Cena 1 - Parte do caminho é num trecho pouco habitado com muita vegetação, quase uma mata. Pois bem, há alguns dias em uma parte dessa vegetação exalava um cheiro horrível. Não sei se lixo ou algum animal morto, mas o cheiro era terrível. Logo disparou a fábrica de sonhos. Um pé humano acinzentado apareceu dentro da vegetação. Na hora passei a mão no celular e liguei para a polícia. Mas, pensei eu enquanto apertava o passo e prendia a respiração para transpor o mau cheiro, se eu ligar pra polícia do meu celular vão identificar meu número e eu terei de ficar aqui pra prestar depoimento. Vou chegar atrasado na loja e eu tenho tanto serviço...
Aí lembro-me de que tudo aquilo não existe, é só imaginação. Sorrio e penso: isso dá um post.
Cena 2 - Tenho de ir ao banco pagar umas contas e deixo a funcionária sozinha, naquele dia ela comentou estar um pouco indisposta. Caminhei uns duzentos metros e comecei a pensar na moça sozinha na loja, se ela começa a passar mal, cai lá no chão, sem ninguém pra ajudar. Ela só será socorrida quando entrar um cliente e encontrá-la caída... Tive de rir, e muito. Nem cheguei a contar isso pra ela, vai saber pelo blog.
Cena 3 - Dia cinzento, quase frio. Aquele ventinho no corpo enquanto caminho rumo ao trabalho me leva a uma madrugada gelada, um nevoeiro denso cobre a cidade dificultando a visibilidade. Um sujeito de andar estranho atravessa a ponte em meio ao nevoeiro, no bolso carrega um revólver cuja dureza do aço gelado incomoda sua perna defeituosa. O indivíduo decide suicidar-se por não aguentar mais ser alvo de chacotas por seu andar estranho, fruto de um acidente gravíssimo que destruíra parte de seu quadril. Pra encurtar a conversa, o suicida acaba por tornar-se assassino após ter seu objetivo de matar-se interrompido por um cara, que aleijado como ele, encontrara na exploração de sua deficiência uma fonte de renda e tenta demove-lo da ideia de suicídio com esse argumento. Após matar o deficiente nosso suicida encontra sua razão de viver. O sentimento de onipotência em relação à sua vítima cria naquele momento o embrião de um seria killer. Trágico, né. Pois é, isso brota enquanto caminho ouvindo música, atravessando ruas, cumprimentando pessoas que, como eu, são habitués dessas caminhadas nesse mesmo trecho e horário.
Cena 4 - Diariamente concebo uma carta a ser endereçada ao jornal local denunciando o péssimo estado das calçadas do município, a precariedade vergonhosa e humilhante do transporte público, etc, etc, etc. Tal carta jamais sairá da minha mente, mas mesmo sabendo disso ela alimenta essa ira santa contra a municipalidade.
Não é intencional, não controlo, não premedito e não consigo barrar. Na verdade até me divirto agora que sei de onde vem e por que vem.
Sempre me lembro do Calvin & Harold, uma tirinha onde o garoto conversa com seu tigre de pelúcia como se ele vivesse e por onde passa tudo o que o cerca subitamente ganha vida em sua fertilíssima imaginação.
Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
Quanto a mentalidade catastrófica, posso dizer que em certos casos, quando bem usado, ajuda muito a nós TDAH's, para termos mais censo de responsabilidade... (Como quando voce tira seu sapato e o deixa no meio da escada de sua casa, logo, voce imagina alguem querido escorregando e caindo....)
ResponderExcluirQuanto aos sonhos em períodos rotineiros em que não há necessidade de atenção (andar na rua) eu amo isso (nunca reclamo quando alguem do escritório me pede para ir comprar algo na rua, pois gosto muito de tirar o traseiro da cadeira e esticar as pernas e "viajar" um pouco no caminho)
Quanto a confundir sonho com realidade... se me lembro bem... aconteceram epenas 3 vezes, e só quando era muito pequeno... (e era por que eu estava muito sonolendo, quase que dormindo....)
E quanto a Sonhar fora de hora, eu ja consiguia evitar isso antes mesmo de ser medicado (só é difícil mesmo quando vou assistir seminários ou um pastor pregando).
Oi, Peregrino. Obrigado por mais essa visita.
ExcluirPois é, cara, minha imaginação é tão fértil que as vezes temo que eu mesmo seja fruto dela.kkkkkkkkkk
Essas misturas de sonho com realidade duram frações de segundo; empolgo-me tanto com os argumentos que acabo derrapando da realidade para o sonho.
Mas sendo sincero, é a melhor parte do TDAH para mim.
Adoro essas viagens.
Um grande abraço
Alexandre
Caminhar para mim é a melhor valvula de escape!! é quando eu me permito pensar em qualquer coisa, é quando eu permito que meu cérebro não tenha limites. Quando eu sou livre, vôo longe enquanto caminho, adoro caminhar e faço questão disso sempre em minha vida. Vale ressaltar que o caminhar que eu gosto é a caminhada com um objetivo, sair de casa com a intenção de ir pra uma pista de cooper caminhar ou fazer cooper não dá. Tem que ser como meio de transporte, gosto de pensar tudo que puder enquanto vou de um lugar a outro, e acho que nunca vou abrir mão disso, sempre que puder vou caminhar. Detesto esperar e, por isso acho a caminhada tão magnífica, eu não tenho que esperar. É quando eu sou verdadeiramente livre!! Livre de depender de transporte público, de depender de sinais de trânsito, de outras pessoas me darem carona, livre de conversar com os outros, é eu e eu. E ponto! Se eu fosse você continuaria caminhando por quanto tempo desse e conseguisse! Porque é algo que eu realmente tenho paixão.
ResponderExcluirPois é Frank, minha caminhada começou por que odeio esperar. Prefiro andar por uma hora do que espera pela metade do tempo. E hoje, estou adorando caminhar pela manhã. Já faz parte da minha vida.
ExcluirEstou me apaixonando pela caminhada, mas exatamente como você, minha caminhada tem de ter um objetivo, um ponto de chegada. Esse negócio de ficar dando voltas por aí acho um saco.
Um abraço
Alexandre
Eu também adoro caminhar. No domingo onde eu costumava comprar pão em uma padaria mais distante, eu costumava olhar toda a paisagem em volta e associar ela com video game (sempre fui apaixonado por isso). Se eu vejo a lua lembro de jogo de lobisomem, se eu vejo muitas nuvens (adoro elas) imagino os Deuses Gregos lá em cima. Só que antes eu não era muito assim, creio que o TOC que eu tinha limitava meus pensamentos a ficarem concentrados em uma coisa por vez. O lado bom do TOC é que eu tinha obsessão no que eu fazia, não sentia tédio facilmente como hoje, só que o hemisfério esquerdo era usado demasiadamente em detrimento do direito (responsável pela imaginação), então caminhar era uma atividade chata. Eu curto caminhar com objetivos, mas que não sejam obrigatórios (ir correndo pro banco para pagar conta por exemplo), porque gosto de andar lentamente para observar a paisagem e assimilá-la com algumas coisas da minha vida.
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