domingo, 9 de outubro de 2011

UM DIA SEREI ACEITO?



Relendo o blog da Laís - A vida de uma mente TDAH -  estive pensando: será que um dia as pessoas me aceitarão como sou?
Passar os dia me policiando, analisando se esse comportamento é meu ou do TDAH, é cansativo, desgastante e de uma certa forma, artificial. Afinal, todo esquecimento é uma rachadura na auto confiança, uma dúvida na eficácia do remédio. Dois esquecimentos seguidos liga o sinal de alerta: preciso de uma nova consulta médica, quem sabe aumentar a dosagem da ritinha?
Episódios normais na vida de qualquer pessoa, pra nós podem ser torturantes.
As pressões diárias, as cobranças do dia a dia, as exigências do mundo atual de sermos perfeitos física, intelectual e financeiramente, estressam a todos, imagine quem carrega as frustrações e cobranças do TDAH.
Sinto ao redor de mim, uma certa desconfiança, ou descrença. Como se as pessoas, por não enxergarem uma mudança radical em meu comportamento após o medicamento dissessem: mas então ele é assim mesmo; não tem nada desse TDAH.
Creio que as pessoas esperavam uma transformação de sapo em príncipe.
Não; continuo matando um leão por dia, continuo caindo e levantando, continuo sentindo dor e prazer.
Mas ninguém quer isso. As pessoas esperam por melhoras radicais e imediatas. Em poucos dias desaparecem o esquecimento, a desatenção, a procrastinação, o sentimento de inferioridade, as explosões de raiva. Meia dúzia de ritalinas devem transformar-me numa espécie de Brad Pitt do comportamento.
Lindo, sarado e perfeito.
Uma pena!
Lá se vão nove meses de ritalina diária. Nove meses de apoio incondicional da Valéria e da Luciana, da paciência QUASE infinita da Jaque e da presença carinhosa e imprescindível do meu pai. Nove meses de uma luta diária para ser 'normal'.
O que mudou?
Olhando superficialmente, nada.
Mas o medo diminuiu; o sentimento de inferioridade diminuiu; a falta de confiança também diminuiu bastante; a concentração aumentou...
Algumas coisas não sei mensurar: as explosões de raiva, a procrastinação, a desorganização, são comportamentos diretamente afetados por um dia a dia muito difícil que venho tendo ultimamente, pressões por todos os lados, principalmente de caráter emocional e afetivo. Quando me distancio da minha vida, tentando avaliá-la de fora vejo que, envolto nesse turbilhão emocional qualquer pessoa estaria sujeita a chuvas e trovoadas. Ainda assim, consigo trabalhar normalmente, consigo pensar nas minhas decisões e procuro não me punir por tudo o que me acontece.
Mas isso é pouco. Pelo menos para quem está de fora.
Algum dia a sociedade aceitará o comportamento TDAH como normal? Como apenas mais uma faceta da inextrincável alma humana? Seremos reconhecidos por nossas qualidades?
Sei lá. O dia em que a sociedade parar de ser tratada como uma manada e de se enxergar como manada, aquele grupo que simplesmente segue o fluxo da maioria, pode ser que sejamos respeitados como somos.
Pena que, provavelmente, não estarei mais aqui para vivenciar.

Um comentário:

  1. Espero que você seja um dia aceito, mas eu estou sem esperanças...

    Provavelmente nunca serei aceito. Ninguém vai me perdoar.

    Talvez estejamos nós aqui na terra pra ensinar isso pras pessoas. É nosso dever perdoar e que isso fique de graça. Uma forma de viver o Cristo pelo papel do Cristo. Não basta a cruz que eu carrego, é necessário me coroar com espinhos.

    Ainda não descobri de que adianta ter um coração bonito, uma cabeça que ferve, mas espero que um dia essa graça se explique na minha cabeça.

    Pra mim, o mundo é feio. Eles não estão dispostos a entender a cabeça do TDAH, mas nós entendemos perfeitamente a cabeça deles.

    O que eu descobri é que quem disse que te amaria de qualquer jeito, não me perdoou, não tentou me entender, não me deu espaço digno pra explicar. Até agora é esse o amor que eu conheci das pessoas normais. Procurar uma mulher com TDAH, me parece juntar fogo com gasolina e achar que vai ficar tudo geladinho, rsrs

    Bola pra frente,
    de novo...

    Abraço
    tdahabilidade.blogspot.com

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