Porque eu?
Porque isso está acontecendo comigo, com meu filho?
Essa talvez seja as principal dúvida que nos vem a cabeça ao tomarmos conhecimento do diagnóstico de TDAH. Uma certa revolta cresce dentro da gente, e mesmo um pouco de culpa se o diagnóstico atinge nossos filhos, afinal o TDAH é hereditário e a 'culpa' acaba sendo de um dos pais.
Passei por isso duas vezes, no meu diagnóstico e depois no de minha filha. Um misto de sentimentos, todos ruins obviamente, tomaram conta de mim.
Passaram-se doze meses. Trezentas e sessenta e cinco ritalinas depois todos esses sentimentos perderam o sentido. Levo uma vida normal, continuo acertando e errando. Nao escondo nem alardeio minha condição de portador, não interessa a ninguém, em nada muda a minha vida. Nem a de ninguém. Mudou em minha vida a consciência de meus comportamentos, sempre que percebo estar agindo sob o controle do TDAH corrijo o rumo de minhas ações, tento me policiar e agir de forma diferente.
Ao contrário do que imaginava no princípio, não ocorreu um milagre em minha vida, ocorreu sim uma mudança interior que me proporcionou fazer um pequeno milagre em minha vida. Mas, aos olhos dos outros, nada ocorreu. Acordo às seis da manhã, faço meu sagrado cafezinho, trabalho cerca de onze horas por dia...
Hoje a pergunta é oposta: porque não eu?
Aprendi a enfrentar o TDAH, quando não da para enfrentá-lo, tento driblá-lo, e assim vou levando minha vida.
Não podemos sucumbir ao TDAH, na verdade, a vida é feita de superações, umas maiores outras menores. Mas sempre temos obstáculos a vencer. A outra opção é se ater diante das dificuldades e ficar lamentando-se. Isso só funciona no início, depois passamos a ser rotulados de chatos, resmungões, derrotistas. As pessoas vão lentamente afastando-se e seguindo suas vidas. E ficamos ali parados enredados numa auto piedade sem nenhum efeito prático.
Sei que muita gente vai falar: pra ele é muito fácil falar isso.
Não que seja fácil ou difícil, eu descobri que não faz diferença pro TDAH. Alegre ou triste, revoltado ou conformado, ele estará aí, dentro de você, dentro se nós. Ao menos dê trabalho a ele, não se entregue. Leve sua vida normalmente, ninguém precisa saber de sua condição a não ser aquelas pessoas que podem te auxiliar ou contribuir para o seu tratamento; e claro, as pessoas que são vítimas do seu comportamento.
De resto, dane-se.
Levante a cabeça e viva.
Nunca você descobrirá porque a doença te escolheu. Só Deus sabe. E também, se alguém tivesse o poder de te contar o motivo, ninguém iria concordar com ele; eu sou um que teria milhares de argumentos a meu favor. Portanto não importa.
Viva, e pare de procurar chifres em cabeça de cavalo.
Bem sincero o que escreveu...
ResponderExcluirSério, eu só escrevo o que sinto ou o que vivi.
ExcluirLendo o que você escreve me veio uma curiosidade...sobre se você procurou saber se o tdah veio do seu pai ou da sua mãe ,porque estava pensando... as mães que são responsáveis pelos mais próximo cuidados dos filhos como tarefa da escola e tal...se tem o tdah acabam por não ter idéia se o filho é ou não normal porque não sabem que também não são...o que acha?
ResponderExcluirNa verdade, eu tenho minhas suspeitas sobre quem lá em casa é TDAH, mas não quis entrar em detalhes. Não estou aqui pra cobrar de meus pais ou para jogar-lhes culpa sobre a herança que me passaram. Creio que no íntimo eles sentem alguma 'culpa', mas no meu caso o TDAH era absolutamente desconhecido no Brasil e eles nunca poderiam saber de sua existência nas décadas de 60 e 70 quando o nosso país era pouco mais do que uma grande roça.
ResponderExcluirJa eu vi certinho as caracteristicas na minha mae que tanto me cobrava ...certamente porque nunca conseguiu sucesso na sua vida tanto em relaçao ao dinheiro como na vida pessoal mesmo...é realmente incrivel reconhecer isso mas foi importante pra mim saber ...para que eu nao cometa os mesmos erros com meus filhos se também tiverem o tal do tdah...e até trocarmos idéias de como podemos lidar com o transtorno...e o mais importante sermos felizes como somos e nos entendendo...
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