segunda-feira, 27 de junho de 2011
OS SETE PECADOS CAPITAIS: 1 A SOBERBA
Este post é fruto do meu auto conhecimento, adquirido após o coaching. Nunca dei muita bola pra essa conversa de auto conhecimento, sempre achei isso conversa de autor de auto ajuda e psicólogo. Mas, como tudo na minha vida mudou radicalmente, principalmente meus pré conceitos e minha pseudo racionalidade, hoje eu acredito e uso constantemente meu auto conhecimento.
Estava eu sob o chuveiro, pensando que há vários dias não escrevo um post novo neste blog e comecei a pensar sobre o que escrever. Rapidamente concluí que eu não tinha mais o que escrever aqui; já havia escrito tudo que eu queria e precisava. Aí entrou meu novo auto conhecimento; uma luz vermelha acendeu-se em minha mente: peraí, cara, olha a repetição do comportamento!!!!! Em tudo o que você fez na vida, bastou ser elogiado, bastou reconhecerem sua competência para que abandonasse tudo, deitasse em berço esplêndido e todas as suas conquistas fossem por água a baixo. Esse é o seu próximo post.
Imediatamente me vieram à cabeça os sete pecados capitais, e o primeiro a identificar-me foi a soberba.
A soberba , no dicionário, é definida como: é o sentimento negativo caracterizado pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, levando a manifestações ostensivas de arrogância, por vezes sem fundamento algum em fatos ou variáveis reais. O termo provém do latim superbia.
No meu caso, existe a arrogância de após ter sido elogiado, acreditado haver atingido o clímax de algo, o máximo da glória possível e a partir daí, um relaxamento, um abandono daquele comportamento que me levou até ali.
Pois é, mesmo após tanta ritalina, tantas sessões de coaching, tantos posts nesse blog, ainda sou capaz de descobrir novos sabotadores, novos inimigos ocultos sob formas, as mais diversas com o único objetivo de me auto sabotar.
Num flash, em questões de segundos, pude reviver vários momentos da minha vida em que eu repetia esse comportamento; abandonar o esforço, abandonar a evolução, sentar-me à beira do caminho, muito antes de seu final, simplesmente por haver recebido elogios, por haverem reconhecido meu esforço e competência até ali. Era a senha para abandonar tudo, deixar que as conquistas desmoronassem e o sentimento de derrota voltasse.
Um cortina se abriu diante de mim. Um sabotador esperto, sagaz, inteligente. Um sabotador que me dizia sempre: ' descanse, você já está no ápice'. E eu, docilmente, obedecia. Alguma coisa como estar a 50, 100 metros do cume do Himalaia e acreditar já haver chegado. Sentar, descansar, e morrer congelado.
E agora?
Bem, em primeiro lugar humildade para reconhecer minha soberba. Em segundo lugar, humildade para reconhecer esse comportamento idiota como uma auto sabotagem. Em terceiro lugar, humildade para continuar trabalhando em prol do meu tratamento. Em quarto lugar, humildade para reconhecer a necessidade de estar sempre alerta para combater minhas falhas diuturnamente.
A soberba só se combate com a humildade, eu creio.O TDAH também.
Não posso cair na tentação de achar-me curado e brilhante. Não sou nem uma coisa nem outra. Estou dando os primeiros passos para combater um mal incurável, mas domável. Cabe a mim, como a todos os portadores, manter-me atento ao caminho, atento ao tratamento para manter o TDAH sob controle. E mais ainda, preciso estar atento a essa tendência à soberba, a embriagar-me com os primeiros elogios e abandonar o trabalho que me proporcionou tais elogios.
Obrigado à Luciana Fiel que me ensinou a acreditar que coisas simples poderiam me levar ao auto conhecimento. Com as ferramentas que ela me está me ensinando a usar eu espero continuar a construir dias melhores em minha vida.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
NASCE UMA ESTRELA!
Meu último post foi dedicado à Ana Paula, que conheci durante a palestra da Dra Valéria Modesto em Viçosa. Ontem recebi um email da Ana agradecendo pela força e com um moral completamente diferente daquele em que a conheci; esperançosa, otimista e corajosa.
Por reações como a de Ana Paula, vale a pena investir tempo e emoção em divulgar o TDAH, em escrever este blog, em seguir adiante.
Quero lembrar à Ana e a todos que lerem esse post, que nossa contribuição (minha, da Dra. Valéria e da Luciana) são pequenas parcelas que somente terão utilidade se o paciente quiser melhorar. E a Ana quer.
Acredite Ana, você começa uma nova caminhada agora, com quedas e decepções, mas uma caminhada que trará inúmeros benefícios à sua vida.
Começa a nascer agora uma Ana Paula que nem você conhecia, forte, segura, otimista e vencedora.
Em nosso próximo encontro, espero que nos apresentem de novo, não reconhecerei a nova Ana Paula. rs
Ao infinito e além!
Abaixo a transcrição do email de Ana Paula; cuja postagem foi autorizada por ela:
Olá meu novo amigo!
Alexandre,
me senti profundamente tocada com sua mensagem dedicada a mim.
Não vou desistir .Eu realmente sentia- me destruída, incapaz e mentalmente desorganizada . Cheguei para palestra emocionalmente abalada e com a auto - estima visivelmente baixa. Sentindo-me “como um cachorro correndo atrás do próprio rabo” vivendo em circulo sem seguir em frente.
Sou portadora e agora? Esta era a pergunta que vinha me fazendo nesses últimos dias.
Por que não há 20 anos atrás? Por que...
Mas depois de minha primeira sessão com a Colchig Luciana Fiel, sai de lá transformada cheia de esperança , com a confiança fortalecida e com outra visão.
Ter conhecido Você, Luciana e Drª Valéria fez uma diferença enorme na minha vida inicial como portadora de DDA.
É como escreve a Drª Ana Beatriz B. Silva , em Mentes Inquietas .
“Conhecer e entender o próprio comportamento é fundamental para a mudança de perspectiva que possibilite um redirecionamento da nossa vida. É importante ao DDA aceitar o seu modo de ser e acreditar sinceramente em seus talentos.
“E, para tanto um DDA precisa persistir nessa empreitada com a curiosidade da criança e a paixão do adolescente; a determinação do adulto e a confiança serena da maturidade.”
Estou me reconstruindo...
Obrigada.
Abraço com carinho
Pode ter certeza, Ana, seu crescimento é o nosso crescimento.
Obrigado pelo retorno.
domingo, 19 de junho de 2011
TDAH - SOU PORTADOR, E AGORA?
Participei neste sábado de uma palestra da Dra. Valéria Modesto no colégio Anglo em Viçosa, MG.
Após a excelente apresentação, ouvimos o impressionante depoimento de uma moça diagnosticada há cerca de quinze dias. Seu estado emocional era péssimo, deprimida e perdida. Estava em Viçosa para a sua primeira sessão de coaching com a Luciana Fiel. Ficamos conversando e suas dúvida e medos geraram este post.
Antes de entrar no assunto, gostaria de deixar claro que NÃO SOU MÉDICO e minhas palavras são fruto de minhas experiências e sentimentos; não são um tratamento científico.
Em seu depoimento, Ana disse que seus pais ainda não sabiam e essa era uma de suas maiores dúvidas: contar ou não aos pais e irmãos. Em segundo lugar ela estava achando horrível sentir-se doente, ter necessidade de tratar-se o resto de sua vida. Desde então, estou pensando nisso.
Estamos doentes ou somos doentes? Eu não sou doente! Eu estou doente. A pessoa que eu sou é essa que está sob tratamento e não aquela outra confusa e perdida com quem eu convivi nos últimos 50 nos.
Terei de me tratar para o resto da vida? A mim, não faz a menor diferença; tanta gente trata-se de diabetes, pressão alta e outras doenças crônicas. O tratamento do TDAH tem uma grande vantagem, nos torna pessoas melhores, deixa-nos mais produtivos, mais alegres, mais felizes. Age também sobre a felicidade de outras pessoas; se eu estou estável, quem me cerca também estará. Se os avanços da medicina não descobrirem um medicamento que cure definitivamente o TDAH, tomarei a Ritalina eternamente, sem o menor problema. Meu objetivo é viver bem, ser feliz e isso o tratamento me proporciona.
Quem deve saber que tenho (ou temos) TDAH? Depende. Em primeiro lugar, seu marido/esposa e pessoas que vivam com você. Alardear seu TDAH fará de você um coitadinho, digno de pena; ou pior, será olhado com reservas e estranhamento. Nenhuma das duas situações é benéfica. Portanto, cale-se. Ana está em dúvida se conta aos pais e irmãos; ela que sempre foi criticada, apontada como preguiçosa e como um caso perdido. Na verdade, o que Ana quer é justificar-se com os pais e irmãos, mostrar-lhes que sua situação é fruto de uma doença e não de irresponsabilidade. Argumentei que o melhor caminho seria tratar-se e, depois das primeiras conquistas, dos primeiros sinais visíveis de mudança, contar aos pais e familiares que nem mesmo moram com ela.
O diagnóstico não pode servir de desculpa para continuarmos na mesma vida.
Ah, eu sou TDAH, não tenho jeito mesmo. Cômodo e idiota. Melhor do que se justificar sob o manto de uma doença incurável, é mostrar ao mundo quem você realmente é, aquilo tudo que você pode fazer. Mais do que mostrar aos outros, você irá usufruir desse benefícios.
Vocês não fazem ideia do que é viver sem aqueles pensamentos derrotistas, aquela vontade de abandonar tudo, de enfiar-se num buraco. Como nossa mente descansa quando temos menos ideias estapafúrdias, como a vida pode ser leve sem precisar arrastar esse inimigo invisível; mas pesado e poderoso.
Ana Paula, este post é para você. Não desista; você não precisa justificar-se para ninguém, nem mesmo para você mesma. Você precisa é viver sem medo, sem culpa, sem choros.
Acho muito melhor ser taxado de um doente que superou as próprias limitações impostas pela doença do que um irresponsável crônico, que passou a vida a desperdiçar chances enquanto seus amigos e familiares progrediam e melhoravam suas vidas.
A sociedade sempre nos taxa de alguma coisa. Quando estamos sem tratamento, somos os malandros, os irresponsáveis, os inconsequentes, os fracassados, os avoados...
Se seremos taxados de qualquer maneira, mude sua vida, seja melhor para você mesma e dane-se as etiquetas. Se você está bem consigo mesma, que importa o que falem os outros?
Os cães ladram e a caravana passa...
Seja feliz, só depende de você.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
ARGH!!! ESSE TDAH É UMA DROGA!!!
Estou com tanta raiva de mim que minha vontade, nesse momento, é bater a cabeça na parede várias vezes pra ver se essa droga de doença sai de dentro dela.
Como essa porcaria pode fazer com que a gente, por mais alerta que esteja, repita comportamentos de auto sabotagem explícita?
Hoje, uma sucessão de falhas idiotas me fizeram perder uma sessão de coaching muito aguardada. Um comportamento típico de um TDAH sem tratamento e sem conhecimento de sua condição.
Luciana, minha coach, marcou um horário comigo por email, eu não confirmei presença. Ainda hoje pela manhã revi seu email, pensei em confirmar e não o fiz. Hoje tive um dia pesado, trabalhei para caramba, um serviço duro e cansativo apesar do feriado municipal. Esqueci o coaching. Quando me lembrei faltavam 10 minutos para o horário.Saí correndo, passei em casa troquei de roupa; nesse tempo pensei em ligar para a Luciana avisando-a do atraso; mas não liguei. Saí voando, em desabalda carreira pelas ruas da cidade; lembrei-me de que hoje é dia de Santo Antonio e haveria procissão na principal avenida da cidade, mas ainda assim corri o risco de passar por ali. Resultado? Interditada. Tive de dar uma volta enorme para chegar ao edifício, cujo estacionamento estava fechado por ser feriado. Corri até uma rua próxima estacionei de qualquer jeito e cheguei com, praticamente, 40 minutos de atraso.
Vocês acreditam que o consultório estava fechado?
Só após dar de cara na porta, liguei para minha coach.
Qual foi a sua reação? ' Uai, você não confirmou, achei que você não viria!'
Voltei pra minha casa com uma raiva desgraçada de mim mesmo.
Um idiota, uma vítima de uma doença que se diz preparado para enfrentá-la, escreve sobre ela, grita aos 4 cantos do mundo que está superando-a e cai num golpe idiota desses; digno de um iniciante do TDAH.
Ô doencinha miserável! Nos prepara várias recaídas. Cochilou o cachimbo cai.
Que saco!
Estou com muita raiva, muita raiva mesmo.
Que isto, pelo menos, sirva de lição para que eu redobre meus esforços, minhas estratégias, para não fraquejar diante desse inimigo que nunca dorme
POR QUE ESSE CARA É MELHOR DO QUE EU?
Já li tanta coisa sobre TDAH que nunca me lembro exatamente onde li, claro que não salvo a página,nem anoto onde vi aquilo de que gostei. Se precisar, ou quiser, reler aquilo por que me interessei preciso perder algumas horas vasculhando a internet até encontrar. Ou não.
Em alguns desses sites que não me lembro qual, li que o portador de TDAH possui o hábito de se comparar com os outros e também de competir com os outros; ainda que esses outros sequer saibam que estão competindo conosco. Uma constante maneira de se sentir inferior, menor ou diferente.
Em um de seus comentários nesse blog, a parceira de blogosfera e TDAH Laís Fortaleza mencionou essas comparações e fiquei com isso na cabeça até virar um post.
Ao longo da minha vida, sempre comparei-me aos outros, principalmente àquelas pessoas de sucesso, seja financeiro, pessoal, artístico. Qualquer pessoa que regule em idade comigo é, de alguma forma, motivo de comparação.
Mas não é apenas comparar, é também competir. Competir sozinho, competir com quem não me conhece, com quem não está competindo comigo; competir contra o tempo; competir contra mim mesmo, estabelecendo padrões de comparação inatingíveis, comparando-me a pessoas com histórico de vida completamente diferentes.
Durante muito tempo eu alimentei sonhos de soluções meio mágicas para minha vida; de uma hora para outra algo iria acontecer para mudar radicalmente minha vida.
Apesar de fantasiosa, esta expectativa acabou por acontecer com a descoberta do TDAH, mas de uma forma oposta daquele que eu imaginava. Mudou minha vida completamente sim, mas não num passe de mágica e sim através de um trabalho e um esforço contínuo, perseverança e muita, mas muita dedicação.
Mas retomando o fio da meada, sempre imaginei que pessoas de sucesso se faziam de uma hora para outra, por um desígnio divino, um dom sobrenatural ou, muitas vezes, por usar de estratégias pouco éticas para alcançar seus objetivos. Minha visão sobre isso começou a mudar quando li o livro de Malcolm Gladwell, Outliers - os fora de série - em que ele analisa a vida de pessoas de grande sucesso como Bill Gates e os Beatles; em todos os casos analisados ( e são vários) ele encontrou um mesmo padrão: a soma de uma dose de sorte, com o auxílio ou a contribuição de outras pessoas, a capacidade de vislumbrar uma oportunidade e uma experiência ou uma prática em torno de dez mil horas naquilo em que a pessoa obteve sucesso. Apenas para exemplificar, antes de estourar os Beatles tocaram durante anos em pequenas boates em diversos países, inclusive num bar alemão que apresentava shows de rock ao vivo 24 horas por dia. Ali eles praticaram exaustivamente suas músicas e formas de se apresentarem. Bill Gates possuía uma experiência em programação de computador de dez mil horas. Por coincidência, ele foi estudar numa universidade que possuía a segunda rede de computadores dos EUA. Como quase ninguém se interessava por computador, ou não sabia operar, havia uma enorme ociosidade dessas máquinas; Bill Gates aproveitou esses computadores ociosos para treinar programação exaustivamente; ele passava as madrugadas nos computadores da Universidade.
Digo isso tudo apenas para exemplificar como são inuteis as comparações que fazemos com outras pessoas, nós os TDAH, nos comparamos o tempo todo, o que acaba reforçando nosso sentimento de inferioridade, e nos empurra um pouco mais para baixo. Por um desses mistérios da mente humana, 'gostamos' de sentir pena de nós mesmos, quanto mais coitadinho melhor. E com isso, vamos nos afundando na auto sabotagem, na inconsequência, na procrastinação e nas derrotas que nos impõe o TDAH.
Tenho me policiado mais a esse respeito, quando me pego me comparando com alguém , me puxo para a realidade e me lembro de que, quando muita gente está encerrando a vida, quando a maioria das pessoas já está pensando em aposentadoria, estou recomeçando minha vida, quase do zero. Isso me transforma numa pessoa única, incomprarável, assim como o são todas as outras, com suas histórias de vida, suas conquistas e seus fracassos.
Não nos cabe comparar, cabe apenas viver, e não ter a vergonha de ser feliz.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
O TDAH ME ASSOMBRA NOVAMENTE.
Hoje está sendo um dia particularmente difícil.
Logo no início da manhã um ‘amigo’ que ficara de concretizar um negócio comigo, desistiu. Enrolou-me durante três semanas, deu o negócio como fechado e hoje chutou o balde.
Pra completar, uma pessoa com um comportamento adolescente, me constrangeu com minha namorada, e me chateou demais.
Agora estou eu na fila do banco, uma fila enorme e reparei que trouxe as contas erradas para pagar. Que raiva!!!
Como pessoas estranhas podem interferir negativamente na vida da gente dessa forma?
Quando vi as contas que trouxe, minha primeira vontade foi desistir. Saí da fila e do banco. Mas nem bem cheguei do lado de fora, lembrei-me de que três das contas que estão em meu poder são improrrogavelmente para hoje. Desolado, voltei à fila do banco. Claro que perdi várias posições na fila. A moça que estava imediatamente à minha frente, agora está a sete pessoas de distância. Um homenzarrão enorme está na minha frente. Nem sei por que, esse homem grande me irritou ainda mais.Ficar olhando suas costas enormes me deu uma raiva desgraçada.
Aqui, parado nessa fila, me dei conta do comportamento típico do TDAH que tive: peguei as contas na gaveta sem conferir. Putz, que desânimo! Que vontade de largar tudo. Largar o tratamento, largar a loja, largar a nova profissão, ficar em casa, enfurnado para sempre; longe de tudo e de todos.
Acabei de lembrar-me de um conto de Luiz Fernando Veríssimo, em que o sujeito abandona a vida para passar seus dias em sua biblioteca. Entrava ano e saía ano ele lia os mesmos livros; os livros que amava, e cujos relatos não lhe traziam surpresas ou decepções. Um deles em especial, ele amava, idolatrava. Ele o releu tantas vezes, que um dia conseguiu virar um personagem da história daquele livro. Ali com aqueles personagens que ele tanto conhecia, com aquelas situações conhecidas e amenas ele passaria o resto de sua vida sem surpresas desagradáveis, sem fatos inesperados. Uma imensa felicidade apossou-se dele. Ele estava tão feliz, mas tão feliz, que foi incapaz de perceber o ruído das traças que comiam o livro que ele tanto amava e em que agora vivia.
A lembrança desse texto em plena fila do Itaú, fez-me cair na real e enxergar meus auto sabotadores em plena ação. Nesse instante me deu um estalo, quase três da tarde e eu estou sem minha segunda dose de ritalina do dia. Me deu um certo alívio poder debitar todos aqueles comportamentos na conta da falta da ritalina, mas na verdade, isso só mostra o quão frágil é nossa mente, o quanto precisamos de nosso tratamento e de nos manter alerta. Em qualquer deslize, em qualquer ação negativa externa, minha reação foi abandonar todas as minhas conquistas, jogar tudo para o alto e me socar dentro de mim mesmo.
Não vou me entregar, não vou desistir, esses momentos de desânimo vão voltar, problemas sempre existirão, mas a consciência de que o tratamento do TDAH é constante, e ininterrupto, não vai me abandonar. A caminhada deve ser lenta e constante, mas vou chegar lá, com certeza.
Ps.: escrito no celular, na fila do banco Itaú dia 07/06, revisado e publicado dia 08/06.
sábado, 4 de junho de 2011
TRATE O TDAH; APESAR DA SUA FAMÍLIA.
Recebo muitos comentários, vários deles por email, comentando os sintomas de cada um e muitas vezes desabafando sobre suas dificuldades com o TDAH. Na maioria dos casos eles reclamam da falta de apoio da família, da dificuldade de manter o tratamento sozinho. Tenho oferecido minha solidariedade, meu apoio, mas nada disso substitui o carinho e a atenção dos familiares. Eu poderia transformar esse post numa tribuna para criticar aquelas famílias que não apóiam ou ignoram os portadores, deixando-os absolutamente sós nessa luta contra uma mente confusa e em constante ebulição. Mas do que isso iria adiantar?
Na quase totalidade dos casos, a crítica gera uma reação de defesa, o criticado se fecha e busca se defender, se justificar por suas ações e nada muda. Portanto, decidi tentar uma abordagem diferente, como manter seu tratamento APESAR da sua família.
Em primeiro lugar devemos definir o que é apoio familiar. Apoiar é reconhecer a existência do TDAH. Monitorar, ainda que de longe, a manutenção do tratamento. Sabemos que qualquer rotina de longo prazo é dificílima para um TDAH, o tratamento não é diferente. Respeitar o portador, evitando apelidos e críticas calcadas no transtorno, nas deficiências típicas do TDAH. Não tratar o portador como uma pessoa diferente, incapaz, mas sim como uma pessoa normal, que possui uma doença controlável sob tratamento, que se mantido, só tende a melhorar a vida do portador e de toda a sua família.
Agora, vamos a nós.
Boa parte dos emails que recebo são de pessoas novas, muito novas, na faixa de vinte e poucos anos. Nessa idade os sintomas do TDAH se confundem com a adolescência, com a rebeldia da idade e a família tende a tratá-lo como um aborrecente elevado ao quadrado, ao cubo, em alguns casos a n. Creio que cabe a nós dar a correta dimensão do que sentimos e precisamos; claro que cada família é de uma forma, reage de um jeito, mas poucas coisas são tão eficientes quanto o diálogo, a conversa, o jogo aberto. Ainda que você tenha vergonha, seja passivo ou tímido, pense no seu sofrimento, crie coragem e converse com seus pais, cônjuges, irmãos. Em primeiro lugar deixe claro sua insatisfação com apelidos e brincadeiras se estas os incomodarem. Não atenda se te chamarem de uma forma pejorativa, ainda que aparentemente carinhosa. ‘Doidinha NÃO! Eu sou portadora de TDAH! Isso não me diminui, pelo contrário, se levarmos para o lado da criatividade, das artes, damos um banho nos tais ‘normais’, que não conseguem pensar fora da caixa em que foram criados’.
Não briguem, isso só piora as coisas. Se o diálogo for difícil, escreva. Mas deixe claro que aquele comportamento adotado pela família aumenta o seu sofrimento. Não confundam atenção com PENA, não precisamos de pena. O que é importante na família é o respeito, a aceitação e o monitoramento do tratamento.
Não parta do princípio de que não dá pra conversar com seus pais antes de tentar. Mas quando falo em conversar, é conversar mesmo, não acusar ou agredir, lembre-se, isso gera uma reação de defesa e a conversa empaca. Abra o seu coração e mostre-lhes os seus sentimentos, suas inseguranças, suas dúvidas, seus medos. Não cobre ou acuse, exponha o que você sente, os conflitos que o TDAH cria dentro de você, o apoio virá de forma natural.
Bem, você tentou, e nada mudou. Sua família continua ignorando seu tratamento. O máximo que fazem é comprar o remédio ou pagar a consulta. O que fazer?
Nada! Pagar o plano de saúde e os medicamentos já é uma forma de apoio. Use-a. E vá viver sua vida. Não se apegue a isso. Por mais que o apoio da família seja importante, quem sofre é você, e é você que quer se livrar dessa tortura.
Esse é o maior estímulo ao tratamento; o sofrimento pelo qual você passa quando está sem o remédio. Lembre-se dos constrangimentos que você passou, as burrices que cometeu, o sofrimento que causou aos outros, mas principalmente a você mesmo. Se você não está sentindo os efeitos da ritalina ( ou de qualquer outro medicamento que tome) volte no seu médico, peça que mude a dosagem, a forma de tomá-lo. Procure ajuda com suas próprias pernas, não espere que caia do céu.
Cuidado! Você - e todos nós portadores- tem um grande inimigo: a auto sabotagem. Você irá arrumar várias desculpas para não se tratar; elas vão desde a falta de tempo para ir ao médico até a chuva que tá muito forte, o remédio que te deixa trêmulo ou irritado demais. Policie-se, quanto mais racional e lógica for sua razão para não se tratar, maiores serão os motivos para manter o tratamento. Lembre-se, você não quer mais sofrer, você quer outra vida. Você merece outra vida. Ninguém nasceu para sofrer ou para ter TDAH. TDAH é um ‘defeito’ de fabricação, que graças a DEUS, possui um recall. Portanto, cuide-se. Parafraseando Caetano Veloso, TDAH é para brilhar e não para viver sofrendo.
Se sua família não entende, não aceita, procure a ABDA, seu médico, sua coach, seu psicólogo, me procure, procure outros blogueiros com TDAH, apoio não vai lhe faltar. Claro, nenhum de nós substituirá sua família. Mas ela estará aí, perto de você e será testemunha de sua mudança, de seus progressos, acompanhará a melhora de seu vocabulário, a redução nas explosões de mau humor, o fim da procrastinação...
Sua família pode não ajudar em seu tratamento, mas certamente estará presente para aplaudir seus progressos e suas mudanças, e essa será sua ‘vingança’ ; eles estavam errados.
Prove o sabor de uma vida nova, experimente tratar-se com regularidade. A rotina é um saco? Claro que é, mas seu sofrimento com a doença é uma rotina. Você sofre rotineiramente os efeitos da falta de tratamento. Quebre essa rotina também.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
10 COMPORTAMENTOS QUE DESTROEM UM CASAMENTO
Outro dia recebi um comentario de uma leitora chamada Aline; ela comentava que seu esposo fora diagnosticado portador de TDAH aos 54 anos e me sugeria um post com o sugestivo título: Como perder a esposa em 10 lições.
Desde então, esse tema me ‘incomoda’ um pouco. Volta e meia ele retorna à minha cabeça e hoje resolvi encará-lo.
Não sei se serão dez lições, mas algumas posso compartilhar:
Egoísmo: esse título acompanhou-me ao longo de meus relacionamentos, por mais que eu fizesse era taxado de egoísta. Hoje tento descobrir o por quê desse título. Talvez seja resultado de um certo alheamento em relação ao casamento, causado por nossos devaneios, sonhos e por que não, pela nossa necessidade de criar mecanismos (ainda que inconscientemente) para conviver com nossas falhas.
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