Hoje está sendo um dia particularmente difícil.
Logo no início da manhã um ‘amigo’ que ficara de concretizar um negócio comigo, desistiu. Enrolou-me durante três semanas, deu o negócio como fechado e hoje chutou o balde.
Pra completar, uma pessoa com um comportamento adolescente, me constrangeu com minha namorada, e me chateou demais.
Agora estou eu na fila do banco, uma fila enorme e reparei que trouxe as contas erradas para pagar. Que raiva!!!
Como pessoas estranhas podem interferir negativamente na vida da gente dessa forma?
Quando vi as contas que trouxe, minha primeira vontade foi desistir. Saí da fila e do banco. Mas nem bem cheguei do lado de fora, lembrei-me de que três das contas que estão em meu poder são improrrogavelmente para hoje. Desolado, voltei à fila do banco. Claro que perdi várias posições na fila. A moça que estava imediatamente à minha frente, agora está a sete pessoas de distância. Um homenzarrão enorme está na minha frente. Nem sei por que, esse homem grande me irritou ainda mais.Ficar olhando suas costas enormes me deu uma raiva desgraçada.
Aqui, parado nessa fila, me dei conta do comportamento típico do TDAH que tive: peguei as contas na gaveta sem conferir. Putz, que desânimo! Que vontade de largar tudo. Largar o tratamento, largar a loja, largar a nova profissão, ficar em casa, enfurnado para sempre; longe de tudo e de todos.
Acabei de lembrar-me de um conto de Luiz Fernando Veríssimo, em que o sujeito abandona a vida para passar seus dias em sua biblioteca. Entrava ano e saía ano ele lia os mesmos livros; os livros que amava, e cujos relatos não lhe traziam surpresas ou decepções. Um deles em especial, ele amava, idolatrava. Ele o releu tantas vezes, que um dia conseguiu virar um personagem da história daquele livro. Ali com aqueles personagens que ele tanto conhecia, com aquelas situações conhecidas e amenas ele passaria o resto de sua vida sem surpresas desagradáveis, sem fatos inesperados. Uma imensa felicidade apossou-se dele. Ele estava tão feliz, mas tão feliz, que foi incapaz de perceber o ruído das traças que comiam o livro que ele tanto amava e em que agora vivia.
A lembrança desse texto em plena fila do Itaú, fez-me cair na real e enxergar meus auto sabotadores em plena ação. Nesse instante me deu um estalo, quase três da tarde e eu estou sem minha segunda dose de ritalina do dia. Me deu um certo alívio poder debitar todos aqueles comportamentos na conta da falta da ritalina, mas na verdade, isso só mostra o quão frágil é nossa mente, o quanto precisamos de nosso tratamento e de nos manter alerta. Em qualquer deslize, em qualquer ação negativa externa, minha reação foi abandonar todas as minhas conquistas, jogar tudo para o alto e me socar dentro de mim mesmo.
Não vou me entregar, não vou desistir, esses momentos de desânimo vão voltar, problemas sempre existirão, mas a consciência de que o tratamento do TDAH é constante, e ininterrupto, não vai me abandonar. A caminhada deve ser lenta e constante, mas vou chegar lá, com certeza.
Ps.: escrito no celular, na fila do banco Itaú dia 07/06, revisado e publicado dia 08/06.
Nenhum comentário:
Postar um comentário