sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

AFOGANDO-SE EM TDAH





Afogamento; creio ser essa a melhor figura de linguagem para descrever aqueles momentos em que, mesmo sob tratamento, afogamo-nos no TDAH.
De repente, a vida que caminhava bem, desanda; a memória falha de tal maneira que nos esquecemos, até mesmo, de tomar os remédios. Todo aquele esforço que fizemos para esconder a desatenção cai por terra após uma desastrosa sequência de falhas infantis.
A velha concatenação de fatos ressurge com toda a sua força: falhas de memória, queda de produtividade, desânimo, desespero, e a vida afunda no TDAH.
Enquanto a vida submerge nas velhas estruturas do TDAH,tentamos desesperadamente nadar de volta à superfície.
O desespero é um péssimo companheiro; parece que quanto mais lutamos, mais submergimos.
Ao redor, o oceano infinito das derrotas conhecidas e experimentadas. E o silêncio! O silêncio que precede à morte. A enésima morte em vida.
A derrota parece inexorável; crônica de uma morte anunciada, porém, inevitável!
E de repente, uma pequena nesga de luz abre-se naquele oceano cinza, escuro, quase negro. Uma réstia de luz é o bastante para nos iluminar a mente, a memória, o passado. E reconhecemos nossos velhos sabotadores, nossos inimigos internos que não esmorecem jamais.
Reconhecermos nossos sabotadores aumenta nossa confiança. E então, instintivamente, esticamos nossas pernas, alongamos todo nosso corpo e, com enorme surpresa, sentimos nossos pés tocarem o solo.
Erguemo-nos, para descobrir que afogávamos em águas rasas, sobejamente conhecidas. Uma súbita coragem toma conta de nossa alma. Revitalizamos nossas estratégias de luta, respiramos fundo e sobrevivemos, de novo, ao velho golpe do TDAH; aquele de sabida eficiência e nefastas consequências, que compreende injetar desânimo, torpor e derrota em mentes já tão enfraquecidas por tantas lutas e tantos revezes.
Mas agora que reconhecemos as encarquilhadas estratégias de nosso inimigo, até caímos, mas temos força e discernimento para reconhecermos sua ação e evitarmos a vergonhosa morte por afogamento em uma xícara de café.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O TDAH E OS ACIDENTES DE TRÂNSITO












Acabei de ler no UOL, os resultados de uma pesquisa que relaciona o portador de TDAH sob tratamento e a redução dos acidentes de trânsito.
Um estudo publicado na revista científica JOURNAL OF THE AMERICAN MEDICAL ASSOCIATION PSYCHIATRY, realizado com 17000 ( dezessete mil ) pessoas entre os anos de 2006 e 2009 constatou que o HOMEM portador de TDAH quando medicado com os remédios indicados para o tratamento do transtorno, se envolve 41% menos em acidentes de trânsito do que aqueles portadores não tratados.
Esse estudo financiado pelo CONSELHO SUECO DE PESQUISA e pelo INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE INFANTIL E DESENVOLVIMENTO HUMANO DOS ESTADOS UNIDOS (NICHD) traz questões importantíssimas sobre o TDAH, que vão muitíssimo além da questão do trânsito, foco do estudo.
Em primeiro lugar, mostra o quão nós brasileiros somos atrasados, também, na questão do TDAH. Enquanto chovem comentários, perguntas e insinuações - nesse blog - sobre a não existência do TDAH, no exterior órgãos cientificamente importantes estão pesquisando as consequências da doença na vida prática das pessoas e da sociedade em geral; afinal, os acidentes de trânsito causados pela falta da medicação adequada não afetam apenas nós, os portadores de TDAH, mas a toda a sociedade que nos cerca. Ou seja, uma pesquisa de saúde pública.
Em segundo lugar, mostra que os cientistas também já não discutem, como aqui, se a Ritalina, ou os outros medicamentos específicos para TDAH  causam dependência, ou são manipulações maquiavélicas das corporações multinacionais; não, isso já foi superado. O que se estuda hoje em dia são os benefícios que o tratamento correto traz para as pessoas.
Muito mais do que o resultado da pesquisa em si, no meu caso, no caso do nosso blog, o que mais me chamou a atenção foram as questões acima. O blog tem sido invadido por pessoas inescrupulosas ou ignorantes, que tentam desmoralizar o TDAH, a psiquiatria e os tratamentos para TDAH. Postam links para vídeos primários, toscos e infantis, que tentam descaracterizar não só o TDAH mas como todas as doenças mentais, como se fossem apenas pessoas 'diferentes' e que podem ser tratadas de outra forma que não através de medicamentos. Outros, coitados, tentam nos convencer, e a si próprios, de que o TDAH é uma benção, um benefício para o portador, uma vez que 'pensamos fora da caixa', somos criativos, e seríamos os inovadores da humanidade.
A já comprovada tendência ao alcolismo, ao uso de drogas, e agora aos acidentes de trânsito, prova que essa afirmativa é uma balela, 'conversa pra boi dormir'.
O TDAH é uma doença sim; comprovada cientificamente sim; que necessita ser tratada com medicamentos sim; e que causa prejuízos materiais, físicos e emocionais aos seus portadores sim. O resto ou é ignorância ou má intenção. Mas em ambos os casos, são criaturas perniciosas e, provavelmente, desequilibradas mentalmente.
Voltando ao estudo propriamente dito: " Embora muitas pessoas com TDAH estejam bem, nossos resultados indicam que o transtorno pode trazer consequências muito graves", disse Henrik Larsson, do Instituto Karolinska da Suécia.
A pesquisa concluiu que os homens com TDAH são 45% mais propensos a sofrer acidentes de trânsito, devido à falta de atenção e à impulsividade, em comparação com os homens que não sofrem desse transtorno.
Uma curiosidade desse estudo, é que não foi constatada nenhuma relação sobre as mulheres, os acidentes de trânsito e o TDAH. Interessante,não?
Aí está.
A publicação desse estudo, que me foi passado pela Ana, foi uma enorme injeção de ânimo no combate a esses infelizes que andam enchendo o saco, nesse blog, com aqueles linkizinhos idiotas sobre a não existência do TDAH. Ao ponto do meu amigo Walter Nascimento me oferecer os serviços de sua secretária particular ( e pelo que pude entender, uma santa que o acompanha a anos) para apagar esses links ridículos que atrapalham nosso blog. Aliás, Walter, ainda nem lhe agradeci. Obrigado!
Claro, que aqueles que postam esses videozinhos vão dizer que o estudo é financiado pelo grande capital, blá, blá, blá, mas a gente sabe que isso é tão verdadeiro quanto Papai Noel e Saci Pererê. Além de não ser tão simpático quanto essas criaturas lendárias.

link do texto:
http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/afp/2014/01/30/medicacao-para-deficit-de-atencao-pode-salvar-vidas-no-transito.htm

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O QUE É SER TDAH?








É ser luta.
Derrota ou vitória, jamais entregar-se.
É ser dor.
Ainda que na alma, jamais entregar-se.
É ser intenso.
Ainda que esgotem-se as forças, jamais entregar-se.
É ser mutante.
Ainda que fechem-se os caminhos, jamais entregar-se.
É ser queda.
Ainda que pareça definitiva, jamais entregar-se.
É ser paixão.
Ainda que queime, jamais entregar-se.
É ser fogo.
Ainda que consuma, jamais entregar-se.
É ser gelo.
Ainda que quebre, jamais entregar-se.
Enfim, TDAH é isso.
Um caleidoscópio de emoções.
Um sem número de vidas em uma única vida.
E jamais entregar-se.

sábado, 11 de janeiro de 2014

TDAH EM MUDANÇA CONSTANTE




Magalhães Pinto disse certa vez que a política é como a nuvem, a cada vez que você a olha ela está de um jeito.
Eu sou como as nuvens. Lindo isso né...
Já fui comunista, capitalista, ateu, empresário, comerciário, bancário...
Já sofri por muito pouco, já fiz sofrer; mesmo quando não tinha intenção de fazê-lo. Já amei e odiei a humanidade.
Sonhei com meu consultório médico; sonhei com meu escritório de advocacia; sonhei com minhas turmas de alunos de história e filosofia. Mas não ficou só nisso; sonhei com uma mega livraria; sonhei com uma rede de lojas de tintas; sonhei com uma vida de andarilho pelo mundo afora. Eu e meu sax!
Alguns desses sonhos conquistei; outros, estive muito próximo e atirei fora. Mas acima de tudo, jamais me entreguei.
Comecei uma nova profissão aos cinquenta anos, uma que jamais imaginei exercer - e me apaixonei -mas tive de interrompê-la contra minha vontade; mas por minha culpa.
Não me assusto mais se acordo uma nova pessoa a cada manhã, e ao dormir, já posso ser diferente daquela que acordou. Esse sou eu!
Uma amiga me disse que essa característica tem um lado positivo; adapto-me a tudo. Mas a realidade é diferente, não sou assim por falta de opção ou por necessidade; sou assim fruto das minhas atitudes. Atos impulsivos e impensados que me levaram à adaptar-me às novas necessidades.
A maioria dessas atitudes foram momentos de arroubo, explosões ou uma súbita e inexplicável vontade de virar a mesa. Sem pensar nas consequências dessa virada.
Sou um péssimo jogador de xadrez, de buraco, de pôquer e de vida.
Não consigo jogar friamente, me inflamo, me exalto, me excito e me deprimo. E sonho, e vibro, e luto, e vou...
Nunca saltei de bungee jump; nunca voei de asa delta; nem esquiei ou fiz rafting. Jamais arrisquei minha vida física.
Mas minha vida emocional, essa sempre andou no fio da navalha. Minha vida financeira, uma montanha russa. Minha vida profissional, uma corrida de moto de olhos vendados.
Bom? Ruim? Não sei. Jamais saberei. Não vivi outras vidas para comparar. Já invejei outras vidas, hoje não mais. Essa é a vida que me coube. E é ela que luto para transformar na melhor vida possível.