadas eram os lobos pré-frontais e pré-motores, que são responsáveis pela regulação e controle do comportamento, dos impulsos e dos actos baseados nas informações recebidas de áreas mais primitivas do cérebro como o tálamo e sistema límbico. Conforme estas novas evidências ficou claro que o TDAH estava realmente associado a alterações do metabolismo cerebral, acabando definitivamente com a dúvida sobre a real existência da síndrome e sua ligação biológica."

Lembrem-se de que o português do texto é de Portugal.
Quando defendo que o TDAH é uma doença biológica, não descarto de maneira alguma que ele deva ser tratado com auxílio de terapia, coaching e tudo o que for útil como ferramenta auxiliar de tratamento. O que defendo, é que sem o remédio é quase impossível 'enquadrar' o TDAH.
Acredito que o TDAH em adulto só tem um efeito pleno se for acompanhado de terapia. Os efeitos do TDAH em nossas vidas nos leva a criar defesas e estratégias de convivência com a doença extremamente nefastas para nós mesmos. Nos isolamos, desenvolvemos sentimentos de inferioridade, vontade quase patológica de correr riscos, criamos caricaturas de nós mesmos ( o esquecido, o esquisito, o namorador, o gastador, o radical...). Essas 'estruturas de personalidade' que criamos ao longo da vida são dificílimas de serem destruídas, nenhum medicamento tem esse poder, só uma terapia. O problema é que terapia custa caro, coching custa caro, e nem todo mundo pode pagar. E aí o tratamento fica prejudicado.
No post anterior,  Walter Nascimento debatia com a Patrícia se o TDAH é ou não uma doença.
Faz diferença?
Faz.
Pelo menos acredito piamente nisso.
Nossas famílias encararão de forma diferente; nossos amigos encararão de forma diferente, os médicos encararão de forma diferente; NÓS encararemos de forma diferente. No fundo, no fundo, sempre existe aquela sensação - ou esperança - de que não seja uma doença e um milagre, um evento psicológico qualquer ( até uma pancada na cabeça , como nos desenhos animados) solucione nossos problemas.
Se for uma doença, como é, mas diagnosticada de forma cabal, indiscutível (como caminha para ser, em breve) tudo muda. Os detratores, os aproveitadores, os profetas do caos, os iludidos com as soluções mágicas desaparecerão; ficarão somente aqueles que sofrem da doença -nós- e as pessoas empenhadas em nos ajudar a minimizar os efeitos do TDAH sobre nossas vidas, sepultando definitivamente os comentários jocosos, as piadinhas infames, as reportagens tendenciosas e os videozinhos ridículos postados por esses idiotas, obtusos e infelizes.

Para quem quiser conhecer o texto inteiro, aqui vai o link:
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=3902&op=all

Obs.: Para quem não o conhece, tem um maluco que fica postando links para vídeos nos comentários do blog. Não assistam, os vídeos são anti TDAH e anti psiquiatria, além de serem primários e infantis.