domingo, 27 de novembro de 2011

VOCÊ SE LEMBRA? NEM EU.






Ontem estive lendo trechos do livro 'No mundo da lua' do médico Paulo Mattos. Marina pegou emprestado de uma amiga e o leu inteiro em uma sentada. Depois eu li os trechos dedicados ao TDAH adulto. Um trecho chamou-me a atenção e me fez pensar; uma professora de biologia aposentada afirmava que cinco anos após deixar de lecionar ela havia esquecido tudo o que ensinara a vida inteira. Fiquei pensando naquilo e constatei que sou absolutamente igual. Não me lembro de nada, nada mesmo do que aprendi na escola ou mesmo na faculdade. Recordei-me do fato de um amigo ter mencionado certa vez que usara um logaritmo para calcular determinada área ( ou capacidade) de uma piscina. Eu nem sequer me lembro pra que serve um logaritmo, ou raiz quadrada, ou o que se estuda em cinemática, ou mesmo a utilidade do Pi ( o valor eu me recordo que é 3,141516). Imediatamente relacionei o esquecimento à falta de interesse nessas matérias, mas depois pensei que mesmo de química matéria em que eu era bom, lembro-me de algo. História que eu amava, recordo-me de fragmentos. O pior foi constatar que do livro que eu mais amo, 'CEM ANOS DE SOLIDÃO' que eu já li cerca de oito vezes, não lembro-me dos detalhes. Os nomes dos principais personagens, não tenho certteza. Lembro-me do Cel. Aureliano Buendía; mas da grande personagem feminina, não tenho certeza; Samanta... não sei ao certo. Amei o livro 'QUANDO NIESTZCHE CHOROU" e em seu final há uma reviravolta que adorei, um fato surpreendente, algo que achei genial, mas esqueci qual foi. Já quebrei a cabeça para me lembrar, mas não teve jeito. Uma densa neblina cobre tudo. Vejo vultos, diviso sombras, mas não consigo enxergar os detalhes. Nem mesmo os importantes. Isso deixou-me triste e decepcionado. Essa era uma característica da qual eu não havia dado importância, mas esquecer os detalhes de "CEM ANOS DE SOLIDÃO" é imperdoável.  Nesse exato momento flashes com o nome da personagem feminina atravessam minha mente. Com certeza seu nome não é Samanta, mas não me vem à mente de jeito nenhum.Lembro-me da caminhada até o local de fundação de Macondo, lembro-me da casa cheia de gente, dos peixinhos de ouro que um dos Buendía fazia, lembro-me também que um deles ficou anos amarrado a uma árvore no quintal.Os anos de chuva ininterrupta, a chegada e depois a partida da cia bananeira. Lembro-me até da alegria que sinto ao ler esse livro, como amo a escrita de Gabriel Garcia Marquez. Aquela história confusa de idas e vindas, que tanta gente odeia e abandona a meio caminho, eu li no mínimo umas oito vezes. E não me lembro dos detalhes. O mesmo acontece com " O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA", do mesmo autor. Desse ainda me lembro dos nomes: Florentino Ariza e Firmina Daza; do médico que casou-se com Firmina falhou-me o nome agora. Da história  lembro-me das linhas gerais, mas sem detalhes.
Estranho que letras de músicas lembro-me de velharias que quase ninguém se recorda. Há algum tempo, num bar em Ilhéus, havia música ao vivo; um cara tocando violão. Depois de umas vinte músicas ele comentou que estava impressionado com meu conhecimento musical. Eu conhecia todas as músicas que ele cantou; de Noel Rosa a Fagner, passando por Chico, Caetano, Gil, Quinteto Violado, e outros que quase ninguém lembra.
Mas, tudo o que eu estudei ao longo da vida, os livros que li, são hoje toldados por uma neblina espessa que impede de aproximar-me deles.
E o pior, às vezes faço algo - no trabalho por exemplo - e se tiver que repetir uma semana depois tenho dificuldade em lembrar do caminho que tomei, da solução que encontrei naquele caso.Parto quase do zero novamente.
Aliás, minha vida é um quase um  partir do zero diariamente.


Ps.: Do nome do médico de "O amor nos tempos do cólera" lembrei-me sozinho: Juvenal Urbino. Do nome da matriarca de "Cem anos de solidão" só no Google: Úrsula. Pra Samanta há uma pequena diferença, né.

3 comentários:

  1. Alexandre,e quando a gente tá conversando com amigos ou num grupo qualquer que se começa a frase e seja lá o que for que envolva nomes, autores, teorias, títulos não vem jamais na hora certa. Que agonia essa hesitação. E no trânsito é o seguinte: basta deixar de percorrer um trajeto diariamente que não lembro mais como se acessa o local, tenho que pensar um tempão. Desde sempre na vida adulta tinha a sensação de "mala vazia", ou seja, não sinto a experiência acumulada, não posso contar com a bagagem que sei que tenho, estou sempre recomeçando, na vida psicológica e na real. Weird world. abraço!

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  2. a ritalina causa esses apagoes. Conheci a doença e o remedio por causa do seu blog. so tomo de vez em quando por causa desses apagoes.Voce escreve e relata muito bem.eu mal consigo escrever um recado com nexo. nunca conseguir construi familia. Tive uma filha achado que conseguiria mudar, ter resposabilidade. ate que ajudou um pouco. Dpois eu continuo vou deitar e ver tv. para nos dda so o serviço publico. depois eu falo mais, estou cansada.

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  3. Acho que e por isso que guardo livros e cadernos,pois no fundo tenho a sensacao de precisar algum dia e eles estarem la....como se fossem minha memoria impresso.

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