sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

UM TDAH INVENCÍVEL







É incrível como o olhar profissional enxerga tudo de maneira mais aguda e por ângulos completamente diferentes.
No último sábado foi realizado a primeira reunião de 2013 do Grupo Mente Confiante; um grupo de apoio aos portadores de TDAH, criado pela Dra. Valéria Modesto e Luciana Fiel - respectivamente minha médica e minha coach - esse grupo é formado pelos portadores, familiares e cuidadores, pacientes ou não da equipe do Mente Confiante.
Ali são discutidos aspectos técnicos, explanações científicas, mas principalmente, é um espaço onde nós portadores e nossos familiares podemos discutir nossas dificuldades e nossas vitórias, trocando experiências e estratégias para melhor superar nossa doença.
Nessa primeira reunião do ano, o Mente Confiante anunciou um novo serviço: a terapia de grupo. Semanalmente a psicóloga Kátia Carvalho, de Belo Horizonte  - treinada pela Dra. Valéria Modesto e pela Luciana Fiel - virá a Juiz de Fora coordenar o grupo.
Kátia estava presente no encontro e acompanhou todos os depoimentos, inclusive o meu, e ao final tivemos oportunidade de conversar sobre a reunião e sobre a terapia de grupo.
Aí entra o olhar treinado da profissional.
Em meu depoimento falei das muitas quedas e derrotas que experimentei na vida e, de passagem, mencionei que, se as quedas foram muitas eu possuía uma infinita capacidade de me reerguer. E que, da pessoa que parecia perdida e derrotada há três meses, quase nada resta hoje em dia.
Segundo Kátia, aí estava a chave do meu depoimento e talvez da minha vida: a certeza dessa 'capacidade de me reerguer', faz com que eu não dê muita importância ou muito valor às derrotas da vida.
Sinceramente, eu jamais havia pensado nisso. Mas faz muito sentido. A certeza da imortalidade faz com que a pessoa dê-se ao luxo de arriscar a vida. Ao mesmo tempo que a paralisa.
Aí lembrei de um conto do genial Jorge Luís Borges: No conto um general romano sai em busca do elixir da vida eterna; inicialmente seguido por um exército, o general termina sua busca, anos depois,  só e maltrapilho. Mas encontra no meio de um deserto, a tão sonhada fonte da vida eterna.
Após beber da água milagrosa, o general descobre que o que dá urgência e sentido à vida é a certeza da morte.Ao redor da fonte um grupo grande de homens se achava jogado por sobre as pedras, em uma longa e exasperante inércia. Ali perto um senhor encontrava-se preso num buraco, segundo o general descobriu, a mais de 50 anos. E ninguém o ajudava a sair, nem ele pedia socorro, pois o tempo não fazia mais diferença. Ninguém ali iria morrer, portanto, mais dez anos ou menos dez anos nenhuma diferença faria na vida daquele senhor caído no buraco.
Ao entender a 'sina' a que estavam condenados os imortais, o general volta sua busca ao antídoto daquela água da vida eterna. E ao descobrir centenas de anos depois, volta a viver intensamente, consciente de que pode morrer a qualquer momento.
Amo esse conto, e o livro tem no título o primeiro nome do pseudônimo que usei quando criei esse blog: Aleph Buendía. Aleph o título desse livro de contos, Buendía o sobrenome da família cuja saga é contada por Gabriel Garcia Marquez  no livro Cem Anos de Solidão.
Pois bem, desde então tenho pensado nisso. Será que minha 'tranquilidade' e até mesmo uma certa 'passividade' diante das quedas da vida estão embasadas nessa certeza de que darei a volta por cima?
De minha infinita capacidade de recuperação, termo exato que usei no depoimento que dei no último sábado?
Isso é tarefa para a terapia de grupo de que certamente participarei a partir da próxima semana.
Aí eu conto pra vocês o que for descobrindo.

Obs.: Como o objetivo desse blog é auxiliar aos que o leem, deixo aqui o email e o telefone da Psicóloga Kátia Carvalho:  katiacarvalho8@hotmail.com * 31-8427-7629.











11 comentários:

  1. Meu amigo Alexandre,

    enxergando as coisas por um ponto de vista mais positivista, característica recorrente que possuo, o fato de sabermos que vamos nos reerguer das quedas(falo por nós! haha), além de nos manter inertes diante da vida, como aqueles que provaram do elixir da vida no conto, também nos dá mais lastro para arriscar. Isso é paradoxal, eu sei. Imagino, numa reflexão momentânea, a inércia venha de uma certeza recorrente que iremos fracassar e vamos conseguir nos reerguer, então pra quê tentar? A análise dessa inércia decorrente dessa certeza, a meu ver, é um pouco mais profunda, vem desde lá dos tempos em que desconhecíamos a nossa patologia e éramos forjados apenas pelo fracasso iminente. Eu me educo a pensar que essa habilidade é um dom, não algo ruim, e, desta forma, eu tenho muito mais capacidade para correr riscos do que a média das pessoas, ou seja, de féu a mel numa vírgula recolocada.

    Um forte abraço!

    Frank

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    1. Meu amigo Frank, você como sempre aguçadíssimo nas suas observações.
      Eu concordo com você, eu me arrisco demais, e sem rede de proteção.
      E te confesso mais, propositalmente.
      No meu terceiro casamento , lembro-me de escrever uma carta à minha mãe (naquela época não havia email), em que eu contava que me sentia num barco a deriva descendo um rio, e que eu não sabia onde aquilo iria dar.
      Durou 20 anos. kkkkk
      Puro risco.
      E consciente.

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  2. E outra, essa certeza não faz com que menosprezemos as derrotas, pelo contrário, somos quem mais nos cobramos e quem mais sentem as dores dos fracassos, só nós sabemos pelo que passamos. Apenas sacudimos a poeira e levantamos as velas mais rápido do que as outras pessoas. Não se deixe pensar que você não valoriza essas quedas, pois na dor é quando mais aprendemos e, apesar de dar a volta por cima rápido, aquilo que vivemos não é sumariamente apagado da nossa memória. Tenho certeza que você se lembra com mínimos detalhes de cada momento de dor e cada sensação de fracasso que teve e isso não é desvalorizar nem aqui nem na China! Use isso de forma a evitar a mesma dor, se for pra doer de novo, que seja de outra forma, pois aquela ali nós já vencemos, mas não nos esquecemos dos amigos que perdemos na batalha. É isso aí meu caro! Se reerga, mas não esqueça jamais das cruzes que você já teve que carregar!

    Forte abraço,

    Frank

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    1. Não sei se sentir a dor da derrota é o mesmo que valorizá-la e pensar sobre ela, refletir e aprender com ela.
      Eu creio que não aprender com as derrotas é uma das nossas principais características. Pense em sua vida, quantas vezes você cometeu o mesmo erro, ou muito parecido?
      Um abração amigo.
      Obrigado por sua participação, sempre.
      Alexandre

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    2. Realmente, agora que você e a nossa companheira 123 aqui embaixo falaram, eu pensei à respeito. Sentir é bem diferente de aprender. Inúmeras vezes na minha vida cometi o mesmo erro mais de uma vez e sempre doeu da mesma forma!! Pensando nisso agora vejo o quão perdido eu estava! Ainda bem que me descobri TDAH e estou em tratamento! Estou aprendendo a aprender com os erros, nem todos, tenho que confessar, mas com alguma parte e isso já é louvável!! hahahaha Bom, como sempre, trocar palavras e informações aqui no blog tem sido de grande valia para minha vida! As nossas conversas têm se tornado parte do meu tratamento!

      Forte abraço, meu amigo!

      Frank

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  3. Depois escuta uma música da banda Revelação, chama Velocidade da Luz. É um samba que, numa analogia bem forçada, expressa algo à respeito dessa nossa certeza.

    Frank

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  4. Eu falei uma coisa parecida um dia desses num post passado.
    Eu falei que nós não aprendemos com nosso erro porque não o refletimos muito. Essa capacidade de reerguer, mudar de foco muito rápido faz a diferença entre um TDAH e uma pessoa sem TDAH, pois as outras pessoas refletem muito mais os erro, sofre mais tempo com ele. Já o TDAH, logo muda o foco, deixando de lado o fracasso do ato e já pensa em fazer outra coisa.
    Anonima 123

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    1. Concordo em gênero, numero e grau.
      Eu sou esse aí.
      Abraços
      Alexandre

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  5. Uma coisa é sofrer com o resultado do erro, outra é refletir cada ponto onde erramos. Nós sofremos sim com a derrota, mas com o resultado. Depois nos reerguemos, mas geralmente não fazemos um plano detalhado para tentar de novo o mesmo objetivo, geralmente mudamos para outro foco.
    Anônima 123

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    1. De novo, rsrs.
      Nem sei o que é um plano detalhado.
      kkkkkk
      Abraços
      Alexandre

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    2. hahahahaha planejar? Acho que isso nem tá no meu vocabulário!! Tenho que começar a mudar alguns hábitos urgentemente!!!

      Abraços, companheiros!!

      Frank

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