Não adianta a ABDA tentar provar o contrário; o TDAH não
existe.
As minhas explosões de fúria que destruíram relacionamentos
amorosos e amizades?
Nunca existiram.
Procrastino por preguiça!
Mesmo vendo minha vida afundar optei por não fazer nada, sei
lá, talvez pra dar uma de coitadinho. A tortura mental que eu vivo quando procrastino
(sim, ainda sou dominado pela ‘preguiça’) é invenção minha.
Quatro casamentos desfeitos com traumas, dores e culpas
inesquecíveis foram por falta de caráter. Os dois noivados que ruíram na
adolescência nada mais eram do que embriões do cafajeste em que me
transformaria mais tarde.
Nunca quis ter uma vida estável! Jamais sonhei em envelhecer
ao lado de uma esposa amada cercado de filhos e netos numa casa confortável,
própria e quitada, resultado de uma vida financeira tranquila e bem planejada.
Não! Desde adolescente sonhei com uma vida amorosa errante e
instável, afinal, os embates que antecedem o fim de um casamento são
absolutamente deliciosos. O prazer de ser pego em erro pela esposa não tem
preço, como não tem preço cometer o mesmo erro pela milésima vez.
Como é saboroso olhar pra trás e sentir-se responsável por
destruir a própria vida, dinamitar todos os sonhos de infância e juventude.
Claro que isso não é uma doença!
Somos milhões de cretinos auto destrutivos que sabotamos a
própria vida por prazer, por gosto.
Deleitamo-nos ao ver
o sofrimento de nossos pais com nossa vida errática e cambaleante.
Quantos de
nós conseguem sucesso profissional, mas destroem suas vidas afetivas e
pessoais. Outros tantos dinamitam o sucesso quando estão ‘perigosamente’
próximos dele.
Quanta dor vivemos e causamos, quantas lágrimas derramamos –
nossas e de quem nos ama – sempre por vontade própria!
Quantas frustrações engolimos, quantas humilhações nos foram
inflingidas por repetirmos os mesmos erros, os mesmos desatinos, por
esquecermos pela enésima vez!
Não! O TDAH não existe!
Cada um de nós é fruto da manipulação mesquinha de
laboratórios farmacêuticos mal intencionados.
Quanta cretinice, meu Deus! Como alguém pode vir a público
tripudiar sobre o sofrimento de tanta gente! Quem são essas pessoas que se
arvoram no direito de nos passar um atestado de cretinos e idiotas. Cretinos
por tudo o que fizemos com as nossas vidas e a de todas as pessoas que cruzaram
nossos caminhos; idiotas por acreditarmos que nossa falta de caráter poderia
ser uma doença.
Não! Eu não vou abaixar a cabeça para uns poucos
incompetentes que sonham com seus quinze minutos de fama, ainda que o preço
dessa fama seja atirar tanta gente no limbo da vida de TDAH sem tratamento.
Deixo aqui o meu protesto: eu sou portador de TDAH sim!
Saber-me TDAH mudou radicalmente minha vida. Ainda cometo
enormes falhas, ainda magoo as pessoas, ainda procrastino, ainda esqueço muita
coisa, ainda me saboto. Mas hoje me
conheço melhor, hoje consigo enxergar muitos desses comportamentos antes que
eles aconteçam e muitas das vezes consigo impedi-los. Continuo minha luta, mas
hoje ao lado de milhares de pessoas que sofrem do mesmo mal e aprendo com cada
uma delas a ser uma pessoa melhor.
Não sei se consegui; mas quem sabe?
Já temos inimigos demais - dentro de nós mesmos - para
termos que enfrentar criaturas mesquinhas que só querem aparecer às nossas
custas.