segunda-feira, 28 de setembro de 2020
UM TDAH DE VOLTA À RITALINA
segunda-feira, 21 de setembro de 2020
TDAH - NÃO IMPONHA UM FUTURO A SEUS FILHOS
Qualquer pai ou mãe que se preze sonha com um filho de sucesso.
Sucesso profissional, sucesso social, sucesso financeiro...
Mas poucos destes pais e mães se lembram de perguntar aos filhos se é este sucesso que ele, filho, deseja pra sua própria vida. Nada de novo, há dezenas de gerações os pais querem interferir no 'futuro' de seus filhos. Há dezenas de gerações um bom percentual de vidas é estragada pela prepotência e arrogância dos pais. Claro, tudo isto mudou. Mudou nada. Mudou a forma de agir dos pais; ficaram mais espertos, mais sutis. Nada é imposto. Desde os três anos os filhos estão nas aulas de balé, inglês, informática, futebol e outro sem números de tarefas que vão dirigindo a vida das crianças para onde querem os pais.
E aí o menino que começou o inglês super animado quer abandonar com dois meses de aula...
Como pode uma menina tão talentosa largar o balé com menos de seis meses...
_ O que esse menino vai ser sem falar inglês?, pergunta a mãe preocupada.
O pai, não menos preocupado, exige que a filha escolha um outro esporte. E a garota vai para a natação.
Parece até um peixinho... Três meses depois foge das aulas, finge doente, fala mal da professora...
E ninguém consegue convencer aquele menino a largar o violão e fazer algo de útil, que lhe dê futuro.
De experiências impostas em experiências impostas, os pais e os filhos se estressam, gastam dinheiro, brigam e nada vai pra frente.
Empurrados entram na faculdade que não queriam e se arrastam (quando conseguem) até a formatura. Uma formatura de que só se lembrarão da festa de arromba e da bebedeira lendária. A partir daí um novo martírio começa: ele um advogado que perde as datas de audiências e recursos, que viaja mentalmente em meio às audiências a que consegue comparecer. Ela, uma administradora de sucesso, implacável, eficiente, que aos 40 anos terá, além do TDAH, depressão e síndrome do pânico.
Ele, ajudado pelo sobrenome de seu pai, um grande advogado, arrasta-se pela vida perdendo clientes e casos, e ninguém entende como um cara tão inteligente não consegue deslanchar na vida.
Nas horas vagas ele toca seu violão e sua guitarra, sonhando com a vida que poderia ter levado.
Ela, aos finais de semana, tenta se reconectar ao seu eu interior, pensando na terapeuta holística que não conseguiu ter coragem de exercer.
O TDAH é isto, um mundo de possibilidades que não conseguimos exercer. Opções que nos dão tesão, mas não dão dinheiro, não dão sucesso, não dão satisfação aos pais. Hoje, prestes a chegar aos sessenta, grito aos pais: não façam isso com seus filhos! Deixe-os exercer o que amam, o que lhes desperta o hiperfoco. Ainda que isto seja fazer bijuteria na praia. Se não for o que realmente ama, ele vai abandonar em poucos meses...
Arrastar o TDAH ao longo de uma vida que não se escolheu é infernal, torturante e contraproducente. Desde a quinta série História é a matéria que mais amo. Meu pai tinha uma coleção de livros chamada Biblioteca Life; a série dedicada a História da Humanidade era minha paixão; passava horas lendo e relendo a saga do ser humano desde a era pré histórica até os dias mais próximos. Ali aprendi a amar a Grécia e Roma. Apaixonei-me perdidamente por Florença. Ainda hei de conhecê-la antes da morte. Estava certo de que seria um professor de História. Não consegui enfrentar as críticas à minha escolha e, por vários motivos acabei indo cursar Direito. Arrastei-me por infindáveis anos em duas faculdades para abandonar definitivamente ao fim do sexto período. Já casado, pai de família, tentei cursar Filosofia. Não consegui; questões pessoais e financeiras me impediram.
Tudo o que fiz a partir daí foi de má vontade ou sem vontade. Uma indiferença que jamais me permitiu alcançar todo o potencial que tenho. Claro que mesmo como professor de História eu teria de derrotar o TDAH diariamente. Mas o amor pela matéria me levaria a ser muito melhor profissionalmente do que consegui ser até hoje. Ontem ou antes de ontem me apareceu no Instagram um curso de História à distância. Confesso que me abalou. Mas quem contrataria um professor recém formado com quase 65 anos?
Será que o sucesso não é atingir aquilo que se deseja, se sonha, se ama?
Enriquecer é algo para um ou dois porcento da população. O resto é batalha diária, dura e difícil. Por isso afirmo com a mais absoluta certeza: não obrigue seu filho a ser infeliz! Não contribua conscientemente com a frustração de quem você ama. Aceite que os objetivos de seus filhos podem não ser os mesmos dos seus.
Deixe-os escolher os caminhos que amam...
domingo, 13 de setembro de 2020
O TDAH E O MEDO DO FRACASSO
Está tudo certo, é o mesmo trabalho que é feito há dois anos e o chefe faz uma pergunta corriqueira sobre o trabalho: os lançamentos estão em dia ? Ou : Você encaminhou aquele e-mail ?
Nesse instante bate uma dúvida... Os batimentos aceleram, as borboletas se agitam no estômago e vem a resposta : Sim. Mas um sim sem convicção. Um sim que traz em seu bojo o medo de haver erros, um medo de faltar lançamentos, de o tal e-mail ter tido uma resposta que não foi percebida...
E assim , segue a vida.
Uma vida povoada de dúvidas ,de incertezas, de desconfiança em relação a nós mesmos .
Fiz mesmo?
E o pior, o contrário também é possível. Há muito tempo não retruco mais quando me dizem que fiz ou disse determinada coisa que não me lembro. Centenas de vezes eu briguei e discuti alegando que estavam colocando palavras na minha boca, que eu jamais disse aquilo. E havia dito. Ou feito. Depois que me descobri TDAH parei de discutir sobre isso. Claro que a princípio eu nego, mas se a pessoa começa a dar detalhes da conversa eu logo desisto.
Todos esses episódios povoam nosso dia a dia, nos transformando em pessoas inseguras, aprofundando ainda mais nosso sentimento de inferioridade.
Já disse isso num post antigo, no momento em que ergui as portas de aço da minha primeira loja de tintas eu pensei: quanto tempo isso vai durar? Foi algo tão negativamente forte que eu jamais me esqueci.
Eu sabia que iria fracassar.
Imagine conviver com esse tipo de sentimento. E isso não é um sentimento ocasional, faz parte da nossa personalidade, faz parte do nosso acervo de cicatrizes. Desde a infância ouvimos críticas por não completarmos o que começamos, ou os elogios vêm acompanhados de um 'mas... ' Ele é um bom aluno, mas não para quieto. Ele é um garoto esforçado, mas não para de falar um segundo. Ele é bom aluno, mas os cadernos dele são muito bagunçados.
Assim vai se construindo a personalidade do TDAH. As conquistas sempre virão acompanhadas de um 'mas...'
Temos sim medo do fracasso. Muitas vezes superamos o temor e conseguimos vencer os desafios. Mas nosso maior sucesso é a sobrevivência. E até a isso devemos ao TDAH. A infinita capacidade de renascer vem de uma certa falta de noção da realidade. Temos quedas épicas, repletas de testemunhas, mas seguimos adiante aparentemente incólumes. E na maioria das vezes, saímos incólumes mesmo. E não é por mérito ou falta de caráter ou de sensibilidade, mas por um apagamento das sensações experimentadas por aquele revés. O mesmo apagamento responsável pela repetição dos erros anteriores. Como se não aprendêssemos com os erros. E não aprendemos mesmo. Exatamente porque o erro não nos marcou ou marcou momentaneamente. Ao nos defrontarmos com uma situação semelhante àquela já vivenciada, não a reconhecemos e agimos exatamente igual agimos anteriormente. E somos punidos por algo que sequer lembramos, ou não temos consciência de haver errado.
Muitos a esta altura dirão: mas então é melhor identificar-se portador de TDAH desde o princípio. AO que responderei com uma pergunta: Que princípio? Identifique-se TDAH numa entrevista de emprego e fatalmente será descartado. Objetivamente falando, ninguém vai contratar uma pessoa com dificuldade de manter a atenção, o foco, desorganizada, sujeita a ataques de fúria, impulsiva... Li recentemente que empresas do mercado financeiro estão procurando autistas para trabalharem com os complexos cálculos que a função exige; o autista é hiperfocado, tem uma memória absurda e, em grande parte, não é muito sociável, o que durante o expediente é ponto positivo. Então, se declarar TDAH é fora de questão.
O Dr Russel Barkley afirma que o mais eficaz é adaptar o ambiente de trabalho/estudo em que o TDAH exerce sua função. Sem se declarar TDAH, é importante que criemos rotinas e processos que devemos seguir rigidamente para evitar erros. Planilhas, post-it, agenda física ou de celular, todas são ferramentas importantes e úteis para diminuir o estresse de responder ao chefe as coisas mais banais e corriqueiras.
Mas para eliminar o medo do fracasso é preciso muita terapia, muito tratamento e muita mudança de vida. Para nós adultos é ainda mais complexo, ao longo da vida criamos instintivamente estratégias de sobrevivência que, na verdade, perpetuam os erros ou os agrava. mas que são extremamente difíceis de se livrar. Algo como pisar torto para evitar uma dor crônica na parte interna do pé, por exemplo. Ao longo dos anos você pode criar um desvio da coluna ou do quadril com piores consequências do que a dor que tentou evitar.
Claro que não é impossível, mas também não é fácil. Exige muita disciplina, atenção, auto conhecimento e conhecimento da doença. Características que não nos são muito presentes, mas que nossa infinita capacidade de renascimento acaba por nos propiciar aprender e adquirir.