quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
UM TDAH À BEIRA DO ABISMO
O abismo me chama!
Lá do fundo um som doce parece murmurar meu nome.
Daqui de cima parece macio, parece azul...
Seria água?
Um salto na água azul é convidativo, quase sedutor.
A carícia da água gelada, o vento por todo o corpo na queda que precede o mergulho.
Como é belo o abismo.
Dou um passo atrás.
Viro-me de costas e tento me lembrar de como eram as imagens dos abismos anteriores.
Imagens desconexas povoam minha mente, um desfile de escarpas e azuis dos mais variados tons.
Então todos se parecem...
Todos são sedutores.
Volto inúmeras vezes à beira do abismo. Mas já não tenho a coragem de antes para saltar lá embaixo.
Algo me prende, me mantém preso às margens daquele precipício. Aos poucos minha visão se acostuma com a altura e consigo divisar as rochas pontiagudas lá embaixo. Já conheço esse abismo; já senti suas dores; já deixei parte do meu sangue (e dos meus sonhos) lá em seu fundo.
Num misto de tristeza e alegria decido me afastar.
Lentamente deixo o abismo para trás.
Uma sensação de alívio e tristeza se misturam. Alívio por me saber livre das dores lancinantes que a queda me provocaria, mas tristeza, por que até que meu corpo se esborrachasse nas pontas afiadas das rochas lá embaixo, a sensação de prazer é indescritível.
No fundo da minha alma um sentimento novo vai crescendo.
Um sentimento de que existem outras opções ao abismo. Talvez não ofereçam a sensação de prazer indescritível, mas oferecem paz, tranquilidade e acima de tudo: futuro!
Sei que o TDAH é fortíssimo e por isso não decretarei o fim definitivo da temporada de prazeres fugazes coroados por dores lancinantes.
Mas posso decretar que: nesse mesmo abismo não caio mais.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
O TDAH, DORIAN GRAY E A VELHICE
Eu sou atemporal!
Pode rir, eu nem ligo!
Engraçado que é exatamente assim que eu me sinto; quando não estou diante do espelho, esse inimigo implacável da minha ilusão.
Mas, longe dele eu não me sinto com idade nenhuma. Na maioria das vezes não sinto a menor diferença de quando tinha 40 ou 30 anos. Obviamente considerando a vida sedentária que levo. Trabalho como um Mouro, desenvolvo uma profissão que aprendi a menos de dois anos, tenho vários planos para o futuro, novos campos profissionais, inclusive, a serem explorados. Não tenho os mais de cinquenta anos que a maioria das pessoas tem nessa idade. Em geral o sujeito está na descendente, meio contando as horas pra aposentadoria, pensando nos netos (que graças a Deus as minhas filhas ainda não me deram, rsrsrs). Aprendi a tocar saxofone aos quarenta e oito anos, me descobri TDAH e criei esse blog aos cinquenta anos, seis meses depois estava aprendendo uma nova profissão; onde está o peso da idade?
Gosto de funk, música eletrônica, embora ouça pouquíssimo esses gêneros musicais; adoro tecnologia, estou sempre aprendendo ou tentando e, muitas vezes, me irrito ao ouvir pessoas da minha idade afirmarem que vão pedir aos filhos que os ajudem com a tecnologia pois estão velhos para aprender por si só.Claro, troco informações e aprendo com a minha filha, mas corro atrás, pesquiso, leio, fuço nos aparelhos até aprender.
Tirando a cútis apessegada e o tônus muscular não vejo grandes diferenças entre a minha capacidade de viver e capacidade das pessoas de vinte ou trinta anos menos do que eu.
Tudo bem, e o que isso tem a ver com o TDAH?
Segundo minha médica, tudo.
Temos um amadurecimento mais lento.
Oba!!!!!
Adorei isso, vou morrer aos cem anos achando que tenho apenas uns oitenta e poucos. Olha que delícia.
Sempre poderei achar que um dia estarei apto a desafiar o Kenny G. no saxofone, ou quem sabe dar aulas de como usar aquele último modelo de Transfigurador Molecular Intergalático recém lançado pela Apple.
Talvez meu velório seja ao novo ritmo da moda o funktimbaleltrosummer, ou podem convidar a bateria da Portela, Mangueira, Beija Flor. Tanto faz, só quero que seja compatível com a minha idade mental.
Talvez um show da Xuxa!
Que naquelas alturas já vai ser dado em cadeiras de rodas ou numa cama de hospital.
Imagino que muita gente deve estar me achando um idiota. Nem ligo 2.
Ter TDAH é tão difícil que devemos explorar as poucas vantagens que se nos apresentam. Se podemos nos iludir com a idade que temos, e não sentir tanto seu peso quanto os 'normais', ótimo; vamos aproveitar.
Poderemos ter mais tempo para aproveitar as nossas vidas, para sermos mais produtivos, para amarmos nossas mulheres/maridos, nossa família, amigos, nossa vida.
Afinal, a vida do TDAH dura muito mais.
Pelo menos a minha vida demora muito mais a passar.
PS.: Ao procurar uma imagem para ilustrar esse post lembrei-me da monumental obra de Oscar Wilde : O retrato de Dorian Gray. Nela um rapaz faz um pacto com o diabo e se mantém jovem e belo ao longo de décadas enquanto um retrato seu envelhecia escondido no sótão de sua casa.
Tudo bem que não fizemos um pacto com o TDAH, mas a analogia foi automática.
Agora precisamos romper esse pacto que o TDAH fez conosco sem que fôssemos consultados.
Mas exploremos a nosso favor o que nos pode ser favorável.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
A VITÓRIA DOS LOUCOS
Noite estrelada sobre o Ródano. Vincent Van Gogh,
um dos loucos mais sublimes da história.
Conversando com um amigo, autor da escultura que ilustra o post TDAH À FLOR DA PELE, ele comentou sobre aqueles loucos que atravessaram oceanos em barcos de madeira, sem nenhuma tecnologia, sem segurança e sem nenhuma certeza de retorno.
Fiquei pensando nisso.
Provavelmente estaríamos saindo das cavernas agora se não fossem os loucos, os temerários, os impulsivos.
O mundo move-se por conta dos arrancos dos que não temem acreditar nos seus sonhos, ainda que desacreditados pelos normais.
Se dependêssemos dos normais, dos que tem medo, dos que querem apenas segurança, pouco ou nada teríamos.
Claro, o índice de fracassos e decepções é enorme; mas as conquistas são únicas. Só existimos como nação por que um bando de loucos arriscou a vida atravessando um oceano desconhecido sem a menor garantia de sucesso. Assim foram quase todas as conquistas.
Volto ao tema do post citado acima: não precisamos da 'normalidade' precisamos aprender a aplicar tudo o que borbulha nas nossas cabeças.
Somos usinas ambulantes de ideias e inovações, precisamos transformar isso em ação, em concretude.
Tenho plena consciência de que o mundo mudou e que não há mais espaço para aqueles loucos românticos. Mas aí entra o tratamento, o auto conhecimento e o conhecimento da nossa doença. Não mataremos nossa criatividade, aprenderemos a direcioná-la em nosso benefício.
Apenas isso.
E isso é coisa pra caramba, muito trabalho, muita luta, mas também, muito reconhecimento.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
O TDAH E OS PRESSENTIMENTOS
Lentamente uma onde de tristeza tomou conta do meu corpo e da minha alma. Nada aconteceu, estou sozinho no meu laboratório trabalhando. O humor que acordou normal afunda numa melancolia inexplicável.
De repente o alerta de mensagem no celular. De dentro da minha armadura de tristeza eu salto pra ler o que tinha ali. Era uma bomba! Uma notícia inesperadamente bombástica! Respirei fundo aquietei minha alma e respondi com a dignidade e a frieza absolutamente adequadas para o momento. A resposta que partiu me deu um enorme alívio e o silêncio que se seguiu foi a resposta perfeita para o efeito que eu queria obter.
Aos poucos minha alma desanuviou-se e o dia seguiu tranquilo.
Quem me conhece sabe que apesar de ser nascido e criado em família espírita eu sou pouquíssimo afeito a sentimentos esotéricos e coisas afins. Mas hoje, essa sequência de fatos que narrei acima, me chamaram a atenção. Parece que meu estado de espírito precedeu ao fato que tomei conhecimento logo a seguir.
Aí lembrei-me do pior momento da minha vida. Não entrarei em detalhes por tratar-se de algo muito íntimo e grave, mas no dia do ocorrido uma tristeza profunda se abateu sobre mim. Lembro de ter largado o serviço pela metade e saído andando a esmo pela cidade. Um profundo desânimo me impedia de pensar, de ter vontade pra qualquer coisa. A custo cheguei na casa da minha mãe e durante o almoço o desfecho da situação explodiu na minha cara. A pior experiência da minha vida parece que foi pressentida por minha alma, meu corpo. Hoje o fato foi infinitamente menor, mais simples, mas ainda assim eu pressenti que algo sério estava pra acontecer.
Será?
O que isso tem a ver com o TDAH?
Sei lá. Nada ou tudo. Não sei dizer.
O que sei é que achei uma experiência muito significativa e eu que sempre me achei sensível como uma rocha, comecei a questionar minha insensibilidade.
Claro, o TDAH provoca variações de humor, minha médica afirma que eu tenho Transtorno de Humor e que eu deveria me medicar - mas tô evitando tanto remédio - mas quem sabe eu não encontro uma outra explicação para crises repentinas de melancolia?
Muito forçado né?
Nem eu acredito nisso.
Enfim, pressentimento ou não; estou findando o dia com meu humor estabilizado, tranquilo e decidido a me manter dentro do caminho que escolhi e acredito ser o melhor pra minha vida. Claro, não vou negar que flertei com o abismo. Daqui de cima ele é lindo, sedutor e convidativo; mas já saltei nele uma vez e ainda trago as marcas das feridas profundas que a queda me causou.
Sigo em busca da estabilização de toda a minha vida. Não vou enebriar-me pelo canto da sereia novamente. Tapo os ouvidos e canto mais alto do que ela.
Minha voz não é tão bela, mas a minha vida é.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
TDAH À FLOR DA PELE
Escultura do artista Mauro Alvim, de Juiz de Fora - MG
A coragem de dar a cara a tapa.
A força para reerguer-se.
A criatividade para reinventar-se.
A disciplina para sobreviver ao transtorno.
A dignidade para encarar os detratores.
A determinação para seguir sozinho o caminho do tratamento.
A defesa incansável da liberdade.
A inabalável fé que derrota os medos.
A riqueza de uma paixão intensa.
Amalgama de sentimentos que dão origem a seres únicos.
Seres movidos a paixão.
Seres capazes de criar o inimaginável.
De conceber caminhos impensáveis.
De extrair a fênix daquele corpo aparentemente morto.
De enxergar a luz no fim de um túnel imaginário; e ter a coragem de buscá-la.
Quixotes incansáveis na eterna busca da 'normalidade'.
Mas, não seria a 'normalidade' moinhos de vento que movem-se estáticos?
De que vale balançar os braços se as pernas pesam como chumbo impedindo a caminhada?
Não, não queremos a normalidade, queremos o controle.
Controlar os sentimentos. Não sua intensidade, mas sua direção.
Toda a intensidade de um TDAH à flor da pele, submetida à razão que transforma a criatividade em vida, o sonho em conquista, o caminho em vitória.
Esse sou eu.
Uma pequena fração desse universo TDAH, formado por milhares de sonhos e criatividades únicas, de paixões avassaladoras, de amores perdidos e reencontrados.
Somos todos.
Ninguém vai nos acorrentar.
Ninguém vai nos derrotar.
Nos reergueremos infinitamente com a força daqueles que carregam o inimigo na alma e ainda assim sobrevivem.
O AMOR ARDOR DO TDAH
Força
Entrega
Ânsia
Riso
Prazer
Delírio
Sonho
Despertar.
Crer
Sentir
Crescer
Inflar
Ocupar.
Tomar
Preencher
Transbordar
Afogar
Sufocar
Sobreviver.
Reviver
Reavivar
Reencontrar
Reacender
Renascer
Recomeçar.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
O TDAH E O PLANEJAMENTO
O que é planejamento?
Não faço a menor ideia.
Nem nunca consegui entender pra que serve um planejamento se a vida é tão cheia de surpresas e desvios.
Como prever as reações de todas as pessoas envolvidas em nossas vidas?
Qualquer planejamento de vida deve incluir o marido/esposa/mãe/pai/irmãos e irmãs/ filhos e filhas, patrão/empregado/sócio/consumidor/governo/concorrentes; enfim variáveis demais que devem se comportar de acordo com nosso planejamento pra que ele dê certo. Ontem falei das multas, eu tinha um planejamento pra esse dinheiro e as multas sugaram o dinheiro e o planejamento. Tudo bem, não era assim um PLANEJAMENTO, mas tinha uma ideia prática do que fazer com o dinheiro, que me levaria a um alívio financeiro significativo. As multas adiaram tudo. Inclusive transformaram o alívio em sufoco.
Como se pode planejar o futuro num país louco como o Brasil? Onde tudo muda a todo o instante?
E planejamento de longo prazo? O que estarei fazendo daqui há cinco anos?
Sei lá, não tenho a menor ideia.
Cinco meses? Também não.
Nas menores e mais simples das coisas: eu queria ir com a namorada ao show do Elton John em BH dia 09 de março. A grana acabou (as multas de novo). Se minhas ideias funcionassem eu teria uma bela folga em março. Mas ou pago as multas ou fico sem carro, não tenho escolha.
Conta o folclore do futebol que antes de um jogo de copa do mundo o técnico do Brasil chamou o craque Garrincha e explicou pra ele como deveria jogar. Ao final da explicação Garrincha perguntou: tudo bem, mas o senhor combinou isso tudo com o time deles?
Minha filha mais velha formou-se em Turismo e fez estágios em alguns hotéis da cidade e região e adorou trabalhar em hotel. A título de intercâmbio morou seis meses nos EUA onde trabalhou em hotéis e restaurantes ( além de passear pra caramba). Ao retornar ao Brasil, ela descobriu que existe um curso de hotelaria na Suíça considerado o melhor do mundo.
Fomos atrás das informações e o custo era muito acima do que eu podia pagar. A própria Deborah me fez a proposta: pai me mande pra Aspen na alta temporada de inverno que faço mais da metade desse dinheiro.
Assim fizemos. Banquei a segunda viagem dela pros EUA e ela foi trabalhar em Aspen (uma estação de esqui famosíssima). Ao pisar em terras americanas explodiu a crise econômica de 2008.O movimento em Aspen caiu mais de 60% e minha filha, junto com todos os trabalhadores temporários, foi demitida.
A crise de 2008 impediu o mestrado em hotelaria da minha filha. Tudo bem, ela voltou ao Brasil seguiu outros caminhos, mas o planejamento do que ela sonhava foi pro espaço.
Não consigo absorver quando as pessoas dizem que é preciso planejar.
Juro que não entendo muito. Imagino que se eu aplicar todas as variáveis possíveis ao meu planejamento ele vai virar uma loteria e não mais um planejamento.
Se chover, faço isso; se der sol, aquilo; se ventar demais, aquilo outro; se tiver cerração, sigo esse caminho.
Será que é assim?
E se for um ciclone, um terremoto, sei lá uma chuva daquelas de Friburgo. Tá tudo ali?
Aberto a ensinamentos.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
O TDAH APRENDE COM SEUS ERROS?
O post anterior UM TDAH INVENCÍVEL, gerou uma conversa extremamente prazerosa e útil; nós portadores aprendemos com nossos erros?
Meu amigo Frank discordou dessa afirmativa: Segundo Kátia, aí estava a chave do meu depoimento e talvez da minha vida: a certeza dessa 'capacidade de me reerguer', faz com que eu não dê muita importância ou muito valor às derrotas da vida.
Frank defendia que ao contrário do que eu afirmei, sentimos muito nossas derrotas. Somos as nossas principais vítimas e sentimos cada gota de nossas quedas.
Aí entra a segunda opinião, da amiga Anonima123, e ela levantou uma questão interessantíssima: sentimos as derrotas, mas as repetimos. Ou seja, não aprendemos com elas.
E nisso eu concordo plenamente.
Quantas vezes cometemos os mesmos erros? Ou erros muito similares?
Anonima123 lembra que sentimos demais as derrotas, mas não as analisamos detidamente. Rapidamente levantamos a cabeça e partimos pra outra. E em pouco tempo estamos repetindo os erros passados; afinal, em momento algum paramos pra analisar fria e detidamente aonde e por que erramos.
E assim levamos quase tudo na vida, aos trambolhões, ao sabor do impulso e das decisões tomadas no calor da situação.
E aí eu me pergunto: o que fazer pra mudar isso?
Como é parar e analisar fria e detidamente uma questão?
Ou ainda, como fazer para que as situações de derrota não ocorram?
Minha vida é permeada de surpresas desagradáveis; más notícias, faltas de sorte, sustos. As vezes penso: pqp, tudo acontece comigo! E acontece mesmo.
Quanta gente se aproveita das brechas da legislação de trânsito para não pagar multas? Pois é, ano passado contratei um advogado pra recorrer de umas multas, eu estava apertado, não tinha como pagar. O camarada recorreu, as multas desapareceram e eu fiquei felizinho. Resultado? Fui pagar os documentos desse ano, e as multas que eu julgava extintas voltaram a me assombrar. Mil reais de multa. E eu durinho!
Ai Jesus, que vontade de cometer um advogadocídio!!! Aí ele me veio com um monte de explicações que não interessam, mas morri na grana. Sem ter.
E isso se repete infinitamente na minha vida. Claro, a responsabilidade é toda minha, mas como fazer pra quebrar esse círculo vicioso?
Outro exemplo? Amor. Sou de uma intensidade vulcânica! Vivo me dando mal. Me arrebento, ou pior, arrebento os outros. Mas como ser de outra forma? Eu nem percebo, e se percebo, já é tarde. Eu não sei como as pessoas conseguem dosar sentimentos. Acho isso meio inexplicável. Já procurei pelo meu corpo um botão de regulagem da temperatura amorosa, mas não encontrei. Pelo menos baixo, médio e alto. Não.
Não tem.
Uma vez ouvi o padre Marcelo Rossi falar que amor é opção. Até concordei, afinal, se eu me fechar à outra pessoa não vou amá-la. Mas uma vez que me permito amar, um tsunami de proporções bíblicas me arrebata e me atira a quilômetros de distância. Muitas vezes nas pedras.
E aí eu me pergunto: o que eu aprendi com isso? Nada. Absolutamente nada. Continuo à merce desse tsunami, simplesmente por que não consigo entender como frear isso.
Além de não ter botão de regulagem de temperatura, não tenho freios.
Aí eu peço ao Frank, à Anonima123 e a todos os que lerem esse post: como se faz pra aprender com os erros passados?
Inscrições abertas.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
UM TDAH INVENCÍVEL
É incrível como o olhar profissional enxerga tudo de maneira mais aguda e por ângulos completamente diferentes.
No último sábado foi realizado a primeira reunião de 2013 do Grupo Mente Confiante; um grupo de apoio aos portadores de TDAH, criado pela Dra. Valéria Modesto e Luciana Fiel - respectivamente minha médica e minha coach - esse grupo é formado pelos portadores, familiares e cuidadores, pacientes ou não da equipe do Mente Confiante.
Ali são discutidos aspectos técnicos, explanações científicas, mas principalmente, é um espaço onde nós portadores e nossos familiares podemos discutir nossas dificuldades e nossas vitórias, trocando experiências e estratégias para melhor superar nossa doença.
Nessa primeira reunião do ano, o Mente Confiante anunciou um novo serviço: a terapia de grupo. Semanalmente a psicóloga Kátia Carvalho, de Belo Horizonte - treinada pela Dra. Valéria Modesto e pela Luciana Fiel - virá a Juiz de Fora coordenar o grupo.
Kátia estava presente no encontro e acompanhou todos os depoimentos, inclusive o meu, e ao final tivemos oportunidade de conversar sobre a reunião e sobre a terapia de grupo.
Aí entra o olhar treinado da profissional.
Em meu depoimento falei das muitas quedas e derrotas que experimentei na vida e, de passagem, mencionei que, se as quedas foram muitas eu possuía uma infinita capacidade de me reerguer. E que, da pessoa que parecia perdida e derrotada há três meses, quase nada resta hoje em dia.
Segundo Kátia, aí estava a chave do meu depoimento e talvez da minha vida: a certeza dessa 'capacidade de me reerguer', faz com que eu não dê muita importância ou muito valor às derrotas da vida.
Sinceramente, eu jamais havia pensado nisso. Mas faz muito sentido. A certeza da imortalidade faz com que a pessoa dê-se ao luxo de arriscar a vida. Ao mesmo tempo que a paralisa.
Aí lembrei de um conto do genial Jorge Luís Borges: No conto um general romano sai em busca do elixir da vida eterna; inicialmente seguido por um exército, o general termina sua busca, anos depois, só e maltrapilho. Mas encontra no meio de um deserto, a tão sonhada fonte da vida eterna.
Após beber da água milagrosa, o general descobre que o que dá urgência e sentido à vida é a certeza da morte.Ao redor da fonte um grupo grande de homens se achava jogado por sobre as pedras, em uma longa e exasperante inércia. Ali perto um senhor encontrava-se preso num buraco, segundo o general descobriu, a mais de 50 anos. E ninguém o ajudava a sair, nem ele pedia socorro, pois o tempo não fazia mais diferença. Ninguém ali iria morrer, portanto, mais dez anos ou menos dez anos nenhuma diferença faria na vida daquele senhor caído no buraco.
Ao entender a 'sina' a que estavam condenados os imortais, o general volta sua busca ao antídoto daquela água da vida eterna. E ao descobrir centenas de anos depois, volta a viver intensamente, consciente de que pode morrer a qualquer momento.
Amo esse conto, e o livro tem no título o primeiro nome do pseudônimo que usei quando criei esse blog: Aleph Buendía. Aleph o título desse livro de contos, Buendía o sobrenome da família cuja saga é contada por Gabriel Garcia Marquez no livro Cem Anos de Solidão.
Pois bem, desde então tenho pensado nisso. Será que minha 'tranquilidade' e até mesmo uma certa 'passividade' diante das quedas da vida estão embasadas nessa certeza de que darei a volta por cima?
De minha infinita capacidade de recuperação, termo exato que usei no depoimento que dei no último sábado?
Isso é tarefa para a terapia de grupo de que certamente participarei a partir da próxima semana.
Aí eu conto pra vocês o que for descobrindo.
Obs.: Como o objetivo desse blog é auxiliar aos que o leem, deixo aqui o email e o telefone da Psicóloga Kátia Carvalho: katiacarvalho8@hotmail.com * 31-8427-7629.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
TDAH INSONE
Quisera Deus ter forças para jamais sucumbir ao sono.
Minhas noites seriam iluminadas apenas pelo verde de seus olhos.
Ao amanhecer, eu seria testemunha de que o brilho dourado dos seus cabelos ofuscariam o sol nascente.
Uma manhã radiante, como seu sorriso, viria para coroar a noite insone embalada pelo doce som da sua voz.
Com as forças renovadas por sua alma forte e vibrante eu ganharia as ruas para mais um dia de vida plena, sem a interrupção inconveniente do sono.
E se a dor me atingisse, ela não teria forças para me derrubar pois eu teria a noite inteira para me aconchegar no seu colo e curar minhas feridas.
Ah, que pena! Foi somente um sonho!
Ainda que Deus me desse o benefício da insônia, teria de dá-lo a você também.
Mas aí já seria exigir demais!
De Deus e de Você!
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
TDAH - ORGANIZANDO A VIDA
Dois comentários em meu último post me chamaram a atenção. Ambos falavam sobre organização mas com enfoques bem diferentes; enquanto um falava sobre a organização espacial , o outro era mais genérico e abrangente. O colaborador dizia que nossa vida era uma eterna tentativa de organização, mas não dispomos de gavetas ou prateleiras que nos facilitem a tarefa.
Essa imagem de um mundo sem gavetas ou prateleiras tem me acompanhado desde então e tenho pensado muito sobre o assunto.
Nós, TDAHs, não somos desorganizados apenas espacialmente falando, em geral nossas vidas são desorganizadas em todos os sentidos: emocional, financeiro, afetivo, e repletas de sobressaltos e surpresas desagradáveis.
Coincidentemente estou passando por um momento assim. Um esqueleto do tempo pré tratamento resolveu reaparecer para me assombrar. E conseguiu. Perdi o sono tentando equacionar a nova vida que quero ter com esse fantasma do passado recente, fruto do estilo de vida: ah, depois eu vejo no que vai dar! E agora estou vendo no que deu. Ressurgiu num péssimo momento.
E agora?
Como reorganizar uma vida cuja base foi construída no, deixa pra lá ?
Como enfrentar os outros esqueletos que, certamente, habitam meus armários e podem ressurgir a qualquer momento?
Sei que tenho de encará-los e solucioná-los de maneira definitiva, sob pena de vê-los crescer e se agravar; mas essa solução , fatalmente, sacrificará minha vida atual.
Mas se eu adiá-los ou remendá-los?
Eu posso ter um alívio momentâneo e me reencontrar com todos eles ainda mais fortes e em momentos ainda piores.
Portanto, AO INFINITO E ALÉM!
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