domingo, 25 de maio de 2014

O TDAH E AS PERDAS




Viver é perder!
A cada escolha pressupõe-se uma perda.
A cada passo adiante, deixa-se algo para trás.
A cada passo atrás, deixa-se de ganhar algo que viria adiante.
Alice, minha amiga do excelente blog: ALICE LUTA DIARIAMENTE CONTRA OS JAGUADARTES, retornou ao blog com um texto triste e sofrido. Perdeu uma amiga amada, mudou de emprego e cidade, afastou-se da família e dos amigos. Quanta perda...
Fiquei pensando nisso. Quanta perda; a família que ficou, o emprego que já conhecia, a cidade a qual já estava acostumada, isso sem falar na perda de uma pessoa amada que é insubstituível, mas nunca é por nossa escolha.
E estou me perguntando: Como escolher? O que é perda ou ganho?
Alice conseguiu um novo emprego, um novo desafio, novos horizontes e a possibilidade de novas conquistas. Mas como abrir mão das histórias e pessoas passadas? Largar tudo e seguir é um ato de impulsividade? Ou ficar e abrir mão de possíveis novas conquistas é um ato de covardia e medo? Largar uma pseudo estabilidade atual em busca de um sonho é irresponsabilidade? Abrir mão de uma renda maior para abraçar uma profissão que se ama, mesmo que isso exija sacrifícios financeiros da família é um ato de egoísmo?
Onde está a impulsividade ou o equilíbrio?
Onde está a irresponsabilidade ou o amor próprio?
Perder-se também é caminho, já disse a imortal Clarice Lispector. Linda frase, mas não passa disso. Vivê-la é outra história, como são quase todas as frases de efeito que tanto amamos. Belas frases que nos incentivam a correr atrás dos sonhos, mas não nos ensinam a colocar o feijão na mesa.
E aí eu pergunto: e agora?
Alguns caminhos se abrem em nossas vidas, mas o que é maduro, responsável e socialmente aceito pode não ser o que sonhamos quando colocamos nossas cabeças no travesseiro; ou sob o chuveiro, no meu caso específico.
Karl Marx submeteu sua família a privações seríssimas, mas mudou o mundo; James Joyce igualmente privou sua família de uma vida materialmente digna, mas mudou a literatura universal; Origenes Lessa narra uma história semelhante em sua obra O feijão e o sonho, em que um poeta idealista enfrenta a esposa pé no chão que exige dinheiro pra sustentar a família.Vale a pena ler.
Claro, não imagino que eu, ou a maioria das pessoas, vá mudar o mundo; mas mudar a própria história já é uma forma de mudar o mundo.
E aí retomamos nossa encruzilhada, o que é perder ou ganhar?
O que é impulso, maturidade, medo ou irresponsabilidade?
Viver é perder!
Mas será que não temos o direito de ganhar algumas vezes?
Temos o direito de alimentar nossos sonhos e nossas almas, ou somente cumprir as questões práticas da vida?
Saber-se TDAH nos coloca numa posição mais crítica, e portanto mais titubeante.
Seguimos o sonho ou o feijão?


7 comentários:

  1. Caro Alexandre,

    Como de seu costume, o texto, além de mutuo bonito, trata de uma questão que toca a nossa vida cotidiana e nos faz refletir. Por isto, Parabéns.

    Quanto a mim, nestes 50 anos de vida sempre fiz o óbvio para um TDAH, SEGUI O SONHO.

    Seguir a razão é chato, maçante, sem graça. Neste sentido, conviver comigo, e até eu mesmo acho de mim mesmo, é uma grande viagem, uma montanha russa, emoções garantidas, todas elas, do céu ao inferno, e do inferno para o céu, e isto, acredite, pode ocorrer em espaço de dias ou mesmo horas.

    Até porque, nas minhas escolhas pessoais, na tomada de minhas decisões, eu nunca escutava ou consultava ninguém. Consultar para que? eu sempre sei tudo, sei mais que qualquer um e estou sempre com a razão. Digo logo, de unha encravada à pilotar nave espacial, sei mais que qualquer um.

    Então, se eu tinha uma poupança construída com um sufoco danado e, de repente, apareceu um sujeito do nada e me chamou para ser um sócio "investidor" no projeto maluco, você acha o que?, que eu ia consultar alguém, sabendo que todo mundo ia dizer logo: "saia dessa"? claro que não, enfiei tudo que tinha, e, depois, quando acabou, ainda enfiei tudo o que não tinha.

    Digo o que aconteceu? precisa não, né.

    Pois é, um pequeníssimo detalhe, quase insignificante, coisinha de nada, que atrapalha esta minha filosofia, é que, quebrei tanto a cara, fiz tantas e tantas m..., que somente sou uma pessoa cuja existência é aceitável por conta da tenacidade de minha família e esposa e, vejam só, até de uma fiel e inseparável secretária.

    Bem, tive enfim que dar o braço à torcer e, de uns tempos para cá, passei a ouvir mais as pessoas, ponderando suas opiniões, sugestões, etc..

    Sou hoje profissionalmente e financeiramente estável. Até as minhas trapalhadas de TDAH não estão causado os mesmos estragos bombásticos de antes.

    Mas, ó vida, ó dor, confesso que meu lado TDAH continua achando muito chato fazer todo dia as coisas certas. Fica a sensação de que falta algo na vida, como uma comida sem sal e temperos.

    Já sei, quem sabe um novo e maravilhoso sonho, ......., um projeto novo, ... uma grande associação, a conquista de novos mercados, novas cidades, grande investimentos e numerosas contratações.

    Meu lado TDAH fica assim, doidinho para meter a mão na minha vidinha estável e tachar ela dentro de uma máquina de lavar.

    Como controlar ele?

    Agora mesmo, um sujeito está aqui enchendo minha paciência para que eu faça o meu trabalho e dê a atenção que ele está pagando para receber.

    O que vou ter que fazer, parar de escrever, para este sonho, e vou trabalhar, vou para o feijão.

    Chato, muito chato.

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  2. Caro, Amigo Alexandre...!
    Como estás?
    Enviei um vídeo que gostei muito e lembrei de você.
    Parabéns pelo texto TDAH e as perdas, como sempre eis único e especial , tudo que você escreve é esclarecedor, por isso que digo que você e Dra. Valéria Modesto são uma “DUPLA DINÂMICA”.
    Quem sabe um dia eu possa a vir conhecer essa DUPLA?
    Apesar de morar no RJ.
    Estou bem perdida, razão pela qual, ausente deste.
    Seu texto vem de encontro as minhas aflições no que se refere a meu filho afastar-se de mim ou desaparecer no tempo, na verdade, nem sei descrever a estranha sensação de vazio, dor, medo, alienação, incompetência, burrice, raiva,desgaste, desânimo, enfim, indescritível sensações. Meu coração acelera tanto que parece pulsar em minha garganta só pelo simples toque do telefone ou campainha, é uma dor no peito acompanhada de ausência de ar indescritível, parece que estou na eminência da morte sem chão.
    Quando meu filho consegue passar 5 meses sem se drogar nem assim acalmo.
    Será que você conhece algum TDAH com histórico de cocaína e bipolaridade que conseguiu ficar mais ou menos estabilizado? E como?
    Gostaria muito de saber para tentar me aquietar meu coração um pouquinho e fazer com que meu filho tenha mais esperança e anule seu sentimento de culpa que acaba me contagiando e não desista. As vezes consigo dormir pois sou simpatizante da filosofia Kardecista onde consigo equilibrar um pouco esse sofrimento duplo. Mas tem dias que a dor é tão intensa que prefiro passar a noite no PC escrevendo como se alguém estivesse comigo solidariamente me colocando no colo como eu gostaria de fazer com meu filho, enfim meu PC é meu companheiro.
    E não tem como não acreditar em Deus razão pela qual ainda estou de pé, pois a força só pode vir dele.
    Para mim não tem haver com religião e sim com dor de uma mãe ignorante e impotente que não consegue frear esses impulsos dessa mente inquieta a mil por hora de seu filho.
    As perdas são deveras imensas.

    Um abraço, Querido Amigo Alexandre.

    Mara Fernandes

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  3. Caro, Amigo Alexandre...!
    Como estás?
    Enviei um vídeo que gostei muito e lembrei de você.
    Parabéns pelo texto TDAH e as perdas, como sempre eis único e especial , tudo que você escreve é esclarecedor, por isso que digo que você e Dra. Valéria Modesto são uma “DUPLA DINÂMICA”.
    Quem sabe um dia eu possa a vir conhecer essa DUPLA?
    Apesar de morar no RJ.
    Estou bem perdida, razão pela qual, ausente deste.
    Seu texto vem de encontro as minhas aflições no que se refere a meu filho afastar-se de mim ou desaparecer no tempo, na verdade, nem sei descrever a estranha sensação de vazio, dor, medo, alienação, incompetência, burrice, raiva,desgaste, desânimo, enfim, indescritível sensações. Meu coração acelera tanto que parece pulsar em minha garganta só pelo simples toque do telefone ou campainha, é uma dor no peito acompanhada de ausência de ar indescritível, parece que estou na eminência da morte sem chão.
    Quando meu filho consegue passar 5 meses sem se drogar nem assim acalmo.
    Será que você conhece algum TDAH com histórico de cocaína e bipolaridade que conseguiu ficar mais ou menos estabilizado? E como?
    Gostaria muito de saber para tentar me aquietar meu coração um pouquinho e fazer com que meu filho tenha mais esperança e anule seu sentimento de culpa que acaba me contagiando e não desista. As vezes consigo dormir pois sou simpatizante da filosofia Kardecista onde consigo equilibrar um pouco esse sofrimento duplo. Mas tem dias que a dor é tão intensa que prefiro passar a noite no PC escrevendo como se alguém estivesse comigo solidariamente me colocando no colo como eu gostaria de fazer com meu filho, enfim meu PC é meu companheiro.
    E não tem como não acreditar em Deus razão pela qual ainda estou de pé, pois a força só pode vir dele.
    Para mim não tem haver com religião e sim com dor de uma mãe ignorante e impotente que não consegue frear esses impulsos dessa mente inquieta a mil por hora de seu filho.
    As perdas são deveras imensas.

    Um abraço, Querido Amigo Alexandre.

    Mara Fernandes

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    1. Boa tarde, Mara!
      Desculpe a demora mas estive um pouco afastado do blog por excesso de trabalho.
      Sua situação é muito séria, mas já conheci casos de drogados que simplesmente estabilizaram e hoje levam vidas normais. Você precisa de ajuda especializada e não é o meu caso. Sugiro que você entre em contato com a Dra. Valéria Modesto, ela é uma pessoa sensacional, muito humana e pode ajuda-la, mesmo à distância. Mande um email pra ela, mencione o blog e a minha sugestão. Você vai ama-la.
      Abraços
      Alexandre

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  4. Oi Alexandre, faz algum tempo que leio sobre ritalina e por acaso encontrei seu blog. Li alguns textos que você escreveu. Estou num momento um pouco perdida. Nesse exato momento estou em crise intensa de choro. Sempre tive um sentimento muito forte de inferioridade e achava estranho o fato de não ter memória sobre minha infância e adolescência...no mais nunca notei outras coisas. Enfim, ano passado conheci um menino (rsrs). Ele era diagnosticado bipolar e com depressão...tentou suicídio e justamente nesse contexto nos conhecemos e tentei ajuda-lo. Com essa aproximação desenvolvemos um relacionamento...foi algo bem próximo, pois ele sempre precisava de mim. Devido o histórico dele sempre fui por demais tolerante...acreditava que ele precisava do meu apoio. Fizemos planos...no fim, ele terminou comigo...simplesmente sumiu disse que estava mal. Fui procurar ele e descobri que simplesmente ele ainda estava envolvido emocionalmente com a ex. A questão é que desenvolve uma aversão a alimentação...passei mais de 20 dias sem conseguir comer, tive desmaios inexplicáveis e comecei a fazer uns cortes na pele. Segui adiante procurei ajuda médica, fui afastada do trabalho e voltei a comer. Com isso, além das vitaminas passei a tomar alguns medicamentos. Hoje tomo ritalina, citalopram, zopix e rivotril. Tentei meditação e a terapia. Descobri que tinha sincope mista. Minha vida mudou fiz um concurso e fui aprovada para professora substituta em uma outra cidade, com isso achei que iria melhorar. Mês passado deixei de tomar o zopix, o rivotril e o citalopram. Acho que a ritalina não faz mais efeito comigo (li em outro post seu que isso não existe). No entanto, tudo parece ter voltado a perda de memória (tem momentos que nem sei em que lugar estou), não consigo sentir prazer em nada (eu deveria estar feliz, mas não consigo nem estar satisfeita), medo o tempo inteiro, sentimento de incapacidade, isolamento, não consigo sair de casa (só para trabalhar) e tive umas crises alimentares (passei dias sem comer). Estou um pouco perdida. Ler o que vc escreve ajuda-me a ver que de alguma forma não estou sozinha, mas tenho muito medo de sempre ser assim...não conseguir melhorar. desculpa...as vezes sinto que sou muito fútil e egoísta. não quero tomar seu tempo, mas preciso de ajuda não conseguirei voltar para a terapia.

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    1. Oi Rebeca, uma barra, hein!
      Olha, em primeiro lugar volte ao seu médico. Se você voltou a ter os mesmos sintomas de antes, provavelmente você não poderia ter suspendido os outros medicamentos. Quanto à Ritalina ela pode se mostrar ineficiente frente ao seu quadro geral ou mesmo precisar ter sua dosagem aumentada.
      Tudo depende do seu médico.
      Parabéns, passar em um concurso não é pra qualquer um, mas você precisa se cuidar também.
      Cuide-se, ame-se, você vai experimentar uma nova vida.
      Abraços
      Alexandre

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    2. Passei uma semana boa, mas recebi mensagens dele. A vida dele não parece estar fácil. Ele disse que me amava e pediu para eu esperar enquanto esta numa clinica de reabilitação. Não sei o que fazer. a vontade de suicidio aumentou....tenho crises de choro...estou sozinha. não sei se é mais uma mentira. voltei a tomar o rivotril....não tomei a ritalina esses dias. voltei com as mutilações...acho que de hoje não passo

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