domingo, 21 de dezembro de 2014

TDAH EM EBULIÇÃO







Já perdi a conta de quantas vezes assisti ao filme 'O Senhor dos Anéis'. Gosto tanto que me dei um box com os três filmes de presente num natal desses atrás. Volta e meia assisto novamente.
Ontem assisti aos dois primeiros filmes. E sempre descubro novidades - afinal são nove horas de filme e um bom TDAH não se mantém atento por tantas horas - e ontem não foi diferente.
Num diálogo entre Éowyn e Aragorn em que ela afirma não temer a dor e a morte, ele a questiona sobre o que teme:
- Uma gaiola - responde Éowyn
- Ficar atrás de grades até que o hábito e a velhice as aceitem. E a oportunidade de grandes feitos esteja além da lembrança e desejo.          
Um pérola do TDAH!
Mas sou assim, e odeio pensar em me conformar.
Sou uma metamorfose ambulante, e essa metamorfose me construiu.
Construiu uma personalidade complexa, mas riquíssima.
Uma vida recheada de dores, mas transbordante de emoções, prazeres e vivências.
Uma personalidade auto destrutiva, mas com um poder de renascimento infinito e cada vez mais forte.
Uma personalidade inquieta, mas inconformada. E essa talvez seja - na minha opinião - a melhor faceta do TDAH.
Explorei quase todas as possibilidades de uma vida. Já me meti em quase tudo, e não falo aqui de esportes radicais. Falo de vidas radicais.
Você se atira de bungee jump? Eu me atiro de empregos estáveis; mudo de cidade, de estado, mudo de emprego, mudo...
Irresponsabilidade?
Pode ser, mas afinal; o que é viver?
Acumular dinheiro?
Ou acumular experiências e sensações?
Ter uma velhice tranquila e estável, enquanto aguarda placidamente a morte?
Ou deixar que a morte me leve em meio à luta, ao desbravamento, ao descobrimento?
Já disse aqui que invejo as vidas tranquilas e lineares.
Só que não. Isso dura pouco. Minha alma inconformada, meu cérebro TDAH inquieto me impelem a arriscar, a sair do marasmo, da mediocridade, da linearidade.
Minha boca sente falta do sabor do desconhecido...
Minha alma anseia pelo temor do risco...
A sensação do novo, do imponderável, do inesperado...
Gaiolas jamais...
Anseio por novos ares... Novos mares...Novos lugares...
Vocês estão vendo um TDAH em plena efervescência, um TDAH sendo arrebatado por sua doença, refém dos seus piores sentimentos.
Cabe a mim domá-lo; devolver à minha mente a quietude e a tranquilidade que requer a vida de um senhor de 54 anos. Não sou mais um jovem adolescente que pode se dar ao luxo de chutar tudo pro alto e sair por aí.
Chega de ser refém dessa doença.
Minha aposentadoria está próxima. Pouquíssimos anos...
Posso esperá-la e depois vejo o que faço da minha vida...
Mas não!
Eu quero viver! E viver é risco!
Abraçado ao meu TDAH me atiro em mais um penhasco!
Dores sei que terei; mas já as tenho hoje, em plena imobilidade.
Arrependimento? Pode ser que um dia... Mas já tenho tantos outros pelos mais diversos motivos...
Mas e a descoberta? E a possibilidade?
Viver é isso, encarar as possibilidades.
Se existir uma única possibilidade, eu e meu TDAH estaremos aí.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O TDAH PARA O NOVO ANO





Sabe o que eu quero pra 2015?
Ser eu mesmo!
Com TDAH e tudo!
Quero dar de cara comigo em primeiro de janeiro próximo, e prometo não me deixar escapar.
Olharei em meus olhos e reconhecerei meus sonhos adiados ou abandonados. Verei em seu brilho as grandes coisas com que sonhei e permiti que a realidade as enterrasse vivas. Mas não permitirei que morram sufocadas. Sonhos são para serem perseguidos a vida inteira. A realidade não tem o direito de matá-los. 
Certamente o velho eu abraçará aquele que chega, mas em silêncio. O velho Alexandre não poderá contaminar o novo com sua dor, suas decepções e frustrações. Já basta o olhar sofrido e apagado com que fitará o recém chegado. Não! Não permitirei que fale, mas no abraço, aquele velho que parte levará no peito o calor da empolgação do novo eu. Seu calor cicatrizará feridas que ganhei ao longo desse penoso e interminável 2014. O velho eu caminhará sem sorrisos para o paraíso dos anos esquecidos; ou de triste lembrança. 
Mas o que muda com a simples mudança de um dia para o outro?
Nada!
Mas muda tudo!
Misteriosamente, inexplicavelmente nosso peito enche-se de esperança de mudanças e conquistas. Almejamos, sonhamos, planejamos, novas conquistas, novas atitudes, novos ganhos.
Eu não quero nada novo. Quero recuperar sonhos que permiti que a realidade esmagasse. Quero as cores da minha vida apagadas pelas dores desse ano insensível. Quero poder encarar a mim mesmo e me reconhecer.
Isso implica ser mais ou menos TDAH? Não, mas implica permitir que minha natureza TDAH seja mais respeitada, mais aceita, mais valorizada. Não falo aqui em abandonar tratamento ou mudar meu foco. Absolutamente... Apenas quero saltar da engrenagem que me esmaga e me pasteuriza. 
Continuarei meu tratamento, mas respeitarei mais minha natureza. Perseguirei incessantemente esse objetivo: deixar de ser aplainado; robotizado; esmagado; uniformizado.
Tenho de me reencontrar sob pena de perenizar a melancolia que paira sobre mim a algum tempo.
É isso!
Prometo ser eu em 2015!
Esquecido, sim; mas lembrando do que me é caro. Procrastinador, sim; mas não adiando minhas crenças, meus sonhos, minha vida. Sem completar projetos, sim; mas apenas aqueles não verdadeiros, aqueles sonhados por outrem pra minha vida. Falta de foco, sim; deixarei de focar no que me infelicita, ainda que escondido sob a capa de segurança ou recompensa futura. Alterações de humor, sim; mas de alegre para feliz; de triste para feliz; momentos tristes sempre existirão, mas ano triste nunca mais. Dificuldade de rotina, sim; mas dessa rotina massacrante da vida hodierna. Impulsividade, sim; muita impulsividade pra atirar pra bem longe as amarras da camisa de força da pseudo estabilidade. Pseudo estabilidade cujo preço é a alma cinza; cinza chumbo.
2015 surge como o sol que rompe dias de nuvens pesadas como chumbo; a noite que enfim começa a ser derrotada pelo amanhecer...
Seja bem vindo, ano novo! Te recebo de alma aberta!


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O TDAH NÃO É PARA ESSE MUNDO






Os portadores de TDAH seriam diferentes num mundo diferente?
Os críticos do TDAH alegam - entre outras idiotices - que está havendo um excesso de diagnósticos, uma explosão de receituários de Ritalina, blá, blá, blá...
Essa tal 'explosão' não seria um mero reflexo do 'novo' mundo em que vivemos?
Sou péssimo sob pressão, nem um pouco competitivo e me descontrolo facilmente se preciso agir e pensar muito rapidamente...
E esse é o mundo de hoje; alta pressão, alta velocidade e altíssima competitividade.
Não é de se estranhar que os diagnósticos de TDAH tenham aumentado tanto. Uma doença que compromete a memória, o foco, dificulta o cumprimento de metas, a conclusão de cursos, a estabilidade dos relacionamentos, é absolutamente inadequada - quase incapacitante mesmo - numa época onde essas características são altamente exigidas e valorizadas,
Não basta ser formado, é preciso ter mestrado, especialização e ser fluente em, pelo menos, um idioma. Abandonei duas faculdades, me matriculei e abandonei  sei lá quantos cursos de inglês. E um de italiano que nem fui na primeira aula. Mas paguei a matrícula e uma mensalidade.  Ao bom profissional ainda é recomendado fazer uma atividade física, relacionar-se bem ( o tal de networking), bombar no Facebook (sim, isso também é considerado nas entrevista de emprego hoje em dia) e ser pró ativo, trabalhar bem em equipe. Todas,  características que não possuo. Odeio atividade física, sou muiiiiito preguiçoso; tenho tendência a ermitão, odeio networking; enchi o saco de Facebook e sou péssimo pra trabalhar em equipe. Pró ativo eu sou nos primeiros quinze dias, depois começo a procrastinar e tudo vai por água abaixo.
Num mundo mais light, minhas características típicas da doença seriam bem toleradas ou nem percebidas.
Como disfarçar a procrastinação num mundo onde tudo é pra ontem?
Como ser 'desmemoriado' num mundo onde devemos fazer mais a cada dia? Mais no trabalho, mais em casa ( como cônjuge e como pai/mãe), até como amigo temos que ser melhores, mais ativos, mais presentes. Como lembrar-se de aniversários, mimos, compras, compromissos... Aja Ritalina!
Os detratores do TDAH desconsideram tudo isso; o importante é nos agredir.
Mas a verdade, é que sem pressão a criatividade floresce mais facilmente. Esse blog, por exemplo, minha exigência de trabalho aumentou muito e acabei sacrificando os posts aqui nesse espaço. Até penso em escrever novos posts, mas me dá uma preguiçaaaaaaa....
Esse post que estou escrevendo, comecei ontem, e só surgiu por sugestão do Gabriel Valandro que comentou sobre o assunto no último post.
Acho que não somos dessa época. Somos de um tempo mais lento, mais tranquilo e mais humano. Um tempo onde o ser humano  era mais importante do que as empresas e a economia servia ao ser humano, e não o contrário.
A um enorme custo, vamos tentando nos adaptar a essa época de pressões descabidas. Ganhamos umas, perdemos outras; mas perdemos todos a possibilidade de sermos mais úteis ao nosso mundo, às pessoas e, principalmente, de levarmos uma vida mais plena e feliz.