quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

UM TDAH À BEIRA DO ABISMO



O abismo me chama!
Lá do fundo um som doce parece murmurar meu nome.
Daqui de cima parece macio, parece azul...
Seria água?
Um salto na água azul é convidativo, quase sedutor.
A carícia da água gelada, o vento por todo o corpo na queda que precede o mergulho.
Como é belo o abismo.
Dou um passo atrás.
Viro-me de costas e tento me lembrar de como eram as imagens dos abismos anteriores.
Imagens desconexas povoam minha mente, um desfile de escarpas e azuis dos mais variados tons.
Então todos se parecem...
Todos são sedutores.
Volto inúmeras vezes à beira do abismo. Mas já não tenho a coragem de antes para saltar lá embaixo.
Algo me prende, me mantém preso às margens daquele precipício. Aos poucos minha visão se acostuma com a altura e consigo divisar as rochas pontiagudas lá embaixo. Já conheço esse abismo; já senti suas dores; já deixei parte do meu sangue (e dos meus sonhos) lá em seu fundo.
Num misto de tristeza e alegria decido me afastar.
Lentamente deixo o abismo para trás.
Uma sensação de alívio e tristeza se misturam. Alívio por me saber livre das dores lancinantes que a queda me provocaria, mas tristeza, por que até que meu corpo se esborrachasse nas pontas afiadas das rochas lá embaixo, a  sensação de prazer é indescritível.
No fundo da minha alma um sentimento novo vai crescendo.
Um sentimento de que existem outras opções ao abismo. Talvez não ofereçam a sensação de prazer indescritível, mas oferecem paz, tranquilidade e acima de tudo: futuro!
Sei que o TDAH é fortíssimo e por isso não decretarei o fim definitivo da temporada de prazeres fugazes coroados por dores lancinantes.
Mas posso decretar que:  nesse mesmo abismo não caio mais.

8 comentários:

  1. Me visualisei na cena. E ao virar de costas para o abismo, meus lábios abriram um sorriso discreto, desses que a gente dá só pra si mesmo, sem ninguém ver ou saber...
    Muito boa a sensação desse texto!
    Abração!
    :)

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    1. Engraçado Ana Beatriz, você enxergou meu pensamento nessa; na primeira versão desse texto eu uso esse sorriso. Aonde está agora :' num misto de tristeza e alegria...' era : ' um sorriso triste me surgiu nos lábios, e decidi me afastar...'
      Grande sintonia. Muito legal.
      Um abraço
      Alexandre

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  2. Penso que estamos sempre em busca de algo, que não sabemos identificar o que..e a sensação de paz e liberdade que um abismo passa, é bem convidativo.

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    1. Na verdade, Guilherme, possuímos uma atração pelo risco, pela adrenalina, pelo desconhecido.
      A sensação boa que você descreve pelo abismo, em geral, não é sentida pelos não TDAHs; o abismo lhes mete medo.
      Nós não, nós sentimos uma grande vontade de saltar; mesmo sabendo que nos dilaceramos em outros saltos semelhantes.
      Um abraço
      Alexandre

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  3. Tenho a impressão que todo TDA tem vontade e falta de coragem de largar tudo. De dar com a cara no muro. De se foder, de sofrer e fazer com que os outros (mesmo que inconsientemente) sofram como nós. Ser desagradável é uma característica marcante, pq será? Tentar não se apegar a nada e querer muito ser apegado a algo. É um conflito constante entre o que a sociedade considera normal e o que é ser normal para um TDA. Como pode ser sofrido viver tentando ser aceito, ser entendido, qdo nem a gente sabe exatamente como somos e pq agimos assim ou assado.
    Desde pequena ouço minha mãe dizendo que o jeito que falo machuca as pessoas, ainda não consegui descobrir como é isso. Meu conflito maior era saber o pq o que eu penso ou sinto pode machucar as pessoas, se ainda sim é verdadeiro. É o que eu sou. Como eu sou. Mas por ser assim nunca consegui manter amizades, odeio visitas, juntaria de gente muito raramente e de preferencia longe da minha casa. Odeio o olhar das pessoas, parecem estar sempre julgando meu comportamento. Minha casa é minha zona de conforto, fico desconfortável, constrangida e até deslocada qdo recebo alguém lá, me sinto falsa fingindo que adorei receber a pessoa. Cheguei a conclusão que odeio gente, odeio futilidade, gosto do meu marido e do meu filho. Não sou o tipo de pessoa que procura alguém, que liga para perguntar se está tudo bem ou para contar que estou resfriada. Meu mundo perfeito seria poder trabalhar sozinha, sem ter que depender de cliente, colega, chefe e claro ter uma casa auto limpante sem visinhos. Será pedir demais!?
    Leticia 30

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    1. Bom dia, Leticia!
      seu comentário seria até engraçado se não fosse trágico.
      Realmente temos a tendência ao isolamento, tenho até um post sobre isso. Minhas filhas de chamavam de Zé Buscapé. sim, temos uma atração pela tragédia, pela desgraça, creio que pra manter o status de coitadinho da família,m de sofredor.
      As cobranças sociais só aumentam nosso sofrimento e nosso 'deslocamento social' . Creio que a pressão competitiva da sociedade atual é que fez explodir o TDAH.
      Sem vizinhos... Quando eu era adolescente meu sonho era comprar um morro desses isolados mura-lo no sopé e erguer uma casa no cume. Isolamento absoluto.
      O tratamento ajuda muito, tenho atpé saído de casa! rsrsr
      Um abraço e obrigado

      Alexandre

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  4. Descobri o tdah agora,vi uma serie e fiquei curioso e pesquisei o assunto.pra minha surpresa,me indentifico com todas as características de um tdah,é claro que preciso de um diagnostico médico,mas me lembro das vezes em que não levei um projto adiante mesmo sendo bem sucedidolargando do nada,perdendo simplesmente o interesse,amando as pessoas mas não querando contato com elas em minha casa,tudo do meu jeito,na hora em que eu quero do jeito que quero,das vezes que na altura dos meus 37 anos ouça ainda minha mãe dizer que não sabe o que quero da vida,coisas assim,como saber que isso vai dar errado,mas mesmo assim arriscar e fazer,pagar pra ver,e ver que deu errado de novo e nem ai,na próxima oportunidade farei novamente pq não aprendi nada...Não sei,mas meu psiquiatra parece que não está me ajudando muito não,´q continuo com a instabilidade de humor,sensação de inadequação,de ser burro,mas todo mundo diz que sou inteligentíssimo...é isso?

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  5. Obrigado pelo texto Alexandre. Tenho conseguido reconstruir minha vida com a ajuda de Deus, e de pessoas como você. Nesse mesmo abismo eu não quero mais cair! Abraço.

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