Qualquer pai ou mãe que se preze sonha com um filho de sucesso.
Sucesso profissional, sucesso social, sucesso financeiro...
Mas poucos destes pais e mães se lembram de perguntar aos filhos se é este sucesso que ele, filho, deseja pra sua própria vida. Nada de novo, há dezenas de gerações os pais querem interferir no 'futuro' de seus filhos. Há dezenas de gerações um bom percentual de vidas é estragada pela prepotência e arrogância dos pais. Claro, tudo isto mudou. Mudou nada. Mudou a forma de agir dos pais; ficaram mais espertos, mais sutis. Nada é imposto. Desde os três anos os filhos estão nas aulas de balé, inglês, informática, futebol e outro sem números de tarefas que vão dirigindo a vida das crianças para onde querem os pais.
E aí o menino que começou o inglês super animado quer abandonar com dois meses de aula...
Como pode uma menina tão talentosa largar o balé com menos de seis meses...
_ O que esse menino vai ser sem falar inglês?, pergunta a mãe preocupada.
O pai, não menos preocupado, exige que a filha escolha um outro esporte. E a garota vai para a natação.
Parece até um peixinho... Três meses depois foge das aulas, finge doente, fala mal da professora...
E ninguém consegue convencer aquele menino a largar o violão e fazer algo de útil, que lhe dê futuro.
De experiências impostas em experiências impostas, os pais e os filhos se estressam, gastam dinheiro, brigam e nada vai pra frente.
Empurrados entram na faculdade que não queriam e se arrastam (quando conseguem) até a formatura. Uma formatura de que só se lembrarão da festa de arromba e da bebedeira lendária. A partir daí um novo martírio começa: ele um advogado que perde as datas de audiências e recursos, que viaja mentalmente em meio às audiências a que consegue comparecer. Ela, uma administradora de sucesso, implacável, eficiente, que aos 40 anos terá, além do TDAH, depressão e síndrome do pânico.
Ele, ajudado pelo sobrenome de seu pai, um grande advogado, arrasta-se pela vida perdendo clientes e casos, e ninguém entende como um cara tão inteligente não consegue deslanchar na vida.
Nas horas vagas ele toca seu violão e sua guitarra, sonhando com a vida que poderia ter levado.
Ela, aos finais de semana, tenta se reconectar ao seu eu interior, pensando na terapeuta holística que não conseguiu ter coragem de exercer.
O TDAH é isto, um mundo de possibilidades que não conseguimos exercer. Opções que nos dão tesão, mas não dão dinheiro, não dão sucesso, não dão satisfação aos pais. Hoje, prestes a chegar aos sessenta, grito aos pais: não façam isso com seus filhos! Deixe-os exercer o que amam, o que lhes desperta o hiperfoco. Ainda que isto seja fazer bijuteria na praia. Se não for o que realmente ama, ele vai abandonar em poucos meses...
Arrastar o TDAH ao longo de uma vida que não se escolheu é infernal, torturante e contraproducente. Desde a quinta série História é a matéria que mais amo. Meu pai tinha uma coleção de livros chamada Biblioteca Life; a série dedicada a História da Humanidade era minha paixão; passava horas lendo e relendo a saga do ser humano desde a era pré histórica até os dias mais próximos. Ali aprendi a amar a Grécia e Roma. Apaixonei-me perdidamente por Florença. Ainda hei de conhecê-la antes da morte. Estava certo de que seria um professor de História. Não consegui enfrentar as críticas à minha escolha e, por vários motivos acabei indo cursar Direito. Arrastei-me por infindáveis anos em duas faculdades para abandonar definitivamente ao fim do sexto período. Já casado, pai de família, tentei cursar Filosofia. Não consegui; questões pessoais e financeiras me impediram.
Tudo o que fiz a partir daí foi de má vontade ou sem vontade. Uma indiferença que jamais me permitiu alcançar todo o potencial que tenho. Claro que mesmo como professor de História eu teria de derrotar o TDAH diariamente. Mas o amor pela matéria me levaria a ser muito melhor profissionalmente do que consegui ser até hoje. Ontem ou antes de ontem me apareceu no Instagram um curso de História à distância. Confesso que me abalou. Mas quem contrataria um professor recém formado com quase 65 anos?
Será que o sucesso não é atingir aquilo que se deseja, se sonha, se ama?
Enriquecer é algo para um ou dois porcento da população. O resto é batalha diária, dura e difícil. Por isso afirmo com a mais absoluta certeza: não obrigue seu filho a ser infeliz! Não contribua conscientemente com a frustração de quem você ama. Aceite que os objetivos de seus filhos podem não ser os mesmos dos seus.
Deixe-os escolher os caminhos que amam...
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