Já perdi a conta de quantas vezes assisti ao filme 'O Senhor dos Anéis'. Gosto tanto que me dei um box com os três filmes de presente num natal desses atrás. Volta e meia assisto novamente.
Ontem assisti aos dois primeiros filmes. E sempre descubro novidades - afinal são nove horas de filme e um bom TDAH não se mantém atento por tantas horas - e ontem não foi diferente.
Num diálogo entre Éowyn e Aragorn em que ela afirma não temer a dor e a morte, ele a questiona sobre o que teme:
- Uma gaiola - responde Éowyn

Um pérola do TDAH!
Mas sou assim, e odeio pensar em me conformar.
Sou uma metamorfose ambulante, e essa metamorfose me construiu.
Construiu uma personalidade complexa, mas riquíssima.
Uma vida recheada de dores, mas transbordante de emoções, prazeres e vivências.
Uma personalidade auto destrutiva, mas com um poder de renascimento infinito e cada vez mais forte.
Uma personalidade inquieta, mas inconformada. E essa talvez seja - na minha opinião - a melhor faceta do TDAH.
Explorei quase todas as possibilidades de uma vida. Já me meti em quase tudo, e não falo aqui de esportes radicais. Falo de vidas radicais.
Você se atira de bungee jump? Eu me atiro de empregos estáveis; mudo de cidade, de estado, mudo de emprego, mudo...
Irresponsabilidade?
Pode ser, mas afinal; o que é viver?
Acumular dinheiro?
Ou acumular experiências e sensações?
Ter uma velhice tranquila e estável, enquanto aguarda placidamente a morte?
Ou deixar que a morte me leve em meio à luta, ao desbravamento, ao descobrimento?
Já disse aqui que invejo as vidas tranquilas e lineares.
Só que não. Isso dura pouco. Minha alma inconformada, meu cérebro TDAH inquieto me impelem a arriscar, a sair do marasmo, da mediocridade, da linearidade.
Minha boca sente falta do sabor do desconhecido...
Minha alma anseia pelo temor do risco...
A sensação do novo, do imponderável, do inesperado...
Gaiolas jamais...
Anseio por novos ares... Novos mares...Novos lugares...
Vocês estão vendo um TDAH em plena efervescência, um TDAH sendo arrebatado por sua doença, refém dos seus piores sentimentos.
Cabe a mim domá-lo; devolver à minha mente a quietude e a tranquilidade que requer a vida de um senhor de 54 anos. Não sou mais um jovem adolescente que pode se dar ao luxo de chutar tudo pro alto e sair por aí.
Chega de ser refém dessa doença.
Minha aposentadoria está próxima. Pouquíssimos anos...
Posso esperá-la e depois vejo o que faço da minha vida...
Mas não!
Eu quero viver! E viver é risco!
Abraçado ao meu TDAH me atiro em mais um penhasco!
Dores sei que terei; mas já as tenho hoje, em plena imobilidade.
Arrependimento? Pode ser que um dia... Mas já tenho tantos outros pelos mais diversos motivos...
Mas e a descoberta? E a possibilidade?
Viver é isso, encarar as possibilidades.
Se existir uma única possibilidade, eu e meu TDAH estaremos aí.