Um terremoto ou um vulcão nas profundezas do oceano libera uma quantidade absurda de energia capaz de criar ondas gigantescas que viajam em alta velocidade até atingir tragicamente a costa, arrasando tudo o que encontram pela frente.
Quem vê o tsunami se aproximando ou quem é atingido por ele jamais será a mesma pessoa. A dor devastadora de um tsunami é inesquecível. Mas o tsunami não sabe disso. Na sua mente, o terremoto ou o vulcão que o originaram são visíveis a todos os atingidos pelas ondas trágicas. Um tsunami de impropérios e agressões verbais deixa, normalmente, o objeto do tsunami completamente paralisado, indefeso, aterrorizado. Quem assiste à chegada das ondas desembestadas estarrece-se com a malignidade de suas consequências. As feições do tsunami alteram-se, a raiva domina cada músculo da face, mostrando-se no olhar quase ensandecido. A violência das ondas atinge em cheio sua vítima. Dores passadas aparentemente esquecidas, traumas não curados, conexões mentais entre fatos desconexos, paixão descontrolada desabam inclementemente sobre a "vítima" da vez. Na mente tsunâmica, uma espiral de raiva alimenta-se da frase anterior, do sentimento precedente e escala vertiginosamente. Na virulência das palavras, a visão tolda-se de um vermelho vivo e a raiva cega arrasa o que se lhe interpõe. Ainda que provocados por terremotos pretéritos, por vulcões recentes, a destruição de proporções bíblicas deixa o tsunami exposto a todo tipo de críticas e cobranças. A razão que o causou, na maioria das vezes, não justifica a catástrofe provocada pela resposta desproporcional. A onda arrasadora reflui e desaparece, seja porque a vítima já está aniquilada, seja pela intervenção externa. Abruptamente como chegou, vai-se. O saldo é tragédia, um rastro nefasto e destruidor. Mas o tsunami já se recolheu ao oceano. E a fúria desapareceu. Magicamente desapareceu. Aqui começa a segunda etapa: a culpa. Nem sempre o arrependimento, mas sempre a culpa pela magnitude do estrago.
Não há liberdade definitiva para as explosões titânicas do TDAH. Tsunamis, terremotos, vulcões, tragédias ambulantes, o portador de TDAH é uma hecatombe prestes a ocorrer.
Segundo o filósofo Baruch Spinoza, "quando entendemos nossas emoções, nos aproximamos da verdadeira liberdade, pois essa compreensão nos permite agir com clareza e consciência, em vez de sermos dominados por paixões e impulsos." É isso! Mergulhe em você e no TDAH. Viva seu TDAH! Pense nele diariamente, pense em quem você realmente é e onde o TDAH atua em você.
Assim, você entenderá que calar-se é maior do que explodir, retirar-se é melhor do que destruir o outro e tornar-se o culpado. Ninguém se lembrará do que ele disse, mas do tsunami que desaguou sobre ele de maneira violenta e desproporcional. Parece simplista, mas não é; parece fácil, mas não é. Muito menos é infalível. Os medicamentos atuam parcialmente, nesse ou naquele sintoma. Às vezes, em alguns dos sintomas, mas a variação de humor costuma ser combatida com outro medicamento. E, assim, vai-se entupindo de tarjas pretas que não solucionam integralmente.
Sinta antecipadamente o gosto amargo da fúria que se aproxima. Anteveja o toldo vermelho que se formará diante de seus olhos. Mude a trajetória do tsunami. Proteja-se!
Não traga para sua vida mais esse ônus de ser o culpado de estragos irreparáveis.
Já temos acusações demais a carregar.
Sobre estragos irreparáveis… que devastação
ResponderExcluirSim, é devastador. Além dos medicamentos e terapia, o que se pode fazer é ter humildade para aceitar o TDAH e vontade para combatê-lo. Nenhuma das opções eliminará definitivamente o TDAH, mas a soma delas reduzirão brutalmente seus efeitos.
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