Após
sermos diagnosticados portadores de TDAH, tendemos a botar na conta do
transtorno todos os nossos problemas, falhas e idiossincrasias. Isso é
normal; às vezes por ainda conhecermos pouco o TDAH, noutras por que é
melhor para as nossas consciências culparmos uma doença e não nosso
caráter.
Em diversas ocasiões o que teremos é uma soma de tudo.
E aí recebo um e-mail
de K que afirma estar desconfortável com suas reações ao fim de
relacionamentos rompidos por iniciativa dela. Antigos e duradouros são
deixados para trás sem dor, sem remorso. O último, de poucos meses e
pouco contato real, ainda dói.
Antiguidade
e longevidade não significam amor. A facilidade com que acabou
demonstra isso. O contrário também vale. E isso não é TDAH. Isso é
vida!
Mas,
quando acrescentamos o TDAH a essa equação temos alguns resultados
interessantes: esquecemos mais fácil do que a maioria; nos culpamos
mais do que a maioria. Então, se estamos dispostos a esquecer, deletamos
e seguimos nosso caminho sem olhar para trás; mas, se não temos certeza daquilo que fizemos, ou se não queríamos aquele fim, sofremos N
vezes mais. Nos culpamos e nossa mente repassa aquilo milhões de vezes
por dia até a exaustão mental.
Disso
tudo, o que mais me chamou atenção no relato de K é o que ela não
percebeu: os dois grandes relacionamentos que ela terminou e pouco
sentiu, foram aqueles que os parceiros NÃO queriam o fim do
relacionamento. O que a fez sofrer foi justamente aquele em que seu
companheiro concordou com o rompimento.
Claro que pouco sei sobre as reais razões e o verdadeiro comportamento de K, mas no seu e-mail
ela deixa transparecer que 'instigou' seu último namorado ao término; e
ele terminou. Nada mais TDAH do que expor-se ao risco, à auto imolação,
à expor a própria vida à tragédia. E depois ficar choramingando por
colher aquilo que plantou.
Creio,
K, que você está sofrendo pelos motivos errados. Nenhum de seus
namorados são seus verdadeiros problemas; o TDAH sim. Não se preocupe tanto com suas reações após o fim dos relacionamentos. O que deve te faz
sofrer é seu comportamento inexplicável de terminar com namorados
antevendo que tais relacionamentos não terão futuro. Com esse tipo de
comportamento não terão mesmo. O futuro, K, não existe; ele é construído
diariamente por cada pessoa, por cada casal, por cada gesto, por cada
intenção. Imaginar que este ou aquele relacionamento não terá futuro é
decretar seu fim antecipado. Só tem futuro o que queremos que tenha. E
você deixou claro que 'matou' antecipadamente cada um deles.
O
que posso dizer? Para que você aproveite esse período sozinha para
conhecer-se, conhecer bem o transtorno e viver o presente. Você não tem
bola de cristal para adivinhar se esse ou aquele relacionamento terá
futuro. Isso tem muita cara de auto sabotagem.