segunda-feira, 27 de agosto de 2018

TDAH, VOCÊ DORME?








Basta que se apague a luz e encoste a cabeça no travesseiro para a enxurrada de pensamentos desabar sobre nossas mentes. Ao contrário do que se pode imaginar, não são pensamentos em sequência lógica ou que, pelo menos, tenha um fio condutor; nada disso, na maioria das vezes trata-se de uma sucessão de imagens e ideias em alta velocidade, completamente sem sentido e desconexas. Mas na maioria dos casos todos esses pensamentos tem uma coisa em comum: um viés negativo.
Problemas que jamais ocorrerão, problemas com baixíssima probabilidade de ocorrer, problemas reais, tudo se mistura no silencioso escuro da noite. Todos estes problemas ganham dimensões gigantescas e surgem e desaparecem com tamanha rapidez que não dá tempo de pensar ou elaborar uma solução. Ficam apenas o medo, a apreensão, a ansiedade...
E o sono desaparece.
E começa a surgir o receio do momento do sono. O receio daquele momento de estar absolutamente sozinho, à mercê de uma catarata mental descontrolada e incontrolável. E cria-se uma enorme ansiedade pré sono, que tira o sono. Empurra o momento de deitar para cada vez mais tarde. Tornando o que seria prazeroso num momento de ansiedade, de pânico.
O tratamento à base de Ritalina, Concerta ou Venvanse deveria resolver esse problema, ou amenizá-lo. Mas sabemos que nem todos reagem da mesma maneira aos medicamentos. A Ritalina reduz sensivelmente meus pensamentos; o Venvanse não.
Se o medicamento não funciona, o que fazer?
Vença os pensamentos velozes, domine-os, torne-os prazerosos!
Claro que tudo nessa vida exige alguma disciplina e hábito, mas essa atitude é tão típica do TDAH que acaba se tornado fácil de fazer. Desde que se lembre de fazê-la. Claro, para quem não TDAH pode parecer estranho: como alguém pode esquecer algo tão simples que pode ajuda-lo? Sim, o TDAH esquece! Faz durante uma semana, um mês, religiosamente; depois salta uns dias, salta uma semana, saltam-se algumas semanas... Caiu no limbo!
Voltemos: qual é a estratégia? Pense num assunto que você goste. Qualquer assunto: maquiagem, futebol, saúde, decoração, aventura, videogame, vontade de ganhar na megasena... Qualquer assunto que te dê prazer.
E o que fazer com isso? Ao deitar-se, pense naquilo que goste ou deseje; e tente vivenciá-lo com riqueza de detalhes.
Exemplo: Seu sonho é ganhar na mega da virada. Imagine o ato de conferir o bilhete; será um momento solitário ou junto com alguém? Será à noite, ou durante o dia? Você sairá pulando e gritando, ou ficará chorando de alegria em silêncio pra que ninguém saiba? Em qual agência da Caixa você receberia o prêmio, perto de casa ou em outro bairro ou cidade pra que ninguém desconfie? Recebida a grana, o que fazer com ela? Ajudara família? Ajudar os amigos? Criar uma ONG para ajudar os mais necessitados? Ajudar seu time do coração? Ajudar... Neste momento você já deverá estar dormindo...
Claro, nos primeiros exercícios sua linha de raciocínio será cortada por pensamentos velozes e desconexos, mas retome o fio da meada; o próprio prazer da imaginação ajudará nessa retomada. Quanto mais detalhes conseguir adicionar, mais prazeroso fica e mais relaxada sua mente vai ficando, até adormecer. Mas foque naquilo de seu maior interesse. Se seu sonho é poder ajudar à família, pense nos detalhes, na alegria que ficarão ao saber da notícia; na casa maravilhosa que dará aos pais, no tempo que terá disponível para viajar com a família ou custear a faculdade do irmão.
O importante é direcionar o pensamento para algo positivo, leve e agradável. Quebrar a sequência de pensamentos rápidos e desconexos. Com o tempo você ficará craque e poderá pensar nisso ao dirigir ou retomar a narrativa na noite seguinte ao deitar-se.
Parece bobo, infantil e simplista. E é! Mas nem tudo que funciona na vida precisa ser complexo e genial. Às vezes, basta substituir a dor pelo sonho, a ansiedade pelo prazer, o medo pela fantasia, que o sono vem.
Tente!
Boa noite!

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

O TDAH E A SÍNDROME DO AVESTRUZ








Depois do milionésimo erro por desatenção, inocência ou negligência, a pessoa começa a acreditar que quem está certo é o avestruz: a qualquer ameaça enfia a cabeça na areia para não ver as consequências...
É isto; a maior recorrência na vida de um portador de TDAH são as recorrências; a infinita repetição de erros, muitas vezes tolos mas de consequências sérias.
E aí a pessoa começa a se questionar quanto a tudo; à vida, aos tratamentos, aos medicamentos, à sua própria escolha de vida...
Não há remédio que cure este mal. Talvez uma longa terapia; talvez. O que é mais complicado para um TDAH diagnosticado já adulto é o combate ao enorme acúmulo de erros e vícios construídos ao longo da vida. O quadro é mais ou menos o seguinte: ao longo de sua trajetória de vida, o portador de TDAH foi colhendo amargos e espinhosos frutos de seus erros. Claro que estes erros geraram estratégias para combatê-los, mas também originaram vários comportamentos defensivos para escondê-los ou para camuflar falhas de comportamento facilmente reconhecidas por terceiros. Muitas destas estratégias são, na verdade, maquiagem. Se fossem estratégias definitivas ninguém sofreria as consequências de ser TDAH, ou pelo menos os erros não se repetiriam.
A segurança que a pessoa passa é falsa; o foco que ela parece ter, é só aparência; a tranquilidade do semblante esconde uma mente em absoluta convulsão; o sorriso esconde a dor constante. Mas no âmago, o TDAH ainda domina. E nos momentos cruciais. Naquela hora de discutir salário para o futuro emprego, a sombra da insegurança paira e a pessoa pede menos. No momento de uma negociação financeira o sentimento de inferioridade cresce e o portador engole condições desfavoráveis. A isto soma-se que a pessoa não leu direito; não prestou a devida atenção ao que diziam; disse o que não deveria no momento menos propício.
Que vontade enorme de enfiar a cabeça na areia e não ver as consequências do mais novo erro. Ou o que é muito pior, as consequências da repetição dos erros de sempre. Consequências que costumam se agravar com o tempo.
E como é difícil conviver com esta infinita vontade de sumir, de abandonar tudo e ficar quietinho num canto até que a vida se extinga, ou se esqueça de você.
O maior sonho de todo os portadores é um dia acordar e estar num local diferente, onde ninguém o reconheça, ninguém lhe aponte os erros ou lhe reconheçam como o lesado, avoado, irresponsável, inconsequente, preguiçoso, impulsivo, distraído, falastrão, complicado... E tantos outros 'carinhosos' adjetivos que são dirigidos aos TDAHs ao longo da vida.
Mas a vida real não para, antes que a pessoa se levante da última queda as novas cobranças já lhe bombardeiam o lombo. Há que se viver! Há que se conquistar! Há que se vencer! E lá se vai o portador de TDAH, ainda trôpego pela última pancada, zonzo e com o amargo sabor da derrota na boca e sem tempo de entender o que aconteceu.
A vida urge! A vida cobra! A vida é agora!
Definitivamente, o TDAH não é para este mundo!