quinta-feira, 20 de julho de 2017

TDAH INCONTROLÁVEL



Aos poucos a voz do palestrante vai desaparecendo e meus olhos apenas veem seus lábios se movimentando. Já não estou mais ali, pelo menos mentalmente. Começo a imaginar esse post enquanto assisto a uma palestra. Ocasionalmente volto e ouço fragmentos do que ele diz, suas próprias palavras tem o dom de me despertar a mente para outros assuntos.
E sigo divagando... Lembro-me de que sempre assisti TV fazendo outra coisa; antigamente lia jornal ou revista; hoje faço o mesmo através do celular. Mesmo quando assisto aos jogos do meu Botafogo, não consigo ficar ali, focado os noventa minutos. Assisto ao jogo, mudo de canal e consulto o celular o tempo todo.
Quase não assisto a filmes; prefiro séries. Mas não tipo minisséries que um episódio depende do outro; essas eu nem começo pois vou me esquecer de acompanhar e perderei meu tempo e o fio da meada. Gosto das séries em que cada episódio tem começo, meio e fim. Assim meu comprometimento tem apenas trinta, quarenta minutos. Cinema então... com meia hora começo a consultar as horas. Assisto, mas mudo milhares de vezes de posição na poltrona, consulto as horas cinquenta vezes e desgarro mentalmente  incontáveis vezes.
Como controlar os pensamentos? Ritalina ajuda; mas ainda assim deixa entreaberta a porta do guarda roupas que nos leva a Nárnia. Mas é melhor do que ficar sem nada. Aumenta o foco, diminui a dispersão, mas apaziguar a mente não apazigua.
Sinto diversos pequenos incômodos físicos que me fazem mudar de posição na cadeira, mudar a posição dos braços, das mãos, dos pés... Observo as pessoas à minha volta, suas roupas, seus semblantes, seu interesse nas palavras ditas diante de nós.
Volto ao palestrante. Por incrível que pareça interesso-me pelo assunto. Acompanho suas palavras durante vários minutos... Lembrei-me de minha infância quando eu ia brincar na rua e só voltava noite alta. Minha mãe zangava comigo perguntando se eu não havia visto que era noite, que a lua já estava no céu. Eu não tinha visto. Estava tão absorto nas brincadeiras que não percebera.
E o palestrante continua falando. Essa parte eu gosto e concordo com ele.
Olho de soslaio para o relógio na parede e vejo que ainda restam uns quinze minutos de palestra.
O primeiro tempo do jogo do Botafogo deveria estar no fim. Quanto estaria o placar? Quem nosso técnico mandou a campo? Teríamos novas contratações de jogadores?
Ele agora falou de algo que discordo, mas não posso dar minha opinião ou fazer qualquer pergunta. Ali não é hora ou lugar para isso. Penso que gosto muito mais das palestras onde se abre o debate, onde existe a possibilidade de perguntar ao palestrante. A coisa fica mais dinâmica, interessante...
Todos riem à minha volta. Alguém próximo fez um comentário engraçado, até o palestrante riu. Eu não ouvi o que a pessoa disse...
Eu deveria ter escrito este post imediatamente ao sair da palestra, não o fiz e agora está difícil me lembrar do que havia imaginado para escrever. De segunda até hoje um caudaloso rio de pensamentos e sentimentos percorreram minha mente. Mas a sensação de que me lembraria do que escrevi mentalmente durante a palestra de segunda feira, me acompanhou a semana inteira; nada mais típico do TDAH do que isso: apostarmos de que não esqueceremos mesmo sendo portadores de um transtorno que afeta diretamente nossa memória.
Eu preciso parar de apostar na minha memória; mas às vezes me esqueço disso.

7 comentários:

  1. genial! é exatamente assim... :( Alexandre, você conhece alguém que recebe ritalina pelo Sus?

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    1. Eu recebo, retiro mensalmente, inclusive me autorizaram por 1 ano o tratamento, normalmente pedem reavaliar a cada 3 meses.
      Se quiser informações pode me procurar pelo meu email que explico melhor o procedimento.
      Rwurdig@gmail.com, abs.

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    2. ok! obg pelo feedback, vou te mandar uma mensagem.

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  2. Li rindo... é isso... perfeito!

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  4. As vezes eu acho que eu escrevo esse blog, pq sou eu todinha

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