A mecânica se repete... De repente, aquela pessoa que se amava até ontem, hoje não serve mais. E começa um processo de destruição de sua imagem. Aquela pequena cicatriz que no começo era um charme vira uma aberração estética; incomoda, causa repulsa. As roupas são feias, os amigos estranhos... E a família? Essa não salva ninguém; formação de quadrilha.
Uma simples escolha de marca de sabão em pó vira um desprestígio e uma falta de consideração imperdoável.
Se o outro cônjuge tem filhos de outro relacionamento então é um prato cheio; as lindas criancinhas que tanto se tentou conquistar viram seres maldosos, maquiavélicos, frios e calculistas.
Toda aquela dedicação, aquele tratamento principesco, aquela disponibilidade cativante dos primeiros tempos, de repente viram fardos impossíveis de carregar. Sem contar que tamanha dedicação passa a parecer subserviência, falta de amor próprio, auto anulação daquele ser outrora perfeito.
Mas por mais defeitos que se procure, encontre e invente, em geral não são fortes o suficiente para o rompimento definitivo. Falta a centelha que detone o processo: um novo ser perfeito. Aquele ser cuja paixão avassaladora encherá o TDAH de coragem para desferir o golpe de misericórdia no amor decaído que ainda está ao seu lado.
Armado pelo novo amor verdadeiro - esse sim; será o último e definitivo - o TDAH romperá o relacionamento com uma frieza e uma tranquilidade inimagináveis. Deixará para trás uma pessoa ferida pela dureza e crueldade das palavras usadas e perplexa por já não reconhecer naquela que parte, a pessoa tão amada.
Enquanto isso o TDAH segue tranquilamente em direção ao novo e perfeito amor com a consciência tranquila de quem extirpou um tumor sem atinar para o fato de estar repetindo esse teatro pela enésima vez.