Existem momentos na vida em que queremos sumir. Ou
desistir de tudo e virar hippie ou andarilho, sair por aí fazendo bijouteria, sem rumo, sem responsabilidade, sem pressões.
Mas, se analisarmos friamente, sumir ou virar hippie exige muita responsabilidade, muita força e uma enorme capacidade de suportar a pressão interna e externa. E se pensarmos bem, por mais mendigo que sejam os hippies existe uma certa pressão por vender para comer e ter onde dormir naquele dia.
Imagine num dia frio, chuvoso e você hippie sem um tostão para comer e dormir naquele dia; você que acabou de chegar numa cidade estranha. Isso também é pressão.
Passei por todos esses sentimentos nos últimos sete ou oito dias.
Na última semana um fantasma financeiro veio assombrar-me, resultado do naufrágio de minhas empresas em um passado recente. Não sei se é uma característica do TDAH, minha ou ocorre com todo mundo: um grande revés nunca vem sozinho. Na quinta feira recebi outra péssima notícia financeira, terei de pagar uma paulada de dinheiro que julguei que não seria minha responsabilidade. Segunda feira cheguei cedo à loja e deparei-me com uma cena terrível: um temporal que caiu no domingo à noite invadiu a loja molhando as vitrines e balcões. Pensem na cena: uma loja de celulares com as vitrines completamente molhadas. Um terrível desânimo abateu-se sobre mim. A primeira vontade foi baixar a porta de aço e sumir. Respirei fundo e comecei a limpeza. Aí entrou minha incrível sorte; não molhou nenhum aparelho. Todos ficam sobre pequeninos pedestais de acrílico e não molharam. A água parece que escorreu pelos vidros da vitrine acumulando-se nas prateleiras. O que parecia uma tragédia acabou tornando-se apenas uma amolação de ter que limpar aquilo tudo. Mas a descarga de adrenalina foi enorme. Somado ao antecedentes da semana eu estava uma pillha, alcalina.
Nunca me esqueci de uma frase pichada em um muro na cidade de Lavras onde morei: SORRIA, AMANHÃ PODERÁ SER PIOR!
Pois é, piorou. Na segunda feira à tarde sofri novo revés financeiro.
Hoje meu computador deu um pau enorme, atrasando meu trabalho em mais de uma hora.
Imaginem meu estado de espírito.
Confesso que minha maior vontade é desaparecer. Mas sei que não posso nem devo.
Hoje a tarde acabei rindo de mim mesmo.
Pouco antes do problema com meu computador a descarga do banheiro deu um pequeno problema, coisa pouca. Depois de uma hora lutando contra meu computador (e sendo derrotado) fui ao banheiro e deparei-me com a descarga. O banheiro da loja tem uma descarga muito antiquada, daquelas que tem uma caixa externa de plástico, pois bem, ela estava em absoluto silêncio. Uma dúvida veio-me à mente, será que ela está vazia, não está enchendo? Nesse instante, sem que eu conseguisse domá-la, minha mente criou uma imagem em que eu puxaria a cordinha (isso mesmo, é aquela de cordinha) e nenhuma gota d'água sairia. Nesse instante, uma fúria incontrolável tomaria minha mente e eu destruiria a marteladas a caixa de descarga e todos os acessórios do banheiro.
Na hora comecei a rir.
Achei engraçado que em meio a tanto nervosismo e irritação minha mente escapasse daquela forma e criasse uma situação bizarra como essa. Mas digamos que essa realização mental aplacou um pouco minha ira. O mais interessante é que vejo a a situação acontecer, numa fração de segundos vi o banheiro todo destruído pela minha sanha assassina.
E daí?
Daí que eu estou aqui, desabafando em meu blog. Não descontei em ninguém, não abandonei minha vida e nem tomei uma decisão tresloucada pra me livrar de um problema imediato e que apenas criaria outro problema mais adiante.
Estou tentando pensar melhor, não ceder aos meus impulsos nem entregar-me aos meus sabotadores. Resultado do meu tratamento, resultado da minha consciência do TDAH e da minha vontade de domá-lo. Não sei se as coisas ainda podem piorar nem quais serão minhas reações daqui por diante; sei que estou satisfeito com meu comportamento até aqui.
Nessas horas fico bem feliz com meu tratamento.
