segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O TDAH, A RITALINA E A CRIATIVIDADE



Recebi o comentário de um leitor narrando suas primeiras experiências com a Ritalina.
Empresário, ele conta que a Ritalina embotou sua criatividade, deixando-o sem estímulo e desinteressado por sua própria empresa.
Como de costume, quero deixar claro que não sou médico, psicólogo, ou mesmo um estudioso do assunto; esse blog trata das minhas experiências, sensações e sentimentos.
Não é a Ritalina, amigo, é a pressão que você se impôs. A pressão por uma normalidade que jamais vai chegar; a pressão para ser uma nova pessoa que nunca se materializará. Não se cobre ser uma nova pessoa. Você nunca será um empresário melhor, você será uma pessoa melhor.
Você nunca será uma pessoa 'normal', você será um TDAH sob controle.
Você não vai acordar uma nova pessoa, não existem milagres. Ao acordar pela manhã, você terá os mesmos desafios de antes de se tratar; apenas terá novas armas para enfrentar seus problemas.
Desarme seu espírito, deponha suas expectativas, tire a mordaça de seus pensamentos. Você é e sempre será um portador de TDAH, com ou sem Ritalina. A sua criatividade está intacta dentro de você. Como estão intactas a procrastinação, a impulsividade, a dispersão, as variações de humor. A Ritalina apenas nos dá forças para enfrentar esses problemas.
Deixe escapar a pressão por resultados , a Ritinha não opera milagres. 
Aprenda a avaliar suas emoções e principalmente suas reações. Pense antes de agir, dois segundos bastam para que você engula a palavra que destrói, a reação destemperada, a impulsividade sem retorno.
De resto amigo, vida normal. Deixe que suas ideias fluam normalmente; toque sua empresa como sempre tocou; aprenda apenas a atentar-se aos detalhes de controle e organização que antes você passava por cima. São controles chatos, mas decisivos para a sobrevivência de qualquer empresa; de um TDAH então, nem se fala.
Pare de se cobrar o que você não pode se dar, e viva. O TDAH não pode nos impedir de viver, ele é um obstáculo, um peso, mas nada que seja intransponível ou insuportável.
Trate-se, mas não se escravize com o tratamento; policie-se, mas não se impeça de viver; organize-se, mas não se imobilize.
Uma das pouquíssimas virtudes do TDAh é a absurda criatividade que possuímos, matá-la nos deixa mentalmente aleijados. E meio órfãos.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O TDAH EM BUSCA DE SI MESMO







Ainda me surpreendo comigo mesmo.
Sou capaz de atitudes que não imaginava, de sentimentos inesperados, de reações surpreendentes.
Mas quando uma pessoa amada se descobre TDAH e se entristece com isso só tenho um conselho:
mergulhe-se em si mesma.
Foi assim que aprendi a controlar uma série de reações que me pareciam incontroláveis. Escavando minha mente consegui separar o Alexandre do TDAH e hoje consigo enfrentar a doença ou deixar que ela aja por mim e com minha concordância.
Sim, muitas vezes me deixo levar pelo TDAH!
Sim, muitas vezes quero viver ou sentir aquilo que o TDAH está me oferecendo.
Isso é um retrocesso? Não, não acredito. Uma coisa é saltar em um precipício sem saber que é um precipício, sem saber o que te espera ao fim da queda. Outra muito diferente é saber-se saltando de um precipício, conhecendo o que te espera ao final, mas avaliando que o prazer do salto é maior do que a dor da queda.
Isso é uma opção consciente, uma escolha pessoal e não um salto no escuro.
Já disse isso a muita gente, conheça-se!
O diagnóstico de TDAH não é uma condenação, pelo contrário, é a chave de uma libertação, ou por outro lado, é a chave de um cadeado que abre a janela permitindo entrar o sol e a claridade que faltavam em nossas vidas.
Ritalina é importante, Concerta é importante, Venvanse é importante; coach é importante, psicóloga é importante. Mas encontrar-se, conhecer-se, explorar-se é fundamental; é uma viajem única, deliciosa, e absolutamente fundamental para o 'enquadramento' do TDAH.
Foi diagnosticado como TDAH? Está com fortíssimas suspeitas de ser um TDAH?
Não se desespere!
Não se deixe abater pelo TDAH! Levante a cabeça e enfrente, talvez essa seja a maior oportunidade que você terá em sua vida de assumir o controle da sua existência e mudá-la para sempre. No rumo que você desejar.
É ruim saber-se portador de uma doença?
É, mas não saber não te deixa imune a ela, pelo contrário, até então você lutava contra um inimigo escondido nas sombras da sua ignorância. O diagnóstico jogou luz sobre esse inimigo e você pode enfrentá-lo às claras, frente a frente.
Passe a pensar em todas as suas atitudes, sentimentos e reações.
Essa atitude é minha ou do TDAH? Dando a resposta agressiva que brota instantaneamente em sua menta você estará destruindo anos/meses de um relacionamento que deseja manter, ou é essa a resposta que merece ser dada?
Antes de explodir de ódio respire e pense quem está explodindo, você ou o TDAH?
Há meses, muitos meses, não tenho uma explosão de ódio. Daquelas de arrasar quarteirão.
Claro, não virei um santo ou um camarada perfeito, mas me policio. Os erros que cometo, cometo de forma consciente e pensada, se alguém tiver de arcar com as consequências serei eu, por pura opção.
Respire fundo, encha-se de coragem e siga em frente; a partir de agora você só tem a colher bons frutos de seu diagnóstico.
O TDAH é sério, é bravo, é sorrateiro, é ladino, mas você já está consciente de sua existência e sabe como ele age, enfrente-o, ele não é invencível; você sim.
O TDAH que nos derruba é o mesmo que nos dá força para nos reerguermos.
Use essa força a seu favor, você pode!

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O TDAH FELIZ








Eu tenho consciência da sombra, da dor, da morte, dos prejuízos causados pelo TDAH; mas sou feliz.
Instintivamente fazemos um balanço do ano e da vida no dia do nosso aniversário, pelo menos eu faço. E ano após ano esse balanço tem sido positivo, e esse ano não foi diferente
Muitos dirão: mas depois de tantos posts sofridos, tantas lamurias esse cara vem falar que ta tudo bem, que ele é feliz?
Pois é, aprendi que a felicidade é algo muito mais amplo do que os revezes ocasionados pelo TDAH. As tragédias pessoais, ou mesmo a consciência que tenho das mazelas de nosso cruel país ou do mundo não têm o poder de me infelicitar.
Muito se diz que não existe felicidade, mas momentos felizes; discordo, eu sou feliz no sentido amplo da palavra e da vida. Sou feliz por estar vivo e saudável, por ter minhas filhas, minhas irmãs e meus pais.
Não estou fazendo o jogo do contente, detesto esse tipo de comportamento, mas apenas expondo minha maneira de sentir minha vida. Gosto de pensar na vida como uma grande jornada; e o prazer da caminhada, o explorar novos caminhos, o descortinar de novas paisagens é muito mais prazeroso e importante do que as quedas, as topadas, as câimbras, ou seja lá o que tive de enfrentar nessa caminhada. Ser TDAH não aumentou ou diminuiu minha sensação de felicidade; assim como me dificultou em muitos momentos, me proporcionou prazeres intensos em outros.
O TDAH dificultou-me a vida, mas não inviabilizou-a.
Como eu seria sem o TDAH? Jamais saberei. Pior ou melhor? Nunca poderei julgar isentamente.
Pra que me entregar a essa doença?
Vivi 50 anos com TDAH e sem diagnóstico, quantos mais viverei com o diagnóstico e a consciência de que posso ser uma pessoa melhor? Que posso fazer da minha jornada algo mais prazeroso e mais leve?
Ou por outro lado, que a consciência do TDAH possa melhorar minha convivência com as pessoas que amo?
Com ou sem TDAH os seres humanos falham, magoam e são magoados, claro que a doença potencializa nossas chances de erro, mas não posso vincular minha vida a isso.
Eu sou muito maior do que o TDAH; eu sou muito melhor do que os erros que cometi; eu sou muito mais do que as mágoas que causei.
Cheguei aos 53 anos de muita luta, e muitíssimo prazer; de muita dor e muitíssimo amor; de muita solidão e muitíssima convivência prazerosa. Com ou sem TDAH, cheguei aos 53 anos feliz!
E ninguém jamais vai me tirar isso!

sábado, 2 de novembro de 2013

O TDAH NÃO SOU EU






Não sou conformismo
Sou experimentação
Não sou estabilidade
Sou inquietação
Não sou aceitação
Sou revolução
Não sou lago
Sou arrebentação
Não sou fúria
Sou paixão
Não sou represa
Sou explosão
Não sou hermético
Sou exposição
Não sou descanso
Sou transformação
Não sou certeza
Sou indefinição
Não sou morte
Sou mutação
Não sou vida
Sou transição
Não sou artista
Sou criação
Não sou sabedoria
Sou interrogação
Não sou coletivo
Sou solidão
Não sou TDAH
Sou libertação