quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
O TDAH E A TRAGÉDIA QUE LIBERTA
Todo TDAH sonha com soluções mágicas pra vida.
Mas não sonhos comuns como ganhar na mega Sena ou encontrar um pote de ouro no fim do arco-íris.
Não, esse tipo de sonho soluciona a questão financeira, mas não desaparece com a angústia que nos aperta o coração; não aquieta a mente desvairada que salta de um assunto a outro, de um desejo a outro até quase o esgotamento; ganhar dinheiro não apaga o nosso sentimento de culpa ou elimina a absurda sensação de inadequação - um sentimento de estar sempre na hora errada, no lugar errado e dizendo coisas inapropriadas.
Todos queremos ser ricos, ou pelo menos livres das aflições financeiras, mas isso não minimiza a impulsividade nefasta; a grana por si só não é capaz de equilibrar nosso humor instável; muito menos apaziguar os constantes sobressaltos que sofremos ao menor ruído.
Como a Mega Sena poderá restaurar nossas memórias claudicantes? Talvez o dinheiro até multiplique os projetos abandonados...
Não! Nossos sonhos mágicos são mais dramáticos, mais impactantes, mais definitivos.
Algo que mude nossas vidas, mas que também mude a percepção que têm de nós; mais que a percepção, a expectativa que têm de nós e suas subsequentes cobranças.
Uma tragédia! Uma enorme tragédia que nos transforme em vítimas do acaso; vítimas de uma natureza inclemente ou de humanos desumanos que só valorizam o dinheiro, ambos ignorando os inocentes ao alcance de sua maldade.
Quem de nós jamais sonhou com a calamidade libertadora? Não que nos liberte da vida, mas da responsabilidade de viver; de cumprir expectativas; de atingir objetivos que nunca foram nossos, mas impostos pela família, pela sociedade, pela mídia...
A calamidade que ruísse definitivamente com a necessidade de ser alguém e nos desse o salvo conduto para sermos apenas nós mesmos, imersos em nossos devaneios, caminhando sem rumo pelos intrincados atalhos de nossas mentes onde podemos ser de conquistadores e desbravadores invencíveis a sonhadores inocentes vivendo sem peso e sem amanhã. Nem ontem.
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
O TDAH E BENTO RODRIGUES
TDAH é uma mistura de milagre com desastre.
O milagre do renascimento.
O milagre da superação.
O milagre da volta por cima.
O milagre prenhe do desastre!
No silêncio do amanhã repousa pacientemente o próximo desastre.
Não tem remédio; não tem terapia; não tem tratamento.
O desastre virá!
Mas virá mesmo?
Não é possível impedi-lo?
Claro, sempre é possível. Mas é preciso percorrer um longo e árduo caminho. É preciso aprender a enxerga-lo; antevê-lo; entendê-lo.
Precisamos levantar o véu do presente imediato e vislumbrar as consequências futuras.
Talvez não vejamos o próximo desastre com a devida gravidade, por que confiamos excessivamente de que o milagre da recuperação virá.
Mas e se um dia ele não vier?
E se o desastre atingir proporções Mariânicas? Aquele tipo de desastre que inicia arrasando uma pequena vila e vai agigantando-se até contaminar o oceano, deixar um rio à beira da morte e populações inteiras sem água e sustento! E tudo por negligência! Tudo por negar-se a enxergar o óbvio! Tudo por não se importar com os vários sinais de que a tragédia se avizinha.
O desastre de Bento Rodrigues é uma alegoria TDAH. Assim agimos. Assim negligenciamos nosso futuro confiantes na solidez de uma barragem que se esboroa a olhos vistos.
E aí o TDAH mostra toda a sua crueldade; por mais que as situações se repitam, que os sinais sejam os mesmos de desastres já vividos anteriormente somos incapazes de reconhece-los. As trincas escandalosas na estrutura da barragem não são o bastante para nos alertar do tsunami de lama que virá. E então ele vem.
E quando a barragem se rompe já não podemos fazer mais nada. Atônitos observamos a destruição de vidas que estão em nosso alcance, e as funestas consequências das tragédias tão amplamente anunciadas. Mas para nós TDAHs, o anúncio foi feito numa língua morta, obscura e indecifrável.
E aqui a tragédia verdadeira se distancia das nossas pessoais; somos vítimas e não algozes. Ainda que muitas vezes nosso comportamento possa ser parecido com o da Samarco.
E aí, tome culpa!
E tome arrependimento!
E tome humilhação!
E tome esquecimento!
E tome recuperação!
E tome milagre!
O milagre prenhe de desastre!
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
O TDAH PRECISA DE AJUDA
Parei de fumar em julho de 1998 após 24 anos de dependência absoluta do cigarro. Tentei parar inúmeras vezes, algumas delas com êxito de até uma semana. Mas sempre voltava. Só comecei parar de verdade quando reconheci que sozinho jamais iria conseguir. E esse reconhecimento foi a chave para o sucesso; procurei ajuda especializada e parei definitivamente.
Esse foi o caso da Ana Paula. Por meses ela lidou com esse trabalho de reorganização de sua vida profissional sem sucesso. Por várias vezes levantou pela manhã decidida a resolver tudo de uma vez por todas. Só que não! O desânimo se apoderava, a procrastinação tomava conta de sua mente e as horas passavam; os dias passavam; os meses passavam. Um dia caiu a ficha: sozinha jamais vou conseguir! E buscou ajuda especializada. A organizadora resolveu em poucos dias o que ela não conseguiu em meses. Preguiça? Desleixo? Desorganização? Não; TDAH!
Todas aquelas caixas acumuladas representavam uma vida de outros tempos, e Ana não sabia se queria ver. Sua mente a boicotava dando ares de desimportância ao conteúdo daquelas caixas empilhadas. Seu sentimento de inferioridade é tão grande que desvalorizou sua atuação profissional nos anos anteriores, tirando-lhe qualquer desejo de remexer em sua papelada. Pra que remexer em coisas tão pueris? Tão ínfimas? Tão sem valor?
E Ana chegou a cogitar abandonar sua profissão. Afinal, sempre se sentiu uma profissional mediana e de pouco valor.
Então chegou a organizadora; num tapa desmanchou aquela fortaleza de mediocridade e desnudou a vida passada de Ana. E foi um choque! Ana não se lembrava exatamente do conteúdo das caixas, e redescobriu uma vida que esquecera; que sua mente boicotara. Ali dentro estavam ótimos momentos de que ela nem se lembrava de ter vivido. Ali dentro ela se reencontrou com antigos trabalhos de excelentes resultados para si e seus clientes. Ali dentro, repousava uma Ana Paula que ela própria não se lembrava de ser.
Assim funciona o TDAH. Nossa mente, silenciosamente, cobre com um véu negro tudo aquilo que fizemos, aprendemos, vivenciamos, sentimos, de bom. A culpa, os erros, as falhas, essas não, essas permanecem vivas e pontiagudas a nos incomodar cotidianamente. O resultado disso é um medo eterno de enfrentarmos tudo. Afinal sempre nos depararemos com o nosso pior, seja no passado, seja no futuro, uma vez que jamais construiremos nada de bom.
Pense; você pode estar precisando de ajuda externa nesse momento. Reconheça! Somente os fortes tem o poder de reconhecer suas fraquezas e transforma-las em mais pontos fortes.
Depois de tudo pronto, Ana Paula está curtindo sua 'caverna', como ela nomeou. Um local de estudos, de trabalho, mas acima de tudo, um local onde a Ana Paula medrosa e inerte pode conviver com a Ana Paula competente e ativa que repousava nas caixas de papelão desde Fevereiro encoberta pelo pó do TDAH.
E ainda duvidam da existência dele...
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
EU AMO UM(A) TDAH
Ele é tão distante.
Ela é fria.
Ele não me escuta.
Do nada, ela explode.
O que posso fazer pra ajudar meu(minha) namorado(a) TDAH?
Esses são comentários e emails que recebo com frequência; essa semana foram três. e ainda estamos na quarta-feira.
Já falei sobre isso e, em geral, não alivio pro nosso lado.
Quando a pessoa chega a me escrever é por que o outro já tem o diagnóstico, mas na maioria das vezes não se trata; ou pior, não aceita a doença. E a pessoa que escreve quer desesperadamente ajuda-la. Muitas vezes sacrificando sua individualidade e seu amor próprio.
O que posso dizer?
Em primeiro lugar: Não se anule, não se sacrifique, não se escravize. Primeiro porque não vale a pena pra você, segundo porque TDAH detesta gente fraca e mendicante. Valorize-se.
Em segundo lugar, mas não menos importante: O doente precisa aceitar, entender e tratar do TDAH. Você não conseguirá ajudar a quem não quer ser ajudado. Se seu parceiro(a) foi diagnosticado e não quer tratar-se, desista. Você não faz milagres.
Não aceite chantagens: Ter TDAH não é salvo conduto para sairmos aprontando, agredindo e humilhando quem nos ama. Você, parceiro de um TDAH, não caia nessa. Seu parceiro(a) é um espertalhão.
Mas não vou ficar apenas malhando. Existem atitudes que você que convive com TDAH pode tomar para ajudar. Entenda que muitas vezes saímos do ar sem querer; noutras falamos o que não devemos; podemos ter variações súbitas de estado de espírito - saindo da mais profunda tristeza para a mais carnavalesca euforia sem motivo aparente. E a culpa não é sua. Estude sobre a doença, informe-se para não provocar brigas e discussões doloridas e inúteis. Quando seu TDAH amado disser que esqueceu; provavelmente esqueceu mesmo. Não adiamos decisões por canalhice; adiamos porque temos uma doença que nos paralisa em muitas situações. Se você conhece bem a doença saberá quando a doença age por ela (ou ele) e será muito mais difícil de ser enganada.
Fácil não é. Mas com quem será?
Gilberto Gil sabiamente canta:
Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu prá você...
Mas, se seu TDAH não quer se tratar, ou se você não der conta de conviver com impulsividade, procrastinação, desorganização mental e material, criatividade exacerbada, esquecimento exacerbado, amor exacerbado, carinho exacerbado, vida exacerbada; tem um monte de gente organizada, pacata, modorrenta, previsível, de poucas palavras, poucas carícias, pouca intensidade, pouca novidade.
Sempre haverá quem te ofereça tédio e mesmice em doses cavalares.
Mas não será um de nós!
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
TDAH: TEORIA E PRÁTICA
Obs. Achei esse desenho a cara da minha mente.
1) TEORIA - Anote. Faça uma lista de tudo o que precisa no dia; ou na semana; ou na viagem...
1) PRÁTICA- Você esquece de anotar. Ou pior; anota e esquece a lista em casa.
2) TEORIA - Grife todo o texto, faça anotações, faça observações que te ajudem a lembrar o que o texto quer dizer.
2) PRÁTICA - ????? Ao voltar ao texto alguns meses depois para revisão, você tem a impressão de que as observações foram escritas por marcianos.
3) TEORIA - Use uma agenda eletrônica, a do celular mesmo. Ela emite alertas, avisos que você pode reprogramar, etc.
3) PRÁTICA - Você adia indefinidamente os compromissos, fica de saco cheio daquela campainha inconveniente; ou pior, acostuma-se a ela e a desativa sem nem mesmo ler o que anotou.
4) TEORIA - Você organiza seu ambiente de trabalho e ama o resultado. Tudo fica mais fácil, mais leve, mais rápido. E você promete que não vai admitir aquela desorganização.
4) PRÁTICA - No fim da semana o caos voltou a reinar e você nem se deu conta. Só vai perceber quando desaparecer um documento importante, ou algo equivalente.
5) TEORIA - Você foi arrastado ao evento de um amigo. Achou que seria uma droga mas adorou! Voltou feliz da vida e prometendo não perder nada mais que te convidarem.
5) PRÁTICA - Você finge pela enésima vez que não viu a mensagem do Whatsapp, não atende ao telefone e passa a noite criando desculpas elaboradíssimas por ter ficado em casa assistindo TV.
6) TEORIA - Você vai apenas conferir se esse zapzap que chegou é importante. Um segundo apenas.
6) PRÁTICA - Você abre o Face, o Instagram, o Snapchat, o Linkedin, o Tinder, o email do Google, o email do Hotmail, e o email do blog pra ver se tem comentário novo... Dez minutos depois você fecha o celular e se lembra de que não conferiu o Whatsapp...
7) TEORIA - Você dormiu bem, está bem disposto, tomou seu remédio, um bom café da manhã e senta-se para estudar/trabalhar. Nada hoje pode interferir em seu bom desempenho. Descansado, alimentado e medicado, o que pode dar errado?
7) PRÁTICA - Tudo! Diante de suas tarefas sua mente escapa uma, duas, três vezes. Você a busca a cada vez. Decide levantar e tomar um café. Um ruído no cômodo ao lado chama sua atenção; você vai conferir... Pronto, seu dia acabou...
Você é assim! Eu sou assim! E vamos lutando... Não me apoquento mais. Apenas me corrijo e continuo. Pare de se lamentar e de se auto recriminar. Você sabe que tem a doença, você sabe como a doença se manifesta, se auto flagelar não ajudará em nada.
Claro, sei que falta combinar isso com os patrões, professores, juntas examinadoras dos concursos...
Mas aí, cabe a cada um de nós descobrirt as melhores maneiras de driblar o TDAH e seguir vivendo.
Aceito sugestões de como cada um de vocês enfrenta esses problemas.
Obs.: agradeço a colaboração involuntária da Ana Paula, do Marconi e do Walter.
domingo, 4 de outubro de 2015
TDAH ILUDIDO
Imagem do blog livros e afins
Já fui mais de uma vez criticado pelo tom pessimista de meus posts. Vários leitores querem que eu fale sobre as maravilhas de ser TDAH.
Preciso esclarecer que esse blog reflete o meu sentimento em relação ao TDAH. E eu DETESTO ser TDAH. Nao tenho nenhuma ilusão quanto às pseudo virtudes dos portadores. E sabem por quê? Tenho 55 anos e o TDAH não trouxe NENHUM benefício pra minha vida. NENHUM.
Essa semana mais um leitor veio com essa conversa. Ressalte a 'super inteligência do tdah, sua criatividade, sua capacidade de adaptação, sua resiliência...'
Primeiro: Não existe 'super inteligência ' no TDAH. Isso é mentira! Podemos ter inteligência acima da média, o que é muito diferente.
Segundo: Criatividade. Outra ilusão! De que vale tanta criatividade se abandonamos os projetos pela metade? Se em nossas cabeças brotam novas ideias a todo instante soterrando as velhas antes que elas dêem frutos?
Terceiro: Capacidade de adaptação e Resiliência. Até já fiz um post sobre isso. Sim, somos resilientes. Mas nossa resiliência vem de nossos próprios erros. Destroçamos e recuperamos nossas vidas várias vezes. Adaptamos e 'desadaptamos' com a mesma velocidade. Isso são virtudes que só servem pra consumo próprio. Até porque pra consumo externo os defeitos da doença superam em muito essas 'virtudes'. Imagine no trabalho: A péssima memória, a desorganização, a perda de foco, o desânimo que se abate ao menor dissabor, a perda de interesse pelos projetos ainda em andamento. Tudo isso supera essas pseudo virtudes.
Normalmente quem defende ou enaltece o TDAH são pessoas jovens, que ainda não experimentaram as derrotas impostas pela doença.
Enaltecer o TDAH é o mesmo que pedir a um diabético que se sinta feliz, afinal seu sangue é mais doce. Ou a um cardíaco alegando que seu coração é mais sensível.
Vamos parar com essa conversa mole. TDAH é doença, e doença nenhuma é boa ou tem seu lado bom.
O único lado bom do TDAH é pra quem não tem. Até pra quem convive com TDAHs é um saco. Somos inconstantes, esquecidos, desorganizados, não sabemos lidar com dinheiro, com emoções, com pessoas, com estudos...
Somos verdadeiros caos ambulantes.
Ao leitor Samuel, e a todos os que pensam da mesma maneira: Eu não me sinto bem com o TDAH, não gosto de ter TDAH e não vejo nenhuma utilidade em ficar fingindo que é bom ser doente.
Esse espaço é para dividirmos nossas lutas diárias e nossos sentimentos; e esses são os meus.
E peço que me respeitem.
Já fui mais de uma vez criticado pelo tom pessimista de meus posts. Vários leitores querem que eu fale sobre as maravilhas de ser TDAH.
Preciso esclarecer que esse blog reflete o meu sentimento em relação ao TDAH. E eu DETESTO ser TDAH. Nao tenho nenhuma ilusão quanto às pseudo virtudes dos portadores. E sabem por quê? Tenho 55 anos e o TDAH não trouxe NENHUM benefício pra minha vida. NENHUM.
Essa semana mais um leitor veio com essa conversa. Ressalte a 'super inteligência do tdah, sua criatividade, sua capacidade de adaptação, sua resiliência...'
Primeiro: Não existe 'super inteligência ' no TDAH. Isso é mentira! Podemos ter inteligência acima da média, o que é muito diferente.
Segundo: Criatividade. Outra ilusão! De que vale tanta criatividade se abandonamos os projetos pela metade? Se em nossas cabeças brotam novas ideias a todo instante soterrando as velhas antes que elas dêem frutos?
Terceiro: Capacidade de adaptação e Resiliência. Até já fiz um post sobre isso. Sim, somos resilientes. Mas nossa resiliência vem de nossos próprios erros. Destroçamos e recuperamos nossas vidas várias vezes. Adaptamos e 'desadaptamos' com a mesma velocidade. Isso são virtudes que só servem pra consumo próprio. Até porque pra consumo externo os defeitos da doença superam em muito essas 'virtudes'. Imagine no trabalho: A péssima memória, a desorganização, a perda de foco, o desânimo que se abate ao menor dissabor, a perda de interesse pelos projetos ainda em andamento. Tudo isso supera essas pseudo virtudes.
Normalmente quem defende ou enaltece o TDAH são pessoas jovens, que ainda não experimentaram as derrotas impostas pela doença.
Enaltecer o TDAH é o mesmo que pedir a um diabético que se sinta feliz, afinal seu sangue é mais doce. Ou a um cardíaco alegando que seu coração é mais sensível.
Vamos parar com essa conversa mole. TDAH é doença, e doença nenhuma é boa ou tem seu lado bom.
O único lado bom do TDAH é pra quem não tem. Até pra quem convive com TDAHs é um saco. Somos inconstantes, esquecidos, desorganizados, não sabemos lidar com dinheiro, com emoções, com pessoas, com estudos...
Somos verdadeiros caos ambulantes.
Ao leitor Samuel, e a todos os que pensam da mesma maneira: Eu não me sinto bem com o TDAH, não gosto de ter TDAH e não vejo nenhuma utilidade em ficar fingindo que é bom ser doente.
Esse espaço é para dividirmos nossas lutas diárias e nossos sentimentos; e esses são os meus.
E peço que me respeitem.
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
TDAH, NÃO EXISTEM RESPOSTAS
Resolvi voltar a esse assunto, que não é novo, mas que tortura a quase todos nós: A busca incessante por respostas, explicações...
Não existem respostas para o TDAH.
É uma doença. Uma doença biológica, física. E nenhum de nós pode fazer nada quanto a isso.
Não temos uma doença moral. Não é doença psicológica. Não é doença de caráter.
É doença do cérebro. Exatamente onde as ações, as reações, as atitudes e sentimentos são construídos.
Somos deficientes. Deficientes de um neurotransmissor. E se a ciência quase não avançou em uma solução para o TDAH nesses cem anos de conhecimento da doença, o que nós podemos fazer?
O tratamento mais eficiente contra a doença ainda é o auto conhecimento.
Conheça-se, conheça o TDAH e enfrente-o. Só isso podemos fazer.
O tratamento medicamentoso é limitado e restrito a alguns sintomas.
Não existe nenhum remédio que acabe com a impulsividade do TDAH. Assim como não existe medicamento que elimine a auto sabotagem. Tampouco existe um fármaco anti baixa auto estima.
O remédio é bom nos quesitos: Foco, atenção, disposição e memória.
O resto é com a gente...
Siga alguns passos ao descobrir-se TDAH:
1) Perdoe-se. Você não pode mudar o passado e o que você fez (ou acredita que fez) estava fortemente influenciado pelo TDAH.
2) Transforme-se num expert em TDAH. Ao conhece-lo profundamente, você saberá reconhecer quando suas atitudes estiverem contaminadas pela doença. E poderá mudar seu comportamento.
3) Saiba que mesmo sob tratamento você não será perfeito.Você é doente e o remédio é limitado.
4) Pare de se punir. Aceite sua realidade e tente transforma-la. Se não der, não deu. Nem sempre dará.
5) Não tente se enganar endeusando o TDAH. O fato de sermos criativos e inteligentes não supera os estragos que a doença faz em nossas vidas.
6) Não se esconda atrás da doença. Primeiro por que nem tudo o que fazemos é fruto do transtorno; segundo por que a maioria das pessoas desconhece a existência da doença e não acredita que você que é tão 'normal' (talvez só um pouco voadinho e inconsequente) possa ser portador de uma doença mental.
7) Livre-se de pessoas e situações que te fazem mal ou só aumentam seu sofrimento e seu sentimento de inferioridade. O TDAH já é um fardo pesado demais na sua vida.
No mais, perdoe-se. Você vai repetir os mesmos erros ao longo da vida. Vai falar o que não deve, fazer o que não deve, adiar o que não deve, comer o que não deve, beber o que não deve, fumar o que não deve.
Mas esses somos nós. Somos essa soma de idiossincrasias e não podemos negar ou ignorar que fomos construídos - em parte - pelo TDAH.
Não se entregue; não se renda; você acordará amanhã TDAH e nada pode fazer contra isso.
Mas pode, e deve, tentar fazer seu dia melhor.
Por isso trate-se, observe-se, cuide-se e, principalmente, ame-se.
E não procure respostas, elas não existem.
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
O TDAH E O DILEMA MORAL
Entre a necessidade de dinheiro e a honestidade existe um longo caminho; um caminho em que podemos seguir para o nosso lado - o lado da necessidade - ou ser ético e honesto seguindo para o lado do outro.
Pois bem, vivemos esse dilema - eu e minha esposa também TDAH - recentemente.
Entregamos uma casa em que morávamos de aluguel e cuja garantia não foi fiança e sim uma caução em dinheiro no valor de R$ 1.500,00.
Na hora do acerto final, sugerimos ao dono da imobiliária que descontasse o último aluguel da caução que tínhamos feito. Assim acordados, esperamos que fizessem a vistoria do imóvel e nos chamassem para o acerto.
Depois de duas semanas de espera, fomos chamados para o tal acerto numa sexta-feira ao final da tarde. Diante da responsável pelo departamento financeiro começou nosso dilema: Por uma falha pessoal dela, a imobiliária não dispunha de dinheiro em espécie naquele momento e, do total que tínhamos direito - R$ 1.478,00 - eles dispunham apenas de R$ 500,00 em espécie.
Nos entreolhamos quando a moça nos disse o valor e calamos, deixando o acerto para a segunda-feira quando receberíamos o total em dinheiro.
Passamos o fim de semana discutindo o que fazer; a imobiliária não havia descontado o último aluguel conforme combinado. Mesmo com o rendimento de dois anos da poupança, imaginávamos receber no máximo R$ 1.000,00 e não o valor quase integral.
Íamos da desonestidade absoluta - ficar com o dinheiro todo e foda-se a imobiliária - à honestidade absoluta de chegar e falar: olha combinamos de descontar o aluguel e vocês não o fizeram...
A segunda-feira chegou e decidimos não fazer nada (nada mais TDAH), simplesmente aguardar o que a imobiliária tinha a dizer e mostrar.
Graças a Deus fizemos a sábia opção pelo silêncio.
Chegamos ansiosos à imobiliária e a moça do financeiro nos aguardava com toda a papelada e o dinheiro já separado. Nos entregou o recibo de R$ 1.478,00 onde estavam discriminados os rendimentos e descontos feitos pela empresa. No alto, em negrito e letras garrafais o valor do depósito inicial: R$ 1.758,00; depois disso vinham os dois anos de rendimento e lá estava ele; o desconto do aluguel vencido.
Começamos a sorrir aliviados e ao mesmo tempo constrangidos. Simplesmente não sabíamos quanto havíamos depositado. E pior, não tínhamos nenhum recibo, nenhum comprovante, nem mesmo o contrato de locação onde estava discriminado o valor da caução nós encontramos em nossa casa.
Embolsamos a graninha inesperada e saímos dali alegres, felizes e satisfeitos.
Ou não.
À parte a felicidade do dinheiro recebido sem culpa, a constatação de que o TDAH é maior e mais forte do que qualquer medicamento foi o resultado do episódio. A Ritalina, ou seus equivalentes e concorrentes, fazem um efeito parcial e momentâneo; não criam novos hábitos
Essa parte é nossa e é muito difícil de implementar. Em algum momento eu deixei pra Ana guardar e ela deixou pra mim. Ninguém sabe o que aconteceu.
Consigo me organizar em muitas coisas, criei bons hábitos no trabalho, mas no todo, em todas as áreas da vida não tem jeito.
O TDAH é de amplo espectro e eu só consigo atuar em alguns departamentos da vida.
Fiquei triste? Não. Já me acostumei a essas falhas tdahdianas.
Acostumar é diferente de acomodar. Não me puno ou me critico. Me alerto e me preparo para situações semelhantes que fatalmente surgirão. É tudo o que posso fazer.
Pelo menos o TDAH, ainda que por vias indiretas, me livrou do dilema de lesar ou não a imobiliária.
Confesso que eu não sei o que faria se eles estivessem errados.
Usei o dinheiro para pagar meu cartão de crédito por que, obviamente, o dinheiro que eu havia juntado para esse fim virou fumaça. Mas isso fica para um novo post...
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
O TDAH QUE ESCOLHO SER
Eu posso escolher quem eu quero ser.
Não posso negar o TDAH; não posso ignorar o TDAH.
Mas posso escolher que TDAH quero ser.
Posso ser o TDAH que falha; ou posso escolher ser o TDAH que se recupera a cada queda.
Posso ser o TDAH que esquece; ou posso escolher ser o TDAH que se esforça para lembrar.
Posso ser o TDAH impulsivo; ou posso escolher ser o TDAH que luta contra os impulsos.
Posso ser o TDAH que não aprende com os erros; ou posso escolher ser o TDAH que reconheceu um aprendizado.
Posso ser o TDAH desorganizado; ou posso escolher ser o TDAH que tenta se organizar.
Posso ser o TDAH auto destrutivo; ou posso escolher ser o TDAH que se ergue contra si próprio.
Posso ser o TDAH que se prostra; ou posso escolher ser o TDAH que dá o primeiro passo.
Posso ser o TDAH que se inferioriza; ou posso escolher ser o TDAH que reconhece as próprias vitórias.
Posso ser o TDAH anti social; ou posso escolher ser o TDAH que manda uma mensagem de feliz aniversário.
Não preciso mais ser um crustáceo agarrado às rochas das minhas derrotas. Posso simplesmente reconhecer, saborear e valorizar minhas vitórias. Ainda que ínfimas!
Posso me mortificar por ter esquecido de coisas importantes; ou passar a valorizar aquilo que lembro. Dane-se se são coisas desimportantes; eu me lembrei. E se eu lembrei, são importantes.
Quantos erros graves cometi ao longo da vida. Mas o maior deles será o de sempre me apegar a eles e não valorizar os acertos que conquistei. Se tenho uma mulher que me ama (e tenho), se tenho uma filha que me ama (e tenho), se tenho pai e mãe que me amam (e tenho), se tenho irmãs que me amam (e tenho), é por que acertei mais do que errei. Construí mais do que destruí.
Àqueles com quem falhei ou magoei, feri até; meu pedido de perdão. E fim.
Luto diariamente pra me organizar; nem sempre consigo. Em poucas coisas consigo, pra ser sincero. Mas quando olho pra trás, já evoluí demais. E isso é o que importa.
Tem que ter mais valor a coragem que tive ao me erguer e dar um passo, um único passo que seja; do que a prostração e o desânimo que me assola de quando em quando.
Ora, esse desânimo eu já sei que é do TDAH; o passo que dei não. O passo que dei é meu! Esforço meu! Conquista minha! E isso é o que tem valor.
Os defeitos da doença eu já sei que tenho e terei sempre.
As vitórias contra a doença são valorosas; surpreendentes; conquistas dignas de louvor.
E é esse o caminho que escolhi.
O TDAH que escolhi ser.
Não vou me entregar jamais!
Muito menos valorizar aquilo que é fruto da doença.
Não!
Eu sou um vencedor!
Um vencedor cotidiano, um vencedor contumaz, um invencível.
E doença nenhuma vai me vencer.
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
CINQUENTA TONS DE TDAH
2-Cale-se por 5 segundos, sua raiva passará.
3-Não compre, você não precisa disso.
4-Não matricule-se, você já fez isso outras vezes e não frequentou.
5-Pergunte o caminho, você não sabe onde é.
6-Acredite, ainda que você não se recorde, você disse aquilo.
7-Saia agora, embora pareça, não dá tempo de estender a roupa, consultar o computador ou dar um último telefonema.
8-Desista do talão de cheques, você nunca se lembra de anotar os canhotos. Os cheques cairão como bombas em sua conta corrente.
9-Não acredite em sua memória, você irá esquecer.
10-Acalme-se, você jamais poderá pegar todas as mulheres do mundo. Concentre-se na sua, pra te aguentar merece todo o carinho e atenção.
11-Não minta. Embora possa parecer uma boa solução, você se perderá nos detalhes e será descoberto.
12-Seja humilde, você falhará mais do que a maioria e precisará da simpatia de todos.
13-Não saia alardeando para o mundo seu TDAH, isso será usado contra você em algum momento.
14-Pense mil vezes antes de oferecer-se como voluntário, candidato a síndico ou coisa parecida. Você terá se arrependido antes de terminar de ler essa frase.
15-Cale-se e reflita, cinco segundos, suas palavras agressivas alimentam sua raiva e o padrão de agressividade só aumenta.
16-Você é muito melhor do que pensa.
17-Você já está muito velho pra acreditar em contos de fadas. Encare a realidade.
18-Não tenha medo, você pode.
19-Não se culpe por aquilo que não pode mais ser reparado.
20-Seja sincero com você mesmo: As razões de sua decisão são verídicas?
21-Retorne a ligação de seus amigos e parentes, você não é uma ilha.
22-Respire fundo, respire de novo, acalme-se, mesmo que seu interlocutor seja uma pessoa importante, se ele se dispôs a te ouvir é por que você tem valor. Acredite em você.
23-Procure algo que te dê prazer. A médio e longo prazo você não suportará fazer o que não gosta.
24-Não adie mais, quem vai sair perdendo é você.
25-Trate-se, a vida é muito melhor sob tratamento.
26-Aprenda a se organizar. Cada coisa em seu lugar. A desorganização habitual do TDAH aumenta o estresse e a auto recriminação.
Não abandone essa meta, ainda que você não a cumpra totalmente, com o tempo você vai se aprimorando.
27-Jamais desista de você. Ninguém é mais importante do que você nesse mundo. Cuide-se, aceite-se. Você não escolheu ser TDAH
28-Não se recrimine, ou se culpe; você é portador de uma doença, não um cretino.
29-Não se esconda atrás do TDAH. Você é doente, mas pode se cuidar e melhorar sua vida.
30-Aceite suas contradições, elas fazem parte da doença também.
31-Explore suas potencialidades, todos temos alguma. Se você não tem, é por que não procurou direito. Nunca é tarde pra mudar de vida.
32-Tenha paciência, você não vai acordar expert em algo. Ainda que ame e que tenha talento. O atleta treina todos os dias, o artista ensaia todos os dias. Com você não é diferente.
33-Levante-se e vai viver. Você já deu muita sorte de estar vivo nessa manhã. O resto, você vai superar. O TDAH sempre supera.
34-Não acesse o Facebook (ou qualquer coisa parecida) durante o trabalho. Você não conseguirá acessar só um minutinho.
35-Guarde esse celular, tem apenas trinta segundos que você conferiu as notificações pela última vez.
36-Lembre-se, depois da conquista vem a rotina, e tudo volta ao normal.
37-Pare de ler esse post e vá cumprir suas obrigações.
38-Cale-se, o que foi dito não tem volta.
39-Perdoe-se, no Brasil não existe prisão perpétua.
40-O seu dinheiro não é ilimitado, contenha-se.
41-Informe-se sobre o TDAH. Informação é poder.
42-Cerque-se de pessoas que o amam e aceitem verdade. Você já se auto critica demais, não precisa de críticos externos.
43-Levante a cabeça, você já caiu outras vezes e reergueu-se.
44-Não acredite em quem nega a existência do TDAH, você sente seus efeitos na própria pele.
45-Quando tiver oportunidade, deixe sua mente viajar, mas controle-a quando precisar de foco.
46-Valorize-se, você chegou à idade adulta arrastando o TDAH; tem que ser muito bom pra conseguir esse feito.
47-Experimente algo novo até descobrir o que te motiva, você vai conhecer uma nova vida.
48-Desabafe com alguém, se não tiver ninguém, faça como eu, escreva um blog. Milhares de pessoas virão em seu socorro.
49-Não se envergonhe de mudar de vida, de profissão, de carreira, ninguém pode viver sua vida por você.
50-Tome seu remédio e enfrente o seu TDAH, você pode, você é mais forte do que ele.
Agora chega, vai trabalhar!
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