quarta-feira, 15 de outubro de 2025

UM TSUNAMI DE TDAH!


Um terremoto ou um vulcão nas profundezas do oceano libera uma quantidade absurda de energia capaz de criar ondas gigantescas que viajam em alta velocidade até atingir tragicamente a costa, arrasando tudo o que encontram pela frente.

​Quem vê o tsunami se aproximando ou quem é atingido por ele jamais será a mesma pessoa. A dor devastadora de um tsunami é inesquecível. Mas o tsunami não sabe disso. Na sua mente, o terremoto ou o vulcão que o originaram são visíveis a todos os atingidos pelas ondas trágicas. Um tsunami de impropérios e agressões verbais deixa, normalmente, o objeto do tsunami completamente paralisado, indefeso, aterrorizado. Quem assiste à chegada das ondas desembestadas estarrece-se com a malignidade de suas consequências. As feições do tsunami alteram-se, a raiva domina cada músculo da face, mostrando-se no olhar quase ensandecido. A violência das ondas atinge em cheio sua vítima. Dores passadas aparentemente esquecidas, traumas não curados, conexões mentais entre fatos desconexos, paixão descontrolada desabam inclementemente sobre a "vítima" da vez. Na mente tsunâmica, uma espiral de raiva alimenta-se da frase anterior, do sentimento precedente e escala vertiginosamente. Na virulência das palavras, a visão tolda-se de um vermelho vivo e a raiva cega arrasa o que se lhe interpõe. Ainda que provocados por terremotos pretéritos, por vulcões recentes, a destruição de proporções bíblicas deixa o tsunami exposto a todo tipo de críticas e cobranças. A razão que o causou, na maioria das vezes, não justifica a catástrofe provocada pela resposta desproporcional. A onda arrasadora reflui e desaparece, seja porque a vítima já está aniquilada, seja pela intervenção externa. Abruptamente como chegou, vai-se. O saldo é tragédia, um rastro nefasto e destruidor. Mas o tsunami já se recolheu ao oceano. E a fúria desapareceu. Magicamente desapareceu. Aqui começa a segunda etapa: a culpa. Nem sempre o arrependimento, mas sempre a culpa pela magnitude do estrago.

​Não há liberdade definitiva para as explosões titânicas do TDAH. Tsunamis, terremotos, vulcões, tragédias ambulantes, o portador de TDAH é uma hecatombe prestes a ocorrer.

​Segundo o filósofo Baruch Spinoza, "quando entendemos nossas emoções, nos aproximamos da verdadeira liberdade, pois essa compreensão nos permite agir com clareza e consciência, em vez de sermos dominados por paixões e impulsos." É isso! Mergulhe em você e no TDAH. Viva seu TDAH! Pense nele diariamente, pense em quem você realmente é e onde o TDAH atua em você.

​Assim, você entenderá que calar-se é maior do que explodir, retirar-se é melhor do que destruir o outro e tornar-se o culpado. Ninguém se lembrará do que ele disse, mas do tsunami que desaguou sobre ele de maneira violenta e desproporcional. Parece simplista, mas não é; parece fácil, mas não é. Muito menos é infalível. Os medicamentos atuam parcialmente, nesse ou naquele sintoma. Às vezes, em alguns dos sintomas, mas a variação de humor costuma ser combatida com outro medicamento. E, assim, vai-se entupindo de tarjas pretas que não solucionam integralmente.

​Sinta antecipadamente o gosto amargo da fúria que se aproxima. Anteveja o toldo vermelho que se formará diante de seus olhos. Mude a trajetória do tsunami. Proteja-se!

​Não traga para sua vida mais esse ônus de ser o culpado de estragos irreparáveis.

​Já temos acusações demais a carregar.

2 comentários:

  1. Sobre estragos irreparáveis… que devastação

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  2. Sim, é devastador. Além dos medicamentos e terapia, o que se pode fazer é ter humildade para aceitar o TDAH e vontade para combatê-lo. Nenhuma das opções eliminará definitivamente o TDAH, mas a soma delas reduzirão brutalmente seus efeitos.

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