domingo, 27 de novembro de 2011
VOCÊ SE LEMBRA? NEM EU.
Ontem estive lendo trechos do livro 'No mundo da lua' do médico Paulo Mattos. Marina pegou emprestado de uma amiga e o leu inteiro em uma sentada. Depois eu li os trechos dedicados ao TDAH adulto. Um trecho chamou-me a atenção e me fez pensar; uma professora de biologia aposentada afirmava que cinco anos após deixar de lecionar ela havia esquecido tudo o que ensinara a vida inteira. Fiquei pensando naquilo e constatei que sou absolutamente igual. Não me lembro de nada, nada mesmo do que aprendi na escola ou mesmo na faculdade. Recordei-me do fato de um amigo ter mencionado certa vez que usara um logaritmo para calcular determinada área ( ou capacidade) de uma piscina. Eu nem sequer me lembro pra que serve um logaritmo, ou raiz quadrada, ou o que se estuda em cinemática, ou mesmo a utilidade do Pi ( o valor eu me recordo que é 3,141516). Imediatamente relacionei o esquecimento à falta de interesse nessas matérias, mas depois pensei que mesmo de química matéria em que eu era bom, lembro-me de algo. História que eu amava, recordo-me de fragmentos. O pior foi constatar que do livro que eu mais amo, 'CEM ANOS DE SOLIDÃO' que eu já li cerca de oito vezes, não lembro-me dos detalhes. Os nomes dos principais personagens, não tenho certteza. Lembro-me do Cel. Aureliano Buendía; mas da grande personagem feminina, não tenho certeza; Samanta... não sei ao certo. Amei o livro 'QUANDO NIESTZCHE CHOROU" e em seu final há uma reviravolta que adorei, um fato surpreendente, algo que achei genial, mas esqueci qual foi. Já quebrei a cabeça para me lembrar, mas não teve jeito. Uma densa neblina cobre tudo. Vejo vultos, diviso sombras, mas não consigo enxergar os detalhes. Nem mesmo os importantes. Isso deixou-me triste e decepcionado. Essa era uma característica da qual eu não havia dado importância, mas esquecer os detalhes de "CEM ANOS DE SOLIDÃO" é imperdoável. Nesse exato momento flashes com o nome da personagem feminina atravessam minha mente. Com certeza seu nome não é Samanta, mas não me vem à mente de jeito nenhum.Lembro-me da caminhada até o local de fundação de Macondo, lembro-me da casa cheia de gente, dos peixinhos de ouro que um dos Buendía fazia, lembro-me também que um deles ficou anos amarrado a uma árvore no quintal.Os anos de chuva ininterrupta, a chegada e depois a partida da cia bananeira. Lembro-me até da alegria que sinto ao ler esse livro, como amo a escrita de Gabriel Garcia Marquez. Aquela história confusa de idas e vindas, que tanta gente odeia e abandona a meio caminho, eu li no mínimo umas oito vezes. E não me lembro dos detalhes. O mesmo acontece com " O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA", do mesmo autor. Desse ainda me lembro dos nomes: Florentino Ariza e Firmina Daza; do médico que casou-se com Firmina falhou-me o nome agora. Da história lembro-me das linhas gerais, mas sem detalhes.
Estranho que letras de músicas lembro-me de velharias que quase ninguém se recorda. Há algum tempo, num bar em Ilhéus, havia música ao vivo; um cara tocando violão. Depois de umas vinte músicas ele comentou que estava impressionado com meu conhecimento musical. Eu conhecia todas as músicas que ele cantou; de Noel Rosa a Fagner, passando por Chico, Caetano, Gil, Quinteto Violado, e outros que quase ninguém lembra.
Mas, tudo o que eu estudei ao longo da vida, os livros que li, são hoje toldados por uma neblina espessa que impede de aproximar-me deles.
E o pior, às vezes faço algo - no trabalho por exemplo - e se tiver que repetir uma semana depois tenho dificuldade em lembrar do caminho que tomei, da solução que encontrei naquele caso.Parto quase do zero novamente.
Aliás, minha vida é um quase um partir do zero diariamente.
Ps.: Do nome do médico de "O amor nos tempos do cólera" lembrei-me sozinho: Juvenal Urbino. Do nome da matriarca de "Cem anos de solidão" só no Google: Úrsula. Pra Samanta há uma pequena diferença, né.
sábado, 26 de novembro de 2011
REMANDO CONTRA A CORRENTEZA.
Algumas características são tão arraigadas em minha personalidade, tão 'minhas' que não sei se tem alguma influência do TDAH. Mas, pensando bem, o TDAH está arraigadíssimo em minha personalidade, rsrs.
Uma de minhas características mais marcantes é ser do contra.
Hay gobierno, soy contra!
Comecemos por aí, pela política. Cresci sob os efeitos da ditadura, na minha adolescência era chiquérrimo ser de esquerda, comunista, socialista. Eu era governista. Defendia com unhas e dentes o governo militar. Tive discussões homéricas com amigos por causa de minha posição política. Até contra as diretas já eu fui. E não era por convicções políticas, era pelo prazer de por fogo no circo. Na verdade, minha alma é livre e amo o direito de expressão e as liberdades individuais; mas naquela época eu era contra.
Nunca bebi, e desde sempre, as pessoas próximas tentavam influenciar-me ou convencer-me pra que bebesse. Ninguém jamais conseguiu; não sei o que é um porre ou uma ressaca. Durante cerca de dez anos desfilei num bloco carnavalesco de Juiz de Fora chamado, Domésticas de Luxo. São centenas de homens,
( é proibida a participação de mulheres) todos vestidos de mulher, com o rosto pintado de preto e vestindo uma malha de corpo inteiro preta, inclusive os homens negros que participam. O resultado é hilário, abríamos o desfile oficial do carnaval de Juiz de Fora, com bateria e samba enredo próprios. A cara pintada já era por si, um salvo conduto para aprontarmos. Brincávamos com os homens - principalmente os acompanhados e com cara de sérios; 'disputávamos' o mesmo homem ( o alvo preferido eram os policiais da PM em serviço, que não podiam nem sorrir naqueles tempos de repressão) trocando insultos entre nós e bolsadas para delírio dos milhares de fãs que iam para a avenida só para ver as 'domésticas' passarem. Saía do desfile e seguia para os bailes dos principais clubes de JF, tudo de cara limpa, sem uma gota de nada.
E quanto mais as pessoas tentavam me convencer a beber, mais irredutível eu ficava. Me sobe uma ira santa, uma vontade incontrolável de 'queimar' a língua daquela pessoa.
Normalmente, tenho essas reações com comportamentos padronizados pela sociedade, aquelas modas. Claro que em alguns momentos segui a moda vigente. Nem sempre fui esse ET. Mas os grandes comportamentos me causam repulsa.
O amor quase obrigatório aos animais me incomoda. Tenho uma cadela em casa por causa da Marina. A Prenda está conosco há doze anos e nesses anos todos não aprendi a amá-la. Aliás, acho inconcebível amar uma animal. Amor é um sentimento restrito aos seres humanos. Sei que vão cair de pau em mim, mas o amor aos cães e gatos é um sentimento novo, produzido artificialmente por uma sociedade que não consegue enxergar os seres humanos e devota a um animal o sentimento que deveria ser dirigido ao seu irmão humano. Para se chegar a amar os animais, já deveríamos ter superado todas as anomalias sociais como o preconceito, a discriminação, a fome. Concordo em gênero, número e grau com o Eduardo Dusek em sua canção: Troque seu cachorro por uma criança pobre. Houve um tempo em que essa música fez sucesso, as pessoas entendiam a mensagem de que o amor e o respeito ao ser humano antecedem aos animais.
Claro, não sou a favor do extermínio nem da crueldade com os animais, mas discordo radicalmente desse sentimento de amor e proteção exacerbada aos animais.
Assim é com quase tudo. Odeio o Big Brother. Acho aquilo uma das coisas mais aviltantes e humilhantes que se criaram no mundo. Uma dúzia de idiotas expõem suas vidas e seus comportamentos mais mesquinhos e degradantes em troca de dinheiro e fama. O prazer de quem assiste, creio eu, é ver o ser humano em seu mais baixo grau de degradação moral. Comportamentos desonestos, traições, pequenos golpes baixos, são as armas expostas nesse programa medíocre e baixo.
Assim é com a música sertaneja. A qualidade das letras é rastejante. A sociedade brasileira conformou-se com o que tem de pior. Quem cresceu ouvindo Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gonzaguinha, Gilberto Gil, entre outros, não pode se conformar em ouvir essa pobreza musical que tomou conta do Brasil. É a mediocrização da música brasileira. Chamar a isso de arte e seus intérpretes de artistas é ofender a arte. São caça níqueis que se aproveitam desse momento triste da vida brasileira para faturar com o nada.
Sei que vão cair de pau em mim. Muita gente me detesta por conta dessas opiniões. Mas esse sou eu. Com ou sem TDAH. E creio que muita gente pensa e sente como eu, mas não tem coragem de externar.
Odeio me sentir membro de uma manada, seguindo a maioria sem saber onde, quando e se vai chegar em algum lugar.
Claro que não sou dono da verdade e todas as minhas teorias podem estar erradas. Mas não me preocupo com isso. Se algum dia eu mudá-las, será por minha própria vontade e não por que passou na Globo.
Posso mudar tudo amanhã. Sou uma versão viva da Metamorfose Ambulante, e não me envergonho disso.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
BOOOMMM DIIIAAAA!
Bom dia!
Escrevo este post às 6:25 da manhã.
Já arrumei minha cama, fiz e tomei café, fiz o nescau da Marina e estou navegando na internet. Acordar me dá uma estranha euforia, uma enorme vontade de cantar, só não o faço em respeito à Marina que odeia minhas musiquinhas ao amanhecer.kkkkkk
Acordar significa estar vivo. Mais uma jornada em que vou amar, trabalhar, aprender, ensinar, rir, curtir, viver enfim. Estarei com as pessoas que amo e com meu trabalho, meu blog, comigo mesmo.
Ao contrário do sono, acordado sonho com o que quero, quando quero.
Acordado não fico à mercê do inconsciente. Dirijo minha vida, meus passos.
Sei que vão cair de pau em mim (kkkkkk) mas odeio dormir. Pareço aquelas crianças que querem continuar brincando, só vou deitar-me com os olhos ardendo, e tão pesados que às vezes é impossível contê-los e durmo no sofá diante da TV com o notebook no colo.
Acho o máximo dividir com Machado de Assis a repulsa ao sono; mas pense bem, quanta coisa útil e prazerosa pode ser feita com as horas de sono. Quantos livros podemos ler madrugadas a dentro, quantas músicas novas podemos conhecer e degustar, por falar em degustar, quanta coisa gostosa podemos comer em lugar de dormir (mas aí tem a droga da balança). Para quem gosta - que não é o meu caso - poderia se usar a noite para malhar. Eu prefiro amar.
Um dia a medicina ainda vai criar um remédio que recarregue nossas energias acordados, igual a carregar um celular com ele ligado.
Vida 24 horas por dia!
Tá certo que tem gente cuja vida é tão ruim que, quanto menos tempo acordado melhor. Mas aí é só não tomar o remédio, e dormir.
Não é o meu caso. Sofro um pouco da síndrome da Pollyana - para os mais jovens eu explico: Pollyana foi uma série de livros para meninas adolescentes da década de 60/70. Pollyana era uma menina feliz, tudo ela arrumava uma compensação positiva; exagerando no exemplo, se ela quebrasse a perna ela sorria e dizia: que bom que eu quebrei a perna assim posso colocar um gesso branquinho para meus verdadeiros amigos assinarem. Ou assim posso ficar quieta em casa e estudar mais. Pois é, sofro um pouco dessa síndrome, por mais que eu apanhe da vida, eu a amo, e me sinto feliz. E pode parecer estranho, mas o TDAH me transforma num camarada raro, diferente. Rabujento, mas diferente. E confesso, adoro ser diferente.
Por isso, BOM DIA!
Pra mim, pra você, pro mundo!
Como diz o José Simão: Bom dia flor do dia!
Camarão que dorme, a onda leva!!!!
Obs.: O lindo sol da foto não é compartilhado por Juiz de Fora, na cidade onde vivo chove ininterruptamente há horas. As vendas não serão boas, mas o dia será.
domingo, 20 de novembro de 2011
SUJEITO ESQUISITO!
Eu sei que sou esquisito.
Não gosto de cachorro, nem de gato. Não gosto de música sertaneja, não gosto de gente, não gosto de aglomeração, não gosto de festa - nem pra mim - não gosto nem de natal mais. Detesto emails lindos, com frases edificantes e imagens tocantes. Não gosto de poesia. Não como verduras ou coisas saudáveis, odeio cerveja - e bebidas alcoólicas em geral - não como torresmo, nem feijoada. Acabo ficando meio à margem das coisas e das pessoas - o que diga-se de passagem não acho ruim. Detesto barulho, gritaria, ou pessoas escandalosamente felizes. Essas pessoas que de tão felizes externam seu estado de espírito aos urros e em público. Odeio mensagens em carros, aquelas em que as pessoas externam suas crenças, seus gostos, e seus amores; seja por Deus, pela família ou pela esposa, noiva ou pelo cãozinho.
Não gosto de filmes de luta e aventura, nunca gostei de Stalonne, Schwarzenegger, Van Damme e outros astros da luta. Detesto desenho animado, principalmente dos Simpsons; jamais gostei do Ayrton Senna, sempre torci pelo Piquet.
Não suporto regras, nem restrições.
Quando começo a conviver com novas pessoas, o que mais digo é: não gosto.
Apesar de a Luciana Fiel me repreender todas as vezes que falo isso, eu não consigo encontrar outra definição: eu sou um sujeito esquisito.
Gosto mesmo de muita pouca coisa.
Gosto de praia; vazia.
Gosto de música, de qualidade.
Gosto de livros, de internet, de escrever, de saxofone, de chocolate, de lasanha, de poucas pessoas. Pouquíssimas.
Adoro tecnologia, amo celulares e computadores.
Gosto da solidão.
Quase tudo o que gosto é individual, solitário.
Gosto de viver na corda bamba. Mas detesto conviver com esse sentimento, que me desespera, me angustia, me enche as mãos de desidrose. Mas continuo na corda da bamba. Continuo procurando a corda bamba, o fio da navalha.
Detesto a dor, mas procuro-a.
Odeio a incerteza, mas a cultivo.
Detesto confrontos, mas os provoco.
' Meu caminho é cada manhã,
não procure saber onde vou.
Meu destino não é de ninguém,
eu não deixo meus passos no chão.'
É, sem dúvida, eu sou um sujeito esquisito.
Tem dias que nem eu me aguento...
terça-feira, 15 de novembro de 2011
EU NÄO SOU HIPERATIVO!
Eu recebo diversos comentários de pessoas recém diagnosticadas como portadoras de Tdah; em sua grande maioria afirmam que não possuem o H, ou seja, não são hiperativas. Até eu mesmo acreditei que minha hiperatividade havia ficado na infância. Lêdo engano. Hoje de manhã, enquanto fazia meu café, eu me distraía lendo a embalagem de um bolo. Imagine, algo interessantíssimo de ser lido. Nesse momento, caiu a ficha; sempre relacionamos a hiperatividade àquele comportamento fisicamente inquieto. Lembramo-nos daquelas crianças insuportavelmente levadas, ou daqueles adultos que agitam mãos e pés sem parar. Mas, esquecemos de nós mesmos, de nossos comportamentos mentais. Comecei a pensar em como me comporto quando estou sozinho; só assisto televisão com o notebook, um livro ou o celular na mão. Enquanto assisto, leio algo. Sempre foi assim. Raríssimos são casos em que acompanho somente o que está na TV. Em geral, programas legendados me obrigam a um acompanhamento exclusivo. Acabo levantando no meio do filme ou programa para beber uma água ou qualquer outra desculpa para sair do imobilismo. Por isso prefiro às séries aos filmes. Aquelas são mais curtas, são rapidamente concluidas e me liberam pra dar uma movimentada. Ou pelo menos quebram aquela sequência de tempo preso a um só sentimento, a um só enredo, a um só clima. Quase não vou ao cinema. Vou bem durante uns trinta, quarenta minutos; depois disso começo a consultar o relógio e a entrar em conflito com a poltrona, por mais confortável que ela seja.
Quando almoço sozinho sempre tenho um livro ou um jornal à mão, que leio enquanto como. Hoje em dia, levo meu celular com acesso à internet. Acho terrível ficar ali sentado com os olhos boiando e a cabeça no nada.
Em casa sozinho? A TV ta ligada o tempo todo. Mesmo quando estou no banho e não consigo distinguir o que ela está dizendo, seu ruído me conforta e me enche o cérebro.
Mas é tarde da noite, tenho que respeitar o sono alheio? Ocupo minha cabeça com histórias, algumas inverossímeis, outras nem tanto; mas solto minha imaginação e assim não vejo o tempo passar.
Odeio dormir. Considero o sono como um estado de coma. Um momento inútill, em que, consumimos um pedaço de nossa vida sem saboreá-lo. Sem, sequer, saber que consumimos um pedaço significativo de nossas vidas. Parafraseando Machado de Assis: dormir é uma forma provisória de morrer.
É, realmente, eu não sou hiperativo!
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
MAIS DE MEIO SÉCULO DE TDAH EM EBULIÇÃO
Este post foi iniciado no último domingo dia 06 de novembro. mas por questões tecnológicas só pode ser terminado hoje.
Completo hoje 51 anos. Mais de meio século de vida, e de TDAH. Cinquenta e um anos de esquecimentos, de procrastinação, de impulsividade; mas acima de tudo isso, são 51 anos de muita paixão e muita emoção. Muito prazer e muita dor. Muita vida!
Muito cedo, ainda adolescente casei-me e tive uma filha. Mais perdido fiquei. Os sonhos da adolescência foram cortados pela responsabilidade de uma familia. A necessidade de ganhar dinheiro, de ser adulto.
Eu não estava preparado para ser adulto, muito menos ser pai.
O resultado foi um desastre, muito antes, anunciado pela clarividência de meu pai.
Mas amei intensamente minha primeira esposa; como amei a todas as mulheres com quem convivi.
A emoção do amor, essa sensação fortíssima provocada pela presença da pessoa amada sempre norteou minha vida. Para vivê-la fiz verdadeiras loucuras, tomei atitudes e caminhos recriminados pelos outros. Mas quando essa emoção bate, não tem jeito, não consigo me controlar. Sou movido a paixäo. Até tentei, em alguns momentos, racionalizar os sentimentos, pesar tudo o que estava em jogo; mas nada adiantou. O sentimento superou a razão, e eu o segui. Expus-me a críticas e julgamentos rasteiros mas segui minha necessidade de paixão, de emoção, de sedução. Esse comportamento exacerbadamente apaixonado, fez a festa daquelas pessoas que, apesar de possuir telhados, paredes e portas de vidro que se acham no direito de criticar a vida alheia.
Claro que nem sempre foi bom. Essa paixão me fez sofrer em muitas vezes, decepcionei-me, abandonei e fui abandonado; traí e fui traído; mas amei e fui amado. Isso é o principal.
A paixão, gera raiva, explosões, amores, mágoas e dores. Uma vida rica, porém pesada.
Não sei se está certo ou errado, mas parafraseando Roberto Carlos: o importante é que emoções eu vivi.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
O MEDO DO DESCONTROLE
Existem algumas coisas difíceis de serem explicadas. Durante toda a minha vida, mesmo na adolescência, sempre evitei bebidas, drogas, armas e jogo. No fundo de minha alma sempre tive muito medo de não conseguir me controlar. A bebida, graças a Deus, nunca foi um prazer pra mim; até hoje qualquer bebida, de qualquer tipo, me causa desconforto e todas me provocam um estranho arrepio pelo corpo. Jamais insisti ou tentei superar essa rejeição física à bebida. Sempre temi chegar ao fundo do poço, de beber até cair.
Meus amigos mais antigos lembram-se de que eu sempre fui aquele que acompanhava os tontos até em casa, mais tarde dirigia para aqueles sem condições para isso. Até experimentei alguns tipos de bebida e, claro, ao contrário da maioria odeio cerveja. Na adolescência, desfilei em escolas de samba, fantasiei-me de mulher em blocos de embalo, pulei carnaval em clubes da cidade; sempre de cara limpa. Lembro-me perfeitamente de uma senhora que ficava no caixa do bar do clube Bom Pastor, onde eu pulava carnaval, ela sempre dizia que eu era seu folião preferido; talvez eu fosse o único adolescente sóbrio daquele salão.
Se cheguei a experimentar algumas bebidas, com relação ao jogo eu era ainda mais radical. Nunca joguei a dinheiro, nem mesmo centavos. O máximo que eu concordava era jogar com grãos de feijão ou coisas equivalentes. Sempre temi perder tudo no jogo, viciar-me até ao mais baixo nível.
Sempre temi as armas. Com um temperamento explosivo, instável e, acima de tudo, incontrolável, disparar uma arma sem pensar seria fácil demais. Nunca cogitei ter uma arma, nem ontem, nem hoje, nem nunca.
Na minha adolescência as drogas tinham um certo glamour, um charme. Era meio que coisa de gente que se rebelava contra o sistema, os pais, a ditadura, etc, etc...
Existia até mesmo um perfume com um aroma muito parecido ao da maconha: patchouli. Não sei se é assim que se escreve, mas lembro-me do cheiro e da embalagem perfeitamente.
Fiz algumas incursões pelas drogas leves, maconha, uns chás que se usavam na época. Mas também o medo do descontrole, o receio de me afundar nas drogas me fez desistir da experiência.
Sempre tive em meu íntimo uma noção da passionalidade da minha personalidade; sempre tive consciência de que tudo aquilo que me dava prazer me absorvia completamente. Assim foi com as namoradas, o cigarro - desse só consegui me livrar em 1998, após 24 anos de fumacê explícito - a leitura, o sexo, e todos os prazeres que se apresentaram na minha vida.
Sei lá que mecanismo em minha mente fez o medo ser maior do que a compulsão por esses vícios. Outras características do TDAH não consegui controlar, mas enfim, ninguém é perfeito.
Nem eu sou um TDAH perfeito. Como profissional do TDAH também cometi minhas falhas. Graças a Deus, senão provavelmente hoje eu estaria na cadeia ou no cemitério.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
EU DESISTO!
Não aguento mais viver sob pressão.
Uma vida ... vida? Não! Não posso chamar isso de vida. Sobrevivo entre o fogo cruzado das pressões financeiras, afetivas e minhas próprias cobranças. Trôpego, às cegas, tento encontrar um caminho que satisfaça o egoísmo de todos os envolvidos.
Caio outra vez. Ergo-me novamente, através da névoa que me tolda a visão acredito vislumbrar uma saída, um novo caminho. Nem mesmo as feridas nos pés, causadas pela insana caminhada, me impedem de perseguir a miragem daquele novo caminho. Qual nada, o novo caminho se revela ainda mais íngreme e sofrido que o atual, e uma nova queda é uma questão de tempo.
Sinto-me extenuado, derrotado, entregue.
Revolto-me contra mim, contra minhas escolhas, contra meus sentimentos.
Quantas atitudes impensadas, tomadas no calor da paixão.
Quantas perdas oriundas da procrastinação doentia.
Quanta dor provocada pela absurda necessidade de adrenalina.
Quanto sofrimento causado pela busca incessante do novo.
Quando isso vai acabar?
Será que somente a morte será capaz de controlar essa mente insana?
Serei sempre vítima dessa ebulição química em meu cérebro?
Um órgão descontrolado, morro abaixo, sem freios, sem motorista. O resultado sempre será uma tragédia.
Sou um passageiro de minha mente, preso ao assento pelo cinto de segurança vejo o avião em chamas em queda livre rumo ao choque final no solo lá embaixo.
O medo da morte compete com o êxtase da adrenalina.
No fundo da alma eu sabia do risco daquela viagem. Eu tinha conhecimento da altíssima probabilidade da tragédia. Mas caminhei a passos largos e firmes em direção a ela. Agora, com a aeronave despencando rumo ao solo, o medo e o êxtase se misturam e se somam num vulcão de emoções que me exaurem mas, inexplicavelmente, me impulsionam rumo ao próximo desastre que certamente virá.
Quem de nós, portadores, nunca se sentiu dessa maneira?
Quantas vezes somos assaltados por um sentimento de derrota acachapante.
A tragédia final, o último colapso, a derradeira queda.
Machucados ou não, reerguemo-nos a duras penas, reconstruindo nossas vidas e nos preparando para a próxima queda.
Mas não desistimos. Os TDAHs possuem uma chama de vida que não se apaga. Nela nos agarramos, nos apoiamos e nos levantamos. Infinitamente se for preciso, indefinidamente se for necessário, incansavelmente.
Eu desisto!
A frase que sai fácil da boca não consegue romper a força de nossa alma. Um mínimo sopro reacende a brasa que parecia adormecida.
Qual Sísifo, recomeçamos a rolar a enorme pedra morro acima com a certeza de que, dessa vez, atingiremos a estabilidade do pico da montanha.
Pouco importa se parece impossível ou insano.
Quanto maior o desafio, maior a nossa força interior.
Ao infinito e além!